Vocação enfim encontrada

K 2022 comprova que o tempo é o senhor da razão para a impressão 3D

Três anos atrás, era impossível andar pelos corredores da feira K em Düsseldorf sem dar de cara com manifestações da impressão 3D. Eram lançamentos de impressoras, petroquímicas e componedores trombeteando resinas e masters para filamentos para a prototipagem rápida, sem falar na exibição e farta distribuição de copos, potes, chaveiros, roldanas, vasos, brinquedos e geringonças resultantes da reprodução tridimensional. O termo manufatura aditiva entrou com tudo no jargão do plástico e marqueteiros aproveitavam a onda para alçar a impressão 3D à condição de poção milagrosa da tecnologia e sustentabilidade. Analistas de nome feito na praça internacional diziam, sem enrubescer, que, dentro em breve, o cidadão levaria à oficina o carro com para-choque destroçado por trombada e, enquanto tomava café de uns 20 minutos no boteco ao lado, a autopeça substituta era providenciada por impressão tridimensional e instalada numa boa no veículo. Outros visionários enlevavam o público com palestras onde descortinavam o admirável mundo novo da cadeia do plástico agrupando, por regiões estratégicas, plantas de resinas commodities de capacidades muito abaixo do padrão internacional e circundadas por recicladoras de resíduo pós-consumo que supririam vizinhos dedicados à manufatura aditiva, pura circularidade com fecho de ouro.
Pois na K’2022 a impressão 3D não sumiu de todo dos estandes, mas encolheu a olhos vistos em quantidade de aparições e em relevância no noticiário diário sobre as novidades expostas e endeusadas na super feira. A vida real mostra que, passado o oba oba, a impressão 3D permanece uma considerável contribuição tecnológica e cuja excelência desponta em nichos de baixa demanda e onde a moldagem de peças de dimensões restritas é economicamente inviável pela alternativa tradicional da injeção, uma via das escalas de massa que caracterizam os plásticos. Noves fora, a vida real descerrou para a impressão 3D a vocação de uma ourivesaria de materiais sintéticos, de manufatura sob encomenda de produtos que estão longe da superficialidade, caso de peças mecânicas de reposição para estações espaciais. No Brasil, por exemplo, o processo abre caminho em próteses de ortodontia, componentes de peças ortopédicas anatômicas individualizadas e, no nosso setor automotivo, já brilhou em protótipos plásticos de componentes de motores 908 de caminhões Mercedes-Benz, para ajudar a montadora a programar o desempenho ideal das peças metálicas originais. Nos EUA, por sua vez, a startup da área médica Glimpse Diagnostics adianta na mídia estar na boca do pipeline um sistema impresso em 3D para visualizar o tímpano e ajudar a constatar em casa, com facilidade e rapidez, infecções auditivas em crianças. É preciso dizer mais?
A sustentabilidade foi o mantra da K’2022. Avanços em maquinário e grades para resinas virgens, por exemplo, perderam longe para os lançamentos na raia dos reciclados. Pipocaram anúncios de desenvolvimentos enraizados em polímeros de fontes renováveis e até uma porta-voz do Ministério do Meio Ambiente da Alemanha conclamou na feira o setor plástico manter o ímpeto no desenvolvimento sustentável, mesmo sob o cerrado fogo contrário vindo da guerra na Ucrânia, recessão, inflação nos preços da energia e alimentos e a incerteza da disponibilidade de gás natural para aquecer a população e não parar a indústria na Europa no inverno que se aproxima. A feira alemã fechou sob merecido festejo por sua realização numa conjuntura tão adversa, mas deixou pulsando no ar uma incógnita: como ficaria o merecido perfil da K, de bússola europeia do plástico mundial, se, diante dos custos e escassez do gás natural que nocautearam a competitividade da manufatura no continente, a indústria da cadeia plástica da Europa der de passar a transferir ativos ou a priorizar investimentos para fora do continente, atrás de lugares com energia acessível e de fonte tão confiável quanto sua economia.
O próximo inverno será uma prova dos 9.•

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