Radar de mudanças vertiginosas

Primeira feira nacional do plástico montada após a pandemia, a Plástico Brasil 2023 está longe de acontecer num cenário de respiro após o mata-leão. Estão aí a contração do crédito, Selic na lua para combater a inflação, dólar alto e volátil, calafrios no mercado financeiro e uma política econômica tão falada quanto enigmática.
Embora o momento naturalmente influa sobre a intenção de compras do público visitante, feiras de plástico que se prezem não atolam nos trechos pedregosos da economia pontual. Até mais do que como balcão de negócios, tais feiras agem feito sinalizadores de movimentos e tendências que, na vertiginosa velocidade das mudanças de toda ordem na atualidade, vêm ganhando o mercado mais cedo que o previsto. Pois é nesta prévia de progressos e guinadas que reside a resiliência de feira tipo Plástico Brasil.
É fato que o recuo do PIB e peso descomunal da China no comércio mundial, guerra na Ucrânia mutilando a Europa, governos descapitalizados pela pandemia e o fim da era da exuberante liquidez monetária fragmentaram a globalização. Mas ela persiste tanto na área financeira, mostram os reflexos do colapso bancário na Europa e EUA, como em tecnologias a exemplo da indústria plástica. Dentro de suas limitações e possibilidades, a cadeia plástica brasileira segue jogando o jogo da evolução dos desenvolvimentos em matéria-primas e máquinas. Como informam as páginas a seguir, a Plástico Brasil é pródiga em evidências nesse sentido em cena no mundo inteiro, caso da apresentação de materiais de vanguarda, como grafeno, ou da febre por varrer ao máximo a intervenção manual de todas as etapas da transformação e reciclagem, mensagem captada em qualquer estande de periféricos e máquinas.
Hoje em dia, automação, digitalização e sustentabilidade dão as coordenadas para a trajetória do plástico mundial. A Plástico Brasil entra no ritmo puxada por expositores empenhados em aproximar a inteligência artificial do chão de fábrica ou sôfregos por alardear o alinhamento de seus produtos aos preceitos da economia circular. Falam por si os exaltados anúncios de materiais com pé na cozinha das fontes renováveis, embalagens monomaterial ou masters e aditivos simplificadores da reciclagem mecânica. Sem querer passar a impressão de desrespeito ou depreciação, é interessante notar na Plástico Brasil como ações vistas no passado como meios geradores de economia na produção, hoje são apregoadas como provas de engajamento empresarial na sustentabilidade, caso da redução de peso de embalagens plásticas e do gasto energético ou o reúso de aparas.
A Plástico Brasil também constitui um capítulo crucial para se decifrar uma incógnita pendente: o futuro do modelo atual de feiras de negócios. Mudança de hábito trazida pela pandemia, o trabalho 100% home office ou híbrido alastrou-se pelo Brasil a ponto de deflagrar recente contenda na Magistratura entre juízes que defendem as audiências presenciais e outros que alegam trabalhar com mais produtividade em casa. Por seu turno, a Plástico Brasil é um evento presencial que acontece numa fase da vida brasileira em que a digitalização transtorna e enfraquece cada vez mais o comércio e serviços físicos. De outro ponto de vista, há quem sustente que, além da oportunidade de estreitar o relacionamento entre clientes e fornecedores de forma inatingível por calls ou whatsapps, eventos como a Plástico Brasil são imperdíveis para clientes de máquinas sequiosos por conferir ao vivo se o equipamento exposto bate mesmo com tudo o que diz seu prospecto.
Em agosto de 2020, no auge da primeira onda da covid-19, Cássio Luís Saltori, diretor geral da Wittmann Battenfeld do Brasil, declarava a Plásticos em Revista: “a eficiência dos recursos digitais não joga uma pá de cal no futuro de feiras setoriais, como a do plástico. Elas não escaparão de ajustes em função de custos, regras sanitárias e de conduta, mas permanecerão fundamentais para a indústria. Ver, ouvir e tocar são sensações caras às pessoas e tão cedo não serão preenchidas pela visita digital”.
Três anos depois, Saltori segue irredutível e expõe suas injetoras austríacas de ponta na Plástico Brasil. •