“Em grande parte devido à queda do poder aquisitivo, muitos setores vivem um momento desafiador, mas o mercado pet expandiu”, constata Mario Schlickmann, presidente do Grupo Copobras ao qual pertence a convertedora Incoplast, potência em flexíveis para alimentos de animais domésticos. “Os donos (tutores) deles estão empenhados em proporcionar uma alimentação variada e saudável”. Em paralelo, o dirigente pontua a influência exercida desde o ano passado pela pandemia na quentura dessa demanda, mesmo com a economia hoje com freio puxado. “O distanciamento imposto pelas restrições sanitárias acentuou a identificação dos pets como membros da família”. De fato, varredura do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) atesta que 30% dos bichos de estimação de mais de 2.000 entrevistados foram adquiridos durante as ondas de propagação da covid 19. No pano de fundo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que 37,673 milhões dos cerca de 71,219 milhões de domicílios no país sejam lares de pets.
A catarinense Incoplast arma um cerco completo sobre flexíveis para pet food. Seu arsenal abrange desde stand up pouches (SUP), pouches e box pouches a uma grande diversidade de sacos e acessórios como alças, zíper, válvulas, microfuros e facilitadores de rasgo da embalagem. “No momento, o grande desafio do negócio é fazer mais com menos”, pondera Schlickmann. “Ou seja, oferecer aos fabricantes de rações e petiscos opções que, sem agregar diferentes polímeros na embalagem, correspondam a uma penca de exigências como as relativas a shelf life, resistência, poder de barreira, qualidade de impressão e reciclabilidade”. Conforme sublinha, é crescente no ramo a procura por alternativas sustentáveis para a composição da embalagem, caso de insumos de aura verde ou a substituição por estruturas monomaterial, bem mais simples de reciclar do que laminados contendo resinas quimicamente incompatíveis entre si. Acertando o passo com essa nova música, a Incoplast já pendura um troféu na parede: o fornecimento dos sacos de 500g da ração Fórmula Natural, da fabricante Adimax e cujo laminado inclui filme biorientado de poliéster (BOPET) contendo teor desse polímero pós-consumo reciclado grau alimentício, participante da linha Ecophane® da transformadora Terphane.
Outra tendência pulsante em pet food, aponta Schlickmann, é a inclinação dos tutores por porções menores. “É um movimento que alia a intenção de dar um alimento sempre fresco e de características nutricionais preservadas com menor desembolso”. A transposição dessa mudança no consumo para as embalagens desemboca em previsão de bom tempo para box pouches e SUPs, percebe o dirigente. “São formatos cuja produção admite diversos tamanhos e acessórios; de posicionamento destacado na gôndola e facilitam sua condição e armazenamento, devido à leveza e ocupação de pouco espaço”, argumenta Schlickmann.
Adesivos para faro fino
Adesivos fazem o meio de campo para laminados corresponderem à excelência requerida no embalamento de pet food. “Os adesivos poliuretânicos isentos de solventes, exceto para estruturas de pouches retort, são os tipos mais comercializados para este segmento”, aponta Jeferson Segantini, Head de negócios na América do Sul da alemã Henkel, top of mind em adesivos. “Devido ao olfato ultra sensível dos animais domésticos, a tecnologia isenta de solventes é a mais adequada, mas também dispomos no catálogo de adesivos poliuretânicos à base de solventes, para corresponder a determinadas expectativas de performance”. A operação brasileira da Henkel produz todos esses adesivos em Jundiaí, no interior paulista. No ano passado, por sinal, o mix foi fortalecido pela chegada de dois tipos da família Loctite Liofol LA adequados ao trabalho em flexíveis para alimentos secos, caso de rações e snacks para cães e gatos. Um dos lançamentos, sob o codinome 7809/6226, sobressai pela compatibilidade com tintas de flexografia e rotogravura, reduzindo a incidência de aparas de impressão e solucionando entraves relativos à movimentação e arraste da tinta após a laminação. Já o adesivo 7809/6253 acena com maior estabilidade do coeficiente de fricção nos substratos após a laminação.
Coextrusão em baixa
A icônica convertedora Videplast produz flexíveis (bags ou bobinas) para pet food em unidades em Videira (SC) e União da Vitória (PR) e, entre os pontos altos fabris, consta a flexografia em até 10 cores a cargo de impressoras Bobst e Windmoeller & Hoelscher, distingue Domênico Macchia Junior, diretor de novos negócios e desenvolvimento de novos mercados. Pela sua análise, a economia retraída não tem interrompido o crescimento do consumo de pet food e volta e meia surgem mais fabricantes de rações e petiscos.
O alinhamento do conglomerado catarinense Videplast com a endeusada sustentabilidade para embalagens de pet food é ilustrada pelo fornecimento à gigante de rações Adimax de sacos laminados com polietileno (PE) da série I’m Green™ da Braskem, derivado da rota alcoolquímica (etanol da cana de açúcar). Outras tendências em flexíveis para rações captadas no radar de Macchia compreendem o uso de resinas que combinam maior resistência mecânica com espessuras menores. “Outros pontos de atenção neste mercado são a qualidade da impressão e a busca de barreiras mais eficientes contra migração da gordura dos alimentos”, ele acrescenta, assinalando não notar maior interesse por embalagens coextrusadas de PE com poliamida no setor de pet food no país.
Uma bem-vinda sacudida em flexíveis para pet food acaba de vir à tona através de triangulação entre a Solito Alimentos, sua fornecedora exclusiva de embalagens Videplast e a operação brasileira da alemã Haver & Boecker, fabricante de sistemas de ensacamento e paletização. A junção de forças resultou na adoção de avançado sistema form/fill/seal (formatação/ enchimento/ selagem) rompendo com o tradicional ensacamento de rações com embalagens pré-formadas (detalhes na pág. 32) .
Tem de tudo
Pela complexidade e valor agregado das embalagens, os laminados para pet food são alvo de garimpo incessante de soluções por vips globais em materiais auxiliares. A LyondellBasell puxa esta fila com um portfólio de passe livre em embalagens de brand owners mundiais em nutrientes, petiscos e biscoitos para os chamados consumidores peludos. Roberto Castilho, diretor comercial para masterbatches, resinas diferenciadas e especialidades em pó na América do Sul, ilustra esse poderio com o agente antiblocking Polybatch® AB7. “Proporciona excelente economia e performance em estruturas mais espessas de laminados, podendo ser dosado aproximadamente à metade do percentual em regra utilizado pelo mercado”, ele sustenta. No tocante a excelência do coeficiente de atrito (COF), Castilho comparece com o intermediário Polybatch® PE AD N03306. “Dispõe do dobro de agente ativo habitualmente utilizado pelos convertedores de flexíveis”. Na esteira, o diretor ressalta os préstimos do antiestático VLA 55, cuja relevância se destaca em processos de alto atrito, caso da entrada de pet food no saco ou pouch. Na seara das resinas especiais, ele pinça para embalagens de rações os grades Hifax. “Aumentam a rigidez e reduzem a espessura dos filmes em sua aplicação em baixos teores”, ele esclarece. Para melhorar a selagem e propriedades mecânicas dessas embalagens, a pedida da LyondellBasell é a linha Adflex de resinas pelo processo Catalloy e que aliam atributos de poliolefinas e elastômeros. Entre as inovações no portfólio, Castilho se aferra a dois auxiliares para turbinar características ópticas de embalagens de pet food. O auxiliar Papermatch® T 5346 NG proporciona visual e propriedades do papel, como rigidez e qualidade de impressão elevadas. E para conferir à embalagem uma conotação premium com efeito mate, baixo brilho e toque suave, o diretor recomenda a resina Polybatch® M70.
Reciclado no miolo
“Por incrível que pareça na economia atual, não tivemos redução no volume de negócios com os fabricantes de pet food que atendemos”, exulta Edmur Batista do Carmo, diretor geral da Finepack, convertedora fera. “Hoje em dia, noto que um ser humano pode até passar fome; mas pet não”. Como referência do fulgor no ramo, o dirigente calcula que sua produção de flexíveis para rações e quejandos aumentou em torno de 200% nos últimos cinco anos e, no momento, a categoria de embalagens para pet food mobiliza 24% do faturamento da empresa.
Antenado no endeusamento da economia circular pelos setores que atende, Carmo comprou este ano uma extrusora Challenger, da brasileira Wortex, munida de desenho de rosca e matriz adequados ao trabalho com plástico reciclado de aparas industriais e resíduos pós-consumo. “A intenção é operar com material recuperado na camada central e resina virgem nas demais duas capas, mantendo assim as características de laminação e selagem inalteradas”, explica o convertedor. A maioria das embalagens para o mercado pet produzidas na fábrica da Finepack em Jundiaí (SP) consta de laminado à base de filme biorientado de polipropileno (BOPP)/BOPET/ polietileno de baixa densidade (PEBD). “Também estamos em trabalho forte para desenvolver uma solução monomaterial, à base de duas camadas de PEBD, para conferir as barreiras à transmissão de vapor d’água e à migração de gordura requeridas para pouches de pet food”.
Nos últimos três anos, considera Carmo, o principal desenvolvimento da Finepack para o mercado pet foi o box pouch em parceria com a catarinense Soulpack. “Neste mesmo período, adquirimos duas linhas japonesas para pouches com vistas à produção de embalagens retort para rações úmidas com até dois anos de shelf life sem refrigeração”, ele informa. “Como é muito grande a quantidade de SKus (número de referência único para gestão de estoque) no segmento de pet food, de gravação de cilindros de rotogravura (camisas descartáveis) para cortar custos com a produção conjugada de dois ou mais itens”.
Pelotão de elite
Com um rasante pelos meandros da laminação e impressão, a componedora Termocolor acontece em flexíveis para pet food com um tropa de seis aditivos de ponta da família TMB. O diretor comercial Wagner Catrasta abre a vitrine com o agente deslizante 40007 e o antiestático 40008. Outros auxiliares que ele enaltece são o auxiliar de fluxo 40021. “Ele diminui ou zera o acúmulo de material na matriz da extrusora e melhora o acabamento do filme”. Já o agente antiblocking 40022, ele fecha, mostra a que veio diminuindo a aderência das paredes da película. Catrasta fecha o desfile de soluções para empoderar embalagens de petfood com duas novidades na série TMB: o agente bactericida 10019 e o antiviral 10020.
A ascensão de SUPs em porções menores de rações tem consistência, julga Carmo. “O maior atrativo dos SUPs diante dos concorrentes flow packs é a possibilidade de produzir uma embalagem com zíper, ensejando sua abertura e refechamento sem afetar a integridade do alimento”.
A propósito, Alan Baumgarten, CEO da Gualapack Brasil, referência em pouches e SUPs (ver seção Oportunidades à pág. 14), está de olho nessa oportunidade. “O mercado pet é um dos segmentos para flexíveis que mais crescem no país e há espaço para pouches e SUPs em rações úmidas, uma aplicação aliás já preenchida com pouch retort pela matriz italiana da Gualapack que também fornece o equipamento de envase para esse produto”.
Monitoramento da consultoria W4Chem para a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief) indica a produção de 45.000 toneladas do setor para acondicionar alimentos de pets em 2020. De janeiro a setembro deste ano o volume aferido foi de 27.000 toneladas ou 10.000 a menos que no mesmo período no exercício anterior.