Tem o super poder

Reciclado prime engata a arrancada fulminante da Clean Plastic
Tanaka: indústrias começam a entender que plástico reciclado não é sinônimo de qualidade ruim.

Apesar de atordoarem o país, a pandemia e a instabilidade política e econômica não brecam a procura por resinas recicladas e a cobrança para suas propriedades equivalerem às do polímero virgem, duas obsessões aliás marteladas por múltis de produtos finais (brand owners) tietes de carteirinha da economia circular. A ascensão fulminante do Grupo Clean Plastic espelha esta realidade. Em apenas dois anos de ativa, ele passou de uma para três plantas de reciclagem de poliolefinas pós-consumo. A tiracolo, a capacidade pulou de 1.500 para 5.000 t/mês e o padrão platinum dos lotes rendeu ao grupo o status de parceiro fornecedor de grades reciclados a pedido da Braskem. A cereja do momento no bolo é a meta de duplicar a capacidade no ano que vem, adianta nesta entrevista Adriano Tanaka, sócio e diretor comercial e de marketing do grupo.

O grupo estreou em 2019 com a fábrica de 1.500 t/mês em São José dos Pinhais (PR) e em julho de 2021 já está apto a reciclar 5.000 t/mês e com efetivo de unidades acrescido do centro de distribuição em Poá (RS), da planta da Clean Bottle, também em Pinhais e a da Clean Nordeste, em Recife (PE). Como o negócio explodiu num período tão curto e tumultuado?
Há cerca de dois anos, notamos uma alta na demanda por resinas recicladas prime. O cenário pegou os fornecedores despreparados para atender a contento, resultando em escassez do material no mercado. Para driblar essa situação, o grupo alargou o mapa de suas parcerias com cooperativas e outras fontes de resíduos pós-consumo de poliolefinas. Além de contornar a carência de material reciclado na praça, essas alianças ensejaram a expansão do nosso negócio, a partir da primeira unidade em Pinhais, por sinal equipada com logística de armazenagem de 10.000 toneladas de sucata. Hoje em dia, fornecemos a quase todo o Brasil reciclados premium de PP e PE, um nível de requinte que nos levou a recorrer a equipamentos de ponta, caso do efetivo de 22 extrusoras, das linhas europeias de lavagem e moagem e da separação de refugo a cargo de leitores ópticos (ver box da Tomra), assegurando baixo nível de contaminação e alto padrão nos lotes selecionados para reciclagem.

Quais as etapas do processo de reciclagem a cargo das três plantas e qual o foco de cada uma?
Todas elas, praticamente, se incumbem da separação, moagem, lavagem, secagem e extrusão. Por seu turno, a Clean Bottle dedica-se à reciclagem de polietileno de alta densidade (PEAD) e é, por ora, a única de nossas unidades a efetuar a triagem automatizada dos resíduos através de sensores de infravermelho. Os reciclados ali gerados destinam-se a injeção, extrusão e sopro, sendo os materiais para este último processo de transformação os de maior potencial de crescimento no nosso portfólio, reflexo do interesse redobrado dos brand owners por resinas para segundo uso. A outra unidade em Pinhais fornece reciclados de PP para injeção e o mostruário alinha materiais preto, branco e de cores padronizadas, soluções originárias de copos de água descartados e de refugo de filme biorientado (BOPP). Por fim, a Clean Nordeste, focaliza PP reciclado pós-consumo preto e em cores padronizadas também para injeção.

Como reparte a atual capacidade de reciclagem de 5.000 t/mês entre as três plantas?
A operação em Pinhais recicla em média 3.500 t/mês ou cerca de 70% do total de resíduos plásticos pós-consumo que chega ao grupo. Já a Clean Bottle e Clean Nordeste repartem por igual o volume restante.

Piramidal

Triagem de resíduos pelo olho mecânico

A unidade da Clean Bottle conta com dois sistemas de sensores por infravermelho próximo Autosort® para identificar e valorizar os resíduos recebidos pelo critério das cores e por tipo de plástico, atesta Carina Arita, diretora comercial da Tomra Recycling Brasil, base comercial no país da fabricante norueguesa dessa solução de automação. “Nossos sistemas de seleção baseados em sensores elevam a eficiência da triagem, ponto-chave para a reciclagem de porte industrial, e garantem a alta pureza da fração separada para recuperação na planta da Clean Plastic”. Entre os pontos altos do sistema Autosort  sobressaem a resolução para seleção de finos e a tecnologia Flying BeamM®, responsável pela excelência na distribuição homogênea da luz para melhor detecção e monitoramento em toda a largura da esteira.
Carina acrescenta que sensores de refugo plástico da Tomra já batem o ponto em recicladoras em toda a região sul, além de São Paulo, Minas, Goiás e Pernambuco. “Em todas essas instalações nossos sistemas complementam a triagem manual, conferindo ganhos na escala e qualidade aos polímeros recuperados”.

Por que o grupo não recicla resíduos flexíveis de PE já que recupera BOPP?
Começamos a reciclar rejeitos de BOPP na planta em Pinhais para atender à demanda de um grande grupo de empresas que comprava nossas resinas recicladas. Ainda não reciclamos filmes de PE pós-consumo por causa do alto nível de contaminação das estruturas multicamada, o que dificulta seu processo de reciclagem e prejudica a qualidade do material reaproveitado.

Qual a motivação para instalar uma recicladora na região mais pobre do Brasil e de consumo inexpressivo de PP e PE?
A Clean Nordeste partiu efetivamente em julho. Resolvemos abrir uma empresa no Nordeste porque, embora o consumo de plástico seja menor ali, isso não o torna irrelevante. A lei determina a adoção da logística reversa em todos as regiões. Além do mais, a possibilidade de firmarmos parcerias com fontes locais de refugo, principalmente as cooperativas supridas por catadores, abre a possibilidade de contribuirmos para a geração de empregos locais. Por enquanto, a Clean Nordeste, embora munida de laboratório moderno, não roda com o aparato tecnológico das duas unidades no Paraná, mas sua equiparação é um dos nossos objetivos.

Poderia citar indicadores de características técnicas que justificam a classificação de prime para as resinas recicladas pelo grupo?
As principais referências do nosso rastreável reciclado prime são o baixo nível de contaminação, padronização de cor, especificações técnicas bem definidas e a incorporação de aditivos e outros insumos auxiliares para corresponder aos critérios de performance solicitados pelo cliente.

Qual a expectativa para o balanço do grupo este ano frente a 2020?
Estamos com expectativas bem altas para esse ano, principalmente porque, além da demanda por plástico de segundo uso ter aumentado, as empresas estão começando a entender que o fato de o material ser reciclado não significa que sua qualidade seja ruim. Antigamente, esse pensamento estava muito enraizado nas indústrias mais tradicionais. Hoje em dia, porém, as empresas cada vez mais percebem ser possível dispor de um reciclado com desempenho mais perto do polímero virgem e, em paralelo, elas atentam para a importância do máximo reúso do plástico. •

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