Carrossel de emoções

Demanda e preços no 1º semestre alinham 2021 e 2020 como anos fora da caixa

2021 está sendo uma prova de fogo para a indústria plástica brasileira. No tocante à matérias-primas e produtos transformados, a inquietação decorre, por motivos domésticos e globais, da volatilidade e incerteza dos sinais de oferta, demanda, preços e consumo, embora bons fluidos proporcionem um respiro por meio do progresso da vacinação e do ansiado aquecimento de praxe da economia na metade final do ano. Na entrevista a seguir, Simone de Faria, diretora responsável pela América Latina da consultoria americana Townsend Solutions e com nome feito pelo olho de lince para desenredar a complexa conjuntura do plástico no Brasil vai fundo na análise do novo normal em campo no mercado este ano.

Com base na trajetória das vendas internas no primeiro semestre, como as resinas commodities caminham para fechar 2021 em relação a 2020?
É muito difícil esse ano superar 2020, que teve crescimento superior a 8% no consumo de polietileno (PE) e 7% no de polipropileno (PP) e PVC. No primeiro trimestre de 2021, o mercado de PP caiu 8% e 4% no de PE, comparado ao último trimestre de 2020, já o de PVC subiu 12%. Tivemos este ano um primeiro trimestre forte e um segundo bem mais fraco. Não espero um segundo semestre tão forte e acho que se o ano terminar com empate será um resultado excelente.

O primeiro semestre de 2021 também marcou pelo encolhimento da demanda de resinas desde maio, o que elevou até agora os estoques dos fornecedores. O quadro contrasta com a carência de matéria-prima em 2020. Qual a razão para essa estocagem e como vê a disponibilidade de termoplásticos na metade final deste ano?
A tendência é de aumento na disponibilidade, tanto aqui, como lá fora. A falta de oferta desde o ano passado foi criando um sentimento de pânico no mercado. Os aumentos sucessivos ajudaram a estimular a formação de estoques. Além disso, houve a parada para manutenção em março/abril na central da Braskem em São Paulo e a produção de poliolefinas assim sustada agravou a preocupação entre os transformadores. Com demanda enfraquecida para eles e estoques altos nas mãos de revendedores, os preços na ponta já caíram e as margens estão rapidamente voltando aos níveis pré-vírus, bem abaixo do segundo semestre de 2020, quando se comercializava resina com mais de 50% de markup sobre o preço do produtor local.

A pandemia desarranjou a cadeia de suprimentos e inviabilizou práticas como o recebimento de resinas just in time por transformadores. Como isso tem se refletido nas políticas de vendas de petroquímicas e distribuidores?
Sem dúvida, a questão logística ganhou foco no último ano. Não bastasse a preocupação com a disponibilidade de matéria-prima, o mundo globalizado se viu diante da falta de navios e contêineres, causa de desarranjos nas cadeias. Sem querer perder venda em meio à demanda aquecida, algumas empresas aumentaram estoques no susto e no medo de faltar produto. Mas, qualidade do estoque é elemento de gestão com que todas as empresas devem sempre se preocupar. Estoque só é custo quando não é bem feito; caso contrário é investimento. De fato, poucos transformadores têm essa cultura no mercado brasileiro, mas pode ser que essa conjuntura mude isso.

O cenário em 2021 mostra a distribuição de um auxílio emergencial mirrado, desemprego recorde, gastos essenciais mais caros, inflação à solta e dólar a R$5. Do outro lado, aumenta a vacinação elevando o consumo e o histórico do segundo semestre é de aquecimento. Noves-fora, tal como em 2020, o balanço dos plásticos deve ser decidido este ano basicamente pelas embalagens de produtos de primeira necessidade?
O atual auxílio emergencial não terá nem de longe o efeito do ano passado, não só pelo valor, mas pela inflação que elevou os preços de quase tudo. Juros começam a subir, encarecendo o crédito e dificultando a compra de bens duráveis, caso de imóveis, sobre os quais incidem também índices inflacionários. Mesmo a população empregada não recebeu reajustes salariais compatíveis com a alta dos preços na ponta.

Como avalia a conjuntura atual para a revenda de resinas importadas remetidas de locais contemplados com incentivos fiscais?
Vamos separar o joio do trigo. Há muitas revendas de material importado sérias, não adeptas da informalidade e que sempre terão espaço, prestando bons serviços com produtos de qualidade e fontes confiáveis. Quanto à revenda de produtos oriundos de áreas incentivadas, a exemplo de Manaus e portos catarinenses, não sou muito otimista quanto ao fim de suas práticas de comercialização. Muitas operações são feitas amparadas pela legislação responsável pela guerra fiscal interestadual em vigor. Enquanto a maior parte do consumo nacional de resinas está em São Paulo, o grosso do volume importado de poliolefinas entra no país pelo Amazonas e Santa Catarina. Em 2019, a participação somada desses Estados no tocante ao ingresso de importações de PE foi de 65%, subindo a 70% em 2020 e 71% apenas de janeiro a maio último. Em PP, a participação dos mesmos Estados, acrescida do significativo volume de importações remetido de Rondônia, totalizou 60% em 2019 e subiu para 67% nos primeiros cinco meses de 2021. É notória a inexistência de capacidade instalada para transformar nessas regiões que demande todo esse material. Considerado o período de janeiro a maio passado, São Paulo recebeu 6% das importações de PE e 11% no caso de PP, percentuais incompatíveis com o local que sedia a maior indústria transformadora do país. No caso do PVC a situação é muito diferente. São Paulo recebeu 37% do polímero importado até maio último para beneficiamento e transformação.

PVC, PP e PE dominam as importações. Como interpreta o fato de, no plano geral, os preços médios internacionais terem declinado de leve na primeira quinzena de junho, após a subida iniciada em fevereiro e intensificada a partir da segunda quinzena de março?
No tocante a preços internacionais de resinas, estamos vivendo situações completamente inversas quando olhamos para Ásia e EUA. Frente a uma demanda muito aquecida e oferta limitada, temos visto nos EUA os preços de resinas subindo nos últimos meses. Após as tempestades de inverno, em meados de fevereiro, afetando boa parte das produções petroquímicas no Texas e Louisiana, desde olefinas até polímeros, os preços encontraram espaço para subir em média 30% no mercado doméstico para os polietilenos e cerca de 13% para o PP. Com essa alta, os preços de exportação de PE americano avançaram mais de 60% no ano. Mais um aumento foi anunciado em julho para ambos os polímeros e já foi sinalizado outro reajuste para meados, de agosto, provável movimento preventivo de precificação, por conta de eventuais problemas em operações petroquímicas gerados pela temporada de furacões deste ano nos EUA.
O período de janeiro a junho foi extremamente favorável para os produtores de PE na região recuperarem as margens, declinantes desde 2019. Até junho últimos, o spread médio já superara o valor de 2020 e no momento está cerca de 5% abaixo do valor médio de 2019. A seguir nesse ritmo, os spreads de PE deverão ser os melhores dos últimos anos.
Com uma situação de aperto nas disponibilidades do mercado doméstico americano, os produtores reduziram as vendas para exportação, principalmente com destino à Ásia, onde os preços estão mais de US$ 1.000/t abaixo do mercado interno norte-americano. Nunca vi isso. Daí também o notado redirecionamento de exportações norte-americanas de PE para o Brasil.
Olhando para PP e PE na Ásia, temos um cenário totalmente diferente. Os preços iniciaram o ano em queda, mas com os incidentes no mercado norte-americano, os valores subiram cerca de 13% para PP e 20% para PE, voltando a cair em meados de abril, com demanda enfraquecida na região, muitos bloqueios ainda relacionados ao aumento de casos de covid, problemas com racionamento de energia elétrica na China e oferta confortável. Os preços praticamente voltaram aos patamares mais baixos do início do ano, com novas capacidades e volta de plantas em manutenção prometendo elevar a disponibilidade de poliolefinas no curto prazo.
Por sua vez, PVC, que já vinha pressionado nos preços, com problemas de produção e demanda forte na construção civil, alcançou os maiores preços dos últimos anos e a cotação subiu ainda mais, após as tempestades de inverno nos EUA. Desde meados de fevereiro último houve alta de 24% no mercado norte-americano. No início de junho, o preço do vinil recuou 11% para exportação. Na Ásia, o preço também vem caindo desde final de maio, por conta da demanda enfraquecida. Desse modo, não acho que essa trajetória dos preços repita a de 2020. Mas uma coisa é fato: 2020 e 2021 ficarão como dois anos atípicos, pautados pela incerteza e a ocorrência de fatores externos que desbalancearam a oferta e demanda internacional.

Entre poliolefinas e PVC, quais resinas mais a surpreenderam no balanço das importações brasileiras no primeiro semestre?
Os volumes em si não surpreendem, embora tenham aumentado muito em relação a 2020. Mas, chama a atenção que, mesmo em condições adversas, com paradas e pedidos de força maior, a quantidade de PE total vinda do mercado norte-americano tenha sido tão alta. O Brasil se tornou o terceiro destino das exportações norte-americanas de PE em 2021, atrás de México e Canadá. Por sinal, apareceu muita gente nova importando este ano, atraída talvez pelas altas margens da atividade ou, talvez espantada por elas, partindo para a compra direta no exterior. Em relação aos tipos trazidos do polímero polietilenos, o que mais cresceu foi PEBD (45%), seguido de PEBDL (31%) e PEAD (17%). Eram esperadas altas nos volumes de PP e PVC, que tiveram impostos reduzidos e queda nos antidumpings. O volume de PP importado subiu 42% e o PVC mais que dobrou seu volume, ampliando as importações em 113%. Esses percentuais foram medidos em cima de uma média mensal 2021 vs 2020, pois, se formos olhar período contra período, vai haver uma distorção, devido ao momento mais intenso da pandemia, quando os volumes caíram muito. Quanto às origens, a Arábia Saudita tornou-se a nossa primeira fonte internacional de PP, enquanto China e Coréia do Sul vêm crescendo em participação.

Como avalia o impacto da volatilidade do câmbio e do encarecimento dos fretes marítimos sobre preços e prazos de internação e entrega das importações brasileiras de resinas no primeiro semestre?
O câmbio sempre tem impacto relevante, mas pior do que a alta é a sua volatilidade. Entre sobes e desces é mais difícil preparar o fluxo de caixa para efetuar pagamentos e prever preços de venda. Essa baixa rápida, como aconteceu nos dois últimos meses (10% de variação negativa em maio/junho) também é muito ruim para quem está estocado. Já o frete é novela à parte. Os fretes subiram muito, os contêineres escassearam e além do impacto no preço CFR (custo e frete) também aumentou prazos de entrega. Mas nada disso foi impeditivo para o aumento nos volumes importados de regiões distantes do Brasil, como Arábia Saudita e China.

 

Vacinados contra o baixo astral

Termoplásticos duros na queda em meio à turbulência deste ano

Desde a segunda quinzena de julho despenca na mídia diária a palpitaria sobre o consumo para o período entre a Black Friday, em 26 de novembro, e o Natal. O consenso entre os adivinhos converge para subida nas vendas versus 2020, justificadas pelo alívio nas restrições sanitárias para atividades de serviços; na vacinação chegando aos jovens e na poupança das classes média e alta, forçadas pela reclusão a sustar gastos com viagens, restaurantes e itens da vida social, como vestuário e salão de beleza. Mas a prudência freia o ardor dessas previsões, pois não passa em branco aos futurólogos o empobrecimento, mega desemprego e a mordida da inflação, dólar e despesas essenciais na população menos favorecida, pendurada em paliativos como o descarnado auxílio emergencial e o 13º salário adiantado para aposentados e pensionistas do Instituto Nacional de Previdência Social.
No Brasil, a sorte do setor plástico na pandemia tem sido bafejada pelo uso de resinas commodities em itens essenciais do kit de convívio com o corona. No caso de 2021, com o processo em curso de erradicação do vírus, previsto para estender 2022 adentro, o script do balanço demonstra em grande parte semelhança com a trajetória da indústria desde a primeira onda da covid 19 e, como plásticos mais consumidos, polipropileno (PP) e polietileno (PE), são as resinas que melhor captam o andar trôpego da conjuntura. “Se comparado com o ano passado, o forte desempenho da demanda interna de janeiro a junho último foi impulsionado pelos segmentos impactados pela mudança de hábitos de consumo, como embalagens em geral e nãotecido em máscaras e vestuário médico-hospitalar”, pondera Fábio Santos, diretor de estratégia, comunicação e serviços da Braskem. Além disso, ele segue, pesam na balança a economia mais viva no primeiro semestre que no confinamento do mesmo período em 2020. “Portanto, esperamos para este ano um crescimento no consumo aparente em torno de 5% para PP e 4% para PE, mas persistem incertezas em relação ao desempenho da economia”, ele ressalva.
Desde a primeira onda da covid 19, os preços internacionais de poliolefinas estão num carrossel de emoções, um cenário extensivo ao Brasil e, apesar do agachamento das cotações notado no primeiro semestre, consultorias como S&P Platt’s vislumbram novas rodadas de reajustes até dezembro, à sombra da demanda aquecida e disponibilidade limitada de resinas no I Mundo para exportação. “Em regra, a Braskem não comenta indicadores ou valores de preços internacionais publicados por outras fontes”, informa Santos. “Mas, no cômputo geral, é fato que, em 2020, a pandemia provocou, de início, grande queda nas cotações seguida por fortíssima recuperação, variações que causaram rupturas nas cadeias globais de suprimento e logística, aumentando a volatilidade de preços e fretes de commodities, culminando com reajustes internacionais na segunda metade do ano passado”, repassa o diretor. “Ao final do primeiro semestre deste ano ocorreu um reequilíbrio na oferta de poliolefinas não proporcional em todas as regiões. O comércio mundial continua afetado pela oferta reduzida de containers vindos da Ásia, onerando o transporte em nível recorde na última semana de junho”.
O fuzuê dos preços não breca a lapidação de soluções de poliolefinas pela Braskem. Santos conta que 2021 abriu com a chegada à praça de novo homopolímero, sob codinome Proxess H33, e diferenciado por aliar excelência nas propriedades ópticas e mecânicas com maior rigidez para filmes biorientados (BOPP) em sua produção e no empacotamento automático. “Em paralelo, trabalhamos em alternativas para melhorar a selagem de BOPP em laminados, visando viabilizar estruturas monomaterial (PP) mais fáceis de reciclar que as multimaterial”, adianta o diretor. Ainda no âmbito dos homopolímeros, Santos comenta o desenvolvimento do grade PCR DP 240 A, resultante de reciclagem de embalagens rígidas pós-consumo de PP. Testes iniciais foram considerados promissores para uso desse material, de cor próxima do polímero virgem natural, em filmes biorientados e planos (CPP) sem contato com alimentos e com baixa incidência de géis e resistência do fundido, assinala Santos. No front de PE, ele pinça a estreia no primeiro semestre de um grade bimodal de alta densidade (PEAD) para sopro da série Rigeo. “Sua alta rigidez, resistência ao impacto e tensofissuramento o qualificam para containers de produtos químicos”, especifica o executivo. Sem baixar a pormenores, Santos confirma para a metade final deste ano o ingresso em campo de grades diferenciados para tampas de bebidas carbonatadas e tubos de saneamento e irrigação.

Sobe e desce das cotações
A Braskem também é a pedra de toque em PVC no país e, na seara do vinil, uma sacada pintou em janeiro último, a reboque da pandemia: o lançamento com a transformadora AlpFilm de uma película vinílica com nanopartículas de prata e sílica, carga capaz de inativar 79,9% do corona em três minutos e 99,99% em 15. “O filme é indicado para embalar alimentos e proteção superficial”, delimita Almir Cotias, diretor do negócio de vinílicos da Braskem.
Por unanimidade dos analistas, PVC levou a coroa da resina que mais encareceu no planeta no ano passado, trono já perdido no exercício corrente. “Em 2020, a pandemia causou desequilíbrios conjunturais nas dinâmicas de oferta e demanda de termoplásticos”, argumenta Cotias. “Ao final do ano já se imaginava o que de fato ocorreu: uma pressão de alta no primeiro trimestre de 2021 seguida de queda nas cotações”. O diretor acrescenta que, quanto à oferta, houve um atraso para normalizar a produção global do vinil, efeito da tempestade de neve na petroquímica norte-americana, em fevereiro último. “Do lado da demanda, porém, desde julho rola uma vigorosa retomada das principais economias a tiracolo da vacinação, mas a piora das infecções na Índia, consumidor-chave de PVC, tem agido como contrapeso e ajudando a balancear o mercado global, reduzindo a pressão de alta sobre o vinil”. Pela varredura da plataforma S&P Platt’s, em 7 de janeiro último a tonelada do preço médio internacional de PVC rondava a faixa de US$1.595-1605, enquanto em 14 de julho declinava para US$ 1.495-1.505.
“Observamos uma queda nos preços internacionais na primeira metade de 2020, influenciada pela queda da demanda e suas expectativas causada pela pandemia”, confirma Alexandre de Castro, diretor comercial de PVC da Unipar Carbocloro, produtora do polímero no Brasil e Argentina. “Mas já no segundo semestre, a demanda de PVC reagiu no rastro do rápido reaquecimento que a construção civil mantém desde então”.
Almir Cotias retoma o fio recorrendo aos indícios de recuperação econômica, investimentos acelerados em infra-estrutura e adrenalina nas reformas residenciais e compra de móveis para fundamentar sua crença em salto de 5% na demanda de PVC este ano. “Apesar de muito bem-vindo, esse aumento não basta para o consumo aparente da resina retornar aos níveis da década passada”, compara o diretor. Do seu lado, salienta o executivo, a Braskem se empenha em corresponder ao crescimento da construção civil investindo no aumento da produção de sua capacidade nominal de 710.000 t/a do polímero, afetada pelo desastre geológico em Alagoas desde 2019. “Devemos operar este ano a taxas de ocupação acima de 80% do potencial”, sustenta Cotias.

EPS voa alto
2021 vem sendo bastante atípico, constata Marcelo Natal, diretor comercial de estirênicos da Unigel. “A procura por poliestireno (PS) ficou bem acima da média histórica no primeiro trimestre, mas desacelera desde abril, pois transformadores de produtos de uso único e da resina extrusada (XPS) ainda se ressentem do fechamento do comércio em vários centros por restrições sanitárias”, ele argumenta. “Sinais preliminares de recuperação da demanda devem surgir a partir de agosto”. Com base na variação da demanda entre janeiro e junho e a perspectiva de normalização, Natal acredita que o mercado interno de PS feche 2021 bem próximo das 380.000 toneladas computadas no período precedente. Quanto ao mercado nacional de estireno, exclusive seu uso para polimerização, o diretor da Unigel põe fé num avanço de 1% a 2% sobre 2020. “Tal como aconteceu em PS, a demanda pelo monômero esteve forte no primeiro trimestre e esfriou no segundo, mas há uma diferença fundamental no período: as ampliações da capacidade que têm possibilitado o polímero expandido (EPS), segmento-chave para estireno, substituir importações de produtos acabados asiáticos”.
Luiz Paladino, gerente comercial da área de estireno da Innova, concorda que a procura pelo monômero murchou desde o segundo trimestre, embora redutos como tintas e borracha tenham então sinalizado melhora. “Mas se reagirem a partir de agosto, puxadas por vacina e aquecimento histórico do segundo semestre, as vendas totais de estireno devem suplantar este ano entre 2% e 3% o saldo de 2020”. Na mesma trilha pedregosa, Fábio Meireles, gerente comercial da área de PS comenta que 2021 abriu no mesmo bom pique do trimestre anterior, mas desde abril o movimento entrou em fogo brando e se os cinco meses finais não decepcionarem, pelas razões já mencionadas, o polímero estirênico sai do ano com consumo nacional 2-3% acima de 2020.

Binômio vacinação/retomada
Os primeiros três meses de 2020 foram um pesadelo para a produtora de PET Petroquímica Suape, rememoram João Nave, responsável por inteligência de mercado e marketing da empresa, e a analista de marketing Fernanda Belli. “Sob impacto da pandemia, clientes diminuíram bastante, quando não cancelavam pedidos, buscando consumir estoques e preservar o caixa”. O jogo virou na primeira metade de 2021, quando, apesar das temporárias restrições sanitárias e das incertezas ainda no ar, as vendas acumuladas até junho último da Petroquímica Suape cresceram 10% frente aos seis meses iniciais de 2020, calculam os dois executivos. Na garupa desse saldo, eles confiam que, o binômio vacinação/retomada não negará fogo nesta metade final de 2021 desembocando um incremento mais de 10% acima este ano para o consumo nacional de PET. Indorama, também produtora do poliéster no país, negou entrevista.
À margem do vai vem da demanda, a Petroquímica Suape enriquece o mix este ano com dois grades do portfólio de PET de sua controladora Alpek: as resinas Laser+® E60 A e B90A. A primeira, explica Fernanda, possui viscosidade intrínseca média e é recomendada para garrafas transparentes de cores neutras. “Tem lugar em segmentos como não carbonatados, óleos comestíveis, lácteos, cosméticos e produtos de limpeza”, exemplifica a analista. Já o tipo B90A, ela deixa claro, focaliza bebidas carbonatadas não alcoólicas. “Ela possibilita projetos de recipientes mais leves, de maior barreira ao gás e adequada resistência à pressão interna e tensofissuramento”. Fernanda Belli grifa ainda a superioridade da nova resina em termos de absorção de calor e processamento, mesmo sob velocidades maiores de sopro.

Pressão para cima
Desde o segundo semestre de 2020, o mercado de PET para segundo uso, a resina mais reciclada, se distancia da prostração dos seis meses anteriores. No segundo trimestre do ano passado, os principais recicladores do poliéster produziram menos da metade do volume aferido no mesmo período em 2019 entre os poucos mercados do material à margem da paradeira e até estimulados pelo combate ao vírus estiveram as embalagens para delivery e saneantes, percebe Auri Marçon, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). “A retomada da demanda surpreendeu no segundo semestre de 2020 e só não foi maior porque os catadores não saíram às ruas, por temor do corona e, como receberam auxílio emergencial, não sentiram necessidade urgente de trabalhar”. No cômputo final, expõe o dirigente, o volume reciclado de PET caiu cerca de 15% no ano passado. A propósito, encaixa Marçon, grandes marcas de produtos finais (brand owners) adeptas das garrafas de PET mantiveram em 2020 seus volumes de consumo do reciclado em prol do cumprimento de metas de sustentabilidade.
Escorado nessa trajetória, o dirigente nota que 2021 começou promissor para a reciclagem de PET. Nesse contexto, ele destaca o pulso da procura por PET reciclado grau alimentício. “Diversas marcas e produtos do setor de alimentos vêm sendo lançados em embalagens com teores de 25% a 100% desse tipo de PET reciclado, cujo consumo este ano deve superar 5% e bater a marca de 100.000 toneladas”. Quanto à reciclagem de PET pós-consumo como um todo, Marçon antevê a chegada a 311.000 toneladas este ano, volume que ele situa ao redor de 12% superior ao resultado pré-pandemia de 2019.

Projeções cautelosas
Nos últimos anos antes da pandemia, a indústria automobilística brasileira já rodava com ocupação sofrível sua capacidade total na soleira das cinco milhões de unidades ao ano. Para este ano, a mistura grossa da falta de semicondutores com as medidas sanitárias restritas prenuncia a produção de apenas 2,45 milhões de veículos, reza a projeção vigente em julho, volume 22% superior ao de 2020 mas longe de fazer o setor sorrir. A propósito, calcula-se que entre 100.000 e 120.000 veículos deixaram de ser produzidos entre janeiro e junho por causa do sumiço dos chips e estima-se em 140.000 o corte na montagem na última metade do ano.
A conjuntura rima com tortura para os plásticos de engenharia, pois ligados ao setor automotivo por cordão umbilical. No entanto, além da consequente corrida de fornecedores do material no Brasil para intensificar o cultivo de negócios capazes de suavizar este golpe no seu maior mercado, a disponibilidade internacional de resinas também preocupa, ainda mais num país que produz em escala limitada um solitário polímero nobre, a poliamida (PA) 6.6.
Acatada luneta desse setor, Jane Campos, CEO da componedora Radici Plastics, braço no país do grupo Radici, bólido da Itália em plásticos de engenharia, dá o tom do drama. “O primeiro semestre foi atípico, pois a demanda cresceu cerca de 30% sobre o mesmo período em 2020, por sinal uma expansão local e mundial”, ela conta. “Com isso, começaram a faltar insumos e aconteceram entraves como a insuficiência e encarecimento do transporte marítimo dificultando as importações de polímeros nobres”. À entrada de julho, Jane se inquietava com a queda abrupta em junho das vendas de seus materiais para embalagens de alimentos e para injeção de peças para linha branca e eletroeletrônicos, sem falar na preocupação com as paradas das linhas de montagem de carros por falta de componentes. “Entramos em julho 23% acima do budget projetado para o primeiro semestre, mas estamos cautelosos em relação ao restante do ano”, esclarece Jane. “Nossa expectativa é fechar 2021 com 10-15% de crescimento sobre 2020, considerando que não tivemos perdas no comparativo do ano passado com 2019”.
PA 6 foi o carro-chefe da Radici no primeiro semestre, informa Jane. “Foi decorrência da falta e encarecimento de PA 6.6 na praça, levando muitas aplicações a migrarem para PA 6”, justifica a dirigente, enaltecendo também a procura no Brasil por Raditer B pelo composto de polibutadieno com 30% de vidro para injeção de componentes para eletroeletrônicos.
O panorama atordoador não diluiu o pique dos desenvolvimentos gestados na planta componedora da Radici em Araçariguama, interior paulista. Entre as novidades estreantes no primeiro semestre, Jane Campos distingue RADILON MIXLOY®, blend de PA com copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS) de baixa densidade e cuja excelência em quesitos como acabamento, estabilidade dimensional e resistência térmica abrem-lhe as portas de aplicações internas, externas e sob o chassi de veículos, fora itens de eletroeletrônicos e impressos em 3D.

A chave mestra

Vacinação determina o crescimento sustentável do mercado, atesta presidente da Abiplast

Roriz: cota de importação facilitada de PP preenchida em 18 dias.

Reduções tarifárias de resinas deferidas pelo governo já estão na galeria dos feitos marcantes deste ano da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast) em prol da competividade da transformação neste ano repleto de óleo na pista, névoas e curvas sinuosas para o mercado trafegar. Nesta entrevista, José Ricardo Roriz Coelho, presidente da entidade, dá um cauteloso rasante pela conjuntura .

Pela trajetória no primeiro semestre, como a indústria transformadora caminha para fechar 2021?
Em 2020, o setor apresentou crescimento de 2,4% em sua produção física frente a 2019, influenciada pelo comportamento dos segmentos de embalagens e tubos e acessórios para construção. Para 2021, a expectativa é que o resultado flutue em patamar semelhante ao do ano passado. Vale a ressalva de que, diante de um histórico de baixa em 2020, é natural que parte dos resultados positivos de 2021 venha de um efeito “carry over” (transferência do ano passado para este), não somente no setor plástico, mas na economia como um todo. Além disso, o auxílio emergencial tem contribuído com o consumo das famílias, sustentando esses resultados. Mas o fator determinante para um crescimento sustentável, além das reformas estruturantes, é a vacinação. Ela permite a reabertura gradual, mas definitiva, da indústria, comércio e serviços, impedindo que incertezas no ambiente de negócios gerem mais demissões, o que impacta na lógica do crescimento, afetando o poder aquisitivo e poupança da população. Por tudo isso, ainda em um cenário de dúvidas, é importante que tenhamos cautela nas projeções.

O primeiro semestre também marcou pelo declínio da procura em geral por resinas por transformadores a partir de maio, fato que elevou estoques de fornecedores. Qual a sua justificativa para esse resfriamento pontual?
Não temos a informação de elevação dos estoques, contrastando com o cenário de escassez de resinas do ano passado. Ainda encontramos no mercado informações de permanência da limitação de oferta. Como já foi dito, a demanda do setor se mostra aquecida – principalmente por embalagens e tubos e acessórios para construção civil – o que também contribui para o desequilíbrio na oferta de matérias-primas. Outro indicativo para o tema é que, em março último, conseguimos zerar o imposto de importação de PP com cota de 77.000 toneladas pelo prazo de 3 meses. Em 18 dias, ela foi consumida ou utilizada.
A conquista nas alterações tarifárias foi fundamental para permitir acesso mais competitivo dessas matérias-primas no contexto controverso que estamos e, por isso, precisam ser prorrogadas. Ainda enxergarmos pressão na demanda de matérias-primas. Para PVC, houve redução temporária da alíquota de importação para 160.000 toneladas e em um mês de vigência praticamente metade dessa cota já tinha sido utilizada pela indústria brasileira. Isso somente demonstra a falta de alternativas de fornecimento de matérias-primas para equilibrar o mercado numa situação de desabastecimento. Há um entrave estrutural que presenciamos há muito tempo chamando atenção: monopólio com mercado fechado/ protegido, instrumentos de defesa comercial usados inversamente com a lógica da geração de valor e a falta de investimentos locais para ampliação de capacidade e somente fora do Brasil. Para o restante do ano, nossas reivindicações serão para a não prorrogação dos antidumpings de PVC (origem EUA e México) e PP (origem EUA). A Abiplast tem buscado levar a público esse desequilíbrio de mercado, além de sensibilizar o governo quanto aos impactos no acesso a matérias-primas a preços competitivos. O imposto sobre importações brasileiras de resinas é um dos mais altos do mundo (14% no Brasil contra uma média de 6,5% nos países da OCDE), aliado a antidumpings contra PP e PVC que podem chegar até a 18%.

O corona abalou o esquema de abastecimento dos transformadores. Como isso tem se refletido nas políticas de compras dessas indústrias?
Quanto aos estoques de matérias-primas, empresas que possuem capital de giro para tal, conseguem equilibrar este cenário. Por outro lado, os menores – que nem sempre possuem esse capital e compram de agentes autorizados – acabam por enfrentar essas circunstâncias de maneira mais difícil, uma vez que há alto repasse de preços e margens elevadas da distribuidoras. De qualquer forma, a inflação de oferta que viemos enfrentando sempre tem um repasse de ineficiência e cada empresa lida com isso de alguma forma.

À espera da renovação do estoque

Distribuidores torcem pela volta das compras regulares de resinas

“Nossas vendas de resinas commodities caíram 15% em volume no primeiro semestre frente ao mesmo período em 2020, mas as de plásticos de engenharia subiram 19% em volume”, contrapõem Wilson Cataldi e Amauri Santos, dirigentes da Piramidal, marco zero da distribuição brasileira de termoplástico. De janeiro a março último, eles assinalam, o giro de materiais nobres tiniu, mas os dois calejados varejistas inserem um porém. “O robusto índice de crescimento aferido tem por base comparativa o pavoroso primeiro trimestre de 2020, quando a primeira onda da pandemia praticamente paralisou a economia”. Além disso, frisam, o mérito da engorda nas vendas cabe também ao time de desenvolvimento de aplicações da distribuidora. Entre seus feitos na primeira metade de 2021, Cataldi e Santos distinguem substituições de componentes metálicos por contratipos injetados com plásticos de engenharia em componentes de implementos agrícolas.
“No total, nosso faturamento saltou 40% no primeiro semestre versus o mesmo período em 2020, prenunciando receita este ano de R$ 1,3 bi contra R$ 910 milhões em 2020”, adiantam exultantes os dois agentes. “A justificativa para essa antevista receita, recorde nos 36 anos da Piramidal, é a alta dos preços das resinas commodities e o aumento da fatia abocanhada por plásticos de engenharia no balanço, lembrando que, embora menores em volume, resinas nobres são mais caras que as resinas commodities”.
No plano geral do mercado, nota Cataldi, as vendas de resinas commodities acusaram no primeiro semestre o baque do estado de emergência imposto pela segunda onda do vírus. “O consumo interno esfriou e os preços se estabilizaram, justo num momento de aumento das importações brasileiras de poliolefinas, movido inclusive por dois fatores pontuais relativos a polipropileno (PP): a suspensão de taxas antidumpings e a redução de tarifas de importação”. Com isso, prosseguem os dois agentes, mesmo com o encarecimento internacional dos fretes marítimos e o peso do câmbio o Brasil importou, apenas de janeiro a maio último, 586.000 toneladas de polietileno (PE) e 229.000 de PP contra 448.000 e 165.000 toneladas nos cinco meses iniciais de 2020. “Ou seja, as importações de PE e PP saltaram, respectivamente, 30% e 40%”, grifam Cataldi e Santos. “Com as vendas de artefatos plásticos empacadas pelo estado de emergência, os preços internos das resinas em superoferta declinaram, efeito da incontornável lei da oferta e procura e, noves fora, os estoques se avolumaram nas transformadoras”. Olhares setoriais captavam em junho o quadro de 60 dias em média de estoque de poliolefinas na transformação, que vinha realizando compras apenas pontuais a preços estabilizados pela sobra de material na praça. Pelo observatório da Piramidal, a recomposição desses armazéns só deve tomar vulto a partir de agosto. “Não creio que novas reduções tarifárias se façam necessárias neste momento, pois a oferta interna de poliolefinas nacionais supre todas as necessidades”, salienta Cataldi.

Piramidal

A nova prata da casa

A novidade-chave na Piramidal é a implantação da unidade de soluções circulares, a cargo do recém-chegado gerente Fábio Koutchin. Wilson Cataldi, sócio executivo da distribuidora, assinala que a nova base de negócios está em linha com a imersão da empresa no conceito ESG (conjunto de práticas sociais, ambientais e de governança) e o portfólio em vista inclui biopolímeros, reciclados premium e aparas industriais. Outra frente de atuação na mira é a prestação de serviços, a exemplo de projetos de logística reversa canalizando resíduos pós-consumo para reciclagem terceirizada e o material assim recuperado terá segundo uso na mesma aplicação do início do ciclo. Nesta entrevista, Fábio Koutchin pincela o raio de alcance de sua unidade, por sinal sem similar por ora no varejo do nacional do plástico.

Quais matérias-primas e iniciativas compõem o portfólio inicial da unidade de soluções circulares?
Entre os materiais, contamos, por exemplo, com o mostruário de parceiros petroquímicos, caso dos produtos I´m green da Braskem, como PE e copolímero de etileno e acetato de vinila (EVA) de fonte renovável e grades de poliolefinas pós-consumo recicladas, além dos blends de poliestireno virgem e recuperado da série Ecogel da Unigel. Também desenvolvemos ampla gama de produtos reciclados de marca própria, por ora à base de PET, PP e PE. Com relação às demais soluções, a estrutura da Piramidal, com 10 centros de distribuição, frota própria e equipe capacitada configura excelente ponto de partida para implantação de serviços como operações de circuito fechado e logística reversa.

Qual a possibilidade de sua unidade intensificar o lançamento de produtos de aura verde com marca própria?
A Piramidal é um provedor de soluções completas para clientes e isso também vale para a unidade de soluções circulares. Diante disso, é parte de nossa estratégia trabalhar uma linha de materiais de marca própria de forma complementar aos parceiros petroquímicos, tanto em termos de disponibilidade de produtos quanto de diversidade de portfólio.

Fruto dessa conjuntura no modo pause, foi uma impensável baixa pontual nos preços de poliolefinas no país na primeira metade do ano, espantam-se os dois dirigentes. “A alta nas cotações internacionais prosseguia e, por sua vez, o mercado interno não estava comprador e aproveitou o recuo dos preços aqui dentro para formar estoques no segundo trimestre, um quadro de demanda e oferta de matéria-prima totalmente diferente do frenesi da procura no ano passado”, confrontam Cataldi e Santos. “Ou seja, o Brasil fugiu no primeiro semestre, em caráter excepcional, dos fundamentos da precificação internacional das resinas”.
A partir de agosto, põe fé a dupla, o mercado deve demandar termoplásticos por causa do aumento da população vacinada que, por seu turno, irá dar vazão a hábitos de compra represados no imobilismo social, caso de vestuário ou de bens de consumo vistos na loja física. Cataldi e Santos mantêm a fé no vigor dessa recuperação apesar do custo de vida esfolado pela inflação, câmbio, desemprego recorde e encarecimento dos chamados gastos essenciais. “Essa retomada acontece em todo lugar com altos índices de imunização e decerto vai reverberar no consumo brasileiro de plásticos até dezembro, mesmo considerando-se o peso de fatores adversos como inflação, desemprego recorde e encarecimento de despesas essenciais”, eles sustentam. Mas com uma ressalva. “Tudo isso vale estritamente para o cenário de agosto ao final de dezembro e, nessa retomada, não se descarta a hipótese de volta da insuficiência de resinas para acompanhar o pique da reativação da demanda”. Sobre o mercado em 2022, eles fecham o bico. “Ainda é uma incógnita com bastante influência dos rumos de um período eleitoral”.

Desarranjo geral
A distribuição autorizada de resinas amargou queda em volume da ordem de 50% no primeiro semestre contra o mesmo período em 2020”, dimensiona Laercio Gonçalves, CEO da mega distribuidora Activas e presidente da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast). “Tudo ia bem até abril mas surgiram as decretações de lockdowns e restrições sanitárias mais rígidas nos principais centros do país e levantamentos atestaram então que transformadores operavam em média com dois meses de estoque, de modo que sua renovação deva ocorrer a partir de agosto”.
Para o dirigente, essa conjuntura ferrou na primeira metade do ano com a prática de suprimento just in time (sistema de gestão da produção sem formação de estoque), por falta de demanda na ponta do consumo final. “O quadro foi complicado por coincidir com a entrada maciça de importações, em especial de PP, devido a temporário alívio tarifário”. Com a transformação impedida pela baixa demanda de desovar seus produtos a contento, pondera Gonçalves, essa situação indigesta de excedente de matéria-prima externa e doméstica culminou com uma descida dos preços internos das resinas, na contramão da alta internacional por elas experimentada com grande parte da população do I Mundo vacinada e sedenta de consumo. “Já no Brasil, quem importou PP e PE deu de cara com um mercado esfriado e procurou desovar a mercadoria internada fosse como fosse, a preços depreciados, para tentar salvar algo do capital aplicado e isso instaurou um viés de baixa nas cotações das resinas”, ele descreve. “Houve momentos em que as importações responderam por 50% do material disponível no varejo do plástico, participação acima da média habitual de 25-30%. Foi um lance fora da curva e, por três a quatro meses, o mercado perdeu a referência dos preços, pois deixou de ser norteado pelas cotações internacionais”.

Melhora moderada
O enrosco deve começar a diluir em meados de agosto, concorda o porta-voz da distribuição. “Manda a lógica que o mercado aqueça, mas sem aquela intensidade notada em 2020 e, se houver pontual insuficiência de resina, não será da mesma magnitude notada no ano passado, quando a distribuição vendeu menos em volume mas brilhou no faturamento”. Desse modo, ele completa, a receita dos agentes deve ser de novo maior este ano, por causa da junção dos preços em patamar elevado das resinas com a demanda historicamente tonificada a partir do terceiro trimestre, mas os volumes no exercício corrente devem igualar as vendas de 2020. Uma amostragem aflora da trajetória da Activas, ilustra Gonçalves. “No primeiro semestre, nosso giro médio mensal ficou 50% abaixo do nível habitual mas, pelo andar da carruagem, devemos fechar o ano com faturamento na faixa de R$1 bilhão”.
O recesso no primeiro semestre não engessou as sacadas tiradas do forno pela Activas. Em relação ao portfólio, Gonçalves exulta com a entrada das poliamidas 6 e 6.6 da chinesa Juheshum, de compostos poliolefínicos da inglesa Saco e dos materiais biodegradáveis e compostáveis da filial em Curitiba da americana Earth Renewable Technologies (ERT). Além de desfilar de braço dado com o protocolo da ESG a Activas agora aprofunda o garimpo de negócios na mina da sustentabilidade. “Por exemplo”, ele adianta, “está saindo do papel o projeto de levarmos sacaria vazia de clientes para reciclagem, otimizando a produtividade da nossa frota e contribuindo para a redução de resíduos pós-consumo”.
Única distribuidora de resinas sediada no Nordeste, a Eteno também anseia por uma virada do terceiro trimestre em diante. No início do ano, ele lembra, estourou uma corrida para construção de estoques em todos os elos da cadeia. “No segundo trimestre, novas determinações sanitárias restritivas impactaram o consumo nacional de resinas, convergindo para o instável momento atual, configurado por preços altos e muita disponibilidade de material”, ele expõe, assinalando que sua distribuidora sentiu o declínio da demanda infligido por medidas como lockdowns. “Com base nesse cenário, projeto para esta metade final de 2021 uma nova correção nos planos de suprimento de matéria-prima, com a transformação tendendo à zona de conforto, reduzindo estoques e tornando a testar o trabalho com o sistema just in time”, argumenta Fernandes. “Diante disso, o segundo semestre promete uma reação ancorada na vacinação em massa e nas previsões de crescimento do PIB. Com muito trabalho e a balança equilibrada, comemoraremos 2021 no zero a zero”.

Suprimento instável
Porta da frente para plásticos de engenharia ganharem a praça, a distribuidora ThaThi Polímeros deparou no primeiro semestre com uma demanda centrada em formulações consagradas. “Tivemos expressiva quantidade de consultas em torno dos tipos mais consumidos de poliacetal (POM), polibutileno tereftalato (PBT) e poliamidas (PA) 6 e 6.6”. nota o presidente João Rodrigues. “Não houve interesse por soluções dependentes de desenvolvimento em laboratório”. A seu ver, o mercado mostrou-se ávido por garantir o suprimento de materiais de giro certo nos volumes habituais. “Por exemplo, os projetos que nos chegam de novas aplicações automotivas recaem sobre plásticos de engenharia tradicionais”. Nesse contexto, segue o dirigente, o carro-chefe da ThaThi entre janeiro e junho foram as duas classes de poliamida que comercializa. “Os tipos mais utilizados agregam de 10% a 60% de vidro”, ele detalha, contemplando POM in natura com a vice-liderança no giro.
Rodrigues acha que, em regra, seus clientes devem persistir até dezembro na predileção por soluções de venda certa em lugar de grades de peculiaridades diferenciadas e dependentes de esforço para conseguir um lugar ao sol no mercado. Em paralelo, o distribuidor se preocupa com a disponibilidade limitada de materiais nobres no exterior e com o cumprimento dos cronogramas de sua chegada ao Brasil a tempo de desfrutar o período mais aquecido do ano. “O segundo semestre está sendo bastante afetado pela oferta escassa no exterior de POM, PBT e PA 6 e 6.6 e percebemos que as fontes não têm cumprido nossos programas de importação”, lamenta o distribuidor, acrescentando que o Brasil hoje marca pela insuficiência de resinas, inclusas as de engenharia, e os frequentes anúncios de férias coletivas e outras variantes de paradas pelas montadoras geram insegurança e pessimismo na cadeia das especialidades plásticas. “Os cenários apresentados pelos fornecedores prenunciam uma queda razoável em nosso volume de vendas até dezembro, quadro agravado pelos prazos consumidos no embarque, viagem, internação e transformação dos materiais”.

Filme de suspense

Sinais voláteis embaçam projeção das vendas de embalagens flexíveis este ano, constata o presidente da Abief

Mani: na torcida pelo bis da expansão aferida em 2020.

Com base no desempenho no primeiro semestre, como a indústria de flexíveis deve fechar 2021?
Hoje em dia, infelizmente, não temos como prever como o setor fechará 2021. Mas acreditamos que empate com o avanço aferido em 2020, em torno de 5% – o que seria grande vitória. Diante de todo o turbilhão da macroeconomia e do nosso próprio setor, especialmente diante da escalada de reajustes nas matérias-primas e custos logísticos, acabar o ano sem perdas já será uma conquista importante. Ressalto que 2021 vem se mostrando mais desafiador que 2020. Acho que, a partir do terceiro trimestre, os volumes de vendas comecem a subir, mas sem toda aquela euforia e desespero notados no ano passado.

Qual a sua visão do encolhimento da procura por resinas pela transformação na primeira metade do ano?
Havia uma previsão de que teríamos uma ressaca em algum momento, porém ela está algo mais longa que o esperado.
Temos que entender que houve um aumento de estoques de toda a cadeia produtiva do plástico, principalmente a partir do último trimestre de 2020, comportamento naturalmente explicado pela precaução com a falta de matérias-primas e produtos. No plano geral, os transformadores foram se estocando para não correr risco de ficar sem material. Mas ocorre que, no primeiro sinal de queda de demanda, as posições se inverteram e as empresas começaram a colocar seus estoques para fora, causando aquela ressaca.

Como os transformadores de flexíveis têm lidado com as rupturas provocadas pelo corona nas suas programações de abastecimento de resinas?
A pandemia mudou por completo a estratégia e forma de trabalhar de muitas indústrias, principalmente as maiores. Eu, particularmente, não acredito que por bom tempo o processo just in time fará mais parte da estratégia das empresas, dado que não haverá garantia de produtos por um bom tempo. Vai levar um período considerável para as cadeias produtivas voltarem aos patamares pré-pandemia; os fluxos internacionais com fretes e mercados também terão que se ajustar à conjuntura. Ficar com estoques muito reduzidos será um risco considerável.

Como os principais segmentos de embalagens flexíveis tendem a delimitar suas participações no mercado em 2021 versus 2020?
A participação das embalagens para alimentos deve se manter ou até mesmo crescer um pouco, principalmente devido à substituição de recipientes soprados, latas e vidro e por stand up pouches. No tocante a embalagens de pet food também se prevê crescimento de market share, pois as famílias cada vez mais adotam animais de estimação. A participação do segmento de bebidas tende a se estabilizar e a participação das sacolas no consumo de flexíveis deve cair sob pressão de questões indevidas relacionadas à sustentabilidade.

Concentração de forças

Otimismo age feito aditivo antibloqueio para vendas de masters

No embalo do segundo semestre em quinta marcha em 2020, o mercado de masterbatches pegava fogo no primeiro trimestre deste ano, constata Luis Carlos Pontelli Junior, supervisor nacional de vendas da unidade de especialidades poliolefínicas da componedora Karina. “Nossa unidade bateu recorde de vendas em janeiro e o saldo do movimento dos primeiros três meses de 2021 deixou para trás o resultado do mesmo período um ano antes”, ele aponta. Mas aí pintou a decretação de medidas sanitárias restritivas nos principais centros do país. “De abril a junho, as vendas para os principais segmentos de concentrados refluíram, a ponto de várias empresas paralisarem suas plantas”, assinala o executivo. Para o segundo tempo do jogo em 2021, ele pressente tímida recuperação até setembro, estribada no aumento da população vacinada, convergindo para um consumo fortalecido a ponto de o balanço dos masters este ano se aproximar do anterior.
A demanda na montanha-russa da conjuntura não tapou o pipeline de lançamentos da Karina no primeiro semestre, frisa Pontelli. “Diante de um mercado com olhos pregados nos reajustes de preços, lançamos dois concentrados desenhados para rápida homologação nos clientes”. Um deles, explica o supervisor, consta do master de boa cobertura MBPEBD preto 4800/3-1 para embalagens. A outra novidade no balcão é a solução MBPEBD Dessecante 6. “Cumpre a função de absorver umidade a um custo mais atraente”, esclarece Pontelli.
Entre os mais de 80 masters de aditivos faturados pela Karina no primeiro semestre, o novo dessecante ganhou o topo do pódio das vendas. “Seu consumo cresce porque ele proporciona absorção de umidade em resinas recicladas, matéria-prima com demanda posta em alta pela insuficiência e encarecimento do termoplástico virgem e pelo apelo ambiental”, justifica Pontelli. Quanto aos masters coloridos, o supervisor elege entre mais de 500 grades do portfólio, o tipo MBPEBD azul para ráfia e filme como o carro-chefe na primeira metade do ano.

Aura sustentável
Mesmo com a trava nas vendas imposta pelas restrições sanitárias ao comércio e indústria, as vendas de masters da Cromex viraram sem escoriações a página do primeiro semestre. “Apesar do segundo trimestre bem desafiador, o movimento foi bom de janeiro a junho e ultrapassou o do mesmo período em 2020”, vaticina Cesar Ortega, diretor comercial da componedora. Sua expectativa para o restante do ano é de continuidade do pique de crescimento, com base na escalada da vacinação, reativação de setores afetados pelas limitações presenciais, os laços estreitados com a clientela durante as ondas da pandemia e o poder de fogo do catálogo da Cromex.
Nos últimos anos, pondera o diretor, o mostruário foi injetado com o sangue novo dos desenvolvimentos de aura sustentável. Entre eles, sobressaem compostos e masters à base de polímeros biodegradáveis e aditivos para reciclagem, como compatibilizantes, extensores de cadeia e dessecantes. No âmbito de resina reciclada pós-consumo, são recentes no portfólio da Cromex os masters de cores e aditivos PCR, veiculados em plástico reciclado pós-consumo e a série C-Cycle, de soluções que incrementam a processabilidade, vida útil e propriedades mecânicas de resinas recuperadas. Na raia dos concentrados pretos, Ortega distingue a linha NIR, de masters detectáveis na triagem automatizada de resíduos por sensores de infravermelho próximo (NIR) e a série rC-Black, formada por concentrados de alta dispersão e poder tintorial e cujo pigmento é negro de fumo reaproveitado de pneus usados. “Já ganhou espaço em autopeças, calçados e flexíveis”, ressalta o executivo. Por sinal, aditivos para extrusão e desempenho de filmes saíram bem na foto do balanço do primeiro semestre, percebe Ortega, tal como a profusa palheta de cores standard e especiais.

Olho na crise hídrica
Tiago Zorzo, gerente comercial da Termocolor, recorre às mudanças comportamentais aprontadas pelo corona para justificar a forte procura, no primeiro semestre, por seus masters de cores intensas e com alusões à alegria, como efeitos fluorescentes. Conforme ele dá a entender, o momento clama por referências do conceito de alto astral, caso de tonalidades vibrantes nos produtos finais, assim como por soluções que contribuam para proteger contra o vírus, o que também explica o giro ok do aditivo antiviral da Termocolor. Zorzo exemplifica sua visão com a demanda em brasa desfrutada por seus masters amarelo e anti UV na primeira metade deste ano.
José Fernandes, sócio e diretor comercial da Cromaster, também saiu mais animado da primeira metade de 2021. “Com a vacinação acelerada, a economia e o consumo voltarão aos trilhos, em especial nas áreas voltadas à prestação de serviços, um quadro bem mais forte que em 2020, com oferta normalizada de resinas commodities e que nos contemplará com 15% de crescimento nas vendas deste ano”, ele confia, embora preocupado com o desdobramento da crise hídrica.
Na esteira da metade final de 2020, observa Fernandes, os concentrados que puxaram as vendas da Cromaster de janeiro a junho último foram os destinados a embalagens em geral, com ênfase nos redutos de alimentos e produtos de limpeza. “Decorrência da pandemia e home office”, atribui o componedor. No compartimento das formulações saídas do forno, Fernandes ressalta a série de masters idealizados para resinas recicladas pós-consumo. “A meta agora é compor uma gama de cores prontas para suprir essa demanda crescente”.

Desafogo com nova extrusora
Dedicada a concentrados fora do bojo das cores, a Aditive saiu em boa forma da travessia de 2020, mas encarou uma parada dura no primeiro semestre. “O consumo subiu além do esperado e ocorreu então uma falta de insumos para nossas formulações, nos dando muito trabalho para comprar matérias-primas e manter imune o atendimento aos clientes”, expõe o supervisor de laboratório Rafael Galdino Bringel. O sufoco só não foi maior, ele complementa, devido à chegada de nova extrusora de alta capacidade, recurso-chave para a Aditive elevar seu torque nesta metade final de 2021.
Os carros-chefe da empresa no primeiro semestre, indica Bingel, foram concentrados antichamas, anti UV e auxiliares de processo para filmes técnicos, e o desenvolvimento marcante no período foi o Masterfil Estabilizante Térmico M9025, recomendando inclusive para reciclados, e o Master Antifogging M2660/1. “Sua aplicação em baixas dosagens assegura à plasticultura eficiência no combate à incidência de névoa, reduzindo o risco de queima do plantio pelo efeito lupa”, esclarece o técnico. Os agrofilmes também estão na mira de outra novidade introduzida pela Aditive neste semestre: o estabilizante UV SL-4220/1. A proteção interna de recipientes mantendo a integridade de sabor e odor também inspirou o lançamento, sob codinome SL-L4540/01, do Masterfil Absorvedor de UV de Alta Performance e, visando o mercado de aquecedores solares, a Aditive comparece agora com master preto MB-P485C. “Agrega anti UV, antioxidante e um recurso que aumenta a capacidade de aquecimento da água”, explica conciso Bingel.

Cerco a BOPP
Filmes biorientados de polipropileno (BOPP) são a menina dos olhos da operação brasileira de materiais auxiliares da LyondellBasell. Roberto Castilho, diretor comercial dessa atividade na América do Sul acena com a chegada este ano às indústrias de BOPP dos masters Polibatch® ASP 10, FASP 718 e SPER 6 TS, respectivamente antiestático, antiestático/deslizante e deslizante migratório que proporciona baixo coeficiente de atrito com estabilidade e alta transparência.
A relação de novidades que estão ganhando praça envolve ainda o antiblocking em base de polietileno Polybatch® AB 7 NG. “Seus diferenciais são o agente ativo que mantém a transparência do filme e a dosagem inferior às aplicações de praxe desse insumo auxiliar”, informa Castilho. Para trabalho com poliolefinas em geral, o lançamento em campo da LyondellBasell, é o deslizante não migratório e antiblocking Polybatch® SI 1540 SC. “Proporciona coeficiente de atrito estável e se adequa à função hot slip”, arremata o executivo.

Viés de alta
“Começamos 2021 com demanda interna aquecida em meio a um cenário turbulento de encarecimento de matérias-primas e dificuldades logísticas globais”, avaliam Eliton Da Silva e Claudia Kaari, gerentes de negócios estratégicos na América Latina da componedora norte-americana Ampacet, com plantas no Brasil e Argentina. “Ainda assim garantimos fornecimento constante aos clientes e antevemos fechar 2021 com vendas superiores a 2020, devido a parcerias em andamento com transformadores”.
Além de sobressair no primeiro semestre pelo trabalho com cores e aditivos para incrementar o uso de plástico reciclado em produtos finais, os pontos altos da atuação brasileira da Ampacet no primeiro semestre estenderam-se por soluções como agentes fluidificantes para PP, a linha de super antioxidantes, o compatibilizante ReVive 311 e a família de aditivos BIAX4CE, integrada por antiestático, antifog, antiblock, migratório e não migratório para BOPP. Em relação ao mostruário de cores, Silva e Kaari destacam a receptividade obtida pelas tecnologias COLORTUNE, BlueEdge e RC-NIR Black. Eles acrescentam, que o mostruário de especialidades também recebe este ano inovações em cores e aditivos para filmes cast já implementadas no Brasil e agentes como AntiSlip 975, formulado com componentes orgânicos e não abrasivos e talhado para aumentar o coeficiente de atrito sem rugosidade, e o composto MATIP 347, cujo ás na manga é o efeito fosco/mate.

A demanda pega fogo

Vendas de equipamentos ganham tração desde a primeira onda da pandemia

“A pandemia alterou, desde o ano passado, as regras do jogo em favor dos nossos filiados”, pondera Amilton Mainard, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Equipamentos para a Indústria de Plástico (CSMAIP) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). “Apesar da alta nos preços e insuficiência de insumos essenciais como aço, alumínio e componentes eletrônicos, nosso setor segue aquecido e as vendas devem crescer este ano em torno de 18% a 20% perante 2020, mérito do grande consumo de embalagens em geral e produtos de uso único”.
Mainard segura o sorriso de orelha a orelha mesmo quando confrontado por adversidades como inflação acima do teto, dólar nas alturas, auxílio emergencial emagrecido, cerca de 15 milhões de desempregados e gastos essenciais pela hora da morte. “Embora não sejam animadores, esses fatores não trazem grandes preocupações”, reitera contemporizador o dirigente. “O setor fechou o primeiro semestre em alta e o segundo promete com seu histórico de aquecimento e o aumento da quantidade de vacinados, como demonstram os sinais claros de uma mobilidade social mais flexibilizada sob a pandemia e de demanda reprimida por produtos plásticos em bens duráveis, a exemplo de materiais de construção e peças técnicas para veículos e linha branca”. De volta ao âmbito dos reajustes descomunais de itens imprescindíveis, Mainard considera inevitável o impacto sobre os custos de máquinas a serem entregues ou encomendadas. “Os aumentos são prática global e, no geral, nosso mercado tem absorvido essas anomalias, e quanto ao dólar, a estabilidade de sua cotação na faixa de R$ 5 tem feito bem a todos”.
Boa parte dos associados da CSMAIP virou o semestre com produção comprometida para este ano, exulta Mainard. “Agora, a preocupação da indústria volta-se para o ano eleitoral de 22 e para as reformas ainda em ponto morto no Congresso e que poderiam dar mais previsibilidade aos negócios”.

Retomada em risco
A visão rósea de Mainard para o mercado este ano não é abraçada por outro verbete da CSMAIP, Newton Zanetti, diretor comercial da Pavan Zanetti, lenda viva das sopradoras nacionais de pré-formas e por extrusão contínua. “2019 foi uma lástima para investimentos em máquinas, mas no ano passado o combate ao corona tornou o plástico, antes vilificado na imprensa, um produto de primeira necessidade, à sombra da necessidade de saneantes, medicamentos e descartáveis para delivery”, expõe o dirigente. “Com isso, os transformadores voltaram com rapidez, desde maio de 2020, às compras de equipamentos em alta escala, aumentado a carteira dos fornecedores”. Zanetti ilustra a virada com momentos em que sua carteira de pedidos marcava sete meses de espera para entregar uma sopradora. “Acho que o faturamento da primeira metade deste ano dos fabricantes de máquinas para plástico ainda carrega algo das carteiras abarrotadas em 2020”. Para o exercício completo de 2021, porém, as perspectivas do saldo são outros quinhentos. “As vendas caíram bem perante o quadro do ano passado”, constata o diretor. “Uma recuperação é possível no segundo semestre, mas o risco de frustração existe devido ao desemprego elevado e empobrecimento do consumidor final, de modo que este ano, além de mais difícil, não será melhor para nós que 2020”.
Em evidência desde 2020, os reajustes nos preços de polietileno de alta densidade (PEAD) encareceu as embalagens sopradas com a poliolefina a ponto de transformadores não conseguirem repassar o ônus a contento, explica Zanetti . O custo desses frascos tornou então atraente os de PET, resina também precificada em dólar mas de cotações menos instáveis que as de PEAD, considera o dirigente. “Daí porque nossas sopradoras de pré-formas desfrutaram de boa procura no primeiro semestre, quando modelos como PET 5000, PET 7000 E PET 6000L (para frascos de até seis litros) têm sido vendidos no nível das linhas para PEAD”.
Entre os atrativos recentes no portfólio, Zanetti se apega a melhorias na sua sopradora 100% elétrica, munida de comandos B&R de conceito 4.0 e a comunicação à distância entre seu CLP e o suporte na matriz da empresa, em Americana (SP). Para o segundo semestre, o diretor acena, arisco a pormenores, com o lançamento de uma série de máquinas com aprimoramentos mecânicos e digitais, de início incorporados em linhas de médio porte e com estação de sopro simples e dupla.

Sétimo céu
“De julho do ano passado até o momento, o mercado de bens de capital para plástico, como um todo, tem primado pelo aumento de consultas e efetiva aquisição de equipamentos, uma demanda que impôs alterações nos cronogramas de fornecimento de máquinas”, festeja Paulo Leal, responsável pelas vendas técnicas da Rulli Standard, única indústria no país a aliar a manufatura de extrusoras para filmes blow e chapas.
Efeito dominó das medidas sanitárias restritivas, as compras de produtos de primeira necessidade, alimentos à frente, fazem desde 2020 a alegria da indústria de embalagens flexíveis e, por tabela, configuram salvação da lavoura para polietileno (PE) e polipropileno (PP). “O quadro de consultas e pedidos confirmados até o momento comprova que nossas vendas deste ano deixarão longe as de 2020”, sublinha Leal. O pódio dos carros-chefe da Rulli Standard nessa temporada, elege o técnico, é repartido pela linha para chapas de PET (inclusive reciclado) e a extrusora Evolution 2.1″, apta produzir 240 kg/h de filmes de PEAD.

Incertezas logísticas
Quinta-essência das injetoras de peças técnicas, a Arburg sentiu a partir de abril passado, em sua carteira no Brasil, o peso da adoção de temporárias restrições sanitárias ao funcionamento do comércio em várias centros, assim como o peso de entraves logísticos que atacaram indústrias como a automotiva e eletroeletrônica, conta Alfredo Schnabel Fuentes, diretor geral do escritório comercial da companhia alemã no país. “Mas desde junho último percebemos uma retomada das oportunidades consistente a ponto de projetarmos fechar 2021 com vendas 10% superiores perante 2020”. Um trunfo para essa meta se concretizar, ele exemplifica, é a demanda em fogo alto usufruída pela injetora 570 E Golden Electric, com força de fechamento de 200 toneladas e acionamentos elétricos. Seus chamarizes alinham precisão, produtividade e economia de energia.
Desde o ano passado, o corona apronta uma enxaqueca para as representações de máquinas no Brasil: a generalizada insuficiência e encarecimento (em moeda forte) de fretes marítimos internacionais. “Ficou difícil então estimar prazo de entrega e custos logísticos no fechamento de um pedido”, lastima Fuentes. “A incerteza gera grande desconforto nos clientes pela impossibilidade de se programarem de forma adequada para receber as injetoras no tempo desejado, uma insegurança extensiva ao próprio vendedor quanto a comprometer-se com despesas logísticas em determinadas modalidades de fornecimento”. Para contornar este impasse, o dirigente da Arburg conta ter realizado importações de equipamentos para estoque, de modo a atender a pedidos de entrega mais urgentes. “Também passamos a cotar máquinas com preços EX Works, ou seja, com custo de transporte sob responsabilidade do cliente”, ele complementa.

A chave do tamanho
A carência de embarques marítimos e a oferta limitada de voos internacionais também atazana a base local de vendas da canadense Husky, formadora de opinião global em sistemas de injeção, robôs, moldes e periféricos. “Tratamos então de diversificar a cadeia de suprimentos e, quando possível, de antecipar encomendas”, informa Paulo Carmo gerente da unidade de negócios de equipamentos para embalagens (pré-formas e tampas) no Brasil. “Dessa forma, amortecemos bem o impacto dessa instabilidade nos custos, mas conseguimos manter 100% ativa a nossa cadeia produtiva e até antecipamos entregas em alguns casos”. Escaldada com a instabilidade logística, a operação brasileira da Husky volta-se agora para cumprir com máxima antecedência os trâmites de despachos junto a clientes e reserva espaço o quanto antes no frete marítimo ou aéreo, assinala Carmo.
Apesar do suadouro, esse estorvo nos transportes não tira o pique das projeções sobre o mercado este ano. “Desde 2020 o movimento de contratos e negócios aumenta, à sombra do consumo alimentar e da crescente necessidade de embalagens”, descreve o gerente. “Embora o confinamento tenha reduzido a demanda por itens como pequenas apresentações de refrigerantes, para uso em bares, restaurantes e lojas de conveniência, aconteceu o contrário com frascos tamanho família, como os de água mineral e saneantes”, contrapõe Carmo. “Como este quadro vigente em 2020 deve continuar até dezembro, esperamos para este ano um movimento similar ao anterior”.

Vento a favor
Bruno Sommer, CEO da representação Techfine, agente das consagradas extrusoras de tubos plásticos da austríaca battenfeld-cincinati, também põe fé num incremento de vendas brasileiras até dezembro. “A estabilidade cambial melhorou e o longo tempo hoje requerido para entrega aqui de equipamentos europeus exige que a compra seja planejada com antecedência”, argumenta. Desde maio, ele nota forte aquecimento na procura por produtos de clientes da battenfeld-cincinnati, mas ressalta que a base fabril dos grandes transformadores de tubos tem sido suficiente para atender a demanda interna a contento.
Em relação ao fuzuê dos fretes, Sommer considera que, como os prazos de entrega de suas linhas variam de quatro a sete meses, “é possível antecipar a coordenação logística de forma a não abalar tanto os cronogramas de entregas. Na vitrine da Techfine, as linhas da battenfeld-cincinnati mais cobiçadas por produtores de tubo de PVC, distingue Sommer, são três extrusoras paralelas da série twinEX: o modelo 93-94, apto a produzir 800 kg/h; 114-134, com 1.200 kg/h de capacidade, e a máquina 135-34, com potencial para gerar 1.600 kg/h de tubos vinílicos de todos os tamanhos.

Recicladores antenados
Introdutora no Brasil da tecnologia de triagem automatizada de resíduos plásticos para reciclagem, a norueguesa Tomra pressente que seu volume de vendas por aqui este ano deixará para trás o saldo de 2020. “O mercado de reciclados tem procurado cada vez mais por grandes marcas para renovar o parque fabril e com a recente valorização do real perante dólar e euro os investimentos em equipamentos importados ficam mais em conta”, sustenta Carina Arita, diretora comercial da Tomra Recycling Brasil.
O sistema de sensores de infravermelho próximo Autosort®, especifica Carina, é o mais utilizado por recicladores de plástico, mérito de sua identificação precisa de garrafas e frascos por cores e tipo de material. Entre os avanços recentes no equipamento, ela exemplifica com o sistema Speed Air, que aumenta a estabilização do material na esteira de triagem; o componente Cybot, que efetua controle de qualidade por braços mecânicos pneumáticos e a tecnologia Deep Laiser, munida de inteligência artificial e capaz de selecionar materiais antes inidentificáveis e de contribuir para elevar os níveis de pureza do lotes de materiais separados para posterior reciclagem. “Também estamos trabalhando para aplicar este ano em clientes brasileiros a plataforma de gestão Insight, que oferece a análise dos dados obtidos pelos sensores para rápidas tomadas de decisão para aprimorar a performance dos sistemas de seleção”, arremata Carita. •

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