Quais as etapas da manufatura de masterbatches (desde o recebimento de matéria-prima ao ensaque final do concentrado) em que a mão de obra tende a curto prazo perder lugar para a automação e digitalização que caracterizam os novos periféricos e máquinas básicas?
Fabio Patente: Em futuro não muito distante praticamente todo o processo de fabricação do masterbatch poderá ser automatizado. Por exemplo, etapas como o envase poderão dispensar a necessidade de operadores e já é possível cogitar silos com todos os pigmentos e matérias-primas estocadas e, através de software, definindo as formulações e processos de máquinas. Mas há particularidades no processo de manufatura que embutem certo risco com cortes de pessoal. Por exemplo, embora contemos com softwares desenvolvedores de cor, acho que colorista vai manter seu posto por bom tempo. O bom senso não é substituível pela automação (ainda).
Roberta Fantinati: Nas etapas de alimentação e embalamento decerto a mão de obra será substituída por automação. A propósito, já iniciamos estudos na Termocolor para dedicarmos investimentos a essa tendência a médio prazo.
José Fernandes: Para componedores de altos volumes, de grandes escalas em particular para brancos e pretos, vejo a necessidade de automação em áreas como recebimento, estocagem e alimentação das máquinas de produção, assim como no ensaque e controle de qualidade online e por periféricos na linha de produção. Até porque, em lotes grandes, qualquer erro gera enorme prejuízo no ajuste e reprocessamento. Em termos de masters sob encomenda e de pequenos lotes, alguns recursos de automação são relevantes, como o uso de ‘QR Codes’ nas diversas matérias-primas, para facilitar o controle e aumentar a precisão e rapidez no processamento interno das etapas de produção.
Diversos componedores brasileiros têm lançado compostos de plásticos biodegradáveis importados e caros (em especial, ácido polilático) de olho na hipótese de vingar no Brasil um movimento internacional a homologação de leis contra descartáveis plásticos, à base de resina petroquímica virgem. Com sua baixa renda e baixa consciência ambiental, o Brasil é um mercado atraente para esses biocompostos?
Wagner Catrasta: Não há como negar que o apelo à utilização de compostos de plásticos biodegradáveis cresce a cada dia, porém não podemos ignorar o fator monetário do produto. Ou seja, ainda não é viável sua produção em larga escala no Brasil. Entendo que temos que focar mais na educação da população quanto ao consumo e descarte correto dos produtos plásticos, principalmente os descartáveis.
Roberto Castilho: Nossa visão é de reutilização total do plástico, nesse sentido, temos a família de bioresinas Circulen. Entre elas, constam o tipo Circulen Recover, formulado a partir de resíduos de plástico submetidos a um processo de reciclagem mecânica; o Circulen Renew, feito a partir de matérias-primas renováveis, como óleo de cozinha usado e, por fim, o grade Circulen Revive, com ampla gama de usos e resultante de reciclagem molecular, destinada a converter resíduos plásticos em matéria-prima para novos polímeros.
O consenso do mercado estima em 150 a 200 empresas o número de componedores de masters no Brasil. Esta quantidade é compatível ou não com a capacidade instalada e consumo médio de concentrados no país?
Fabio Patente: Com a atual retração do mercado brasileiro, muitas dessas empresas, infelizmente, podem não sobreviver. No passado, era bem clara uma divisão no setor, pela qual empresas pequenas compravam de componedores menores devido ao difícil acesso aos grandes fabricantes de masters. Pois essa divisão acabou. Apenas os mais preparados permanecerão no mercado.
Roberta Fantinati: Esse número de 150-200 componedores já se tornou histórico, dado o entra e sai de players e as frequentes fusões no segmento. Esse contingente de componedores é, sim, compatível com a nossa realidade. Aliás, tanto é assim que não se nota no segmento muito impacto devido a importações de master. Como trata-se de uma especialidade de alto cunho técnico e cuja aplicação pode requerer ajustes customizados na formulação, torna-se necessário no país um efetivo de componedores locais e qualificados, mesmo para o suporte de casos referentes a masters commodities.
José Fernandes: O número de componedores de masters no Brasil bate com a estimativa colocada na pergunta, da ordem de 150 a 200 empresas e ainda devemos incluir no cômputo os importadores. Quanto a este contingente ser compatível com a capacidade instalada e o mercado, depende muito da demanda geral. Por exemplo, com o mercado de plástico em alta, como ocorreu em 2021, a impressão que se tinha é que todas as empresas de masters rodavam bem próximas de suas capacidades e havia uma preocupação muito grande quanto à condição de não faltar matérias-primas vitais para manter o pique então intenso da produção. Porém, em épocas de demandas menores, de mercados mais encolhidos, naturalmente a oferta é maior, o que se reflete em queda geral dos preços devido à alta competitividade. É o que mostra a conjuntura deste ano. Por isso, fica muito difícil precisar se a capacidade instalada para masters no país é compatível com o consumo.
Wagner Catrasta: Acredito que boa parte dessas 150-200 empresas opera dedicada a pequenos volumes e nichos desprovidos de muitas exigências técnicas de cor e/ou propriedades mecânicas. O grande volume do fornecimento de masters deve estar nas mãos de cerca de 10% dos citados 150-200 componedores, atendendo tranquilamente a demanda interna.
Muitos componedores menores surgiram no passado devido à baixa barreira de entrada em masterbatches. Hoje em dia, esse movimento acabou ou continua? Por que?
Fabio Patente: Isso acabou. Antigamente, era só saber a formulação, comprar máquina usada e produzir os masters. Hoje em dia, se o componedor não importar diretamente pigmentos da China e Índia e se não tiver máquinas mais produtivas dificilmente sobreviverá. Com esse boom de empresas de masters, as margens ficaram muito apertadas e sem um investimento alto é muito difícil permanecer no mercado.
Roberta Fantinati: Apesar de o mercado brasileiro ser comandado por componedores grandes e experientes, eu sustento que o ingresso no ramo de novos entrantes menores sempre existirá. Esse movimento é saudável para o mercado e, ao final das contas, separa quem fica de quem sai, facilitando por extensão ao transformador ou reciclador a escolha do componedor para atendê-lo.
José Fernandes: Na verdade, masterbatch é, em regra, produto de baixa tecnologia de produção por um pequeno componedor. Credito muito mais a este fator a proliferação de fabricantes que, em sua maioria, são pequenos empreendedores oriundos de empresas maiores. Eles vão se multiplicando para o atendimento a alguns clientes específicos e alguns, ao longo de tempo, acabam fechando as portas. Mas muitos acham seus caminhos e vão se consolidando. Não tenho essa visão das barreiras impeditivas. Algumas múltis de masters entraram no Brasil, mas encontraram indústrias nacionais super competitivas e fortes no mercado interno. Talvez essa seja a maior barreira impeditiva que as empresas de fora enfrentam aqui.
Wagner Catrasta: Esse movimento continua; é comum encontrarmos novos nomes na concorrência. No entanto, da mesma forma meteórica que surgem, eles desaparecem. Essa mortalidade demonstra que se manter nesse mercado não é fácil, demanda muita mão de obra especializada e equipamentos cada vez mais avançados. •