Desinfetando o baixo astral

O setor de materiais nobres responde à crise prospectando aplicações fora de seus principais mercados

Artérias jugulares dos plásticos de engenharia, a indústria automobilística e, degraus abaixo, a de eletroeletrônicos, sofrem com pane seca nas vendas instaurada desde março pela pandemia e seu colateral esvaziamento do poder de compra e da confiança do consumidor. Mas, em lugar de resignação com o pesadelo, o que se vê no reduto de especialidades plásticas é uma caçada em massa a novos garimpos e o astral turbinado por projetos de peças de veículos não ceifados pela crise e transpostos para 2021, sem o corona no horizonte.

“O cenário é bastante desafiador para nosso negócio de poliamidas (PA), mas temos um portfólio balanceado e que extrapola os componentes automotivos, a exemplo dos setores de bens de consumo, elétrico e industrial”, contrapõe Emy Yanagizawa, gerente sênior de marketing de materiais de performance da Basf na América do Sul.

Toque sustentável
Contrapeso ao freio puxado nas vendas para as montadoras, a Basf, única produtora de polímero de engenharia no país (PA 6.6), fechou o primeiro semestre com aumento de soluções de especialidades para outros mercados. Emy ilustra com itens de pulverizadores de higienização injetados com PA 6.6 com e sem fibra de vidro, estabilizada termicamente e destacada também pela excelência no acabamento superficial. “Outro ponto alto foi a procura pelo composto C218V50 para conectores de alta tensão, pois exigem rigidez e resistência mecânica e às intempéries”, encaixa a gerente. Na esfera das peças de conectores e materiais elétricos e eletrônicos, uma vedete nas vendas da Basf tem sido o composto A209, um tipo de PA 6.6 com a propriedade Glow-Wire Flammability (ensaio de fio incandescente) e, pulando para o setor de mobiliário, Emy distingue a receptividade a um tipo de PA 6 com 30% de fibra de vidro para peças estruturais de cadeiras de escritório. “A pandemia também estimulou nossas vendas de polisulfona (PSU) para equipamentos dependentes de esterilização, como respiradores e ventiladores pulmonares”.

O vírus não minguou o fluxo de desenvolvimentos que a Basf tira do forno. No compartimento do apelo ambiental, Emy aponta a família AR100, constituída por PA 6.6 sem carga, fabricada com material proveniente de reciclagem química e lubrificada com alta fluidez. Também derivado em parte da reciclagem química é o composto CA218V30, à base de PA 6 modificada, com 30% de fibra de vidro e estabilidade térmica acenadas para peças em que o tratamento superficial seja imprescindível, como tampas de motores de veículos e móveis. Emy completa o rol de sacadas recém introduzidas com o e-commerce (www.plasticosengenharia.basf.com) para sua série de poliacetal (POM) Ultraform®. Em paralelo, no plano dos desenvolvimentos em curso, de aplicações no Brasil para PA 9T Ultramid® Advanced N, cuja boa absorção de água e excelência nos atributos mecânicos e químicos a qualificam para itens do sistema de arrefecimento de veículos, conectores especiais eletroeletrônicos e pequenos conectores e componentes para segmentos como a linha branca.

Projetos adiados
“Nosso maior campo, a indústria automotiva vai demandar menos volume de materiais nessa crise, mas os desenvolvimentos não param”, nota Anderson Maróstica, gerente técnico da Lanxess no Brasil. “Projetos agendados para implantação este ano estão sendo postergados para 2021, sob o pressuposto de um mercado em recuperação”. Desse modo, ele acentua, apesar das bordoadas do corona em seu negócio de PA, “nossas expectativas continuam positivas para este ano em virtude do grande número de projetos em que temos de entrar neste semestre final, a exemplo de componentes de motores turbo, de uso crescente nas montadoras daqui”.

Apesar da relevância dos componentes automotivos em seu balanço, Maróstica enfatiza a expansão dos compostos de PA da Lanxess em peças como as de eletroeletrônicos, caso de botões de comando (switches). Do ângulo do portfólio da empresa, a pandemia não abala a tradicional liderança nas vendas dos grades Durethan B de PA 6 com fibra de vidro, dianteira fortalecida não só por predicados como resistência mecânica e rigidez, mas pela integração global da Lanxess na cadeia do polímero e na fibra de vidro, justifica Maróstica.

Entre seus desenvolvimentos recentes na praça, o gerente tira da manga uma trinca de compostos: ECOBKV30H2.0, ECOBKV35H2.0 e ECO BKV60XF. “Constam de soluções de PA 6 com, respectivamente, 30%, 35% e 60% em peso por conta de reforço em que o vidro provém de resíduos remanescentes da produção de fibra de vidro, uma variante de reciclagem pós-industrial”, descreve Maróstica. “São compostos de mesmo desempenho do material com fibra virgem e em linha com a economia circular”.

Com o pé no freio

À entrada de 2020, o consenso entre as montadoras projetava salto de 10% nas vendas de veículos até dezembro, para júbilo da galera dos plásticos de engenharia. Mas desde março, atropelado pelo rolo compressor a pandemia, o setor trocou o azul pelo vermelho em suas previsões e o saldo do primeiro semestre revelou um infarto. A produção no período da ordem de 729.500 veículos traduz recuo de 50,5% em relação aos seis meses iniciais de 2019. Debruçada sobre a junção desse estrago com uma conjuntura tomada pelo vírus não debelado, 13 milhões de desempregados e poder aquisitivo esfacelado pela recessão, a Associação Nacional dos Fabricantes Automotivos (Anfavea) antevê para este ano a produção de 1.630 milhão de unidades de carros de passeio, comerciais leves, caminhões e ônibus. No pano de fundo, sofre uma capacidade instalada de montagem de cinco milhões de veículos no país. Retomando o fio do primeiro semestre, todos os segmentos de auto foram afetados, mas caminhões e agroveículos e máquinas (agrícolas e de construção) sofreram menos que autos leves, à sombra da opulência rural.
Pelo andar trôpego da carruagem, a Anfavea pressente que o mercado retome o platô de 2019 somente em 2025. Até lá, indica análise da Bright Consulting, devem fraquejar as vendas para locadoras, uma das principais escoras do movimento de veículos nos últimos anos. Em paralelo, assinala a consultoria, tende a cair a compra de hatches, dominada por consumidores menos capitalizados, e seguir mais vibrante a aquisição de SUVs, categoria identificada com público de renda maior.

Haja resiliência
A conjuntura rima com ruptura, deixa claro Jane Campos, gerente responsável pelo negócio de polímeros de alta performance da Radici na América do Sul. “Todos os integrantes do mercado precisam se reinventar e dispor de resiliência para garantir a sobrevivência”, ela atesta. “Home office e vendas on line vieram para ficar”. Em resposta à metamorfose, amarra as pontas a executiva, a Radici trabalha rápido em lançamentos e abertura de mais frentes de aplicação e, na esteira, Jane nota que, em contraponto à baixa em autopeças, setores como a linha branca, alimentos e materiais de construção andam animados.

Jane exemplifica os avanços que saem do pipeline com um blend de poliamida e polietileno, acenado para embalagens com o chamariz das propriedades melhores de barreira, e com a combinação de poliamida e copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS). “Sobressai pela resistência química, acabamento superficial, absorção de umidade e processamento facilitado”, completa a executiva.

Pressão da Euro 6
“A pandemia atingiu diversos mercados, em especial o automotivo”, lamenta Daniel Hernandes, gerente comercial das poliamidas da UBE na América Latina. “Em contrapartida, seguem com bom nível de produção os setores de implementos rodoviários, em especial vinculados ao agronegócio, e de alimentos, caso de proteínas em geral”, assinala o executivo, inserindo que, apesar da crise, diversos investimentos foram mantidos na indústria automobilística, a exemplo do segmento de caminhões. “Para nossa surpresa, o setor automotivo permanece entre os mais ativos em desenvolvimentos envolvendo nossos materiais, com as exigências da norma Euro 6, relativa à regulamentação da emissão de poluentes para motores diesel de veículos montados no Brasil a partir de 2023”.

Com linhas de PA 6, 6/6.6, 6/12 e 12, a UBE assedia autopeças, peças técnicas, monofilamentos e embalagens flexíveis. Hernandes engatilha para esta metade final do ano a introdução de compostos de PA 12 para tubos e, na esfera de PA 6, de grades para chicotes e recobrimentos elétricos. “Para este ano, temos grandes expectativas nas vendas de PA como agente de barreira para embalagens e mantemos a esperança de gradual recuperação dos mercados de peças técnicas e componentes automotivos”.

Homologações na gangorra
Fabio Celso Bordin, diretor para a América do Sul da alemã Ineos Styrolution, formadora de preços e opinião no mercado mundial de ABS e copolímeros de estireno e acrilonitrila (SAN), nada contra a corrente do ceticismo em relação ao mercado este ano. “Apesar dos impactos da pandemia, o mercado automotivo mostra em julho retorno a 50% nos níveis de produção, o consumo industrial de energia sinaliza rápida recuperação e, em junho último, o número médio diário de notas fiscais emitidas aumentou perto de 10% em relação ao mesmo mês em 2019. Ou seja, a demanda está retornando, mesmo que num patamar de grande incerteza”.

No Brasil, os carros-chefes da Ineos em ABS são os grades de uso geral da série Terluran GP 35 e GP 22, enquanto em SAN puxam as vendas os tipos Luran 358 N e 388S, delimita Bordin. “Alguns clientes pararam as plantas na quarentena, interrompendo assim os processos de homologação de produtos, enquanto outros tiraram proveito do maior tempo disponível em máquina para acelerar a tramitação dessas validações”. No embalo, o diretor aposta na receptividade a três novos grades de ABS multiuso da série Terluran. “Um deles, P4XF, tem fluidez de 60 cm³/10min e destina-se a peças complexas de parede fina”, descreve Bordin.”Os demais lançamentos são os tipos GP 22 ECO MR70 e MR50, respectivamente, com 70% e 50% de conteúdo reciclado”.

Foco redirecionado
Maior mercado da componedora brasileira Petropol, a indústria automotiva despencou no primeiro semestre, seguida com menos intensidade pelo setor de eletroeletrônicos. “Redirecionamos então os esforços da gestão comercial com uma produção mais vigorosa de compostos para aplicações em setores como agronegócio, médico-hospitalar e materiais de construção”, explica o diretor Fernando Tadiotto.

O corona rompeu, no primeiro semestre, com um paradigma no ranking comercial da Petropol. “O histórico impõe como campeões de vendas os compostos de PA 6, PA 6.6 e polipropileno (PP), mas este ano as soluções de PA 6 tomaram a dianteira”, percebe Tadiotto. As causas da mudança, ele enxerga, são a drástica queda nas vendas de compostos de PA 6.6, no rasto do recuo abrupto na produção de veículos, e e a substituição desse material por compostos de PA 6 nas novas homologações de componentes automotivos”. A propósito, um lançamento da Petropol neste último semestre é um composto de PA 6 com elastômero resultando em maior resistência ao impacto. “Também estamos introduzindo um tipo de PP com fibra de vidro quimicamente acoplada, de propriedades mecânicas similares ao composto reforçado de PA 6”, conclui Tadiotto.

Importações no primeiro semestre

O Brasil importou cerca de 95.000 toneladas dos plásticos de engenharia mais consumidos na primeira metade de 2020, evidenciam os dados oficiais fornecidos pela Associação Brasileira da indústria Química (Abiquim). No compartimento de PA 6 e 6.6, os volumes trazidos no primeiro semestre somaram 21.365 toneladas contra 29.327 no mesmo período em 2029. Quanto a ABS, as importações de janeiro a junho atingiriam 34.067 toneladas, abaixo das 36.935 toneladas na metade inicial do ano passado. Quanto a SAN, os desembarques no primeiro semestre de 2020 alcançaram 4.669 toneladas perante 5.334 internadas no mesmo período em 2019. Em termos de POM, as importações no primeiro semestre deste ano resultaram em 13.906 toneladas, mais do que as 10.581 aferidas nos seis meses iniciais de 2019. Por fim, o Brasil importou 20.490 toneladas de policarbonato (PC) entre janeiro e junho último, de leve acima das 19.594 registradas na primeira metade do ano passado.

Respiro no agronegócio
Alexandre Pastro Alves e Aurelio Mosca, diretores da componedora Krisoll, enxergam duas vigas mestras para uma retomada das vendas de seus compostos de PA e POM. “Acreditamos numa retomada mais rápida da indústria automobilística, efeito da combinação de juros baixos com demanda reprimida impulsionando o financiamento dos carros”, eles expõem. A outra escora, completam, é o aprofundamento de projetos de desenvolvimentos para peças e acessórios de agroveículos.

O vírus derrubou, no primeiro semestre, a demanda de materiais da Krisoll, em particular compostos de PA 6 e PA 6.6. com teores de 15% a 50% de fibra de vidro, distinguem Alves e Mosca. “ Várias linhas de especialidades também sentiram o baque, uma lenta recuperação das vendas já é notada, puxada por mercados como agronegócio e médico-hospitalar”. Em contraponto ao recuo nos pedidos de compostos, a Krisoll conseguiu mandar bem na primeira metade do ano em sua atuação como distribuidora de Ultramid®, as poliamidas para extrusão da Basf, empregadas como agente de barreira em embalagens de alimentos. “Os volumes enfraqueceram, nossa demanda no período ficou entre 70% e 80% do normal”, situam os dirigentes.

A Krisoll se desdobra em três frentes básicas: produção de compostos nobres, distribuição de polímeros e serviços de mão de obra na fabricação de compostos em geral. “O faturamento caiu cerca de 50% na primeira metade do ano e o balanço deve fechar 2020 em torno de 20% abaixo do saldo de 2019”, calculam Alves e Mosca. “Apesar do resultado muito ruim no primeiro semestre, a perspectiva de recuperação nesta metade final do ano e, em especial, a possibilidade de aumento do resultado líquido conseguido com cortes de custos, nos dão um alento e uma perspectiva muito boa para 2021”.

Na garupa da bike
A distribuidora Master Polymers não vacilou em embarcar na canoa da diversificação de mercados para aliviar a retração do setor automotivo. “Identificamos mercados de grande potencial para nossos plásticos de engenharia”, comenta o diretor Joel Pereira de Araujo. Desse modo, deixa claro, o advento do vírus desvendou oportunidades para PA 12 transparente, polisulfona (PSU) e polifenilsulfona (PPSU) em componentes de equipamentos médico-hospitalares dependentes de esterilização em autoclave, a exemplo de válvulas de respiradores e bandejas cirúrgicas. Na mesma trilha, Araujo insere aplicações em equipamentos de segurança individual, como poliftalamida (PPA) no reforço estrutural de capacetes e PA 12 transparente em armações de óculos como os destinados ao efetivo da saúde pública.

Araujo também sente vento a favor no reduto da mobilidade. “O consumo de bicicletas e patinetes deve aumentar, em função do interesse crescente pelo transporte individualizado para trajetos curtos, abrindo espaço para a substituição de componentes metálicos por materiais de engenharia”. No embalo, o distribuidor salienta o aumento, no âmbito do ciclismo profissional, de componentes produzidos aqui, a exemplo de travas da bicicleta, e injetados com materiais como poliftalamida (PPA), PA 12 e polieteretercetona (PEEK) com fibra de carbono. “O consumo ainda é pequeno, mas promete” , confia Araujo.

Ainda na seara da substituição de metais, Araujo chama atenção para as possibilidades na construção civil para PPA em itens internos de misturadores de torneiras e, aplicação também extensiva a PSU. Ele também abrre o leque do seu portfólio para o agronegócio. “A alta resistência à abrasão requerida para peças de semeadeiras pode ser provida por PA 12, PEEK, policetona (PK) ou polietileno de alta densidade e ultra alto peso molecular) e a resistência química necessária a ordenhadeiras é preenchida por opções como PSU, PPSU e PA 12 transparente”.

Apesar de avariado pelo virús, a indústria automobilística sagrou os campeões de vendas da Master Polymers no primeiro semestre. “Os carros-chefes foram PA 12 para tubos de combustíveis; PA triplo 6 Grilon TS para sistema de refrigeração e PPA e PA semi aromática para abolir metais, respectivamente no compartimento motor e no habitáculo de passageiros”, delimita Araujo.

A quarentena levou muitas empresas a pensarem fora da caixa, observa o diretor da Master Polymers. “Temos recebido consultas sobre novas ideias com grandes chances de sucesso para os polímeros de engenharia, pois envolvem produtos funcionais e duradouros, o que só se consegue com estes materiais”, ele reitera. Durante o home office de março a junho, ele exemplifica, sua distribuidora firmou três contratos de sigilo para desenvolver aplicações e o trabalho já passou da análise de elementos finitos para a fase de construção de moldes. “Além disso, alguns sistemistas do setor automotivo tiveram problemas com o fornecimento de componentes importados da China e decidiram nacionalizá-los. Temos dois casos concretos e um deles inicia a produção das peças em agosto”, arremata Araujo.

Virando a página

Três perguntas para Jorge Nascimento, presidente executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).

Como avalia o desempenho no primeiro semestre do setor de eletroeletrônicos, sob pandemia e recessão?
O setor vinha registrando um bom desempenho no primeiro trimestre, dentro da nossa expectativa de crescimento anual de 5% a 10% na produção. Entretanto, a partir da segunda quinzena de março, com o agravamento da crise sanitária, a indústria acusou os choques dos desdobramentos que implicaram na interrupção de praticamente toda a atividade econômica. Com a extensão dessa paralisação, devido à pandemia, o cenário foi se agravando. Com parte das fábricas sem operar e comércio fechado na maior parte das capitais e grandes cidades, sentimos bastante a queda nos resultados. O auge dos impactos econômicos negativos ocorreu em abril, quando observamos recuos entre 60% e 80% nas vendas para o varejo e registramos paralisações totais ou parciais em mais de 60% de nossas fábricas. Não dispomos (até o fechamento desta edição) dos dados do primeiro semestre, mas sentimos melhora nos indicadores em maio, na esteira de uma flexibilização maior do isolamento social e retomada da atividade comercial. As vendas do setor registraram alta, em média, de 40% em maio perante abril. No entanto, no acumulado do ano constatamos um saldo negativo próximo dos 30%. Ainda não temos como prever o desempenho do setor em 2020, mas sabemos que o caminho para um cenário mais positivo é por meio da retomada econômica.

A conjuntura atual tende a intensificar ou abrandar o pique de lançamentos das indústrias de eletroeletrônicos este ano?
As empresas programam lançamentos com antecedência considerável e por essa razão não esperamos um movimento generalizado de interrupção drástica na introdução de novos produtos. Entretanto, pode haver mudanças pontuais nas estratégias dos fabricantes.

Quais as categorias de eletroeletrônicos mais penalizadas e favorecidas em suas vendas pela crise econômica e sanitária no primeiro semestre?
Pesquisas de mercado indicam aumento pontual na venda de produtos para o lar e de uso pessoal. Ou seja, as pessoas estão comprando mais aspiradores de pó, secadores e chapinha para cabelo e utensílios para cozinha – afinal, estão comendo mais em casa. São eletroportáteis como estes que tornam mais agradável o isolamento social. Uma curiosidade é o aumento pontual nas vendas de máquinas de costura. No entanto, é preciso considerar dois pontos. Primeiro, estamos falando de aumentos pontuais nas vendas de linhas de produtos sem grande representatividade no volume de produção de eletroeletrônicos. Ou seja, o impacto desse movimento é pequeno para a indústria como um todo. Por fim, vale notar que, muito provavelmente, os produtos vendidos neste período via comércio eletrônico já estavam nos estoques do varejo; não saíram dos estoques da indústria.
Os eletroeletrônicos de vendas mais prejudicadas foram de grande porte, de maior valor agregado. São produtos que, por uma questão cultural, o consumidor prefere comprar na loja física, após avaliá-los de perto. Nesse contexto, se enquadram os integrantes da linha branca e televisores.

Ações imediatas
João Rodrigues, presidente da Thathi Polímeros, distribuidora de plásticos de engenharia importados, reconhece o mérito da busca de mais aplicações e mercados para os materiais, mas frisa que tais desenvolvimentos não brotam da noite para o dia e que também urge pensar no presente do negócio. “Desde antes do corona, ele situa, a Thathi tem recebido consultas sobre novas aplicações para suas resinas de PA 6 e 6.6, POM e polibutileno tereftalato (PBT). “O processo é lento até a produção comercial, pois inclui etapas como a confecção do ferramental, try-out e validação do sistema da qualidade”, ilustra o dirigente.
Sob a pressão para gerar capital de giro o quanto antes numa conjuntura de crise, ele julga que uma alternativa para a Thathi é morder os calcanhares da concorrência. “O jeito é buscar avançar no mercado buscando oportunidades nas fraquezas dos competidores e negociando crédito com empresas em maiores dificuldades e custos menores com nossos fornecedores externos, além de prospectar setores ou companhias hoje pouco representativas nas nossas operações”.

Injeção de ânimo
Regente da distribuição brasileira de resinas commodities, a Activas também comercializa ABS, SAN, POM, policarbonato (PC), copoliésteres e, no arremate, compostos e masters da controlada Actplus. Para o CEO Laercio Gonçalves e o gerente nacional de vendas Gustavo Marques, o fundo do poço já ficou para trás. “Em abril e maio, nosso movimento de materiais nobres caiu cerca de 40%, mas na virada do semestre a curva mudou, indicando o início de uma retomada”, eles sustentam, com base em fatores como a flexibilização das concessionárias de carros, às voltas com demanda reprimida de vendas de veículos, peças e serviços. “A expectativa é de uma ascensão progressiva até o final do ano, de modo que o balanço da Activas feche cindido entre 85% para termoplásticos convencionais e 15% para plásticos de engenharia, com um movimento total em torno de 10% abaixo das vendas de 2019”, situam Gonçalves e Marques.

Com portfólio concentrado em plásticos de engenharia, a distribuidora Tecnomatiz passou por momentânea letargia sob o choque do derretimento do setor automotivo no primeiro semestre, conta o gerente comercial e de desenvolvimento Sérgio Salinas. Em abril e maio, ele comenta, suas vendas de PA para componentes automotivos caíram 60%, índice reduzido a 40% em junho. “Mas nosso ânimo reacendeu com o número crescente de pedidos de cotações para novos projetos e aplicações, mantendo a pulsação da nossa carteira”, ele explica. “Isso ainda não se traduziu em vendas efetivas, mas é uma dinâmica salutar que notamos desde junho”

Em meio à timidez dessa recuperação, Salinas comemora a conquista de duas aplicações para grades de PA 6 de sua bandeira Lanxess. “O tipo Durethan T40 ganhou espaço no sistema de filtragem e purga de veículos pesados e Durethan XTS1, composto com 35% de fibra de vidro, ingressou em componentes com solicitação térmica para trabalho na faixa de 200º C”.

Apesar dessas boas novas, Salinas antevê para sua distribuidora uma queda nas vendas de cerca de 25% a 30% este ano na carteira geral. “Os volumes e margens operacionais pré-pandemia já não eram muito bons, mas hoje lembramos deles com saudade”, pondera. “Minha estimativa é de que os volumes comercializados estarão próximos do normal na Tecnomatiz no terceiro trimestre de 2021”.

 

Sem essa de entregar os pontos

Injequaly e Plasmosul pressentem retomada a curto prazo

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O primeiro semestre em quarentena embaralhou os passos da Injequaly, controlada do grupo norte-americano Viking Plastics e vocacionada para a injeção de peças técnicas na planta sede na Grande São Paulo. “Mas estamos com excelentes expectativas para o resto do ano, pois alguns concorrentes não conseguirão se manter no pós-crise e teremos mais negócios provenientes disso”, antevê o diretor Fernando Esteves. “Apesar da ousadia da meta para 2020 que traçamos no primeiro bimestre, acho que a recessão não nos impedirá de alcançá-la”.

Esteves fecha com a corrente que elege a indústria automobilística como o setor mais castigado pelo corona. No entanto, a Injequaly não saiu tão chamuscada por essas avarias. “Atendemos clientes em campos correlacionados, como veículos pesados e de duas rodas, ambos penalizados pela recessão, mas mantendo um consumo estável e indicador de retomada a curto prazo”, comenta o diretor, exemplificando as peças fornecidas com polainas de acabamento para caminhões. No universo automotivo, a crise baqueia fundo a venda para particulares de carros de passeio ou utilitários menores, julga Esteves. “Os veículos pesados e de duas rodas estão realizando o abastecimento de insumos no atual período crítico, de modo que estes segmentos seguem numa constante razoável. E o pior pesadelo para um transformador é conviver com instabilidade na produção”.

Antes da pandemia, a Injequaly já transitava por peças como plugues, tampas e agitadores para linha branca e suportes para placas solares. Além da injeção, a empresa oferece serigrafia, hot stamping e pintura. “Apesar de uma expressiva queda no faturamento, recuando a níveis de março de 2016, fomos favorecidos no primeiro semestre por clientes interessados em substituir fornecedores financeiramente instáveis ou com problemas recorrentes de qualidade”, constata Esteves. A propósito, ele encaixa, o setor da linha branca, embora atazanado pela crise, foi o que mais demandou peças técnicas da Injequaly na turbulenta metade inicial de 2020. “O movimento subiu por causa da transferência de fornecedores com problemas ou que fecharam. Afinal, é muito mais fácil trocar de supridor com o mercado parado; há mais tempo para aprovação da peça, documentação e entrega do volume inicial”.

A Injequaly investiu no primeiro semestre na compra de uma injetora de 800 toneladas e outra de 250, além de manipuladores de peças e um robô de seis eixos, expõe o diretor. “Mais duas injetoras, de 200 a 300 toneladas, chegarão à fábrica até dezembro”.
Esteves calcula que o balanço da Injequaly feche este ano 20% abaixo dos resultados de 2019. “Mas acreditamos muito numa forte retomada em todos os mercados em 2021, com o PIB crescendo acima de 5%”.

Agrobálsamo
O primeiro semestre marcou fundo a Plasmosul, ás de ouros do polo transformador da Serra Gaúcha. “Em essência, atuamos basicamente no desenvolvimento de peças para máquinas agrícolas, pois os outros setores em que atuamos (refrigeração, ônibus, caminhões, móveis e itens diversos) ficaram praticamente parados”, esclarece o diretor comercial Orlando Marin.

Dos setores cobertos pela Plasmosul, o mais baleado pela fuzilaria da pandemia e recessão, distingue Marin, é a indústria de carrocerias de ônibus. “As empresas de transporte hoje operam com ociosidade acima de 50%, logo não terão como renovar ou ampliar a frota”, ele prevê. Já do lado positivo, destaca o diretor, a demanda crescente de alimentos e o câmbio sob medida para exportar, blindam o movimento de máquinas agrícolas contra a pandemia, um bálsamo para a produção de peças internas e externas para tratores, pulverizadores, colheitadeiras e retroescavadeiras, injetadas e termoformadas a vácuo pela Plasmosul.

Marin calcula que sua empresa feche o ano com vendas 20% abaixo dos resultados de 2019. “Mas acreditamos muito numa forte retomada em todos os mercados em 2021, com o PIB saltando acima de 5%”, contrapõe. “A retração é momentânea e o mercado logo volta a crescer, superando com folga o desempenho de 2019 e o setor de plásticos de engenharia possui uma expansão assegurada de 3% a 6% ao ano, por conta da inovação e substituição de materiais”. •

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