Guerra na Ucrânia, plasticofobia, repique viral chinês, mudanças climáticas, inflação mundial e local, transição energética e a economia brasileira de joelhos. Como se já não bastassem estes gatilhos da taquicardia, já ressoa por aqui o alarme de um furacão da categoria 5 a caminho do maior território dos termoplásticos e veia carótida da distribuição de resinas nacionais – o mercado de polietileno (PE).
Fatos:
1Capacidade mundial de PE deve crescer 7% este ano versus 2021, puxada por expansões na China e América do Norte.
2 Capacidade de PE dos EUA/Canadá cresce 10% este ano, acréscimo equivalente a cerca de 3 milhões de t/a e, se somadas as expansões registradas no quarto trimestre de 2021, totalizará por volta de 4 milhões de t/a. No próximo semestre partem plantas da Shell Polymers, Nova Chemicals e Bayport Polymers (Total Energies/ Borealis). E Gulf Coast Growth (ExxonMobil/Sabic) ligou ao final de 2021 a fábrica que roda em alta escala este ano.
3 China responde por 60% das importações mundiais de PE. Elas diminuirão a partir deste ano, com o aumento da capacidade instalada local, possibilitando mais exportações chinesas. Com isso e mantida sua guerra comercial com a China, os EUA buscarão desovar PE sobrante obtido da sua rota gás (a mais barata do mundo) a preços com viés de baixa em regiões compradoras com atrativo logístico – alô, América do Sul.
Participação minguante
A capacidade sul-americana de PE chega a 4.223 milhões de t/a. A oferta regional é deficitária e sem planos de expansão por escassez de petróleo e gás natural. No ano passado, o Brasil produziu 2.433.989 toneladas de PE com vendas internas de 1.789.688. As importações totalizaram 864.872 toneladas e 479.000 (mais de 50%) vieram dos EUA. “O mercado interno vai sentir na segunda metade do ano essa nova avalanche de importações de PE, inclusive com a progressiva melhora do desarranjo logístico e custo do frete causados pela pandemia desde 2020 e hoje piorados pela guerra num cenário de volatilidade e alta dos preços do petróleo e derivados e carência global de grades como polietileno linear (PEBDL)”, pondera Eder Ottolini Balbani, responsável por vendas técnicas de PE da distribuidora Replas, atuante em poliolefinas importadas. “Acho que os excedentes americanos sentirão a presença da resina chinesa na Europa e Ásia e assim o Brasil atrairá mais interesse com sua petroquímica de competitividade insuficiente perante PE da rota do gás de xisto e do Golfo dos EUA, assim como diante da resina chinesa obtida da carboquímica”.
Vai ser, deixa claro Balbani, um prato indigesto para os distribuidores de PE da Braskem, único produtor nacional de poliolefinas e que, tal como a ExxonMobil e Shell Polymers, preferiu não falar a Plásticos em Revista. “No varejo de PE, a participação de mercado da distribuição tem caído a níveis inéditos, não só devido à entrada de material extra zona, mas da revenda independente alimentada com resina nacional e importada por grandes transformadores de flexíveis”. A partir do segundo semestre, ele julga, a desova volumosa de PE da América do Norte, em particular, causará baixa brutal dos spreads avariando assim as margens da distribuição da resina doméstica. “Desde o final do ano passado ela sente essa queda por causa do resfriamento do consumo doméstico e da disputa com grandes transformadores ofertando poliolefinas adquiridas por suas plantas em estados brasileiros incentivados”.
Até o momento, diversos produtores de PE na América do Norte não possuem representação no Brasil. Balbani acha que a nova rodada de excedente realçará o país nos mapas de vendas regulares deles. “Será um passo bem óbvio a entrada dessas petroquímicas no mercado interno, através da aquisição ou associação com varejistas ou abrindo escritórios próprios e apoiados em logística terceirizada para efetuar a distribuição. Várias dessas empresas estão em fase de identificar parceiros locais”.
Incógnitas pendentes
Leonardo Gonçalves, diretor da trading Eixo Snetor também põe fé nessa tendência, mas com cautela. “A instalação de bases locais é uma possibilidade. Mas persiste um monte de irrespondidas variáveis externas, a exemplo do desenrolar da guerra e reincidências da covid, e variáveis internas como o problema fiscal e eleições de outubro”, ele coloca. “Tudo isso e as peculiaridades do nosso mercado pesarão nas decisões desses players de PE”.
No ano passado, as principais origens das poliolefinas trazidas pela Eixo Snetor foram Oriente Médio, Argentina e Colômbia, distingue Gonçalves. “Para este ano, a expectativa é de aumento da participação de PE dos EUA e, como a cadeia de suprimento torna-se cada vez mais regional, os fornecimentos da Ásia não devem se fortalecer na América Latina como os norte-americanos”. É possível, ele admite, que a recomposição da disponibilidade mundial de navios e contêineres demore ainda algum tempo, contribuindo assim para atenuar circunstancialmente a maior oferta por aqui de PE dos EUA e Ásia. Gonçalves julga que, quando a sobra da resina norte-americana ganhar visibilidade, haverá queda mais acentuada nos preços de PE e uma reação mais agressiva da Braskem para resguardar sua participação no mercado brasileiro.
Repasse problemático
Roberta Duarte, diretora da Conecta Resinas, distribuidora de poliolefinas importadas controlada pelo grupo Melo Cordeiro, possuidor de trading e operação logística, põe no mesmo bojo a guerra na Ucrânia e a entrada este ano do excedente internacional de PE. “No curto prazo, os produtores de derivados de eteno dos EUA, Oriente Médio e restante da Ásia terão margens melhores e o preço da resina vai subir”, ela antevê. “Mas o maior problema, à medida que a crise mundial acesa por Putin se desenrola, são a extensão da demanda perdida e o que isso pode significar para os volumes de vendas em todas as cadeias de valor. Afinal, o cenário mais provável é o de inviabilidade de repasse dos custos extras, cuja implantação levará tempo em razão da velocidade do encarecimento do petróleo, resultando em queda de margens para produtores de PE pela rota nafta”.
A partir do segundo semestre, deixa claro Roberta, a geopolítica espelhará com nitidez o aumento da oferta internacional de PE. “O quadro envolve as plantas que partem nos EUA e, com a Rússia vendendo petróleo com desconto para a China, de modo a contrabalançar a perda da clientela ocidental, as petroquímicas chinesas, com capacidade crescente de PE, caminham para exportar com mais vigor e a preços talvez inferiores aos dos EUA”. Com linhas próprias de financiamento, a Conecta está estabelecendo relações com produtores de ambos os países. “Um deles é chinês e predisposto a montar base comercial aqui”, insere sucinta a dirigente. A Conecta abriu as portas em janeiro e a invasão da Ucrânia a impediu até agora de divulgar nomes e origens das petroquímicas de PE e polipropileno (PP) que serão suas bandeiras. “Estávamos negociando com empresas da China, Arábia Saudita e EUA quando a guerra estourou e travou tudo”.
Este climão prenuncia queda nas margens de PE da Braskem, reitera Roberta, diante da pressão dos preços internacionais pautados pelo novo excedente e da sua antevista desova intensificada na América do Sul, a partir da metade final deste ano. “Se a Braskem não munir seus distribuidores de PE de condições mais competitivas, eles também sofrerão dificuldades”.
Disparidade de preços
Superoferta em mercado retraído nunca é bom negócio, em particular para as margens, suspira Cleber Motta, diretor comercial da importadora Place Resinas. “Saem prejudicados importadores e transformadores, pois o acesso às ofertas de material nunca é linear”, ele analisa. “Vamos ter uma disparidade razoável de preços pautados por embarques diferentes e muitas vezes as importações chegam na mesma data, gerando o efeito nocivo de se praticar um preço bom em determinado lote e prejuízo em outro que, eventualmente, ficou mais tempo navegando, chegou tarde e perdeu competitividade devido à baixa no preço a meio caminho”. Motta acrescenta que o mercado de resinas parou de jogar pelas regras conhecidas. “Desde o início da pandemia não temos bússola para nos orientar em meio às contínuas surpresas, sejam uma súbita alavancada no consumo, reajustes expressivos nos preços e falta de materiais e insumos”. Ele exemplifica com as dificuldades (não retificadas até o fechamento desta edição) relatadas ao mercado por carta em 22 de fevereiro pela Dow, para importar insumos vitais para operar seu complexo argentino de PE ou para desembarcar resinas prontas no país vizinho. Já no Brasil, muito antes da guerra na Ucrânia, reinava na praça o consenso de que a oferta de polietileno de baixa densidade (PEBD) nacional não cobre mais a demanda.
EUA e Ásia devem permanecer as principais fontes de poliolefinas da Place, aponta Motta. A propósito, ele crê que produtores norte-americanos de PE com novas plantas ativadas este ano e pouco familiarizados com o Brasil estarão propensos a abri aqui escritórios comerciais e contratar agentes, tal como aliás fez um deles, a ExxonMobil, durante o primeiro ciclo de ampliação da capacidade norte-americana de PE. “Aproveitar a expertise de distribuidores locais é a forma mais rápida e inteligente de ganhar espaço num mercado saturado de fornecedores, ou seja, tomar um atalho aliando-se a quem sabe o caminho das pedras”, conjetura Motta. “Se quiserem apenas os clientes que compram direto da Braskem, um escritório de vendas dá para o gasto, mas se pretendem avançar no amplo mercado restante, a união de forças com um varejista doméstico é bem interessante.”
Dependência reduzida
Maior distribuidora brasileira de termoplásticos, a Piramidal atingiu em 37 anos uma solidez que a blinda de coices e sustos no negócio, sustentam os sócios executivos Wilson Cataldi e Amauri dos Santos. Daí porque não perdem a linha frente à possível engorda este ano das importações de PE dos EUA que, aliás, destronaram nos últimos anos a Argentina como principal fornecedor externo do polímero para o Brasil.
Nos idos de 2017, eles contam, PE mobilizava 90% das vendas da Piramidal e hoje a participação ronda 50%. Em contrapartida, outros materiais commodities e nobres contrabalançaram na receita a redução da dependência de PE desta que é a maior distribuidora da Braskem. A providencial virada no balanço não ocorreu da noite para o dia. “Desde cinco anos atrás”, contam Wilson e Amauri, “a empresa incrementa a pulverização do portfólio focando em produtos de maior valor e maior gama de aplicações tendo demanda compatível”, eles explicam. É com base neste foco , por exemplo, que um staff interno de cobras em plásticos de engenharia tem desenvolvido aplicações até junto com os fabricantes de produtos acabados servidos pelos transformadores e componedores presentes na carteira da distribuidora. “Conseguimos então fidelizar esses clientes bem mais do que alcançam os distribuidores que trabalham o mercado movidos pelos preços dessas especialidades”, conta Cataldi. “São estudos algo morosos, mas, uma vez comprovados, nos garantem a exclusividade no fornecimento dos materiais”.
O movimento mais recente de diversificação do mostruário atende pelo nome ECCOAR. Trata-se de uma série de resinas recicladas premium (commodities e de engenharia) fornecidas por recicladores parceiros da Piramidal. No tocante a PP e PE reciclados, Wilson e Amauri assinalam que têm luz verde da Braskem para comercializar os reciclados da empresa e os contratipos ECCOAR. “É a primeira manifestação da Braskem em prol da distribuição multibandeira de termoplásticos”, percebem os empresários. Ainda no ano passado, a Piramidal evidenciou sua estratégia diversificadora com a constituição de uma unidade de negócios de soluções circulares, sem similar no varejo nacional do plástico, responsável aliás pela família de grades ECCOAR. Cataldi e Santos esperam que até 2024 essa unidade mobilize de 20% a 30% da receita da Piramidal.
O desdobrar do leque de materiais commodities e nobres contemplou a Piramidal com um divisor de águas em 2021 foi a única distribuidora de resinas no país a faturar R$ 1.150 bilhão. Em conjunturas sem surpresas, durezas e incertezas, a empresa gira em média mensal de 7.500 a 8.000 t/mês, como aconteceu em 2019, indicam Cataldi e Santos. Nos dois anos pandêmicos seguintes, eles esclarecem, resinas como as da Braskem acusaram contingenciamento e este suprimento inconstante explica porque o giro médio da distribuidora empalideceu em volume em 2020 e 2021. Em contrapartida, porém, o negócio de plásticos de engenharia fortaleceu o peso na receita da Piramidal.
O catálogo e o caixa ação blindam a Piramidal para guinadas no mercado como a esperada no setor de PE, a resina mais comercializada no planeta, contra a vislumbrada desova de PE excedente dos EUA no Brasil. “Esse cenário levará a Braskem, que não forma preços internacionais, a defender território à custa de preços à altura da pesada concorrência importada e que podem enfraquecer suas margens de lucro”, conjeturam Cataldi e Santos.
Eles apalpam com cautela o terreno para a distribuição de plásticos no período corrente. Notam que o governo tem recorrido, neste ano eleitoral, a bondades ao consumo tipo redução do IPI, antecipação do 13º salário ou saque emergencial do FGTS. Mas, contrapõem, o desemprego ronda 12 milhões de pessoas, a inflação real é bem mais grave que a oficial de dois dígitios, os juros andam ultra pontiagudos e, acrescidos ao dólar e petróleo na faixa de US$100, pioram o custo de vida e, por tabela, o consumo final. Além disso, encaixam os dirigentes, a guerra Rússia x Ucrânia dificulta e onera o acesso de fertilizantes para os grãos, encarecendo os alimentos no Brasil. “E como a carestia tende a não dar trégua em 2023, o duelo de PE local x excedente importado deve piorar num ano sem eleições e canetadas eleitoreiras”, julga Cataldi.
Em prol da margem de manobra do PE nacional, notam os dois dirigentes, há que se considerar que importação no Brasil não é negócio para principiantes. “A crise logística trazida pela pandemia agravou-se com a guerra e, se o frete marítimo de resina dos EUA consumia em média 20 dias até o Brasil, hoje leva 60”, situam Cataldi e Santos. Por sinal, eles frisam, no tocante a materiais que importam e destinados a setores de demanda regular e suprimento programado como o automotivo, a Piramidal está trabalhando com estoque de quatro meses em média para evitar desabastecimento, reação à demora da chegada dos navios. “É uma medida preventiva que, por sinal, demonstra um grau de capitalização bem pouco habitual entre distribuidores de materiais importados”, eles salientam.
O peso do inesperado
Ricardo Mason, diretor da Fortymil, distribuidora próxima dos 50 anos de milhagem e agente autorizado de poliolefinas da Braskem, se escora na experiência para avaliar a frio o excedente de PE importado que deve desembarcar por aqui a partir do terceiro trimestre. “Uma super-oferta de materiais que venha achatar as margens não é novidade para nós, distribuidores”, ele pondera. “Num mercado poluído, com atores de práticas não tão transparentes, é preciso que o distribuidor esteja preparado e munido de agenda de controle constante de custo operacional”.
Calejado por levas de importações ameaçadoras nos últimos anos, Mason não descarta o peso do acaso alterando no meio do caminho a pedra cantada de um cenário preocupante para a distribuição local. “A experiência ensina que imprevistos podem alterar o fluxo da concorrência importada de uma hora para outra, a exemplo do desligamento de plantas menos competitivas no mercado mundial, acarretando então algum equilíbrio entre oferta e demanda, ou então, mudanças no câmbio, no preço do petróleo ou nos custos logísticos, ou ainda restrições baixadas no comércio exterior, como decretou a Argentina no ano passado”. No arremate, Mason salienta que o negócio de distribuir resinas commodities não se resume a preço competitivo, estendendo-se ao atendimento fidelizador de clientes e o cada vez mais requintado ferramental virtual embarcado na gestão corporativa. Ou seja, ele sublinha, o convidativo preço spot do PE importado não basta para desbancar o distribuidor de PE nacional.
Crédito facilitado
Diversificar o mostruário e sofisticar a gestão contam pontos para o distribuidor, mas em se tratando de resinas commodities, os volumes de venda são primordiais, pondera Rodrigo Brayner Fernandes, diretor da Eteno, única distribuidora da Braskem sediada no Nordeste, “PE representa um terço do mercado nacional de termoplásticos e o nosso objetivo é aumentar a participação no segmento”. Ele reconhece que a perspectiva de PE importado hiperofertado na praça complica este seu objetivo. “2022 aparenta ser um exercício mais difícil que 2021, com persistência de inflação de dois dígitos enfrentada pelo BC com seguidos aumentos na Selic, dois entraves à preservação das margens da Eteno”.
Fernandes encara com ceticismo os afagos do governo no bolso do eleitorado de olho nos votos em outubro. “Acho que o governo perdeu o timing; qualquer estímulo agora será para a redução de débitos – o endividamento das famílias é recorde – e não para aumento do consumo”. Para resistir ao quadro e, de certa forma duelar melhor com o PE importado lapidando o atendimento de sua distribuidora, Fernandes conta que a análise da saúde financeira das empresas que atende desvenda significativa restrição de capital de giro. “Queremos então acrescentar mais serviços com o mesmo custo e uma solução é o programa Etenopay de linhas de crédito adicionais, sem anuidade, para os clientes conseguirem superar os desafios deste ano de demanda fraca no varejo”.
Alterando o perfil
Um dos distribuidores gigantes da Braskem, a Activas é uma das precursoras no ramo na oferta de alternativas sedutoras de crédito aos clientes. Com a conjuntura turvada pela guerra na Ucrânia, o espectro do excedente de PE importado, desarranjo logístico internacional e o Brasil em recessão ou estagnação, a depender do analista, o CEO Laercio Gonçalves se esquiva de traçar futurologias. Ele concorda que o momento é desafiador para a distribuição resguardar suas margens, o que, apesar da demanda recessiva, o força a acompanhar a precificação de PE, hoje ditada por volatilidade e viés de alta das cotações do petróleo e dólar. Poliolefinas da Braskem permanecem a viga mestra do balanço da Activas e um reflexo do seu crescimento é a contratação de 50 funcionários nos últimos dois anos e a renovação da frota de caminhões. Em paralelo, a empresa vem efetuando movimentos de diversificação com potencial de alterar o seu perfil e a relevância de PP e PE nas suas vendas, o que tornaria menos inquietadores para a empresa adventos como o salto nas importações de PE antevisto para este ano. Um sinal dessa mutação é o ultra recente ingresso da Activas no panteão de distribuidores de plásticos de engenharia (PA 6, POM e PBT) da Basf, incrementando assim seu portfólio multinacional de materiais nobres que, por sinal, está sob cuidados de uma gestão à parte do negócio de resinas commodities. Em paralelo, o olho de Laercio Gonçalves cresce sobre oportunidades imersas no desenvolvimento sustentável, casos do embarque da Activas em soluções de logística reversa (coleta da sacaria vazia no cliente e sua destinação à reciclagem) e da distribuição no Brasil do composto de ácido polilático (PLA) da norte-americana Earth Renewable Technologies, negócio estendido em 2021 à comercialização no México. É o primeiro movimento de internacionalização da Activas e, manda a lógica dos seus 32 anos de expansão, o bioplástico não tende a ficar sozinho no estoque da filial no exterior. “O mercado mexicano de distribuição de resinas é maior que o brasileiro, mesmo com uma petroquímica menor”, deixa no ar Roberto Ribeiro, diretor da consultoria norte-americana IHS Markit.
Hora de mostrar serviço
Para enfrentar a prevista avalanche de PE importado a partir do segundo semestre, os distribuidores da resina nacional devem tratar de valorizar seus predicados aos olhos dos clientes, opina Simone de Faria, diretora responsável pela América Latina da consultoria norte-americana Townsend Solutions. “Ou seja, realçar a amplidão do portfólio com disponibilidade imediata de grades, na maioria das vezes, além de prazo reduzido de entrega, vendas de volumes menores e preços mais previsíveis”, exemplifica a analista. “Venda não é só preço; serviço é a palavra chave. Um cliente que deixa de comprar por preço, pode voltar pelo serviço, mas aquele que deixa de comprar pelo atendimento ruim não volta por preço nenhum”.
O assédio de PE dos EUA, hoje de custo mais competitivo devido à sua matéria-prima (gás), afeta mais os produtores da resina nos países destinatários do excedente a ser desovado, nota Simone. “Essas petroquímicas também recorrerão a novas estratégias para encontrar saídas do enrosco e a distribuição pode ser uma grande aliada”. De outro ângulo, a consultora observa que, em momentos de instabilidade e demanda enfraquecida como atual, os distribuidores que diversificam seus negócios, caso de acréscimos no portfólio ou investidas em outros países, ganham em flexibilidade para atravessar as turbulências. “Nessa questão da disputa no Brasil com superoferta de PE importado, eu enxergo mais vantagens que desvantagens para o distribuidor nacional”, ela julga. “Os distribuidores de produtos importados precisam estar mais organizados e manter estoques maiores, correndo muito mais risco que os concorrentes locais com as variações cambiais difíceis de se prever”.
Não será mais do mesmo
“Excedentes globais de produção sempre buscam os destinos mais remuneradores para os fabricantes e traders”, pondera Roberto Ribeiro, diretor da consultoria norte-americana IHS Markit. “Assim, o aumento da capacidade global de PE, em especial num mercado de baixo custo que são os EUA e num mercado de grande demanda que é a China, fica difícil a absorção a curto prazo de tamanha sobra do polímero de bate pronto’”. No entanto, ele assinala, a situação é menos periclitante que a do excedente anterior, ativado nos últimos anos pré-pandemia na América do Norte. “Afinal, os mercados finais de PE cresceram substancialmente sob a vigência do coronavírus e isso faz com que o excedente agora esperado para entrar em cena este ano e em 2023 não seja tão crítico”. Além disso, insere, devido a problemas operacionais e logísticos em 2021, as cadeias produtivas hoje operam com baixos estoques, o que pode atenuar o baque da chegada do PE sobrante. “Mas, mesmo menor, a superoferta é um fato e uma parte dela, vinda em especial dos EUA, tem boa probabilidade de chegar ao Brasil”.
Complicados pela guerra no Leste Europeu, os gargalos logísticos vigentes em cena há dois anos devem afetar os fluxos globais de produtos como termoplásticos nos próximos trimestres. “Mas os volumes continuarão chegando ao Brasil com frete e outros itens mais caros e com maior risco quanto a fatores como preço, câmbio e prazo de entrega”, analisa Ribeiro. “Com isso, quem trabalha com produtos importados terá que manter estoques maiores e custosos”. Por conta desses gastos aumentados, ele constata, o preço do PE excedente dos EUA, resultante da rota gás mais barata do planeta, ainda é uma vantagem sedutora, mas menor do que no período de hiperoferta anterior. No arremate, ele comenta que as expansões em curso nas petroquímicas chinesa e norte-americana determinam ponto final para investimentos em poliolefinas na América Latina.