“30% dos consumidores preferem embalagens recicláveis, uma tendência que aumenta a cada dia”, percebe Paulo Engler, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes de Uso Doméstico e Profissional (Abipla). “O consumidor está muito bem informado, conhece as empresas engajadas na reciclagem e preservação ambiental. Ao ostentar este comprometimento, a indústria transmite sua crença de que a sustentabilidade não é modismo nem estratégia de marketing, mas uma missão da companhia”.
Com penetração quase absoluta nos lares do país, a Ypê, marca da brasileira Química Amparo há 70 anos no mercado, figura em seu setor entre os mais empenhados devotos da economia circular. “Fabricamos nossas embalagens e, à medida em que ampliamos a inserção do material reciclado na composição delas, aumentamos a demanda por este tipo de matéria-prima”, assinala Cesar Nicolau, diretor de marketing da Ypê. “Além de incentivar e fortalecer o negócio das cooperativas de reciclagem, fomentamos a destinação adequada dos resíduos, evitando sua disposição no meio ambiente.
A empresa opera com cinco fábricas em três estados (SP, BA e GO) e não detalha seu parque fabril de embalagens nem estimativas do consumo de resinas virgens e recicladas.
Na esfera dos plásticos, informa Nicolau, excetos recipientes do amaciante concentrado e do limpador perfumado, todos os frascos são moldados internamente, em linhas que conjugam injeção e sopro de PET e sopradoras por extrusão contínua para trabalho com polietileno de alta densidade (PEAD). “Desde 2006, a Ypê utiliza PET reciclado, adquirido de fornecedores homologados, na produção de embalagens”, situa Nicolau. “Nos últimos seis anos, utilizamos em média 53% do poliéster recuperado na elaboração dos frascos e, a propósito, 98% da massa de nossas embalagens disponibilizadas no mercado é reciclável”.
A título de referências, o diretor distingue as embalagens 100% de PET reciclado da apresentação de 1l do seu desinfetante, das versões de 3l do lava roupas Tixan e da versão de 1l dos lava roupas Ypê Premium e Tixan. “Não trabalhamos com PEAD reciclado, mas estamos estudando essa possibilidade”, completa o executivo.
A Ypê apregoa ter reduzido, nos últimos nove anos, seu consumo de plástico em embalagens na faixa de 12.000 toneladas. Entre as ações nessa direção, Nicolau distingue a parceria com fornecedores que resultou na redução do peso das novas tampas dos frascos de lava louças de 500 ml, dos amaciantes tradicionais de 500 ml e 5l e dos desinfetantes de 1l, 3l e 5l. O diretor também ressalta a diversificação do portfólio da Ypê, obtida com produtos em versões pouch, a exemplo do amaciante concentrado. “O objetivo é entregar aos consumidores a mesma quantidade de produto com menor quantidade de plástico”. Ainda na orla sustentável, a Ypê utiliza há mais de 20 anos rótulos aplicados nos frascos direto no molde de sopro (sistema in mold label – IML), facilitando o processo de reciclagem por dispensarem a remoção prévia do frasco pós-consumo, etapa exigida pelos rótulos fixados com adesivo.
A Química Amparo também adota embalagens flexíveis como sacos e sachês de produtos das marcas Perfex e Assolan e, no caso da Ypê, além dos citados pouches, consta o sachê para o sabonete natural. Do ponto de vista da economia circular, embalagens flexíveis são mais complicadas e onerosas de coletar e reciclar do que o refugo de frascos soprados.
Diante desse quadro, Nicolau argumenta que, desde 2012, a empresa participa do programa Dê a Mão para o Futuro, também apoiado pela Abipla e incentivador da coleta e reciclagem. Mas Paulo Engler percebe estar a caminho uma redução da presença de flexíveis em produtos de higiene e limpeza, resultante da catequese da economia circular.
“Há uma enorme preocupação no setor em relação a essas embalagens e são crescentes as pesquisas para facilitar sua reciclagem”, atesta o porta-voz da Abipla. Ele exemplifica esse esforço da indústria com o formato refil, de uso consolidado devido a atributos como praticidade e custo atraente para o consumidor, contribuindo assim para diminuir a quantidade de embalagens flexíveis colocadas na praça. “Elas tendem a ser substituídas pela venda de saneantes a granel, uma realidade no Chile e sua chegada ao Brasil é inevitável”, conclui Engler. •