Essas cores não desbotam

As estratégias de componedores para atravessar a conjuntura de demanda em fogo brando
Masterbatches

No entra e sai do Brasil em crises, um dos fronts mais resilientes da cadeia plástica é a indústria de masterbatches. Embora superlotado para as dimensões do mercado (calcula-se o contingente em torno de 150 componedores), este braço nas especialidades nunca atirou a toalha no ringue. Uma boa justificativa para seus sete fôlegos é o fato de seu maior mercado ser constituído por embalagens para bens de consumo de alto giro, trincheira que, faça inverno ou verão na economia, tem as vendas instigadas por ondas contínuas de lançamentos. Uma ação-chave de marketing nessa área focaliza a apresentação dos produtos, implicando mexidas nas cores e tons das embalagens plásticas, mérito dos concentrados. Outra razão para o dinamismo do setor brasileiro de masters é a procura por soluções passíveis de reduzir custos e perdas no processo, duas obsessões dos transformadores e que os componedores buscam atender com aditivos cada vez mais específicos. Vai na mesma pegada pró-masters a fé cega das indústrias finais nos mandamentos do desenvolvimento sustentável. Daí as crescentes pressões dessas companhias por artefatos plásticos recicláveis e/ou contendo resinas recicladas em sua composição, dois terrenos férteis e adubados por componedores de masters com criações embebidas no molho verde. Na entrevista a seguir, este caldo quente e espesso de tendências e estratégias é servido por um quarteto de luminares em concentrados: Wagner Catrasta e Marcela Boneti, respectivamente head de operações e gerente de desenvolvimento da actplus; Fabio Patente Avelar, gerente comercial da Kolor Flakes e Roberto Castilho, diretor comercial da LyondellBasell para masterbatches, materiais em pó, compostos e resinas especiais na América do Sul.

Com base no observado no primeiro semestre, o mercado interno de masters fecha este ano estável, cai ou sobe em relação ao ano passado?

Wagner Catrasta: No caso da minha empresa, a actplus vive um momento diferente do experimentado pelo mercado de masters em geral. Afinal, estamos em franca expansão de negócios, com a aquisição em abril da planta de concentrados da Portalplast, em Diadema (SP). Aumentamos assim a capacidade de desenvolvimento e produção. Aliado à baixa demanda no mercado, este nosso novo poderio que torna o momento propicio para que as empresas usuárias de masters busquem novas alternativas de fornecimento e a actplus dando o máximo para se afigurar como opção ideal para preencher esta lacuna.

Fabio Patente: O primeiro semestre foi um dos piores cenários dos últimos anos para minha empresa, a Kolor Flakes. Constatamos no período uma redução de volume e, por tabela, de faturamento em torno de 25% em relação a 2022. Outro fator que preocupa muito nessa retração é o tamanho dos lotes. Por exemplo, clientes que compravam 1.000 kg de uma só vez passaram a comprar a mesma quantidade picada, tipo três pedidos de 300 kg. Ou seja, tivemos grandes aumentos de set up e, em decorrência, maiores perdas oriundas do processo produtivo.

Entre masters brancos, pretos e coloridos quais os tipos mais penalizados e os menos prejudicados pelo mercado interno anêmico no primeiro semestre?

Wagner Catrasta: seguindo a linha de raciocínio da primeira resposta, a actplus está imersa na prospecção de novos negócios e podemos sentir que masterbatches brancos e pretos continuam com demanda significativa, bem como os coloridos, mas estes últimos sofrem certa pressão do mercado em relação aos pós-consumo, o que na teoria facilitaria o seu reprocesso. Trocando em miúdos, alguns segmentos de produtos finais têm defendido a retirada de cores de suas embalagens a título de, na cor natural, elas se tornarem mais recicláveis. Não enxergamos a questão dos coloridos por esta forma; acreditamos que o apelo visual deles ainda se sobrepõe a estas questões, sem falar que esses concentrados em nada dificultam a reciclagem das embalagens que os incorporam.

Fabio Patente: Os coloridos tiveram uma queda mais expressiva no primeiro semestre que a de branco e preto, cuja demanda também recuou bastante. Afinal, o preto e branco são muito usados em materiais de alto giro, como sacos de lixo e sacolas de mercado, além de pigmentarem os reciclados mais comuns. Por seu turno, os masters coloridos são ultra utilizados na produção de itens não tão essenciais, como brinquedos e utilidades domésticas.

Quais os principais desenvolvimentos em masters introduzidos por sua empresa no primeiro semestre e quais os mercados em vista? E quais as principais novidades engatilhadas para o semestre final?

Marcela Boneti: Estamos trabalhando no desenvolvimento de concentrados com aditivos funcionais para a indústria de reciclados de poliolefinas, ABS e PSAI, caso de compatibilizantes (resinas, cargas e impurezas), auxiliares de processo, antioxidante, antiodor, modificadores de impacto modificadores mecânicos e reológicos. Para o segundo semestre estamos voltados para desenvolver a palheta de tendências em cores para 2024.

Fabio Patente: No primeiro semestre o foco da Kolor Fakes foi dar ênfase à venda de masterbatches preto e branco. No entanto, devido à retração da demanda e a uma certa resistência do mercado, nosso foco em preto e branco continuará em vigor no segundo semestre; está difícil emplacar qualquer ‘novidade’ com essas constantes oscilações (quedas) de preço – em determinado mês seu preço está bom e no outro você já está fora da disputa, sem competitividade, e precisa se reinventar para adequar-se ao mercado novamente. O mercado alvo da Kolor Flakes são os recicladores e transformadores de filmes, dois setores que sofreram muito nos últimos meses.

Roberto Castilho: Entre as inovações introduzidas por minha empressa, a LyondellBasell, uma das soluções mais interessantes é Polybatch® Easy Pour, produto indicado para a produção de embalagens de produtos líquidos viscosos ou pastas com o objetivo de facilitar o escoamento dos mesmos para fora da embalagem. Sua ação pode facilitar no processo de reciclagem, pois permite a expulsão total dos conteúdos de suas embalagens. Clientes já homologam esse master no Brasil e sua produção é local.
Outra novidade do nosso mostruário é Polybatch® BAR. Sua tecnologia o habilita para substituir o agente de barreira EVOH nas embalagens. Trata-se de uma grande opção para tornar embalagens laminadas contendo PP ou PE em soluções monomaterial, já que esta especialidade tem base em poliolefinas. O produto já está homologado em aplicações na Europa, e estamos trazendo amostras para validação aqui, em processo similar ao trilhado para Easy Pour. O objetivo é produzir Polybatch® BAR no Brasil uma vez que tenha demanda local compatível.
Também são várias as novidades em termos de resinas especiais e começaremos no início do segundo semestre a divulgá-las no Brasil. Constam de materiais para metalização, com resistência à temperatura para resistir ao processo de esterilização, e de opções para diferentes temperaturas de selagem para flexíveis produzidos em grande escala e com alta exigência em performance.

Quais as suas principais inovações em masters para introdução aqui este ano visando o melhor processamento do polímero na reciclagem mecânica; melhoria da qualidade final do reciclado; apoio para facilitar a separação prévia do resíduo para reciclagem; estabilidade e homogeneidade da cor nos lotes de reciclados e contribuição para composições monomaterial substituírem laminados e/ou metalizados?

Roberto Castilho: Vou responder os tópicos em separado. Vamos lá:
* Melhor processamento do polímero na reciclagem mecânica – As resinas Hiflex e Adflex podem ser utilizadas em baixo percentual como compatibilizantes de PE e PP, melhorando a qualidade dos reciclados. São de fácil processamento, flexibilidade, durabilidade, baixa densidade, alta resistência térmica e baixo brilho, com equilíbrio de desempenho de impacto, rigidez e encolhimento em blendas.
*Melhoria da qualidade final do reciclado – Além das resinas mencionadas no item anterior, há masterbatches como o Polyfresh EA, para captura de mau cheiro de lotes de resíduos. Para melhorar o padrão do polímero reciclado sugerimos antioxidantes como Polybatch AO 25 A para PE e Polybatch PAO 3360 para PP. Esses masters minimizam a degradação térmica das poliolefinas que origina oxidação, formação de géis, perda de propriedades mecânica e surgimento de partículas carbonizadas e mau odor. Além disso, minimizam o acúmulo de material degradado na matriz. Por todas essas melhorias proporcionadas, esses concentrados possibilitam aumentar o percentual de uso de material reciclado em produtos transformados.
Outras vias para aprimorar a qualidade do reciclado envolvem dois tipos de masterbatches branqueadores óticos Polybatch AO5, para PE e PP, e que minimizam o amarelecimento. Há casos que recomendam o uso de master dessecante, grade Polybatch AR 5711, para capturar possível umidade do material reciclado.
*Contribuição para facilitar a separação prévia do resíduo para reciclagem e estabilidade e homogeneidade da cor nos lotes de reciclados – O master Polybatch NIR permite que plásticos pretos sejam classificados por tipo de polímero no fluxo de reciclagem de resíduos plásticos mistos, removidos do fluxo de reciclagem de cores naturais ou claras.
* Contribuição para composições monomaterial substituírem estruturas laminadas e/ou metalizadas – Substituir os filmes laminados multimateriais por estruturas monomaterial exige a combinação de uma série de soluções para garantir a performance esperada em barreira, propriedades mecânicas, propriedades óticas, selagem e processabilidade. A LyondellBasell dispõe de resinas especiais e masters para corresponder a essas expectativas. Para soluções monomaterial base PP, laminações de BOPP com PP Cast podem ser utilizadas para substituir estruturas multimaterial PET com PE. A resina Adstif 712J provê à estrutura com BOPP maior rigidez, maior resistência à temperatura e barreira 23% melhor ao vapor de água e 19,8% melhor ao oxigênio. Este poder de barreira pode ser ampliado mediante uso da linha de produtos Polybatch® BAR no PP Cast. É um recurso que aumenta a barreira ao oxigênio. O filme de PP Cast pode receber uma capa com a resina especial Adsyl 6064, para ter selagem a menor temperatura e, por tabela, maior janela de processabilidade.
Para que a solução seja completa, oferecemos ainda masters que ampliam a barreira ao vapor de água, como Polybatch® CPS 606, Polybatch® NC44 e o Polybatch® M6020. Além de todos esses cuidados, é importante considerar a estabilidade do alimento frente à influência da luz, garantindo aos ácidos graxos insaturados a resistência necessária. Para embalagens transparentes, recomendamos o uso do Polybatch® PAC 10537, absorvedor UV para proteger e preservar as propriedades do alimento.

No mundo e no Brasil, a superoferta tornou as resinas virgens mais baratas que as similares recicladas, tendência a continuar por bom termpo. Como fica o estímulo para componedores lançarem masters para materiais reciclados se, em escala e preço, eles vêm perdendo lugar para as resinas virgens?

Wagner Catrasta: Na actplus, trabalhamos estes desenvolvimentos de forma personalizada, ou seja, desenvolvemos a cor com base no substrato enviado pelo cliente e oferecemos dois tipos de solução: master ou tingimento e esta última alternativa vem sendo bem recebida pelo mercado, pois entregamos o material na cor desejada e recuperamos as propriedades mecânicas do produto original. Desse modo, o cliente consegue incorporar um alto percentual do produto revigorado em sua linha de transformação, obtendo bons resultados financeiros aliados ao engajamento no processo de economia circular, pela via do reúso da matéria-prima.

Fabio Patente: Os recicladores foram largamente prejudicados pela queda de preço das resinas virgens. Tivemos que achatar muito as margens para continuar fornecendo masters a esse tipo de cliente, mas ele é prioritário para nossa empresa e, além do mais, acreditamos que o reciclado seja parte fundamental do futuro do plástico no Brasil e no mundo. Aos poucos, as aparas recicladas também terão preços reduzidos e os recicladores voltarão a ter materiais mais competitivos para venda. Todas as vezes em que a resina virgem barateia muito os recicladores sofrem até a estabilização dos preços de toda a cadeia de aparas. A Kolor Flakes entende bem esse ciclo e está sempre junto dos recicladores para ajudá-los a atravessar essa turbulência. A propósito, fomos pioneiros na produção nacional do flake (semelhante a um master moído). Ele permite grandes concentrações de pigmentos na fórmula, além de melhorar consideravelmente a homogeneização com o material moído e, por extensão, aprimora a qualidade do produto final. O flake possui um custo-benefício tão interessante que, em muitos casos, substitui o pigmento em pó, no passado a solução mais econômica de coloração para os recicladores.

Actplus incorporou a planta de masters da Portalplast neste primeiro semestre. Está confirmada a concentração da produção em Diadema a partir de setembro e a expectativa de elevar a receita de R$ 26 milhões para R$ 72 milhões com o aumento da escala obtido? A unidade em Cotia será fechada ou vendida pelo Grupo activas?

Wagner Catrasta: Sim, já estamos a pleno vapor para a transferência das máquinas de Cotia para Diadema até setembro. Aliás, a unidade de Diadema está em operação desde primeiro de junho último. Em breve estaremos com a receita dentro do projetado na pergunta. Quanto ao futuro da unidade de Cotia, existem estudos para mantê-la como unidade de logística reversa.

Qual é agora a capacidade de beneficiamento de resinas da actplus e quais os principais masters e compostos que a empresa ofertava antes de forma limitada e que passaram a ter larga disponibilidade com a incorporação do parque fabril da Portalplast?

Wagner Catrasta: Nossa capacidade saltou de 1.000 t/a para 6.000. Ela responde por um portfólio de masterbatches coloridos e de aditivos em PP, PE, PS, ABS, SAN, PET e EVA, fora compostos de PP com talco, carbonato de cálcio e fibra de vidro. Além disso, contamos com a linha de tingimento com e sem aditivação.

Quais os impactos no negócio da Kolor Flakes pela partida de sua planta de brancos e pretos no Paraguai e quais os efeitos por ela trazidos às filiais em São Paulo, Paraná e Ceará?

Fabio Patente: Aos poucos, branco e preto vão nos colocando na briga por uma boa fatia dos masters commodities, com volume de consumo expressivamente maior que a participação dos coloridos. A planta do Paraguai alimenta nossas outras unidades. Desse modo, nosso masterbatch acaba sendo importado, o que nos permite vendê-lo com ICMS de 4% em vendas interestaduais. Além do branco e preto, a ideia é produzir no Paraguai coloridos de combate (maior volume) para termos materiais ainda mais competitivos. Se as quatro plantas operarem 24h a capacidade produtiva da Kolor Flakes totalizará em torno de 2.000 t/mês. Hoje em dia, masters preto e branco representam 10% da nossa receita e a meta é aumentar essa parcela para 40% ainda este ano.

Quais as principais facilidades trazidas pela filial no Paraguai para suas vendas em países sul-americanos?

Fabio Patente: Um dos grandes fabricantes que comercializam brinquedos no Brasil possui fábrica no Paraguai. Ou seja, temos uma vantagem competitiva muito grande nesse caso. A localização geográfica do Paraguai é muito privilegiada para atender o sul do Brasil e países como Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia, etc. No momento, o foco da Kolor Flakes é alimentar e estabilizar as vendas dentro do Brasil e, a seguir, partirmos para a América do Sul em geral, inclusive crescendo aos poucos dentro do mercado do Paraguai, o que já ocorre. A logística para trazer o material para cá é bem tranquila; o Paraguai é muito mais perto de São Paulo que muitas capitais dentro do Brasil. •

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