Camaleões ambientalistas

Irineu Bueno Barbosa Jr.
Irineu Bueno Barbosa Jr.
Irineu Bueno Barbosa Jr.

Vou abrir com uma pergunta para os universitários. Como distinguir, entre as indústrias usuárias de PET reciclado, o genuíno compromisso com o desenvolvimento sustentável do uso desse apelo para disfarçar uma vantagem comercial?
Após quase duas décadas estudando e trabalhando com a reciclagem de PET, acho que a motivação comercial ainda é o grande direcionador do mercado, seja para quem emprega o poliéster bottle to bottle (BTB) ou para quem utiliza o reciclado convencional. Seja como for, o grande gerador de demanda pela resina pós-condensada grau alimentício (PET PCR), resultante da tecnologia de reciclagem BTB, ainda é o fator econômico.
A cultura das grandes empresas consumidoras de PET é de vincular um eventual fornecimento contínuo de PET PCR com preços internacionais do polímero virgem. Infelizmente para a reciclagem nacional, essas corporações forçam mecanismos que garantem que o consumo do tipo PCR lhes traga sempre uma vantagem econômica sobre o material de primeiro uso, não respeitando eventuais desequilíbrios cambiais ou de suprimento de PET virgem. O reciclado PCR sempre paga o pato, forçado a se adaptar à política comercial praticada para a resina zero km.
São poucas as empresas finais que se mostram realmente sustentáveis. Entre as mais sérias com as quais tive contato, estão a Natura e Johnson e Johnson’s, ambas submissas a diretrizes de substituição de PET virgem pelo PCR. Tratam-se de instrumentos institucionais imunes a efeitos da demanda internacional do PET virgem ou estelionatos cambiais.
Ainda que, em determinados momentos, a cotação do pós-condensado se equipare ao da resina nova, a avaliação de curtos períodos demonstra que o preço do material sustentável é orientado pelo patamar da resina virgem, repousando em média entre 10% e 15% abaixo. No entanto, a grande maioria das empresas consumidoras de PET como insumo para embalagens só veste a camisa do time da sustentabilidade quando a vantagem comercial está acima dos 10%.
Entre indústrias dependentes de PET para suas embalagens, são poucas as indiferentes ao tema da sustentabilidade. Acredito que todas elas já avaliaram o cenário descortinado pela lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Ela acaba por obrigar o consumo de material recuperado como forma mais efetiva de desenvolver logística reversa e a reciclagem no Brasil. Afinal, se houver demanda consistente, as indústrias desenvolverão sistemas e tecnologias que garantirão a oferta e logo aumentarão a eficiência dos sistemas de logística reversa.
Na contramão do mercado, algumas poucas empresas ainda proclamam com entusiasmo serem sustentáveis, praticamente ambientalistas. Mas, ao final dos encontros conosco, acabam apresentando metas de redução de consumo de energia elétrica!!! Ou seja, ainda há quem misture tudo com a intenção de parecer verde, mas a motivação de reduzir despesas domina todas as áreas.
Um comportamento revelador: algumas empresas não destacam nos rótulos de seus produtos que usam PET PCR. Por que? Simples: utilizam as mesmas etiquetas em embalagens de polietileno de alta densidade (PEAD) e não querem ter dois modelos diferentes de rótulo para um mesmo produto. Outras, por sua vez, não divulgam o emprego do reciclado no recipiente por falta de maturidade, criatividade ou por excesso de preconceito. Para mim, informar ao consumidor que determinada embalagem participa de um ciclo de produção limpa, evitando o consumo de recursos naturais e colaborando com a logística reversa e reciclagem de refugo pós consumo, seria uma estratégia muito inteligente.
Para alguns players na praça, omitir a informação do uso do PET reciclado na embalagem torna mais fácil e cômodo substituir a matéria-prima pela resina virgem quando seu preço anda mais atraente. O fato de não exibir a composição de materiais da embalagem permite trocar um tipo por outro sem precisar alterar o rótulo e a comunicação com o cliente. Mas essas empresas são minoria; a maioria que usa PET PCR, por exemplo, transforma essa decisão em uma divulgação com viés de sustentabilidade para o produto, o que agrada a grande maioria dos consumidores. É plantar verde para colher maduro.

Irineu Bueno Barbosa Junior é sócio da Global PET Reciclagem e Doutor em Ciência e Engenharia de materiais com MBA em Gerência Comercial.

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