Suando frio com quedas de braço em preços com superofertadas resinas virgens e subjugada pela demanda local à deriva, a União Europeia, farol global da sustentabilidade, sofre com um corte na carne de suas convicções: as decisões de redução da produção e de drástico fechamento de fábricas de reciclagem no continente, constata análise divulgada da consultoria S&P Global Commodity Insights, provando mais uma vez que quando o bolso fala a retórica verde emudece.
Estropiados fundamentos do mercado e arraigado sentimento de pessimismo quanto a uma virada de jogo são as justificativas servidas pela S&P para o encerramento, anunciado em 18 de maio e a ser concretizado até dezembro, de uma unidade alemã de 30.000 t/a de reciclagem mecânica de PET controlada pela associação da Suez com a Veolia (sócia da Braskem em planta recicladora no Brasil). No Reino Unido, prossegue a S&P, a recicladora escocesa Yes Recycling acionou em 25 de abril o modo pause para a parceria iniciada seis meses antes com a rede supermercadista Morrisons, paradeira explicada pelo encarecimento do material reciclado perante o viés de baixa de resinas virgens ás voltas com crescentes excedentes globais, como demonstram os ininterruptos ciclos de investimentos petroquímicos em poliolafinas na China, Índia, Sudeste Asiático, Oriente Médio e bloco Nafta.
Outro calcanhar de Aquiles da reciclagem europeia é que seu enfraquecimento estimula movimentos de aquisições de grandes empresas recuperadoras por petroquímicas. De acordo com a S&P, a temporada propícia para embolsar recicladoras premium a custos módicos para os cofres petroquímicas suscita o efeito colateral de varrer de cena a alternativa de produtores de PP e PE investirem na montagem do zero de instalações de reciclagem no continente. Além do mais, pulsa no ar a incógnita quanto à sobrevida hoje em suspenso do exército de recicladores de menor porte na Europa. Entre os exemplos da ida às compras de recicladoras por petroquímicas ocidentais, a LyondellBasell desponta no plano recente pela aquisição, verberada em 16 de maio, de ações de sua sócia Suez Veolina no controle da recicladora Quality Cyrcular Polymers, com plantas na Holanda e Bélgica. Além disso, a LyondellBasell apalavrou a compra do Mepol Group, com plantas de reciclagem na Itália e Polônia. Por seu turno, a Total Energies, petrolífera francesa com braço em poliolefinas, adquiriu a recicladora espanhola Iber Resinas, com duas unidades em Valência.
Relatório emitido em abril pela Agência Internacional de Energia, instalada em Paris, atesta que a petroquímica europeia permanece com margens estreitas e competição descomunal com resinas advindas da superoferta chinesa em plena conjuntura de consumo em fogo brando no Velho Mundo. A S&P retoma o fio do argumento defendendo que, uma vez mantido tempo carrancudo da economia global, o mercado de poliolefinas deve seguir no apagão atual por mais quatro anos e, para que o esboço de uma retomada mundial de sua petroquímica aflore, será inescapável uma racionalização de sua capacidade instalada até 2026.