Bora virar o jogo

Tigre confia na volta gradual da construção à normalidade

Se o PIB subir de 0,5% a 1%, a Câmara Brasileira da Construção Civil (CBIC) projeta 2% de crescimento para o setor este ano. Mesmo assim, o saldo traduz uma descida abrupta e sem freio dos cumes atingidos desde a largada da pandemia. Em 2020, a soma da fervura no mercado imobiliário e varejo, mimoseou a construção civil com alta de 8% em volume versus 2029, com direito a repique de 7,6% de expansão no ano passado, aferiu a CBIC. Para este ano, a previsão de acanhado progresso de 2% para o setor é, aliás, a mesma antevista por sensores como a FGV para o balcão do comércio de materiais de construção, ditado pelo consumidor formiga.
De tão marteladas, as causas do solavanco já viraram tristes clichês – entre eles, inflação impensável, depreciação cambial, encarecimento dos materiais de construção, mercado de trabalho sem prumo, queda no poder aquisitivo e o mega aumento da taxa Selic, este um fator de singular impacto em setores mais vulneráveis ao ciclo econômico, caso da construção. Tormento em especial para pequenas e médias companhias, o custo de capital de giro aumentou e a capacidade de repassá-lo é menor, irradiando a metástase da inflação e juros sobre a demanda. Mas uma corrente de analistas defende que as maiores companhias brasileiras estão calejadas com fases instáveis e, embora pandemia e guerra na Ucrânia enfeiem o cenário, essa experiência faz com que não congelem de todo o fluxo de investimentos. Nº1 nacional em materiais plásticos de construção, tubos de PVC à frente, a Tigre enfrentou em 81 anos de estrada todo tipo de crise econômica no país sem nunca alterar a visão do seu setor como uma obra sempre em progresso. Na entrevista a seguir, Luis Filipe Fonseca, diretor executivo de negócios Brasil do grupo múlti catarinense, inocula este otimismo característico de sua corporação na interpretação do panorama.

Fonseca: retomada da construção formal contrasta com esfriamento do varejo.
Fonseca: retomada da construção formal contrasta com esfriamento do varejo.

Cimento, aço e tubos de PVC comandam desde 2020 as altas de preços em materiais de construção no Brasil. Com base neste quadro, quais as principais reações concretas que percebe neste ano, marcado pela forte inflação, juros e empobrecimento, nas decisões de compra do consumidor formiga de tubos de PVC?
Não podemos falar de todo o mercado. Nos segmentos onde atuamos, vemos diferentes efeitos dos fatores mencionados. Sentimos uma desaceleração no varejo da construção nos primeiros meses deste ano, se comparamos com os excelentes resultados do ano passado. Dados da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Acebip) mostram uma desaceleração no número de unidades financiadas para construção e aquisição perante os picos observados em 2021, porém ainda acima dos níveis históricos. A curva do varejo apontada pelo IBGE mostra efeito similar, com os primeiros meses de 2022 abaixo dos níveis alcançados em 2021, porém acima do período pré-pandemia. Ao mesmo tempo, seguimos vendo ritmo forte na construção formal, com a concretização dos lançamentos imobiliários feitos em 2021, confirmados pelos dados do IBGE relativos ao aumento na geração de emprego na construção formal e que, por sinal, continua num crescendo importante desde 2020. Por fim, presenciamos a manutenção do bom momento do agronegócio e saneamento básico, com o início de materialização das primeiras obras relacionadas ao novo marco regulatório.

No plano geral das vendas de tubos de PVC, qual a sua estimativa da participação detida pelo consumidor formiga e a detida pelos lançamentos imobiliários em 2020, em 2021 e a perspectiva para 2022?
Não temos como avaliar todo o mercado, conforme já mencionamos. Porém, vemos a construção formal com resultados fortes desde o ano passado, enquanto o varejo da construção tem mostrado desaceleração versus o forte crescimento de 2021.

Inflação, inadimplência e juros elevados e encarecimento dos materiais de construção pesam desde o ano passado para encolher lançamentos imobiliários e para incorporadoras /construtoras volta e meia reajustarem preços das obras a ponto de arcarem com distratos de clientes. Quais as principais mudanças que nota nas decisões de compra de tubos de PVC por construtoras para evitar maiores danos nessa conjuntura?
Com o aumento de custos em toda a cadeia da construção, notamos o tema de produtividade ganhando ainda mais relevância no setor. Nesse contexto, seguimos vendo a busca por valor do pacote total de produtos e serviços oferecidos, sendo o preço apenas uma das variáveis dessa equação. Na Tigre, ouvimos constantemente clientes para oferecer a melhor proposta de valor para seus negócios.

Como a Tigre avalia os efeitos da instabilidade econômica e alta de matérias-primas sobre o contingente de fabricantes de pequeno porte que compõem a base da pirâmide dos produtores de tubos de PVC?
Como em todo mundo, vivemos no Brasil momentos de instabilidade com os efeitos da pandemia e guerra na Ucrânia, além de outros fatores pressionando a cadeia global de suprimentos. Para navegar nesse ambiente, as empresas, dentro e fora de nossa indústria, precisarão focar ainda mais em práticas e gestão eficientes. Esse ambiente mais instável pode também estimular oportunidades de fusões e aquisições em setores como o nosso. Na Tigre, por exemplo, estamos sempre avaliando possibilidade de crescimento tanto orgânico como inorgânico, a exemplo do que fizemos em 2021 nos Estados Unidos, quando a compra da Dura Plastics, dobrou nosso tamanho no mercado norte-americano de tubos vinílicos.

Desde o desastre geológico em Maceió afetando a operação local da Braskem em 2018, a produção brasileira de PVC segue abaixo da antiga capacidade nominal de 710.000 t/a. Mesmo incluindo a produção argentina da Unipar, acha que a oferta doméstica de PVC atenderá a demanda nacional quando houver retomada efetiva da construção civil?
Não percebemos, no momento, riscos na cadeia brasileira de PVC que a impediriam de atender o crescimento da demanda nacional. Após um momento difícil entre 2020 e 2021, vimos a cadeia global de fornecimento do vinil se normalizar. A indústria nacional de tubos vem mostrando capacidade de recuperação e já estamos próximos da normalidade no fornecimento Por sinal, um indicador da nossa crença nesse retorno à regularidade são os consistentes investimentos no aumento da capacidade da Tigre para corresponder, apesar das instabilidades no curto prazo, ao crescimento potencial dos diferentes setores em que atuamos.

A cadeia de PVC comemora a homologação do novo marco regulatório do saneamento básico. Como avalia a possibilidade de os investimentos necessários serem refreados pela intensa insegurança jurídica, problema agravado pelas declarações de Lula de rever medidas de desestatização se eleito presidente?
O marco do saneamento é uma grande oportunidade para o Brasil. Além dos grandes investimentos, que já vemos tomando vulto, o acesso ao saneamento básico é direito dos cidadãos e questão de saúde pública. A discussão principal deve estar na universalização do acesso aos serviços e na capacidade dos diferentes atores envolvidos, sejam públicos ou privados, em materializá-la.

A depressão econômica atual, poupando apenas o agronegócio brasileiro, é encarada pela Tigre como um cenário desfavorável ou propício para lançar produtos para os setores em que atua?
Cenários mais ou menos favoráveis são cíclicos e fazem parte do processo. O Grupo Tigre, por sua vez, está sempre buscando inovações que atendam a seus diferentes mercados. Inclusive, temos um grande lançamento para julho, o ClicPex. Trata-se de um novo sistema para instalação de tubulações para água quente e fria. Funciona com encaixe rápido, possibilitando uma instalação até duas vezes mais ágil comparada ao que existe de solução similar no mercado. •

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