Cofre de luz

Telha fotovoltaica de PE reciclado com grafeno barateia acesso à energia solar
Retto: placas com telhas fotovoltaicas à venda em 2022.

Com a piora da pane hídrica e conta da luz dadas como favas contadas em 2022, Leonardo Retto, CEO da transformadora Telite, abre a contagem regressiva para sacudir a praça com um casamento da circularidade com economia de energia: telhas fotovoltaicas extrusadas com polietileno de alta densidade reciclado (PEAD) e beneficiado com grafeno e aditivos como anti UV. “Elas devem ganhar o comércio em março próximo e já somos sondados a cada semana por grupos de vários países querendo levar esse produto que revolucionará o mercado mundial de energia solar”, sustenta o dirigente.
A Telite se achegou à economia circular em 2013, situa Retto, quando começou a produzir telhas com PEAD pós-consumo reciclado. Por volta do início deste ano, ele entrou em cena com um aplicativo de coleta seletiva. “Pagamos pelo resíduo em dinheiro e com dia e hora marcado para quem separa o refugo para recolhimento e se cadastra conosco, sejam consumidores finais ou estabelecimentos”, abrange o transformador. “Quando as entregas de um fornecedor somam 10.000 pontos no aplicativo, o dispositivo solicita o resgate e enviamos no ato o PIX com o pagamento”. Além dessa via de suprimento, Retto criou uma plataforma de gestão com tecnologia de validação dos dados (blockchain). “Geramos um QR code na entrada do lote do resíduo e quem o fornece acompanha assim a movimentação do material na planta e seu ingresso na produção das telhas”, ele explica. “O mesmo código é impresso na telha, contenho informações da origem, tipo e quantidade do resíduo, volume de telhas extrusadas e o estabelecimento comprador”. Noves-fora, ele nota, a Telite fecha assim todas as etapas do ciclo de circularidade: coleta, transformação, rastreabilidade, crédito, logística reversa e neutralização do dióxido de carbono. “Só faltava um aspecto para ganharmos cinco estrelas em sustentabilidade, a geração de energia renovável na própria telha, lacuna fechada com a ação fotovoltaica”.
Retto não revela quem o assessorou na pesquisa de geração de energia através do grafeno, empreendida desde 2016 nas suas patenteadas telhas fotovoltaicas, cuja certificação pelo Inmetro ele prevê para o bimestre agosto/setembro. “A seguir será a vez do credenciamento pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) com monitoramento da performance por seis meses, vindo então o lançamento dessa telha sem similar mundial e que, acoplada a inversores fotovoltaicos, gera até 120 kWh/mês por unidade. “Consta de um produto acessível ao grande público e que armazena no dia anterior a energia solar consumida no seguinte, com módulo inteligente controlador da descarga a cada utilização, reduzindo assim de forma expressiva o gasto de eletricidade”. Retto orça em R$158 o preço pretendido de sua telha contra R$ 243 hoje cobrados pela placa fotovoltaica tradicional e da mesma capacidade. “Outra vantagem do nosso produto é a dispensa de um telhado, necessário para suportar a placa, pois a própria telha capta e gera energia solar.”
Devido à excelência nos quesitos da condutividade elétrica, transparência, impermeabilidade e resistência mecânica e térmica, o grafeno é o plus dessa telha de 4,5 kg, espessura de 3 cm, largura de 1,10 m, comprimento de 1,90 m, garantia de 5 anos e vida útil de 80. “Considerando que cada pastilha de geração de energia tem 3,8 cm e que podemos colocar pelo menos 30 unidades delas nas telhas”, teoriza Retto, “haveria possibilidade de fornecer 135 kWh/mês por telha integrante das placas (módulos) que comercializaremos”. A título de referência, ele cita que a Aneel calcula em 150 kWh a média mensal do consumo brasileiro de energia e projeta que a energia provida pela sua telha custa até 48% menos que a obtida da placa fotovoltaica.
No momento, a fábrica da Telite no município fluminense de Comendador Levy Gasparian produz telhas com duas extrusoras. No âmbito da versão fotovoltaica, Retto informa quem, por falta de disponibilidade em escala industrial, teve que importar grafeno para os trabalhos de desenvolvimento. No Brasil a primeira unidade de porte comercial de grafeno foi inaugurada em junho último no Rio Grande do Sul, como integrante do chamado Projeto UCS Graphene da Universidade de Caxias do Sul. Retto retoma o fio assinalando depender mensalmente de 55 kg de grafeno para beneficiar 24 toneladas de PEAD reciclado, etapa delegada a componedores parceiros, mas prevista por ele para ser verticalizada na Telite. “Já iniciamos pesquisa para acoplar sinal de internet em telhas trapezoidais para galpões, pois o grafeno aumenta em até 100 vezes a velocidade de acesso e vem muito mais novidade por aí”. •

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