Campo minado

Agroveículos não escaparam da degringolada geral na produção automobilística brasileira no ano passado. Os sensores oficiais captaram no período a montagem de 82.314 unidades de agroveículos e máquinas rodoviárias versus 100.400 em 2013, retrocedendo assim a níveis bem de leve acima das 81.513 unidades em 2011. Mas a resiliência da agricultura às incertezas da economia doméstica inspira uma corrente de analistas a encarar o saldo sem glórias do último balanço como ponto fora da curva e, no embalo, a reação da demanda rural tornará a bafejar os agroveículos e, beleza, suas peças de polietileno (PE) rotomoldadas, certo? Nem tanto. “Nos últimos anos a participação do rotomoldado vem perdendo espaço e os custos formam entre as principais razões; os constantes aumentos de preços do produto vêm inviabilizando sua aplicação”, indica Venicius Cunha, gerente de engenharia de produto da montadora gaúcha Stara, dínamo nacional em agroveículos.
À sombra desse encarecimento, assinala Cunha, a alternativa do inox tem conquistado bom terreno na confecção de peças maiores nas três categorias de agroveículos do portfólio da Stara: para plantio, pulverização e distribuição. “No caso, combinamos as vantagens do nosso know-how na transformação do metal com a questão do custo de transporte”, explica o executivo. “Peças maiores possuem uma geometria que requer o pagamento de vários fretes para trazê-las prontas para a fábrica; já o aço pode ser entregue em toneladas para o moldarmos dentro de casa”. A enxaqueca para os rotomoldados não fica nisso. “O uso de peças similares como as injetadas proporcionam significativos ganhos de produtividade, custos mais competitivos, redução de lead time de entrega, escalas maiores e, em decorrência, menos investimentos em ferramentas”, argumenta o gerente da Stara. “Afinal, no trabalho com rotomoldados, grandes escalas periódicas exigem um número maior de ferramentas disponíveis”.
Adrivânio Dal Vesco, gerente de suprimentos da Stara, também põe o dedo na ferida. “Em nossas linhas, a presença do rotomoldado é maior nos veículos de plantio, um segmento dividido por aplicações e no qual as montadoras ainda optam pela confecção de seus reservatórios em aço carbono”. Cunha entra nessa linha de passe. “As peças rotomoldadas estão perdendo a participação em reservatórios de carretas agrícolas em razão de seu custo ter subido na comparação com outros materiais, em especial o aço inox, cuja durabilidade aliás é muito superior à do polietileno rotomoldado”.
Diversas montadoras de agroveículos, sob justificativa de custos, importam peças rotomoldadas passíveis de produção nacional. A Stara foge dessa moldura. “Devido à qualidade e know-how dos transformadores de rotomoldados no Brasil, não sentimos até o momento a necessidade de buscar essas peças no exterior”, argumenta Cunha. “Mas, por outro ângulo, os constantes aumentos de preço da matéria-prima e a falta de habilidade dos fabricantes locais de peças para lidarem com esses reajustes, invariavelmente repassando-os às montadoras dos agroveículos em lugar de focarem seus processos internos e corrigirem ineficiências capazes de equalizar essa conta, passamos a enxergar a importação como possível alternativa para manter viável o uso de rotomoldados em nossos equipamentos”. A Braskem, única produtora no país de PE, inclusos os grades de média densidade lineares para rotomoldagem, informa que seus preços acompanham os do mercado internacional.
Nas linhas de montagem da Stara, informa Dal Vesco, as peças rotomoldadas em tanques de combustível e de óleo hidráulico, componentes para plataforma de milho (bicos, carenagens, laterais etc.) e reservatórios de plantadoras, carretas graneleiras, distribuidores de fertilizantes e para acondicionamento de líquidos em pulverizadores. A propósito, Cunha ressalta o pioneirismo de sua empresa no gênero no país. Na década passada, conta, a Stara saiu atrás de materiais para substituir o inox, à época bem mais caro. “Partimos para o uso de PE, pois seus reservatórios se prestavam ao armazenamento e transporte tanto de sementes como de fertilizantes, abrindo-nos assim dois mercados para serem atingidos com o rotomoldado, um produto de maior valor agregado e custo competitivo”, repassa o gerente. “A ideia era revolucionária, mas sua implantação foi dificultada pela falta de transformadores preparados e pouco conhecimento do mercado sobre o assunto; mesmo assim constituiu um salto e tanto para a Stara”.
A indústria automobilística mundial entoa o mantra da economia e sustentabilidade, um coro engrossado pelos agroveículos e o setor plástico. “A busca por materiais mais leves é uma tônica no setor e a possibilidade de, em apoio a essa proposta, aumentar o uso de elementos rotomoldados vai depender da melhora do seu acabamento, pois hoje ele deixa muito a desejar perante o de peças plásticas geradas por outros processos de transformação”, condiciona Cunha. A curto prazo, ele entrevê, a resina rotomoldada tem condições de deslocar materiais concorrentes em mais peças de agroveículos a tiracolo da leveza proporcionada e da possibilidade de gerar formas de significativa complexidade. “Por exemplo, todas as carenagens de nossos modelos autopropelidos são de termofixos e o aço é a matéria-prima dos nossos tanques hidráulicos, mas nos dos tratores estamos mudando para a peça rotomoldada”, aponta o executivo.
Titular do Brasil no setor, a também gaúcha Rotoplastyc manda ver entre os fornecedores da Stara, mérito de mais de mil itens no catálogo, de diversas patentes obtidas de tecnologias e produtos e, por fim, de sua especialização em componentes como tanques horizontais para acondicionamento de 200 a 15.000 litros e reservatórios de até 24 toneladas para carretas, acenados para o transporte e armazenagem de grãos. Nelson Formentini, presidente dessa transformadora de capacidade estimada em 300 t/mês, endossa o parecer da Stara a respeito da competitividade dos rotomoldados em agroveículos. “Com a pressão nos últimos três anos sobre o preço da resina, várias peças de PE passaram para outros materiais, devido ao custo, favorecendo em especial o inox, cujas vantagens incluem ainda a alta resistência e durabilidade, embora seu emprego se restrinja a reservatórios e peças planas”.
Formentini enxerga domínio imperial de PE em veículos de plantio, colheita e pulverização. “É uma posição proporcionada pela elevada resistência à corrosão e à facilidade da rotomoldagem para desenvolver peças de design capaz de aproveitar melhor os espaços nas máquinas agrícolas”, atribui o transformador. “Por exemplo, o emprego de PE permitiu ampliar a capacidade de tanques de combustível, aproveitando espaços de forma impensável quando se usava chapas de aço”. A propósito, ele encaixa, quando a Rotoplastyc entrou em campo seu carro chefe eram os grandes reservatórios para carretas de estocagem e transporte de grãos. “Perdemos esse reduto para o inox devido à diferença de preços entre os materiais”.
Na foto do momento, as importações de peças rotomoldadas para agroveículos brasileiros, a exemplo de tanques de combustível e óleo hidráulico à base de materiais especiais, não tende a esmorecer tão cedo, deixa claro Formentini. “Orçamos em 2014 dezenas de partes à base de PE e outros materiais para empresas interessadas em nacionalizar produtos na tentativa de reduzir custos”, ele revela. “90% dos orçamentos resultaram mais caros que a mesma peça produzida na Europa e EUA; nem falo da Ásia”. Dos pivôs do encarecimento dos seus orçamentos no último período, Formentini pinça, além da carga tributária, “o aumento de 61% na tarifa de energia elétrica, 15% na de GLP e o reajuste acima de 28% no preço interno de PE”, ilustra. “Como repassar tudo isso num ano de recessão?” Procurada por Plásticos em Revista, a Resiplastic negou entrevista.
Inaugurada em 28 de fevereiro de 2014 em Horizontina, Rio Grande do Sul, a subsidiária brasileira da norte-americana Centro, craque global em rotomoldagem, ocupou a capacidade instalada, não divulgada, prevista para a fase inicial do empreendimento, confirma Jackson Luis Bartz, diretor industrial da unidade de negócios Brasil. Na ativa com quatro instalações de rotomoldagem, a planta final logrou este feito num ano difícil em razão de operar com exclusividade para atender a operação brasileira da montadora norte-americana de agroveículos John Deere, parceira para a qual a Centro reserva nos EUA a produção de quatro fábricas suas. No ano passado, por sinal, a John Deere produziu aqui 12.865 tratores e 2.944 colheitadeiras.
Bartz nada contra a corrente dos vaticínios da Stara e Rotoplastyc quanto à perda de terreno para o aço sofrida por PE em razão dos custos. “Nunca vi o plástico rotomoldado perder lugar para metal por causa de preço”, sustenta. “O que eu vejo é a peça plástica, por ter mais valor agregado, efeito da incorporação de diversas funções, algo inviável na confecção com metal, deslocar o produto de aço em várias aplicações”.
Em Horizontina, adianta Bartz, a Centro Brasil planeja produzir rotomoldados à base de resinas lineares e crosslink, recorrendo a tecnologias geradoras de peças de geometrias sofisticadas, inatingíveis com o uso de aço, com índice mínimo aceitável de refugo na qualidade. “Em tratores”, ele exemplifica, “tanques de combustíveis à base de PE crosslink aumentam a segurança em termos de resistência ao impacto, evitando vazamento”
Bartz também enxerga os rotomoldados entranhados nos agroveículos “a ponto de não se conceber outra forma de produzir ou retornar ao aço em peças como ponteiras e direcionadores das plataformas de corte em colheitadeiras”. Fora dos quesitos leveza e geometria, Bartz atribui ao plástico rotomoldado o condão de agregar à peça mais de uma função e, por tabela, incutir mais valor no produto. “Temos referências disso em tanques de combustível que, além de beneficiar o centro de gravidade do veículo por colocar o volume do líquido armazenado estabilizando as forças e o peso, eles compõem parte dos paralamas. Por essas e outras, ele deixa patente, o designer nesses casos usufrui liberdade para criar diferenciais de desempenho e suportar as exigências de geometria, resistência e custo das peças em projeto, através da evolução dos materiais e processos de rotomoldagem. “É esta a função da Centro”, sumariza o diretor.

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