Periga não descer redondo

A cadeira de shrink e stretch em cerveja já não é tão cativa assim

Por serem descartáveis, os filmes shrink (termoencolhível) e stretch (estirável), duas meninas dos olhos de polietilenos, correm risco de saírem desfocados na foto da economia circular. A mudança de ventos já é sentida em ações embebidas de ambientalismo na indústria internacional de cervejas. Na Dinamarca, por exemplo a fabricante Carlsberg já substitui shrink por uma tecnologia de colagem, denominada Snap Pack, que reduz a participação do plástico em multipack de latas a uma alça de resina reciclada, para se carregar o pacote. Por seu turno, a australiana Cascade Brewery não só não recorre a shrink, como aboliu o anel (presilha) de plástico rígido por kit de papel cartonado para acondicionar lotes de seis latas. E nos Estados Unidos, a Saltwater Brewery deleta o shrink e dá as costas ao anel de plástico injetado em favor do similar de material biodegradável, à base de trigo e cevada, para o consumidor levar lotes de meia dúzia de suas latas. As trepidações estendem-se a stretch, pois cervejarias no exterior apalpam a possibilidade de desalojar este filme de paletização de latas e garrafas por opções como o adesivo base água norte-americano Lock N’ Pop (ver quadro à pág. 40). Devotas da sustentabilidade e de olho na mentalidade e hábitos globalizados do consumidor, as cervejarias daqui já estendem os olhos para os questionamentos no exterior sobre shrink e stretch para o acondicionamento de latas, confirma na entrevista a seguir Paulo Petroni, diretor executivo da CervBrasil – Associação da Indústria Brasileira da Cerveja.

Petroni: consumo porcionado e ambientalismo norteim o mercado de cerveja.

Empenhadas em acertar o passo com a economia circular, cervejarias no exterior começam a abolir a embalagem de shrink por opções como packs de cartão para lotes unitizados de latas. Como vê a possibilidade dessa iniciativa chegar aqui, em especial nas grandes cervejarias filiadas à CervBrasil?
Podemos pensar por três vias importantes e a primeira se pauta pela ótica da sustentabilidade, do descarte correto e menos agressivo ao meio ambiente. Essa consciência vem crescendo muito nos últimos anos e se tornado tendência nas cervejarias, muito sob o ângulo do novo consumidor, mais engajado da consciência ambiental. A segunda via vem de encontro aos novos movimentos dos apreciadores da cerveja no sentido de se adequarem ao consumo porcionado (dividido em partes), garantindo que consumam somente o necessário para aquele momento. Isso facilita a escolha e amplia a possibilidade de atrair novos consumidores, além do desembolso inferior. A terceira via engloba as duas citadas, pois, outras, além de sustentável e adequado ao consumo consciente, o cartão do pack possibilita inúmeras inovações, em aspectos como produção gráfica, acabamentos, picotes facilitadores da abertura e alças para transporte. Hoje em dia, o kit de cartão está presente na maioria nos produtos da categoria premium de cervejas, com valor agregado maior, isso facilita a aprovação dos custos diante do shrink.

Dois filmes com final feliz
“Shrink e stretch podem fazer parte da defesa da economia circular”, considera Miguel Molano, gerente de marketing para o negócio de embalagens industriais e de consumo para a América Latina da Dow, barômetro global dos polietilenos (PE). “O uso crescente desses filmes recicláveis em cervejarias é impulsionado pela sustentabilidade, economia e motivos funcionais”. Conforme ele exemplifica, o emprego de shrink como embalagem secundária enseja redução de material da ordem de 39% a 87% em relação às embalagens de papelão. “A poupança de energia também varia de 10% a 50% e a emissão de gases de efeito estufa declina na faixa de 42% a 76%”, calcula o executivo. Tem mais, ele coloca. “Um palete de rolo de shrink equivale a 9,3 paletes de caixas de papelão, libera de 15% a 62% do espaço no depósito e diminuem de 20% a 89% o carregamento de materiais de embalagem secundária em caminhões”. Molano arremata a defesa de shrink e stretch com a proteção contra umidade, impurezas e contaminantes. “Hoje em dia, o maior desafio é aumentar as taxas de reciclgem desses filmes para tornar a economia circular uma realidade e, para tanto, a palavra chave é colaboração”.

Único produtor de PE no país, a Braskem informa já ter concebido soluções afinadas pelo diapasão da sustentabilidade. Uma delas é o shrink extrusado com PE obtido de eteno gerado pela rota renovável do etanol da cana de açúcar (PE Verde). Na mesma trilha, a empresa destaca o chamado Stress Super Stiff, à base de um material ainda em fase de validação: PE reciclado de refugo de sacarias da própria Braskem. De acordo com os ensaios, Stress Super Stiff acena com a possibilidade de redução de peso na paletização.

Mesmo que se baseie numa estimativa hipotética, como a substituição de shrink pelo kit de cartão pode incidir sobre o custo do embalamento de latas?
A troca constitui uma mudança drástica para a indústria, pois não afeta apenas os custos da embalagem, abrangendo também a substituição de equipamentos a serem adaptados ao parque fabril. Parte importante da indústria de cartão adota a prática de colocar os equipamentos sem custo, submetendo seu uso a um contrato de compra exclusiva dos insumos de cartão. Esta decisão, de cunho estratégico, deve compreender o custo total da aquisição, já que na esfera da aplicação do shrink, as máquinas são comumente próprias das cervejarias e os custos são bem mais atraentes, apenas considerando-se o material. Numa estimativa hipotética, o cotejo entre custos do shrink e os do cartão resulta em números bem díspares, chegando a uma diferença de 100% do valor. Por isso, boa parte da indústria de bebidas reconhece bastante vantagem no uso do shrink para o alto volume, reduzindo assim seus custos produtivos. Já as cervejas com maior valor agregado podem usufruir embalagens cartonadas, possuidoras de atributos que podem ser mais atraentes ao consumidor, além de trabalharem com porcionamento, facilitando e ampliando o consumo.

Deu ruim
O repúdio ecoxiita ao plástico já atazana shrink fora da raia das bebidas e alimentos. Top no Brasil em lubrificantes e aditivos para o motor, a Promax Bardahl justifica como gesto de apoio à proteção ambiental a decisão de substituir shrink por caixas de papelão para acondicionar lotes unitizados de seus produtos, caculando economizar com isso o uso de 18,3 toneladas de plástico este ano. “Após dois anos usando packs de plástico, voltamos a embalar com caixas de papelão, mesmo a custo maior, o que comprova nosso compromisso com o planeta”, reitera Ricardo Galvão, diretor presidente da empresa.

Os canais de autosserviço, em especial redes supermercadistas, também estão antenados em ações a favor da economia circular. Eles se inclinam a apoiar essa troca de shrink por cartão para acondicionar lotes de latas de cerveja?
O consumidor será o grande responsável pelas mudanças inseridas no mercado. A indústria cervejeira atua absolutamente focada em atender seus mercados, no seu devido tempo. O apelo ambiental vem crescendo ano a ano, tanto nas ações das marcas, como no engajamento de projetos socioeducativos. É preciso, sobretudo, captar e entender estas mudanças de hábito nos diferentes segmentos de consumidores.

Como avalia a possibilidade de esse tipo de substituição do plástico do pack de latas de cervejas avançar sobre o filme stretch de paletização de garrafas e latas de cerveja, para remessa aos pontos de venda?
O filme stretch tem algumas funções básicas e importantes na indústria de bebidas. A primeira delas é a contenção, deixar o palete firme para o transporte transcorrer de forma segura e com proteção da carga; isso evita o tombamento no percurso. Outra atribuição relevante do stretch é a barreira proporcionada contra sujeira e demais impurezas no frete. Tudo isso pesa na qualidade de entrega dos produtos no ponto de venda.
Uma solução para redução de custos com filme stretch é a realização de estudos específicos na manutenção dos equipamentos. A cola norte-americana Lock N’ Pop (adesivo estabilizador de paletes) vem sendo testada há muitos anos e deu certo para alguns casos, porém a indústria de bebidas no Brasil ainda não aderiu à ideia, muito por conta de segurança e dos custos somados ao stretch e da folha separadora, imprescindível nesse caso. Algumas indústrias de bebidas vêm reciclando as embalagens de papelão “nobre”, que recebem de seus fornecedores e transformando-as em novas folhas separadoras, o que reduz os custos na compra daquelas de primeiro uso, por exemplo.

Um adesivo para atazanar stretch
Rolo compressor global em cervejarias, a Anheuser-Busch InBev forma entre os clientes premium na carteira de Lock N’ Pop, adesivo invisível, base água e biodegradável para caixas e sacos paletizados, introduzido na praça em 1965 pela norte-americana Muller-Load Containment Solutions. Conforme divulga a empresa, seu adesivo líquido é aplicado a frio e substitui stretch estabelecendo uma selagem química com a superfície das embalagens, segurando-as com firmeza e mantendo seu alinhamento até o momento de retirada da carga do palete, sem deixar nos lotes resíduos, ranhuras ou deformações passíveis de comprometer a integridade ou de colapsar as cargas.

A CervBrasil ou seus filiados já foram ou estão sendo procurados por indústrias de resinas e embalagens plásticas para estudar meios de adequar melhor o uso em latas do shrink à economia circular? E o que têm feito os fabricantes de cartão?
Sim, temos sido contatados. A indústria do papel sempre esteve bem atenta às tendências mundiais de consumo. Por isso, temos aqui diferentes formatos de packs comercializados para bebidas e outros alimentos, alinhados às novas práticas ambientais. Por sua vez, a indústria do plástico se empenha fortemente em reduzir a impressão de que está sendo responsável pela poluição de rios e mares. Seja por uma campanha de descarte consciente ou por mudanças técnicas na composição do plástico, para que seja biodegradável e ofereça maior segurança ambiental. As empresas, como um todo, estão a par dos movimentos ambientais organizados, inclusive participando de vários deles demonstrando real preocupação com o lixo mal descartado. •

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