Transformadores micro e pequenos de flexíveis merecem ser chamados de heróis da resistência. Seu cotidiano é tomado por uma briga de foice com um monte de concorrentes do mesmo porte e tecnologia e pela caça extenuante à matéria-prima acessível, sem que eles possam desfrutar a vantagem-chave dos gigantes dos filmes: a compra de grandes volumes de resinas fechada cara a cara com a petroquímica, obtendo em contrapartida preços abaixo dos ofertados por distribuidores e revendas. Mas, sempre há como escapar da vala comum para quem consegue flagrar caminhos nas entrelinhas desse terreno minado, ensina a expansão de 700% no faturamento durante os últimos oito anos degustada sem alarido pela catarinense Embalatec. Um balanço de se emoldurar na parede e cuja cereja no bolo é a nova planta sede que ela partiu em novembro em Blumenau e duplica sua produção.
Fundada em 1992 pelo empreendedor Eloy Domingos Queija, a Embalatec seguiu até 2008 focada com exclusividade na revenda de itens para o fechamento de embalagens. A guinada foi deflagrada em 2008, quando a batuta do negócio passou para o filho Eloy Queija. “Minha inquietação me levou a pesquisar novas oportunidades de negócios e veio daí a aposta na vocação industrial”, ele conta. “As primeiras máquinas de corte e solda e extrusoras chegaram, respectivamente, em 2009 e 2011, possibilitando o ingresso em produtos como stretch e bobinas de mesa de corte para o setor têxtil”. Mediante investimentos em pessoal, gestão e máquinas, completa Queija, o genoma da Embalatec se alterou. “Deixou em segundo plano a operação de revenda para se assumir como uma indústria de soluções plásticas”.
Queija assinala ter percebido a necessidade de instalações maiores desde a entrada em cena, em 2011, da operação de corte e solda. “Neste mesmo ano enfrentamos uma enchente que resultou em perda de materiais. Equipamentos recém-adquiridos ficaram submersos”. Desde então, ele continua, por várias vezes os ativos da planta foram retirados da fábrica sob temor dos estragos deixados por novas enchentes. “Além do mais, a possibilidade de compra de mais uma extrusora tornou essencial mudar a sede da empresa.” Resumo da ópera: Queija comprou de um fornecedor um galpão de 1.000 m², tendo anexo um terreno de 800 m². “Inclusos o imóvel e compra de equipamentos, investi ao redor de R$ 1 milhão.”
Na selfie atual, estrelada pela nova sede, a capacidade de filmes da Embalatec saltou de 60 para 120 t/mês, a cargo de três extrusoras blown. Queija completa o parque fabril com a máquina de corte e solda de sacos e a rebobinadeira de stretch. “Hoje produzimos cerca de 40 t/mês desse filme estirável, ofertado em volumes menores”. Na calculadora do transformador, a Embalatec consumiu 650 toneladas de polietilenos (PE) de janeiro a outubro último e, com entrada em campo da capacidade ampliada, Queija espera elevar o volume a 780 toneladas até dezembro. “A previsão para o primeiro ano de operação da nova planta é de consumir 1.100 toneladas de resina”, ele adianta. Na esfera das bobinas jumbo de stretch, ele distingue, a produção de janeiro a outubro último atingiu 380 toneladas, devendo avançar para 470 até o final do ano e, para 2020, a expectativa é de alcançar a marca de 530 toneladas”.
Queija confia que o faturamento da Embalatec rondará R$ 10 milhões este ano ou 30% acima do registro anterior. “A receita deve ser dividida entre a atividade de revenda, hoje com apenas 10%; stretch, com 30% e 60% a cargo de sacos, bobinas em geral e para mesa de corte”. Por sinal, bobinas para mesa de corte são hoje o carro-chefe da transformadora e, produzidas desde 2015, hoje configuram cerca 420 t/a, situa o transformador. “Este crescimento nas vendas decorre de nossa proximidade com o setor têxtil, muito forte na nossa região”. As bobinas de mesa de corte, aliás, também constituem uma aplicação de PE reciclado. “O cliente não usa este filme para exposição, mas como item de seu processo produtivo que dispensa a exigência estética associada a uma película translúcida”, justifica Queija. “Além do mais, há o apelo da sustentabilidade e o apoio à cadeia da reciclagem resulta em emprego, renda e a necessária consciência ambiental”.
A nova fábrica acorda a inquietude de Queija para ampliar o raio de alcance da Embalatec. “Sempre entendi o frete como um problema para expandirmos para o Sudeste, pois plástico é produto de baixo valor agregado”, ele esclarece. “Mas aqui no Sul a disputa por preço é muito maior e os valores são mais baixos, de modo que o Sudeste surge como alternativa para termos margens maiores, a ponto de compensar o custo do transporte”. Uma forma acalentada por ele de se firmar no Sudeste é a parceria com vendedores de máquinas de corte e solda.
2019 é definido por Queija como um exercício de colheita dos frutos dos investimentos e, para 2020, sua expectativa é de a Embalatec crescer com mais moderação, na faixa de 10%. “A intenção é reduzir o ímpeto da expansão para estabelecer o negócio, equilibrar o caixa e otimizar o mix; enfim, colocar a casa em ordem para voltar a cogitar saltos exponenciais para 2021”.
O Brasil parece, desde 2015, com a economia em banho-maria e poder aquisitivo refreado. Queija reconhece a conjuntura, mas não é do seu feitio jogar a toalha. “Nunca deixei a palavra crise existir dentro da Embalatec nem nossa equipe de 22 funcionários a usa como desculpa”, ele sublinha. A gente entende que o bolo pode estar menor, mas o tamanho da nossa fatia no mercado não precisa diminuir, pois nosso negócio sempre existiu e acreditamos no diferencial de fazer mais no atendimento e na entrega”. •