Nuvem passageira

Crise incomoda mas não turva o horizonte para caixas d’água e cisternas
Caixa d’água: bem de primeira necessidade constrangedor para o Brasil.

Apesar de bafejadas pela pane hídrica no Sudeste e Nordeste, caixas d’água e cisternas, o segmento nº1 da rotomoldagem nacional, sentem dois baques impostos pelo ajuste nas contas públicas: a queda livre do comércio de materiais de construção e o corte na carne das verbas de programas assistenciais de acesso à água para a população mais pobre. “É uma situação temporária de freio na economia e teremos novas oportunidades em breve”, confia Fabiano Gonçalves, diretor de infraestrutura  da Acqualimp, fera na rotomoldagem de caixas d’água e cisternas. A rival Fortlev manteve a praxe de não falar.
Na atual conjuntura, reitera o diretor, as vendas ao governo de reservatórios da Acqualimp cingem-se apenas aos contratos já assinados. “Mas na contramão desse cenário, o risco hídrico obviamente aqueceu a busca no varejo por caixas d’água e cisternas”, ele assinala. O decorrente aumento da procura por soluções para armazenar água tem gerado mudanças na cultura de consumo desses produtos, intercede Vinícius Ramos, diretor de varejo da Acqualimp. “Servem de exemplo a intensificação da demanda por caixas d’água maiores e o interesse crescente por alternativas para captar chuva, como cisternas”. No embalo, Ramos acena com a meta de sua empresa, relativa à duplicação de sua capacidade produtiva no exercício em andamento.
A Acqualimp concede 10 anos de garantia para suas caixas d’água e cinco para as cisternas. Mas sua vida útil é projetada por Gonçalves acima de 35 anos. Entre os diferenciais perante a concorrência comuns aos dois tipos de reservatórios rotomoldados, Ramos encaixa a tecnologia multicamada com aditivação anti UV e antibacteriana – “um aliado contra o mosquito da dengue”,diz –, filtro de sedimentos e tampa click com fechamento perfeito. No âmbito das caixas, ele distingue a válvula boia com altura ajustável e vazão total, além da flange soldada. “Reduz vazamentos e encurta a instalação”, assegura.
Iniciado há quatro anos, o programa do governo “Água para Todos (APT)”, para fornecer soluções simplificadas de acesso ao líquido para pessoas em áreas de risco hídrico, convenceu a Acqualimp, sediada no interior paulista, a fincar oito plantas de cisternas no Nordeste, expõe Gonçalves. “Dispõem também de conjunto de sucção, sifão ladrão e freio d’água”, salienta Ramos. Entre as metas traçadas para o APT, Gonçalves destaca o propósito de entregar 750.000 reservatórios no semiárido a comunidades da região e, do volume total, PE rotomoldado respondeu por mais de 350.000 cisternas. Entre os predicados do polímero, o diretor cita a garantia de velocidade na produção e instalação do reservatório, resistência à fusão até 147ºC e risco zero de fissuras e trincas. “O custo de manutenção é baixíssimo; a cisterna requer apenas uma limpeza interna anual, a cargo do próprio beneficiado”
Praia dourada da rotomoldagem, o reduto de reservatórios de água ainda digere uma provocação desferida pela Mexichem. Transformadora no Brasil de caixas d’água rotomoldadas, a corporação mexicana, atuante em 39 países, resolveu concentrar, em sua unidade em Sumaré (SP), sua única produção no mundo de modelos soprados do recipiente. “Já nos acercamos da tecnologia de sopro no passado e, apesar do seu custo alto, as características técnicas do produto são muito similares às da caixa rotomoldada”, pondera Vinícius Ramos, diretor da Acqualimp. “Ao avaliarmos as opções em processos, constatamos ser muito vantajosa a flexibilidade conferida pela rotomoldagem para se fabricar um extenso portfólio de produtos”.
Maurício Harger, presidente da Mexichem Brasil, pensa literalmente fora da caixa – rotomoldada, é claro. A expansão do setor imobiliário e a necessidade do uso racional da água, justifica, inspiraram sua empresa a inovar nos reservatórios. Até então, a Mexichem atuava no armazenamento de água com caixas roto de boca fechada ofertada em versões de 310, 500 e 1.000 litros. Os mesmos tamanhos estendem-se agora às caixas de boca aberta sopradas com polietileno de alta densidade (PEAD) em Sumaré. “Com essa linha, a empresa vai quintuplicar sua capacidade de produção”, sublinha, encaixando um trunfo para a produtividade e sustentabilidade no fato de o automatizado processo de sopro selecionado, 100% elétrico e com maquinário concebido internamente, não gerar refugo em linha. Assim, em paralelo ao sopro, a Mexichem mantém a operação de rotomoldagem de caixas d’água, além de cisternas e fossas sépticas, coloca Harger. Segundo a Mexichem  Brasil, o investimento no projeto total da caixa soprada orbita em R$ 20 milhões.
“A crise hídrica deve alavancar a venda da caixa soprada, com base na tendência de o consumidor se preocupar cada vez mais com o armazenamento de água e a segurança de mantê-la bem conservada”, considera o dirigente. Alojada sob a marca Amanco, extensiva a todos os produtos da Mexichem, a nova caixa, assegura Harger, terá preço em linha com os dos principais fabricantes desse tipo de reservatório na praça.
A Mexichem sopra sua caixa em três camadas. “A central é preta para prover bloqueio total da luz solar, evitando a proliferação de microrganismos”, explica Harger. “Por sua vez, a camada interna branca facilita a visibilidade na limpeza do reservatório, dotado ainda de superfícies não porosas de contato com a água, contribuindo para sua qualidade”. Em boa parte, o mérito da resistência da caixa soprada é atribuído por Harger à distribuição uniforme das três camadas no processo, alvo também de controle detido. Dos recursos complementares, o presidente fisga como exclusividade a denominada Trava Forte, “super resistente à ação dos ventos”, frisa.

Em compasso de espera

A Unipac pinta como caso à parte na moldura dos transformadores de rotomoldados. Afinal, a maior parte das peças produzidas por quatro instalações de rotomoldagem na sede em Pompéia (SP), é destinada a integrar agroveículos montados pela sua controladora, a Jacto. “É o caso de peças de carenagem para todas as linhas (adubadoras, colhedoras e pulverizadoras) e de tanques para pulverizadoras”, especifica Marcos Antonio Ribeiro, presidente da Unipac. O portfólio de rotomoldados fecha com componentes automotivos, como dutos de ar, tanques de ureia e protetores de caçambas para picapes. Pelo crivo de Ribeiro, a Unipac tecla no momento stand by para os investimentos e mexidas em rotomoldagem. “O recuo nas vendas de caminhões (queda da ordem de 40% de janeiro a abril) e de fertilizantes (entregas 8,7% inferiores no primeiro quadrimestre) inibe por ora nossos planos de expansão em roto”, esclarece o presidente. Do lado positivo, Ribeiro enxerga contínuo avanço de rotomoldados sobre contratipos metálicos em veículos pesados, decorrência do processo de manufatura menos oneroso e trabalhoso, além de atributos como leveza e resistência.

 

Rotoline carrossel: automação do processo intensificada na linha indicada para caixas d'água.
Rotoline carrossel: automação do processo intensificada na linha indicada para caixas d’água.

Contra a maré

Chove na horta dos equipamentos para rotomoldagem

Ao largo da vaca da economia no brejo, fabricantes locais de máquinas para rotomoldagem registram crescimento consistente nas vendas desde o ano passado. E como a desgraça de uns é alegria de outros, o colapso hídrico no Sudeste incendiou a aquisição de equipamentos para produção de caixas d’água. “Sempre foi um grande mercado para a rotomoldagem e a crise de água fortaleceu a demanda por máquinas”, endossa Kadidia Umar, gerente comercial da catarinense Rotoline. “Viramos 2013 para 2014 com toda a produção vendida até abril”. No exercício passado, encaixa, a comercialização de equipamentos ultrapassou em 20% os números de 2013, considerando também o resultado da filial norte-americana da empresa.
A procura por rotomoldadoras de reservatórios de água, pondera Kadidia, aumentou tanto entre transformadores consolidados no ramo quanto entre estranhos no ninho do plástico. “No entanto, esses investimentos partem de quem já tem alguma afinidade com a construção civil”, ela atenua.  Frisson no ramo, ela enxerga, é tendência de substituição de materiais. Por questões ambientais e ocupacionais, ela julga, caixas d’água de polietileno (PE) avançam sobre versões como as de termofixos.
Para caixas d´água, a Rotoline recomenda equipamentos tipo carrossel. “Desenvolvemos um sistema totalmente automático de pesagem, alimentação, abertura e fechamento de molde”, sublinha Kadidia. Vantagens dessa inovação incluem ciclos mais curtos, exatidão no peso e diminuição da mão de obra necessária à operação. “Uma pessoa consegue operar sozinha o modelo CR 4.60, de porte significativo”, ela ilustra, acrescentando que um processo desprovido de automação demandaria até cinco operadores. A máquina CR 4.60 trabalha com três braços e admite diferentes configurações, como 12 moldes para caixas de 310l no primeiro braço, oito moldes para artigos de 500l no segundo e seis moldes de 1000l no terceiro. O ciclo completo, insere a gerente da Rotoline, dura de 50 minutos a uma hora. Pelo acompanhamento da fabricante, o consumo de caixas d’água de grandes volumes cresce de forma mais acelerada. “Por causa da crise, os consumidores preferem investir um pouco mais e assegurar maior capacidade de armazenamento de água. Antes a tendência era inversa”, ela percebe.
Em complemento ao reduto de caixas d’água e reservatórios, a demanda por parte do setor de agroveículos, usuário de peças rotomoldadas, continua positiva, observa Kadidia. Além desses nichos, ela assinala, itens rotomoldados para o setor hospitalar, mercado já adulto em países como os EUA, tem boas chances de deslanchar no Brasil. “Estamos falando de encostos de camas e até carrinhos que levam roupas às lavanderias”, ela ilustra.
Apesar do mercado aquecido, a política de ajuste econômico periga tonar as vendas de linhas roto este ano inferiores às de 2014. “Está mais difícil para o transformador conseguir linhas de crédito e nós dependemos muito da Finame”, lamenta Kadidia.  No momento, nota, os clientes tentam primeiro  conseguir  crédito para colocar então o pedido, movimento inverso ao ocorrido no ano passado.
Na Rotoline, as vendas de moinhos micronizadores para resina a ser rotomoldada caminham junto às de máquinas. Os modelos são fabricados no Brasil sob licença da Reduction Engineering, parceira norte-americana. “Como a fabricação dos moinhos foi nacionalizada, consigo vendê-los também por meio do Finame”, ela complementa. Os únicos componentes importados dos Estados Unidos são câmara de moagem e peneiras.
Para driblar a estiagem de crédito na praça, a fabricante nacional Rotomec implantou um sistema de vendas de seus equipamentos atrelado à produtividade do cliente, explica o diretor Carlos Andrade. O projeto começou há alguns anos com o setor de máquinas agrícolas e foi recentemente transposto para o de reservatórios para armazenamento de água. “Chamamos essa forma de contrato de in house. Nele é estabelecido um volume mensal de produção a ser pago à Rotomec”, ele esclarece. Ou seja, o transformador desembolsa, por um período pré-estabelecido, o equivalente às toneladas acordadas e, se produzir a mais, a diferença é dele. “Planejamos fechar 12 negócios desse tipo em 2015 e, até o momento, firmamos três”, ele comemora. O ano passado já havia sido uma grata surpresa para a empresa, ao registrar vendas 40% superiores em comparação à estimativa inicial de comercialização de 24 rotomoldadoras.
Pelo observatório da Rotomec,a crise hídrica faz com que transformadores de áreas diferentes, como aqueles atuantes em injeção ou sopro, busquem estender o braço na rotomoldagem de caixas d’água. “Aproximadamente 30% das empresas que nos procuram são de segmentos distintos da transformação de plásticos, enquanto 40% são fabricantes de caixas d’água desejosos de migrar para outros materiais”, calcula Andrade. “O preço de um reservatório de PE já é igual ou até inferior ao de um modelo de termofixo”, ele insere. O quinhão restante de 30% dos interessados em comprar máquinas cabe a rotomoldadores tradicionais visando aumentar sua capacidade, fecha Andrade.
O modelo Rotomec mais indicado para caixas d’água é o shuttle 4000. “Em nosso sistema in house, estaríamos falando em um projeto completo na casa de RS 1 milhão”, orça Andrade. A fabricação de tanques de água fechados também pegou carona na crise hídrica. “Não havia essa cultura no Brasil, mas agora o crescimento é expressivo. Os tipos variam de 500l a 10.000l, sendo que os de maior volume são, em geral, destinados à captação de chuva em condomínios residenciais e indústrias”, constata o diretor. Fora do nicho de reservatórios de água, um reduto consumidor também  numa boa é o de móveis para jardim. “É um novo mercado por aqui, não requer equipamentos de grande porte e tem aumentado sua participação em nossas vendas”, ele comenta.
A Rotomec também possui em seu portfólio moinhos micronizadores, comercializados via parceria com fabricante nacional não revelado, e misturadores para pigmentação de resina a frio. O avanço das vendas desses auxiliares, contudo, transcorre um pouco mais lento que as de rotomoldadoras. “Eles requerem um investimento alto e, por isso, alguns clientes preferem de início comprar a matéria-prima pronta para rotomoldar”, ele justifica. No flanco das máquinas, o principal lançamento de 2015 é a linha RT carrossel com braços independentes e injeção de ar no processo. “Os equipamentos vão de 1500 mm de diâmetro esférico a 6000 mm, pulando a cada 500 mm”, descreve Andrade. Embora seja um modelo em média 40% mais caro que o shuttle, ele resulta em produtividade 15% a 20% maior, conclui o porta-voz da Rotomec.

 

Do frevo ao bolero

Consumo de reservatórios de água deve refluir, mas PE não perde o ritmo

Programa Água Para Todos: corte nas verbas.
Programa Água Para Todos: corte nas verbas.

Totem do subdesenvolvimento e pobreza, por denotar falta de tubulação subterrânea para servir a população carente, a caixa d’água sempre foi o motor da rotomoldagem no Brasil. Com a crise hídrica sem fim à vista, essa dianteira deve alargar e influir para o consumo nacional de polietileno de média densidade linear (PEMDL) a cruzar em poucos anos a marca de 200.000 t/a, volume cerca de 25.000  toneladas acima do indicador atual, na aferição da Braskem, único produtor da resina no país. Outra boa nova para a poliolefina: “PEMDL já ronda 90% de participação no segmento de caixas e tanques de água até 2.000 litros”, assegura Fabiano Zanatta, gerente de contas responsável pelo mercado de rotomoldagem da corporação petroquímica. Em recipientes maiores, caso daqueles de 10.000 a 30.000 litros, ele admite, o termofixo tem preferência como matéria-prima. “Mas já temos projetos de rotomoldagem em andamento nessa categoria”.
Embora a indefinição de verbas e cronogramas das obras para debelar o colapso hídrico, em especial no Sudeste e Nordeste, traduza pista livre para a continuidade das vendas de caixas d’água e cisternas rotomoldadas, Zanatta considera que o momento de ouro passou para esse reduto. “Devido ao déficit nas suas contas, o governo cortou este ano recursos do programa ‘Água para todos’, fonte de compras desses reservatórios para distribuição à população carente em áreas como o semiárido”. Além da retirada dessa escora, o gerente vê o consumidor padrão de caixas d’água com menor poder e disposição de comprar. Em contrapartida, ele repara, vem se disseminando o hábito de, em função do fornecimento incerto de água potável ou não pelas redes, se adquirir uma caixa de reserva para as fases agudas de sumiço do líquido.
Fato novo no pedaço: a estreia de caixas d’água sopradas no país, pelas mãos da Mexichem. Para a Braskem, essa tacada significa mais um front para seu polietileno de alta densidade (PEAD). No cotejo com o reservatório rotomoldado, Eliomar Pimenta, engenheiro de aplicação da empresa, percebe  resistência a impacto superior na caixa soprada. “Em contrapartida, o processo de rotomoldagem é mais barato que o de sopro, considerando-se máquina e molde”, ele coloca. Mas a ala do sopro pode encurtar essa diferença, assinala Pimenta, mediante o uso de reciclado na produção. “A caixa resulta do sopro coextrusado de três camadas de PEAD e o substrato central pode ser ocupado pela resina recuperada”, acena o especialista. No entanto, nota, o sopro da caixa é um processo mais trabalhoso, pois os grades de PEAD adequados não são fornecidos com o necessário aditivo anti UV. “A Mexichem precisa, portanto, aditivar a resina em sua fábrica antes de soprá-la”, sustenta o engenheiro de aplicação. Já os grades de PEMDL, bases buteno e hexeno, para rotomoldagem das caixas e cisternas são entregues pela Braskem contendo o aditivo provedor de resistência às intempéries. Por sinal, encaixam Pimenta e Zanatta, a empresa acaba de introduzir um grade base hexeno de maior teor do aditivo e capaz de proporcionar maior resistência mecânica. “É uma forma de aumentar a vida útil da caixa d’água”, conclui Pimenta. •

 

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