Em apenas cinco anos de ativa, a WiseWaste, um gêiser de soluções em logística reversa e economia circular, tem desmentido uma série de dogmas relativos à impossibilidade de tirar do chão determinadas atividades de reciclagem, devido a questões de escala, e processos por demais trabalhosos e dispendiosos. Por exemplo, fechou a boca dos céticos quando, em parceria com múlti não revelada e a Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), desenvolveu uma via de reciclagem de fraldas descartáveis pós-consumo, sucata transformada, mediante recursos como esterilização, em resina plástica para segundo uso. Sediada na zona sul paulistana, a WiseWaste tem se destacado por vitórias na complicada recuperação de sucata de flexíveis, como laminados para alimentos, e por ases na manga de sua estrutura, a exemplo do entrosamento com 100 cooperativas de catadores no Brasil, rede submetida a treinamentos, modelos de gestão, ações em favor da qualidade da coleta e projetos acompanhados por plataforma on line de gestão. Nesta entrevista, Guilherme Brammer, idealizador e presidente desta empresa apoiada inclusive pelo programa Braskem Labs, detalha sua atuação.
PR – Desde quando atua a WiseWaste, quem a controla e quantos projetos de soluções de Engenharia Circular e Logística Reversa já realizou?
Brammer – A WiseWaste é uma empresa de capital próprio, fundada por mim 2011. Seu objetivo é encontrar soluções inovadoras para transformar resíduos em produtos de segundo uso. Já desenvolvemos centenas de projetos de economia circular para grandes empresas como Mondelez, Natura, Procter & Gamble (P&G), Kimberly-Clark e Nestlé, a maioria com foco no plástico como resíduo principal.
PR – Quais os critérios decisivos para uma cooperativa de catadores e uma indústria recicladora integrarem os projetos da WiseWaste?
Brammer – Para integrarem nossos projetos, as cooperativas precisam ser aprovadas pelas prefeituras locais. A partir disso, a WiseWaste realiza um diagnóstico das necessidades da cooperativa e desenha um plano de ação de empoderamento, intervenções em equipamentos e infra -estrutura. Em relação aos recicladores, nós trabalhamos com empresas licenciadas com equipamentos específicos para os projetos em foco.
PR – Como esses parceiros são remunerados?
Brammer – Os recicladores e as cooperativas recebem por projeto. Para cada projeto é estabelecida uma remuneração. Além disso, as cooperativas podem ser remuneradas através da venda dos materiais (resíduos) para as indústrias que fazem parte dos projetos.
PR – Os cases expostos no site da WiseWaste referem-se a embalagens de baixa escala. Não dá para comparar, por exemplo, a produção do cosmético Sou da Natura com a de garrafas de refrigerantes. Por que a empresa não atua em projetos de grandes volumes de sucata plástica pós-consumo?
Brammer – Atuamos em empreendimentos de grande escala mas não os divulgamos por se tratarem de projetos conhecidos (recorrentes) pelo público. Nós alardeamos os projetos caracterizados por dificuldades técnicas de resíduos complexos, comprovando dessa forma para a sociedade e clientes a possibilidade de transformá-los novamente em produtos através de tecnologia.
PR – O site mostra diversos cases de embalagens flexíveis, a exemplo de pacotes de suco em pó e snacks. Na prática, um grande obstáculo à reciclagem desse material é, além da coleta pulverizadíssima, a trabalhosa necessidade de eliminar restos de alimentos dos invólucros para remetê-los à reciclagem. As soluções da Wise Waste provam que o reaproveitamento desse refugo é tecnicamente possível, mas falta muito para se tornar um negócio economicamente viável. O reciclado de uma embalagem de snacks pode servir de matéria-prima de um pallet. Mas sai mais caro que as alternativas tradicionais da madeira ou plástico virgem. Na visão da WiseWaste, dá para quebrar esse paradigma?
Brammer – Tanto é possível que a empresa está verticalizando seu processo produtivo. Através de design de produtos, redes de cooperativas e tecnologia é possível o fechamento do ciclo com viabilidade econômica. Para tornar exequível a logística reversa, a WiseWaste começou a criar redes de cooperativas para a descentralização de volume dos materiais, por estes serem de fato pulverizados. Isso possibilita a concentração de volumes. Também estamos gerenciando pontos de entrega voluntária (PEVs) no varejo, outra ação em prol da concentração de resíduos. Com relação à viabilidade econômica, a WiseWaste transforma o material em produto final com design e aplicações específicas. Um exemplo disto é o porta-cápsulas Nescafé Dolce Gusto, já à venda no ecommerce da empresa e 100% injtado com materiais recuperados, unindo em sua composição cápsulas pós-consumo recicladas.
PR – O conceito internacional de manufatura avançada (Indústria 4.0) já se mostra na automação crescente das etapas da reciclagem. Como avalia o impacto dessa tendência?
Brammer – A WiseWaste acompanha de perto o desenvolvimento da Indústria 4.0. Estivemos em outubro na feira alemã K’2016 (ver seção Especial), onde o tema foi bastante discutido, e estamos desenvolvendo soluções nessa linha através da internet das coisas e inteligência artificial. Por exemplo, coletores inteligentes que avisam quando estão cheios e, em decorrência, reduzem o custo logístico. Percebemos nas plantas de reciclagem daqui que ainda está em andamento um grande processo de modernização e concordamos que o tema da Indústria 4.0 logo chegará ao Brasil.
PR – Por que a WiseWaste não atua em soluções para reciclagem de PET?
Brammer – Nós entendemos que esse assunto já está bem endereçado no Brasil, com grandes empresas fazendo esse trabalho. Nosso foco está em resíduos complexos, de difícil reciclabilidade. •