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Juros altos, inflação e menor poder aquisitivo marcam a trajetória de PS há dois anos
Juros altos, inflação e menor poder aquisitivo marcam a trajetória de PS há dois anos

Na garupa da onda final da pandemia bafejando o consumo de descartáveis, o mercado brasileiro de PS vibrou em 2021 e caiu forte sob inflação, carestia e juros altos em 2022, mesmos fatores que fazem o polímero virar a página deste ano apenas com leves nuances em sua trajetória perante o balanço passado. Desse modo, a foto da fraca demanda de PS em 2022 pode ser transposta, a grosso modo, para a conjuntura que se encerra.
Inclusos PS e sua versão expandida (EPS), a participação do polímero no consumo brasileiro de resinas é arredondada em discretos 8,5% por cálculos setoriais. No âmbito do consumo nacional de transformados os três pilares de PS apresentaram, as seguintes participações no ano passado: descartáveis, com 1,9% do total; eletroeletrônicos, com 2% e a categoria dos transformados para alimentos em geral, com 21,9%.

Fábio Meireles: produção de PS da Innova em Triunfo atenua impacto da seca na unidade em Manaus.
Fábio Meireles: produção de PS da Innova em Triunfo atenua impacto da seca na unidade em Manaus.

À parte embalagens de alimentos, reduto no qual PS sente as mordidas da opção mais acessível de PP em injetados e termoformados, os setores de eletroeletrônicos e descartáveis encurralaram este ano a demanda pelo polímero estirênico por dois flancos: juros nas nuvens reprimindo vendas a crédito e o poder aquisitivo empobrecido, afetando compras de bens essenciais, como alimentos, retração que respinga nas vendas de descartáveis plásticos, quintal de PS. Neste ponto, cabe salientar a influência da pressão ambientalista refreando as vendas e, tal como ocorre no exterior, arranhando a imagem dos descartáveis plásticos,. Exemplo: o serviço de delivery ifood, o maior no gênero do país, cortou esses utensílios de suas entregas como contribuição contra a poluição plástica. Em 2022, por sinal, a procura por PS para descartáveis caiu 3%, situam estimativas da cadeia.
Levantamentos setoriais atribuem a eletrônicos, puxados pela linha branca, ao redor de 1/3 do mercado interno de PS. Apesar do peso da inflação e o crédito escasso e caro, o volume de vendas de eletroeletrônicos aumentou 13% no primeiro semestre versus mesmo período um ano antes, atingindo 44.02 milhões de unidades, divulgou a associação Eletros. O aumento sustou o percurso de 18 meses de quedas seguidas e alimentou as esperanças da entidade de sair de 2023 com crescimento de 4-6%, alimentado pelo ímã para o consumo na metade final do ano exercido pelas datas temática da Black Friday e Natal. O saldo positivo do primeiro semestre elevou um pouquinho o astral do setor de PS. Afinal os juros altos dificultam o giro de eletroeletrônicos de grande porte, movidos em regra a compras parceladas. Daí por que, no balanço da Eletros, os eletroeletrônicos de maior saída na primeira metade de 2023 foram air fryers, com alta de 85% nas vendas, enquanto as de geladeiras, maior nicho de PS em eletroeletrônicos, subiram modestos 4%.
“A demanda por eletroeletrônicos e linha branca foi impactada pelos juros elevados nos primeiros meses de 2023”, considera Fábio Meireles, gerente comercial para resinas (estireno e PS) da petroquímica e transformadora Innova. “O segundo semestre aponta para uma recuperação importante, impulsionada por datas chave – Black Friday e Natal; por lançamento dos mais importantes fabricantes e da tendência de queda nas taxas de juros. No mais, 2023 deve resultar similar a 2022 para o mercado de PS em embalagens e, com melhor saldo, o de descartáveis”.
A cargo da Innova e Unigel, a produção brasileira de PS acusou abalos em 2023. A problemática situação financeira da Unigel influiu em parada da sua unidade de 130.000 t/a da resina em São José dos Campos (SP), iniciada em junho e agendada para ser sustada na segunda quinzena de novembro, conforme assegurou o gerente comercial Rogério Cauduro ao portal Icis. E desde outubro, enchentes em Santa Catarina têm dificultado o desembarque, pelos portos incentivados locais, de PS de origens como a Colômbia. Na região norte, a surpreendente piora da seca sazonal mantém também desde outubro em situação de calamidade o recebimento de matérias-primas e o despacho de produtos acabados ao restante do Brasil pelo polo industrial de Manaus. E nele a Innova desponta com a fábrica de 120.000 t/ de PS, a única planta petroquímica da Zona Franca, e com a produção de BOPP, bobinas laminadas de PS e PP e tampas para garrafa de água mineral, refrigerantes e sucos. Ou seja, para tocar seu complexo em Manaus a Innova depende do recebimento de estireno e poliolefinas. Fontes do mercado afirmam que a produção local de PS, polímero com o qual a Innova atende os redutos de eletroeletrônicos e descartáveis na Zona Franca, baixou de forma significativa e, no restante do país, a comercialização de seus transformados tem sofrido bastante. “Nossa vivência de 35 anos no Amazonas nos confere a experiência para lidar com esse tipo de vicissitude”, argumenta Meirelles.
No caso de PS, ele distingue, a Innova tem um respiro do flagelo da seca em Manaus no seu complexo de estireno e PS em Triunfo RS). “Isso gera flexibilidade em diversos cenários e contextos de forma a garantir pleno atendimento aos clientes”. Com base em declaração de Christina Westphalen, gerente comercial e de supply chain da Innova, o portal Icis divulgou em 13 de novembro a decisão da empresa de parar para manutenção, por 60 dias a partir de 20 de novembro, suas capacidades de 420.000 t/a de estireno e 540.000 do insumo etilbenzeno em Triunfo, sem prejuízo para a produção local de PS, respaldada por programados estoques de matérias-primas. Uma boa nova para PS é que a atípica onda de calor no país em novembro antecipou, de certa forma, a sazonal subida de verão na procura por descartáveis como copos. •

 


 

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