Um Dia D

O setor plástico ganharia muito se nacionalizasse o Manufacturing Day

Realizado em regra na primeira sexta feira de outubro, o Manufacturing Day (Dia da Produção) promove a cada ano um tour para quase meio milhão de estudantes do ensino fundamental e médio dos EUA por mais de 2.600 fábricas. A proposta é expor aos jovens a modernidade industrial e, quem sabe, inocular neles o interesse em carreiras profissionais na manufatura.
Além de receita tiro e queda para azeitar o relacionamento de empresas com escolas nas suas proximidades, o Manufacturing Day tem um chamariz ultra conveniente para fábricas da cadeia plástica que abrem as portas para os alunos, famílias e professores. Afinal de contas, a visita é uma senhora oportunidade para ajudar a botar nos devidos eixos a espancada imagem pública do plástico, estigmatizado como um corona para o meio ambiente, apresentando aos jovens seus pouco sabidos benefícios e vantagens, como a moldagem simplificada, vida útil, leveza, proteção e flexibilidade para adequar-se a tantas aplicações e tecnologias influentes na melhora da qualidade de vida e da proteção ambiental.
O Manufacturing Day também é mão na roda para o RH de indústrias como as do setor plástico. Afinal, até o pipoqueiro da esquina está cansado de saber do desinteresse das novas gerações por fazer carreira nos meandros da produção de qualquer setor. Dão as costas para a manufatura, tida como trabalho enfadonho, pouco imaginativo, mal pago e de lenta escalada nos organogramas, contrastando em tudo com o charme exercido pelo setor de serviços e mercado financeiro. Essa rejeição é um terreno minado para o meio fabril, pois seus contínuos investimentos na automação do processo decepam vagas onde a intervenção manual se provar substituível. No entanto, os jovens que cumprem o tour no Manufacturing Day constatam então que fábricas high tech hoje criam cargos para novas atividades mais sofisticadas, sem mesmice e bem remuneradas – enfim, tudo o que a moçada sonha.
Com o corona batendo recordes de internações e mortes nos EUA, o temor de contágio por aglomerações presenciais melou o Manufacturing Day deste ano execrável. Mesmo assim, entre as poucas companhias avessas a deixar a data passar em branco, compareceram uma fabricante de sopradoras de resinas e outra de perfis de PVC que abriram-se a visitas virtuais. Claro que não é a mesma coisa que o passeio ao vivo, mas, ainda assim, é uma forma de não deixar a bola cair num momento crucial para o futuro do setor plástico, tanto pela reputação em cacos do material como pela aversão das novas gerações a bater ponto numa indústria por elas considerada chocha e catastrófica ao meio ambiente.
Sob qualquer ponto de vista, a realidade do Brasil nada tem a ver com os EUA. Mas, da mesma forma que o mundo inteiro reproduz hábitos de consumo e maneirismos da cultura norte-americana, a cadeia brasileira do plástico só teria a ganhar se nacionalizasse o Manufacturing Day. Num país onde o medíocre nível educacional favorece a aceitação de informações infundadas contra o plástico, é imperdível a oportunidade para indústrias do ramo se aproximarem dos estudantes e transmitirem suas verdades sem bois na linha. Em termos de RH, o Manufacturing Day tropicalizado seria um raro canal para essas companhias seduzirem gente nova e mais preparada para embarcar na produção cada vez mais inteligente.
Um Manufacturing Day à brasileira viria a calhar para ajudar o setor plástico a sair da retranca e afinal acordar para o jogo. •

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