Uma bomba relógio

Degradação educacional se aproxima de um limite insustentável para a transformação de plástico no Brasil
Manufacturing Day | Foto: Sekisui Kydex

Brendan Scott, estudante de Engenharia Mecânica da Universidade de Massachusetts Amherst, nos EUA, tirou a sorte grande. Foi contemplado pela Nasa com bolsa de US$ 6.000 mensais para estudar como isolantes de polímeros podem se tornar condutores de calor, conforme noticiado no jornal Plastics News.
Na primeira sexta-feira de outubro, dia 6, aconteceu nos EUA o evento Manufacturing Day, considerado a maior chance para empresas de manufatura inspirarem na nova geração a vontade de trabalhar nelas e dar aos jovens motivos para revisarem a ideia preconcebida da indústria como lugar enfadonho e repetitivo para se fazer carreira, Na edição deste ano do Manufacturing Day, mais de 400 indústrias foram visitadas por delegações de alunos acompanhados de professores.
Empresas de transformação de plástico são adeptas do Manufacturing Day. Estreante no evento este ano, a NewAge abriu aos alunos sua fábrica na Pensilvânia, focada em tubos corrugados e injeção de itens como conexões. “Resolvemos participar para desafiar os estereótipos em torno da transformação nos EUA, destacando aos estudantes a variedade de habilidades e perfis da nossa força de trabalho, tirando deles aquela noção da manufatura baseada apenas nas tarefas dos operadores”, relatou a Plastics News a executiva Jessica Koob. Na mesma pegada, a PTI Engineered Plastics frisou a turmas do ensino médio reunidas na sua planta em Michigan o apelo benfeitor da salvação de vidas contido em seus produtos médico-hospitalares e procurou incutir nos jovens a noção de que a transformação de hoje em dia não guarda qualquer semelhança com a imagem passada de trabalho irmão da graxa, sujeira e tecnologia rudimentar. Já a componedora Sekisui Kydex se empenhou em explicar aos alunos a sua produção, engenharia, P&D, seleção de cores e entrosamento com o desenvolvimento sustentável. Orion Behrer, diretor de RH, observou que, com a economia norte-americana crescendo e a diminuição de candidatos ao batente da manufatura plástica, ficou mais duro disputar mão de obra qualificada com outros setores.
O desinteresse estudantil pela manufatura é inédito e mundial. Enquanto países como a Alemanha, pátria-mãe da engenharia, debatem o problema atarantados, os EUA por ora são os únicos a esboçar reações concretas para aproximar das suas indústrias jovens preparados através do Manufacturing Day ou subsídios em P&D para universitários. As causas desse alheamento dos novos talentos são notórias: trabalho visto como mais criativo, remunerador, digital e realizador nos mercados financeiro e de serviços. A indústria plástica sofre ainda mais com essa rejeição dos adolescentes, efeito da péssima imagem do material e por não ter advogados à altura para derrubar as infundadas difamações.
O Brasil não foge à regra e não é de hoje que sua transformação de plástico não reage a esta ameaça tipo bomba relógio. Um complicador da situação por aqui é a trombada entre a piora educacional do país com a tecnologia global se remodelando da noite para o dia, como indica o alastramento das economias digital, criativa e verde na manufatura em geral. No Brasil, deixou de espantar o esvaziamento no número de cursistas em Química e Engenharia e o naufrágio do ensino técnico. Estudo com 45 nações a cargo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) lista o Brasil como o quarto país com menor percentual de matriculados na educação profissional. Ou seja, se o país quiser estancar sua desindustrialização, precisa atentar para as trilhas da formação da chamada Educação Profissional Tecnológica.
De que adianta buscar competitividade com máquina atualizada sem haver quem a opere a contento? Copiar o Manufacturing Day pode ser um começo. •

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