Nova fábrica reflete expansão da Radici no Brasil

Mudança da planta-sede ocupada por 26 anos evidencia uma gestão de alta resiliência à demanda volátil de compostos nobres
Radici em São Roque: capacidade instalada de 24.000 t/a para beneficiamento de polímeros de engenharia.
Radici em São Roque: capacidade instalada de 24.000 t/a para beneficiamento de polímeros de engenharia.
2025 já se confirma como ano ponto fora da curva para um petardo em plásticos de engenharia no Brasil: a componedora Radici Plastics. No plano global, as divisões de plásticos de engenharia e especialidades químicas do conglomerado italiano RadiciGroup tiveram, em 23 de fevereiro, a formalização de sua venda pela família homônima fundadora, há mais de oito décadas no leme da gestão, ao fundo privado americano Lone Star. No Brasil, por sua vez, onde atua há 27 anos, a controlada Radici Plastics acaba de transferir sua fábrica-sede de Araçariguama para São Roque, municípios paulistas, tendo sua capacidade de especialidades ampliada para 24.000 t/a e voltada a um sempre renovado portfólio de compostos dominados por PA 6 e 6.6. Na entrevista a seguir, Jane Campos, diretora geral da Radici Plastics, comenta a ininterrupta ascensão da empresa no país e adianta como a planta em São Roque vai afiar o já poder de fogo da Radici no concorrido mercado de beneficiamento de polímeros nobres.
Jane Campos
Jane Campos: desempenho da componedora em mais de duas décadas no Brasil nunca fechou no vermelho.

Qual era a capacidade instalada em Araçariguama, quando a Radici debutou como componedora no Brasil, qual a capacidade aferida ali ao final de 2024 e atingiu esta marca com quantas extrusoras?

Começamos em Araçariguama com a linha de produção da empresa adquirida, a componedora nacional Petronyl. Não me lembro da capacidade instalada em 1998, mas vendíamos 2.500 t/a no início e entramos em 2025 com capacidade instalada de 24.000 t/a.

Em receita e volume de vendas houve algum exercício, desde 1998, em que a operação fechou no vermelho ou estável em relação ao ano anterior?

Desde o início da operação, em 1998, a Radici cresceu a cada ano. Claro que tivemos anos difíceis como os que afetaram todos os mercados – 2008 e 2020, por exemplo – mas em nenhum exercício fechamos no vermelho. Sempre tivemos uma estrutura enxuta e dinâmica ajustando a empresa de acordo com o cenário – anos de crescimento com dois dígitos e outros não tão favoráveis. Isso se deve à pulverização das vendas em diversos segmentos. No início não foi fácil introduzir a marca, foram anos trabalhosos e que exigiram muita insistência e perseverança. Mas valeram a pena.

Por que a Radici optou por investir numa sede maior em lugar da opção de comprar um concorrente local?

Precisávamos realmente de espaço, com volume crescente dos negócios e a limitação de expansão da área antiga. A opção foi partir para uma fábrica nova, com toda a tecnologia e automação disponível e mais adequada ecologicamente falando. No futuro, podemos pensar em aquisições; agora temos espaço para isso e contar com os negócios num único site é, além de mais econômico, mais fácil de efetuar a gestão.

Quais as principais vantagens e diferenças da nova sede em São Roque perante a anterior em Araçariguama?

O primeiro diferencial é o fluxo produtivo, pois ficou ajustado economizando movimentação interna e tempo. A segunda vantagem é a redução do custo logístico. O ambiente de trabalho, em especial o fabril, ficou muito melhor e mitigou riscos de acidentes em condições de falta de espaço. No momento, contamos com cinco extrusoras produtivas, uma unidade completa de produção de amostras e um laboratório muito bem equipado com equipamentos novos e duplicados.

Quais os desenvolvimentos marcantes da trajetória da Radici no Brasil?

Desde o início das operações no Brasil, a Radici tem se destacado em diversos desenvolvimentos, especialmente na substituição de metais por plásticos de engenharia, e, entre os exemplos, podemos citar os pés de cadeiras, metálicos no passado, e a substituição de baquelite por PA nos ferros de passar roupas. Já no setor automotivo, a Radici tem contribuído significativamente com soluções inovadoras, visando a redução do peso dos veículos, com aplicações que vão de coletores de admissão a roof racks.

Com os recursos disponíveis na nova sede em São Roque, a Radici tem condições de realizar desenvolvimentos e entregar pedidos em quanto tempo?

Nosso objetivo é reduzir o lead time para sete dias e desenvolvimentos menos complexos no mesmo prazo. Temos total autonomia de desenvolvimento local e a parceria do nosso time global para auxiliar.

Principal mercado dos materiais de engenharia, a indústria automobilística brasileira roda há bom tempo com capacidade ociosa e financiamento inibidor para a venda de bens duráveis como carros. Como este cenário inseguro não conseguiu, pelo visto, alterar até hoje a rota da escalada da produção e vendas da Radici? Como é o esforço da empresa para diversificar suas vendas e depender menos do setor automotivo?

Quando o mercado fica difícil, precisamos trabalhar mais. O mercado existe, mesmo menor, e temos que trabalhar para conseguir cada vez mais uma fatia dessa torta. Temos uma estrutura comercial qualificada e bastante ativa, tanto no pré como no pós-venda. Com este diferencial, estamos prontos sempre para ajudar e nos ajustar à necessidade de cada cliente. O mercado automotivo é sinônimo de grandes volumes, de produção em escala. Ou seja, este seria o cenário ideal mas como o mar nem sempre é azul, disputar com tubarões requer muito sacrifício de margem; melhor fidelizar clientes em todos os segmentos.

No momento, como reparte suas vendas entre Brasil e América do Sul? Qual a estratégia para expandir a presença no restante da América do Sul este ano e como enxerga as perspectivas para vender este ano na Argentina do governo Millei?

As exportações representam apenas 5% das nossas vendas atuais. Quanto à Argentina, maior mercado depois do Brasil na América do Sul, estamos confiantes em dias melhores no futuro mas antes o país vai receber um remédio amargo e ficará recessivo. A hora é de trabalhar para o futuro.

Quais as principais soluções de materiais do Grupo Radici que a Radici Plastics do Brasil planeja nacionalizar na unidade em São Roque este ano?

A Radici investiu muito em produtos sustentáveis em 2024 e para 2025 esta tendência continua. Desse modo, um dos principais produtos que pretendemos nacionalizar é a nova linha de produto verde RENYCLE® , uma linha sustentável oriunda de poliamidas pós-consumo recicladas que atende a solicitação do mercado por produtos ecologicamente corretos. A grande vantagem dessa linha em relação à concorrência é possuir confiabilidade, rastreabilidade e certificado de origem. Suas aplicações são diversas, principalmente no mercado automotivo que hoje se empenha em diminuir a pegada de carbono de seus veículos.

Além de divulgar a nova sede, quais novidades que a Radici reservou para a feira Plástico Brasil?

Além da já mencionada linha RENYCLE®, a RadiciGroup lança na feira BIONSIDE®, uma familia de produtos de base biológica, composta por polímeros de engenharia obtidos a partir de matérias-primas de fontes renováveis. A da série BIONSIDE faz parte da série de produtos RADILON ® e inclui tanto os produtos vendidos sob a marca Radilon® D (PA610) quanto os que estão em testes (PA56 – PA510 – PA1012). A escolha de materiais de origem biológica representa um forte compromisso com a redução da dependência de combustíveis fósseis, bem como do impacto ambiental do produto e das emissões de CO₂. Graças à sua conformação química, as poliamidas resultantes de materiais de origem renovável apresentam altas características técnicas, o que as qualifica a muitas aplicações.Outro ponto alto da nossa exposição na Plástico Brasil: uma nova família de materiais retardadores de chamas sem halogênio à base de PBT (RADFLAM B). Ela expande nossa oferta de soluções para os setores de eletroeletrônicos e mobilidade elétrica, oferecendo aos clientes uma escolha ainda mais direcionada e sustentável para um grande número de aplicações.
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