Shell desiste de complexo petroquímico no Iraque

Margens hoje frustrantes minaram projeto idealizado há 10 anos
Complexo de PE na Pensilvânia: fracking trouxe a Shell de volta a poliolefinas e superoferta minou plano para o Iraque.
Complexo de PE na Pensilvânia: fracking trouxe a Shell de volta a poliolefinas e superoferta minou plano para o Iraque.

A superoferta global de PE e PP e seu epicentro na China – mesmo em crise permanece o condutor do consumo – sintetizam os motivos que levaram a Shell a anunciar em 14 de fevereiro sua desistência de tocar o Projeto Petroquímico Nebras. Idealizado em 2015 e orçado em US$ 11 bilhões, o propósito dessa parceria público-privada era dotar o Iraque de uma planta que o tornasse o maior produtor de petroquímicos do Oriente Médio. A Shell formalizou o abandono do plano ao outro acionista, o governo de Bagdá, por hoje constatar, segundo a agência noticiosa Reuters, ganhos declinantes em petroquímicas, um saldo frustrante e de alcance mundial entre produtores de resinas como poliolefinas, dolorido em particular para petroquímicas não integradas upstream (petróleo e rota do gás natural).

Pela métrica da consultoria Icis, o excedente em vigor entre a capacidade global de PE e sua demanda é projetado em 26 milhões de t/a em relação ao período 2024-2030. O tamanho da encrenca pode ser melhor aquilatado considerando-se o intervalo entre 1993 (início da fase de “milagre” econômico da China) e 2023, quando o mesmo excedente foi dimensionado em apenas 7 milhões de t/a pela Icis. Em PP, a mesma fonte situa o excedente em cena de hoje a 2030 em 24 milhões de t/a, volume equivalente ao quádruplo do constatado entre 1993 e 2023.

Na segunda metade do século passado, a Shell deu primazia ao negócio de óleo e gás. Apagou então, de forma drástica, suas digitais na petroquímica, a exemplo de borrachas estirênicas, PP e, na transformação, filmes biorientados dessa poliolefina (BOPP), três produtos aliás brindados com investimentos da Shell em plantas no Brasil hoje sob outros controladores.

O jejum de termoplásticos cumprido pela Shell foi rompido por um invento norte-americano: o fracionamento hidráulico do xisto (fracking) para extrair petróleo e gás natural. Sua arrancada nos EUA causou disruptura na mineração do combustível não renovável. O fracking dotou o país do eteno mais barato do planeta e, de importador, os EUA passaram assim a mega exportador regular de PE, uma sacudida que atraiu para lá um bocado de investidores na poliolefina. Em 2023, a Shell concretizou sua adesão a esse time, partindo o primeiro complexo petroquímico no gênero do nordeste norte-americano. Em lugar da praxe de construir a planta na costa do Golfo dos EUA (fonte também do gás natural oriundo de bacias petrolíferas marítimas), a Shell topou montar o complexo de etano/eteno com capacidade de 1.6 milhão de t/a de PEAD (tecnologia Unipol)/PEBDL (tecnologia Innovene S) em Monaca, no estado da Pensilvânia, respaldada pelas jazidas locais de xisto e sensibilizada pelo pacote orçado em US$1.65 bilhão de incentivos fiscais pelo governo local.

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