Ouro líquido

Por que a indústria de água mineral nunca se dá mal

visor2O status de produto de segurança alimentar e de baixo valor têm salvo a água mineral da ira da recessão. Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (Abinam) interpreta nesta síntese a opulência dos balanços anuais do setor, não importa quem seja o timoneiro na proa da política econômica. Pela sua lupa, garrafas e copos fecharam 2015 com crescimento na taxa percentual de praxe e o único sinal da crise é notado no recuo de 40% na demanda corporativa de garrafões, efeito atribuído pelo dirigente às levas das demissões no ano passado. A demanda corporativa, situa Lancia, pega 10% do mercado dos garrafões. Para este ano, o presidente dá como líquido (literalmente) e certo a continuidade do crescimento da demanda, mas à taxa de um dígito percentual em lugar dos dois dígitos habituais, por conta da gravidade da contração da economia.

Ao pé da letra, os números do mercado primam pelo gás e alta liquidez. Pelas lentes da Abinam, a produção/consumo rondava 6,8 bilhões de litros em 2008. Seis anos depois, alcançava 13,9 bilhões de litros ou 20% acima do saldo aferido em 2013. Para o ano passado, Lancia estima um salto da ordem de 15% sobre o total registrado em 2014, quando a produção/consumo de água mineral atingiu patamar correspondente a mais que o dobro dos indicadores de oito anos atrás. Por tabela, o consumo per capita de 2015, projetado pela Abinam em 70 litros, também evidencia uma duplicação frente à marca de 35,50 litros per capita em 2008.

O consumo de água mineral também tem sido azeitado por dois fatores de fora da porteira das fontes. Tratam-se de reações manifestadas pelo consumidor, frisa Lancia. Uma delas é a ojeriza à qualidade da água potável provida pelas distribuidoras da rede pública e a outra tem a ver com a ascensão das bebidas ditas saudáveis nos costados da queda nas vendas de refrigerantes (ver à pág. 22). “Trata-se de um fenômeno cultural sem restrição de classes econômicas, causado pela difusão das mensagens de saúde e bem estar nas redes sociais e todo mundo tem celular hoje em dia”, pondera Lancia. “Por causa disso, o setor acha desnecessário anunciar na TV”.

Garrafões: recuo no mercado corporativo.
Garrafões: recuo no mercado corporativo.

A propósito, ele encaixa, a Abinam conta com 400 indústrias associadas, entre elas fabricantes de refrigerantes que precavidamente puseram um pé na canoa da água mineral. Lancia desconhece filiado da entidade que tenha trilhado o caminho inverso. Retomando o fio da qualidade da água nacional, o porta-voz conta que a Abinam reagiu de imediato à notícia de que a delegação norte-americana nas Olímpíadas 2016 recebera a recomendação de trazer água mineral do seu país para o Rio. A entidade logo movimentou-se e 13 fontes brasileiras de água foram credenciadas pela norte-americana NSF, aval de saúde pública dos EUA.
A carga tributária da água mineral, cita Lancia, é de 42,5%. No México e EUA é zero e na Europa, 7%. Uma forma buscada pela Abinam para baixar o indicador a 7% é inserir a água mineral na cesta básica. O único Estado onde isso ocorre em relação à venda de água apresentadas em todas as versões de embalagens, aponta o dirigente, é Santa Catarina. Em São Paulo, Paraná e Minas Gerais, essa atenuante fiscal se restringe à venda dos garrafões. Por sinal, ele coloca, o Paraná é o único Estado onde PET é o material absoluto em garrafões, na contramão nacional do reinado de polipropileno (PP) nesta embalagem. Lancia reconhece que tal supremacia brasileira de PP não tem similar no resto do planeta, adepto de policarbonato ou PET em garrafões, e a atribui ao custo logístico inferior. O Paraná tornou-se exceção, ele distingue, porque o setor de distribuição e comercialização de água mineral aderiu a uma estrutura adequada para o transporte do garrafão de PET, com caminhões dotados de carroceria de baú isotérmico, ele diz.

Lancia atesta que a corrida pela redução de peso das garrafas de água segue em curso intocada pela crise. Afinal, as fontes de água mineral apenas sopram as pré-formas que adquirem. A propósito, ele situa em 10 anos a idade média das sopradoras em ação nas fontes, parque fabril considerado por ele obsoleto. O presidente atribui os méritos da redução do peso aos progressos na produção de pré-formas específicas para o envase de água mineral, um gol tecnológico marcado pelo tripé resina/injetora/sopradora.

visor3Esse gás não acaba

O duelo eterno entre o custo da água e o de seus recipientes

Até o fechamento desta edição, a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet) ainda não tinha em mãos os números de 2015 relativos à atuação do poliéster no envase de água mineral. Mesmo assim, os dados de 2014 coligidos pelo diretor executivo Auri Marçon reconfirmam o setor na vice liderança dos mercados da resina. Dois anos atrás, ele aponta, uma fração aproximada de 16% da produção nacional de PET foi abocanhada pelas fontes de água mineral. Mais da metade dos quase 14 bilhões de litros de água mineral extraídos em 2014, esmiúça Marson, foram acondicionados em garrafões de 10 e 20 litros, reduto dominado à larga por polipropileno (PP) no Brasil. “Ou seja, sobram mais de sete bilhões de litros e PET detém perto de 90% do envase deles”, completa Marçon.

Marçon: PET prevalece em mais de 7 bi de litros.
Marçon: PET prevalece em mais de 7 bi de litros.

As varreduras da Abipet colidem com estimativas extraoficiais do setor de água mineral de que suas vendas já teriam ultrapassado as de refrigerantes, mercado nº1 de PET. Com base nos dados de 2014, Marçon estima o consumo de refrigerantes ao redor de 16 bilhões de litros e PET embolsa 80-85% das embalagens do carbonatado. Embora as águas sejam apresentadas em volumetrias menores, o que aumenta proporcionalmente a quantidade em unidades de embalagens, o dirigente sustenta que consumo da resina prossegue bem maior em refrigerantes, mesmo considerando-se a queda da ordem de 6% nas vendas do produto em 2015, em contraste com a taxa habitual de dois dígitos de crescimento anual degustada pelas fontes de água à margem da depressão da economia.

A persistência do aumento das vendas de água mineral traduz um porto seguro para PET, mas contém em seu bojo uma faca de dois gumes. Afinal, a caça aberta à redução de peso da garrafa, uma fixação das fontes de água em escala mundial, implica menos resina consumida e, para os fornecedores do líquido, maior paridade entre seus custos totais e os gastos com os recipientes. “Por volta de cinco anos atrás, a garrafa de 500 ml de água pesava cerca de 16 gramas e a de 1,5 litro para água sem gás, em torno de 30 gramas”, ilustra Marçon. “Hoje em dia, a primeira tem de 12 a 14 gramas e a última, de 25 a 26 gramas, fruto do avanço da tecnologia na matéria-prima, sopro e injeção”.

PP faz cesta no garrafão

Embora PET seja a resina mais visível nos pontos de venda, polipropileno (PP) lidera o consumo de termoplásticos no universo brasileiro de água mineral, mérito do seu predomínio em tampas e em garrafões. A propósito, PP desfruta esse reinado em garrafões na contramão do mercado mundial, adepto de PET e policarbonato para esses recipientes. “O nicho dos garrafões caracteriza-se pela grande sensibilidade a preço”, explica Marcelo Cruz Carbonaro, líder do segmento de tampas da Braskem, único produtor de PP e polietilenos do país. A seu ver, a recessão não tem o condão de alterar esse estado de coisas para PP. “A opção do cliente pela matéria-prima leva em conta não só o custo unitário, mas quesitos como sua disponibilidade, rendimento e propriedades”, ele alega. “Além do mais, a hipótese de mudar de resina implica investimentos adicionais para o produtor de garrafões em equipamentos adequados ao novo material”. No momento, a capacidade nominal de PET no Brasil orbita em 1 milhão de t/a frente ao consumo interno perto de 50% inferior. O contraste alimenta a suposição de que o excedente contribui para o poliéster aumentar suas frentes de penetração e garrafão seria uma das alternativas. Carbonaro contrapõe a esse raciocínio o fato de que a capacidade nacional de PET também supera a demanda. “Apesar do menor preço unitário de PET, sua densidade supera a de PP, comprometendo seu rendimento na aplicação”. O cerco da Braskem às fontes de água mineral, descreve o executivo, é exercida com grades de PP e PE de alta densidade para tampas e garrafões. Estes, aliás, são a praia do sopro do copolímero de PP random clarificado PRB 0131 da linha Maxio. “Contribui para as propriedades ópticas e produtividade”, sintetiza Carbonaro.

Pré-formas no spa
Sinônimo global de injetoras de pré-formas, a canadense Husky forma entre os mentores da qualidade e leveza crescentes das garrafas de água. “Essas embalagens têm evoluído bastante em design e redução de peso”, concorda Paulo Carmo, gerente do negócio de embalagens da base comercial da Husky no Brasil. “Nossa linha HyPET HPP5 permite a injeção de pré-formas com paredes tão finas que eram virtualmente impossíveis de serem produzidas anos atrás”, ele distingue.
O histórico do consumo per capita leva Carmo a considerar que o mercado brasileiro de água mineral sempre esteve comprimido. “Nos últimos anos temos visto o resultado do amadurecimento do consumidor”, ele pondera. “Ele passou a apreciar a água mineral por sua qualidade e pelo seu apelo de saudabilidade, fatores que explicam a imunidade das vendas do produto à recessão”.

PET é o gênio da garrafa

Theresa Moraes: cresce a oferta de pré-formas para água.
Theresa Moraes: cresce a oferta de pré-formas para água.

“Acredito que 80% dos produtores de pré-formas para garrafas de refrigerante também estão fazendo o modelo adequado às embalagens de água minera”. Theresa Moraes, gerente comercial da M&G, maior produtora de PET do Brasil, solta essa referência para carimbar o efeito do avanço da água sobre o terreno dos refrigerantes. A trajetória do crescimento do consumo nacional de água, imune aos maus fluidos da recessão em 2015 e com expectativa de continuidade este ano, é interpretada pela executiva com mudanças na mentalidade.”As vendas de água mineral crescem devido à conscientização do público sobre a necessidade de se hidratar e à troca de outras bebidas pela água por seu apelo saudável”. Para montar na garupa dessa receptividade à água mineral, a M&G acena para garrafas e garrafões com a resina Cleartuf Turbo. “É específica para o envase de água, primando pela transparência, baixo teor de acetaldeído e resistência ao impacto”, sumariza Theresa.

Saudabilidade: argumento de venda para água mineral.
Saudabilidade: argumento de venda para água mineral.

 

Desconfiança com água da bica
A água da rede pública também está por trás da expliosão das vendas de água mineral, observa Newton Zanetti, diretor da Pavan Zanetti, viga mestra das sopradoras nacionais de PET e garrafões de PP. “Tem aumentado a desconfiança quanto à qualidade e sabor da água distribuída às moradias pelo serviço municipal, um estímulo óbvio ao crescimento das vendas de galões de 20 litros e garrafas de 300 ml a dois litros”, ele interpreta. “Além do mais, a introdução da garrafa de PET facilitou em demasia a sua produção in house, reduzindo custos e melhorando sensivelmente a aparência do recipiente”. Hoje em dia, exemplifica o dirigente, uma sopradora menor ou média de pré-formas pode gerar de 7.000 a 8.000 garrafas/h de 500 ml, atendendo de todo à capacidade das fontes de água mineral.

Dottori: pré-formas para água na faixa atual de 9,7 g.
Dottori: pré-formas para água na faixa atual de 9,7 g.

“A busca pela qualidade de vida está refletida na crescente demanda por produtos saudáveis como água mineral”, percebe Antonio de Pádua Dottori, integrante da equipe comercial da Pavan. Essa mentalidade tem sido captada não só pelo marketing da indústria de bebidas engarrafadas, mas pelos meandros da tecnologia de PET. Afinal, além da reverência ao desenvolvimento sustentável, a redução do peso da garrafa de água tem a ver com a obsessão das fontes por reduzir a diferença entre a garrafa e o baixo custo do líquido envasado. Dottori usa como termômetro para medir essa febre a gramatura das pré-formas para garrafas de até 530 ml para bebidas não gaseificadas no Brasil. Nos idos de 2009, ele conta, o peso andava em 18 gramas. “Deve atravessar este ano na faixa de 9,7 gramas e atingir 9,1 gramas em 2019”. As compactas sopradoras de PET da Pavan Zanetti, ele afiança, rodam sem alterações no processo decorrentes da leveza ascendente das pré-formas. “O desempenho é mérito do sistema de controle e do número de variáveis capazes de proporcionar regulagens mais finas”, atribui o executivo. “A adoção de servomotores no estiramento também aumentou a velocidade do ciclo ao limite máximo de 8.000 garrafas/h”. Newton Zanetti ressalta que suas automatizadas sopradoras de pré-fromas estão ajustadas para trabalho até seis litros em plantas in house ou terceirizadas. Quanto às suas supradoras de garrafões de 20 litros, o dirigente destaca avanços como novos perfis de rosca de extrusão, capazes de ampliar a transparência de PP, a dispersão de masterbatch e a produção horária. Procurados por Plásticos em Revista, os fabricantes de sopradoras Sidel e Romi não quiseram falar.

PS enxuga o copo

Souza: brasileiro bebe quase 100 litros de água mineral por ano.
Souza: brasileiro bebe quase 100 litros de água mineral por ano.

Embalagens descartáveis formam entre os três maiores mercados de poliestireno (PS) e, na subcategoria dos copos, o polímero mantém a dianteira imune às estocadas de polipropileno (PP). Água mineral é uma vitrine para os copos descartáveis cultivada com afinco por PS, evidencia nesta entrevista Wendel Oliveira de Souza, diretor comercial da Unigel, única produtora da resina no Sudeste. A concorrente Videolar-Innova não deu entrevista.

PR – Pelas suas estimativas, qual o consumo brasileiro de PS em copos descartáveis em 2015?
Souza – O volume de PS para artigos descartáveis foi de 120.000 toneladas em 2015 e 2014. Desse total, 95% são destinados a copos para bebidas como café, água mineral, suco, refrigerante, cerveja etc.

PR – Qual a participação de água mineral no consumo desses copos?
Souza – Copos descartáveis variam na cor e tamanho. Para água, o tamanho mais utilizado é o de 200 ml e, por sinal, ele representa 70% da fabricação de descartáveis. Admitindo que 75% desses copos são destinados a consumo humano de água (outros 25% seriam canalizados para sucos, refrigerantes etc.) e considerando o peso do copo de acordo com a norma Inmetro (2,2 g/copo), são gerados 34,4 bilhões de copos descartáveis por ano no Brasil. Sua destinação para água mineral tem um potencial de consumo de 6,9 bilhões de litros por ano. Importante não confundir o consumo humano de água potável a partir do copo descartável com o consumo de água (normalmente não potável) para fabricá-los. O consumo de água para fabricar um copo de 200 ml, computado todo o seu ciclo de vida (da extração do petróleo à reciclagem), é de 0,26 ml por copo.

Copos: resistência e transparência ampliadas pelo PS ClearGel.
Copos: resistência e transparência ampliadas pelo PS ClearGel.

PR – Do ponto de vista mundial, qual a situação do consumo brasileiro de água mineral?
Souza – De acordo com o Departamento Nacional de Produção Mineral o consumo de água mineral no Brasil foi de 19,5 bilhões de litros em 2014. Ou seja, consumo per capita de 96,2 litros por ano. Para comparar somente com países em desenvolvimento, o México consumiu 264,2 litros por ano; a Tailândia, 246,8 litros e a China, 123,8 litros. A taxa de crescimento mundial tem sido próxima de 7% e a dos países em desenvolvimento segue acima desse dígito.

PR – Quais as novidades em seus grades de PS para copos descartáveis?
Souza – Estamos lançando comercialmente o grade ClearGel que alia resistência à alta transparência sem necessidade de o produtor de copo misturar PS de alto impacto com cristal. Também introduzimos um grade de cristal cuja fluidez e lubrificação contribui para aprimorar a coextrusão de copos descartáveis termoformados.  •

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