Operação Virada

Como o Grupo Zanatta pretende sair da recuperação judicial
Canguru: vários pioneirismos em flexíveis no Brasil.

Mesmo que não haja como descolar a economia da crise política, o Grupo Zanatta já emite, no semestre atual, os primeiros sinais de reação rumo à saída da recuperação judicial, requerida em julho de 2016, resultante de um endividamento calculado em R$ 237 milhões. “O grupo planeja fechar 2017 com faturamento próximo a R$ 300 milhões e Ebitda consolidado positivo.”, confia Luis Alberto de Paiva, presidente da Corporate Consulting, empresa especializada em turnaround (recuperação do valor e desempenho empresarial) contratada em 2016 pela família controladora da transformadora catarinense. “Os resultados alcançados nos seis meses iniciais apontam para esta direção, a exemplo da reversão do Ebitda de -12,9% no primeiro trimestre de 2016 para um índice positivo no mesmo período de 2017. Além disso, em um ano as despesas financeiras caíram 35% e, prova de ganho de eficiência, a margem operacional aumentou 17%”, expõe o consultor.

Até o fechamento desta edição, a assembleia dos credores para aprovar o plano de recuperação judicial permanecia sem data marcada. A estratégia traçada pela Corporate Consulting engloba, alinha Paiva, além de afiar a performance, a venda de imóveis e a desativação de plantas não produtivas do grupo sediado em Criciúma. “No momento, o grupo foca a reestruturação para melhorar os resultados operacionais e a lucratividade”, expõe o analista. “Como parte do processo, apostamos no reinvestimento no potencial de máquinas, áreas de apoio e qualificação de pessoal e foi decidido vender ativos não operacionais”. Pente fino da Corporate Consulting captou prejuízos elevados e perspectivas de recuperação complexa no negócio de descartáveis de polipropileno (PP) e poliestireno (PS), alojado na controlada Inza. “Por esse motivo, resolvemos, em julho de 2016, desativar esta unidade de descartáveis de modo a fortalecer as operações mais rentáveis do grupo, a Canguru, indústria de embalagens flexíveis, e a Imbralit, produtora de telhas de fibrocimento e caixas d’água de PE”, justifica Paiva. “Os descartáveis da Inza sempre primaram pela qualidade, mas o grupo entende que esse segmento foge do seu foco atual e tem conversado com investidores para viabilizar um formato diferenciado para essa operação”. Conforme ventilado na mídia, a intenção é que o comprador desse ativo também assuma as rescisões trabalhistas.

Paiva: primeiros sinais de melhora financeira.

A recuperação judicial brecou uma ascensão de quatro décadas com a qual o Grupo Zanatta fez história no setor plástico nacional. O estopim foi aceso em 26 de maio de 1970 pelo visionário Jorge Zanatta, ao constituir a fábrica de bolsas plásticas Canguru em imóvel alugado no mesmo terreno onde hoje está o complexo fabril do grupo. Dois anos depois, a planta estendia o braço em filmes para alimentos e produtos higiênicos e, em 1974, o empresário inaugurava a primeira unidade de descartáveis do Sul. Dez anos depois, face às barreiras para importações, a Canguru montava internamente a primeira flexográfica nacional. “O grupo também foi pioneiro em embalagens como filmes com insumos diferenciados para lenços umedecidos; sacos com cordão, sacos e filmes monocamada (inclusive de quatro soldas) para pet food e laminados para alimentos com teor de solvente residual abaixo de 2mg/m²”, encaixa Paiva. “Também foi o primeiro do seu setor a comprar uma laminadora e a desenvolver e aplicar uma metodologia de controle de impressão com verniz especial (invisível) para fotocélula”.

Em frente: grudada no agronegócio, a Canguru abriu filiais de filmes na catarinense Chapecó, em 1985, e na gaúcha Pelotas, em 1994. Quatro anos mais tarde, vinha à tona a segunda unidade de descartáveis em Três Corações, sul mineiro. Em 2010, o organograma do grupo era ornado por seis fábricas e um escritório de vendas paulistano para uma operação assentada em três divisões: embalagens flexíveis, descartáveis e a atividade de reciclagem Zapack. “Ela foi desativada”, esclarece Paiva. “Hoje em dia, os reciclados utilizados pela Canguru são as aparas, correspondentes a 9% da produção de filmes”. Outra reverência ao desenvolvimento sustentável, assinala o consultor, é a ênfase pretendida para o trabalho com tintas à base de resinas e diluentes de fontes renováveis.

Paiva calcula em 950 t/mês a capacidade instalada da Canguru. “Possui cinco extrusoras, sete impressoras, duas laminadoras e diversas linhas de acabamento”, ele expõe. Na esfera dos desenvolvimentos, o consultor chama a atenção para seis patentes registradas e uma em andamento. “A Canguru deu entrada no pedido de reconhecimento de propriedade industrial para uma válvula aromática inédita em sacos de alimentação animal premium”, ele comenta. “Proporciona mais segurança no consumo e facilidade no manuseio pelas indústrias de pet food”. Na realidade, ele julga, trata-se de uma versão aprimorada de uma válvula já na praça e dependente de operação manual na linha de produção. “Automatizamos o processo com aplicação externa, resultando numa válvula menor que a anterior, sem interferir no empilhamento dos sacos em caixas e pallets”, explica Paiva. “Devido ao fluxo de ar unidirecional, ela permite a saída do ar interno para a superfície externa, ponto a favor da conservação das propriedades da ração, e impede a entrada de micro-organismos vivos, como larvas, encontrados no ambiente de armazenagem”.

O cerne da vocação do Grupo Zanatta, cuja receita em 2015 rondou R$ 386 milhões, é o negócio de embalagens. Mas esse galardão não conseguiu demover a Corporate Consulting do intento de passar adiante a atividade de descartáveis, por ser ativo não operacional, e manter outra fora dela, a de materiais de construção, apesar de esse ramo carregar pedras feito penitente. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), o mercado deve fechar este ano com o terceiro déficit seguido no faturamento que, por sua vez, caminha para se nivelar pela receita de 2008. “Desde janeiro último colocamos em prática um plano de expansão comercial regional, concebido desde julho de 2016 e desenhado para reforçar os principais canais de venda da Imbralit”, argumenta Paiva. “Os primeiros resultados já começam a aparecer. Novos distribuidores, vendedores e representantes comerciais geraram aumento de 25% na quantidade de clientes no primeiro trimestre”.

Ao final de 2016, a Corporate Consulting verberou na mídia de economia & negócios a esperança de, no embalo da reestruturação, a Imbralit faturar em torno de R$ 200 milhões este ano e a Canguru, R$ 150 milhões. Turnaround puro malte.

Quando a oferta transborda

Grupo Zanatta vende negócio de descartáveis sob crônico excedente desse segmento

Ao sul de Santa Catarina, Criciúma, terra do Grupo Zanatta, tem nome feito no setor plástico como polo nº1 de descartáveis no país. A grosso modo, dado o flagelo das vendas de geladeiras nos últimos três anos, trata-se do maior mercado para poliestireno (PS) e caminho também palmilhado, com discrição, por polipropileno (PP). No rearranjo em curso para se desvencilhar da recuperação judicial, a consultoria gestora do Grupo Zanatta confirma o projeto de passar à frente a paralisada operação de descartáveis, iniciada na década de 1990 e que, no auge, agrupava a sede em Criciúma e a filial mineira. A seguir, Mário Schlickmann, diretor presidente do Grupo Copobras, nº1 e formadora de opinião em descartáveis no Brasil, descortina a conjuntura desse segmento balizado pela economia de escala, o impacto da recessão e as dificuldades para se auferir margens de lucro ao menos aceitáveis.

Schlickmann: crise elevou ociosidade do setor a 30%.

PR – Como avalia o comportamento do setor de transformadores de descartáveis nos últimos 10 anos?
Schlickmann – O mercado de descartáveis, assim como muitos outros segmentos no Brasil, vem passando por profunda reestruturação. Nos últimos anos, as máquinas utilizadas tornaram-se mais acessíveis, tanto pela disponibilidade de linhas obsoletas dos parques fabris que foram sendo renovados bem como pela forte atuação de fornecedores de equipamentos novos, entre eles os estrangeiros, com destaque para os asiáticos. As linhas de crédito surgidas ao longo dos últimos 10 anos foram o impulso final para o vigoroso crescimento da concorrência nesse setor. No momento, estimamos a existência de mais de 60 concorrentes diretos de descartáveis, o que desequilibrou a relação oferta/demanda.

PR – No plano geral, qual a sua estimativa do índice de ociosidade na capacidade brasileira total de descartáveis plásticos desde 2015?
Schlickmann – Estimamos uma ociosidade acima de 30% na categoria. Apesar desse cenário, observam-se concorrentes que mantiveram planos de expansão, mas de forma geral, é um movimento tímido comparado aos investimentos da fase pré-crise.

PR – O negócio de descartáveis plásticos caracteriza-se pela alta escala e baixo valor agregado. Dentro desse campo de ação limitado, quais as alternativas para garantir hoje margens minimamente aceitáveis?
Schlickmann – Como bem colocado, o campo de ação dos fabricantes é altamente restrito, a atenção quanto aos custos de produção e áreas de apoio permanece a tônica. Com a retração geral no consumo, os poucos produtos de valor agregado que fazem parte do mix também foram afetados, um período muito desafiador para os negócios.

Descartáveis de melhor padrão: demanda discreta mas animadora.

PR – Como enxerga as chances para um transformador de descartáveis de alcance apenas regional sobreviver e até crescer hoje em dia?
Schlickmann – Não terão dias fáceis pela frente. Quanto menor o mercado de atuação, menor o número de possibilidades para ocupação de fábrica. De outro lado, porém, quanto maior o raio de atuação, menor a competitividade devido a frete. O descartável, pela própria natureza do processo produtivo, não permite ao transformador trabalhar apenas nichos específicos buscando melhores margens. Trata-se de um produto de larga escala, o que torna a administração de vendas um enorme desafio nos dias atuais. Há brigas em que, simplesmente, é melhor não entrar.

PR – Uma parcela dos grandes transformadores de descartáveis atua em paralelo em embalagens flexíveis – como fazia o Grupo Zanatta. Com base na sua experiência no Grupo Copobras, qual a atividade mais rentável – produzir filmes ou descartáveis? Por que?
Schlickmann – Apesar de ambas as categorias estarem posicionados dentro da cadeia plástica, elas tem dinâmicas completamente diferentes. Filmes são mais complexos, mas não se trata de um segmento menos concorrido. Ao contrário, o grande número de fabricantes também impressiona. Em momentos de crise, de maneira geral, flexíveis tendem a sofrer menos, pois, diferente do cenário para descartáveis, há muitos nichos de atuação, o que ainda dá alternativas para os fabricantes. Mas isso embute um desafio futuro: este mercado está demandando cada vez mais fabricantes especializados, o que poderá tirar essa vantagem quando o comparamos com o segmento de descartáveis.

Descartáveis: o preço é quem manda

“A população brasileira foca preço em praticamente tudo o que consome, pois sofre para fechar as contas do mês e em seu orçamento não cabem gastos adicionais”, pondera Marta Loss Drummond, especialista em inteligência de mercado para termoplásticos commodities da consultoria MaxiQuim. “A explicação para pouca inovação e diferenciação no mercado de descartáveis é óbvia: a baixa procura por esse tipo de produto”. Conforme reitera, a maioria dos consumidores quer preço baixo e conta os copos por unidade e não por peso. “Trata-se de um setor de hiper competição, margens reduzidas e baixa barreira tecnológica e de capital, sem falar na incidência de informalidade e lacunas na normatização”.
Marta situa em torno de 15 transformadores a parcela detentora de mais de 80% do mercado de descartáveis. “Mas há diversas indústrias menores”, acentua, discernindo espaço para elas em regiões mais afastadas, fora da concentração de concorrentes em Santa Catarina e São Paulo. “O mercado de descartáveis é regionalizado por questões logísticas, tendo em vista o pouco peso específico na relação com os volumes transportados”. Quanto ao nível de ociosidade na capacidade desse reduto de poliestireno (PS) e polipropileno (PP), a especialista calcula que, efeito da crise, os transformadores do segmento hoje consomem cerca de 5% a menos de resina do que em 2016.

PR – O setor de descartáveis ainda tem a imagem marcada pela prática de aviltamento da qualidade (redução abusiva da espessura, uso de resina off grade com a resina apropriada etc.).Como isso afeta a competitividade e a rentabilidade do negócio?
Schlickmann – Quando analisamos qualquer negócio de altíssima competitividade, todo centavo economizado de fato ajuda. No setor de descartáveis, temos plena consciência de que grande parte dos concorrentes se mantém no mercado através do detrimento da qualidade de seus produtos, motivados pelo preço ainda ser o fator decisório de compra para boa parte da população. No entanto e com base em nosso tempo de mercado, é notável uma mudança gradativa nesse comportamento. Por isso, há alguns anos a Copobras apostou em um futuro diferente: trabalhamos muito internamente, assim como junto aos órgãos responsáveis e players da cadeia plástica, com o objetivo de regulamentar os descartáveis de forma efetiva. Estamos colhendo os frutos através do reconhecimento de clientes e consumidores em relação à qualidade de nossos produtos.

PR – Até que ponto, o perfil dominante de baixa renda da população inibe a oferta de descartáveis de melhor padrão?
Schlickmann – De forma concreta, temos observado um downsizing na pirâmide social. Aliado às facilidades e acesso à informação, o avanço econômico das últimas décadas tem transformado o consumidor em um indivíduo mais consciente, mesmo os de baixa renda. É claro que há muito a avançar nesse sentido, porém essa evolução já está em curso. Enxergamos uma parcela crescente de pessoas demandando produtos de qualidade e diferenciados. Isso fortalece empresas como a Copobras, notória pelo DNA inovador e por liderar ações neste sentido. •

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