Comunicar pra quê?

O distanciamento da opinião pública e dos mercados é marca registrada do setor plástico

Concedido anualmente, o Prêmio Doce Revista (PDR), publicação da Editora Definição, a mesma de Plásticos em Revista, contempla os melhores atacadistas de tentações que vão de chocolates, balas, drágeas e gomas de mascar a snacks, sobremesas, refrescos e sucos.

Como nas sete edições anteriores, a premiação de 2017, realizada no início de novembro, reuniu as bússolas nacionais e múltis dessa indústria. E como nas sete edições anteriores, a premiação de 2017 não registrou na plateia a presença de um vivente sequer do setor de embalagens, interessado em estreitar laços com um mercado visceral para o balanço de frascos soprados e flexíveis como laminados e polipropileno biorientado (BOPP). Afinal, o Brasil é simplesmente o terceiro produtor mundial desse segmento alimentício, o quarto mercado global de chocolates e o terceiro de confeitos como balas e chicletes. Um formador de opinião em BOPP atribui apenas aos ovos de Páscoa 25% da receita anual dos transformadores do filme.

Pois nem mesmo assim alguém da área de embalagens plásticas se dispôs a baixar na premiação. Ninguém do setor foi convidado para o evento, mas mesmo assim a justificativa de praxe nessas ocasiões, de que não se sabia da sua existência ou de que só se soube dele em cima da hora não pega. O PDR foi super hiper divulgado nas mídias e, no mais, fornecedor seja lá do que for tem a obrigação de viver antenado em tudo o que acontece nos mercados que cobre. Ainda mais num mercadão desses.

Esse distanciamento do setor plástico perante os setores finais atendidos é imemorial. Estão aí, por exemplo, consultorias e analistas para atestar nunca terem recebido de empresas transformadoras a encomenda de uma pesquisa de opinião ou de mercado. Sites de defesa do consumidor postam queixas quanto à qualidade de produtos como copos descartáveis dando os nomes dos fabricantes. Nenhuma reação dos transformadores no sentido de captar o recado e investir na imagem do produto perante a opinião pública. Inclusive os grandes produtores de tubos, se alguma agência de comunicação e publicidade dependesse apenas da conta de transformadores de plástico ou da esmagadora maioria de seus fornecedores de matérias-primas, fecharia as portas da noite para o dia.

As oportunidades que sempre surgem para botar uma empresa ou produto bem na foto, seja pela via paga da publicidade ou gratuita do jornalismo sério, são invariavelmente esnobadas. A situação chegou ao ponto de o editor de Plásticos em Revista, pasmo com a indiferença e mutismo dispensados a pedidos de entrevistas relevantes para as empresas procuradas, ter perguntado em várias ocasiões a assessores de imprensa e gerentes de marketing que diabos faziam para matar o tempo.

Uma coisa que eles fazem cada vez mais é um exercício de autoengano. Em vez de propagandear uma novidade ou de divulgá-la mediante entrevistas aos veículos relacionados ao assunto, sai mais barato e menos trabalhoso disparar um release pelos face e twitters da vida. Como tudo que cai na rede da internet é peixe, ou seja, é visto, repassado ou fofocado, seja mudança de penteado, tatuagem, cachorro, prato no restaurante ou o novo grade de uma resina, o número de acessos à informação postada em síntese no cyber atacarejo é exaltado pelos ditos experts como prova de que marketing e comunicação trabalhada para atingir o público específico e comprador do lançamento já eram. A divulgação vem de graça nesse arrastão e, a quem solicita mais detalhes, diga que o pedido não veio ou caiu na lixeira como spam.

Na noite de 15 de novembro último, William Bonner apresentou em tom grave notícia de que pesquisadores ingleses (sempre eles) descobriram lixo plástico nas maiores profundezas dos oceanos. No vídeo, tomadas de sacos no mar e de fiapos de filmes pinçados de camarões em laboratório. Nem um pio da indústria plástica no dia seguinte para exigir o cumprimento do preceito de que jornalismo é ouvir as partes, requerendo o direito de externar seu ponto de vista no Jornal Nacional.

E ainda há no setor quem reclame da ignorância do povo. •

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