“Houston, nós temos um problema”. O aviso partiu da nave Apollo 13 em voo espacial em 1970 para alertar o centro de controle de missões da Nasa sobre explosão na parte traseira que paralisou a viagem à lua. A frase se eternizou para significar o surgimento de qualquer estrago sério e imprevisto e, assim, cai sob medida para sintetizar a situação dramática do setor plástico, arrastado pela economia mundial em declínio pela cultura do desenvolvimento sustentável em alta.
No final de junho, a consultoria Icis realizou um podcast em Barcelona para debater o pânico na indústria e avarias no mercado da Europa causados pelo irremovível e crescente mega excedente mundial de PP e PE, os termoplásticos mais consumidos, expansão puxada por novas capacidades nos EUA e Ásia. Muitos dos tópicos discutidos no podcast não são restritos à Europa nem a PP e PE. Eles se aplicam, em vários casos, a outros termoplásticos e a grande parte do resto do mundo, inclusos países emergentes como o Brasil. Por exemplo, a crônica superoferta de PP e PE e fraca demanda; a descida dos preços e margens de polímeros com baixo movimento; níveis sofríveis de ocupação nas linhas da transformação; compras de produtos finais movidas apenas a preço; aquisição de bens duráveis travada por juros altos para combater a inflação; redução dos tíquetes de compra no varejo e, por fim, quanto a bens de consumo imediato, o poder aquisitivo mais limitado priorizando a compra de alimentos a ponto de diminuir a procura por outras categorias de produtos essenciais.
Para piorar o enrosco, embalagens de bens essenciais de giro rápido mobilizam, respectivamente, 2/3 do mercado mundial de PE e 1/3 do de PP. Os negócios das hiperofertadas poliolefinas virgens também estão sendo abalroados pela obsessão global de reduzir a poluição plástica e de abrir caminho para soluções ambientalmente mais corretas que as embalagens de uso único
E nas entrelinhas da obesidade mórbida dos excedentes das duas poliolefinas espreita o fator China. O país não escapa da praxe hoje mundial de demanda retraída e ainda depara com um pesadelo demográfico (população idosa em expansão e taxa de natalidade ínfima) e com o zilionário estouro da sua super bolha imobiliária. Ao mesmo tempo, a China permanece a fábrica do mundo, lidera a importação de commodities e continua a expandir suas capacidades de resinas como PVC, PE e PP. Tornou-se 100% autossuficiente em PP e PET e 70% em PE. Agora, além de exportar regularmente essas resinas que antes importava, sua autonomia faz com que os países que antes embarcavam PP e PE para a China tentem compensar a perda desse cliente despejando seus produtos no resto do mundo – e o Brasil entrou no radar dos destinos top.
A frase “Houston, temos um problema” também reflete, portanto, o labirinto onde as cadeias globais de todos os termoplásticos hoje tateiam no escuro atrás da saída de emergência. O Brasil não foge à regra, mas, como demonstram as entrevistas apresentadas nesta edição, seu setor plástico está longe de atirar a toalha no ringue devido ao astral-padrão de seus integrantes. Em vez de ficar chorando pelos cantos nas crises, eles dão o sangue para construir oportunidades de negócios e abrir portas que permitam aos polímeros crescer e acontecer nos mercados conquistados e estrear com garbo em aplicações abocanhadas de materiais alternativos.
Brava gente. •
Recicladora química de PET pede falência
Preço da resina virgem e abastecimento insuficiente vitimaram a Ioniqa