Pronta para o que der e vier

Global player em PA 6 e 6.6, a petroquímica belga Domo Chemicals não perde o prumo com a Europa transtornada por Putin e prepara o desembarque de suas especialidades no Brasil

Desgraça pouca é bobagem e, entre os plásticos de engenharia, as poliamidas (PA) 6 e 6.6, os tipos mais consumidos, parecem atrair a ira dos céus. Primeiro baixou a pandemia, matando milhões e bagunçando e encarecendo as cadeias de suprimento e o frete marítimo. Depois vieram a guerra na Ucrânia, repiques da covid na China, as sanções econômicas contra a autocracia de Putin e a disparada dos preços do gás russo apavorando seu maior mercado, a Europa Ocidental. Para piorar o astral, as embalagens de bens de consumo, maná dos polietilenos, não são o forte das poliamidas. Seu trono são bens duráveis com primazia para a indústria automobilística que, do seu lado, uiva hoje no fundo do poço com desfalques no abastecimento dos vitais microchips, petróleo nas nuvens e o descaso das novas gerações por comprar carros. “Passada a reviravolta atual, nada mais será como antes”, julga o chanceler alemão Olaf Scholze. Para sobreviver à vislumbrada recessão, a indústria de poliamida já repensa seus modelos de negócios em linha com o Novo Normal e, na Europa, coração dos licenciadores e formadores de opinião global em PA 6/6.6, a petroquímica Domo Chemicals reluz há 31 anos pelas fundações sólidas da verticalização industrial e disponibilidade de energia, além de uma expansão mundo afora que beneficiará em breve o Brasil, atesta na entrevista a seguir Ludovic Tonerre, Chief Commercial Officer International Markets da companhia belga.

Na linha de frente de PA 6/ 6.6 na Europa, inclusive com planta vizinha à Ucrânia, como a Domo Chemicals está estruturada para superar os efeitos da guerra de Putin?
Somos um dos poucos líderes do mercado internacional com um portfólio completo e integrado de PA 6/6.6, contendo intermediários, polímeros base PA, plásticos de engenharia e fibras de perfomance. Graças à sede na Bélgica, a sólida cultura de um controle familiar e nove fábricas internacionais, isso tudo alavanca nossa tecnologia, percepção do mercado e relacionamento com clientes para entregar soluções inovadoras e sustentáveis.
No início de 2020, fortalecemos a presença downstream nos materiais de engenharia base poliamidas com a compra do negócio europeu de poliamidas de performance da Solvay. A aquisição nos contemplou com a liderança em PA 6/6.6 na Europa e com a renomada marca global Technyl®. Logo a seguir às nossas operações europeias, contamos com forte atuação na Ásia, mérito das plantas na China, Índia e Japão, e com uma capacidade crescente de beneficiamento na América do Norte. No momento, nossa capacidade de PA 6 soma 120.000 t/a a cargo das plantas na Alemanha e Polônia, enquanto a de PA 6.6 totaliza 175.000 t/a providas pelas fábricas na França e Espanha. Em relação a compostos, hoje temos condições de fornecer 220.000 t/a e a expansão internacional dessa atividade está nos planos para os próximos cinco anos. Por sinal, toda esta leva de ampliações também favorecerá os clientes sul-americanos, inclusos os do Brasil, em particular montadoras e fornecedores Tier1.

Qual o impacto do encarecimento do gás natural causado pela guerra na Ucrânia sobre a competitividade econômica da indústria europeia de PA 6/ 6.6?
A atual discussão sobre o suprimento de energia da Rússia não afeta apenas a indústria de poliamida, mas a de todos os setores na Europa. Toda a cadeia de valor, integrada por muitos transformadores de porte médio, fabricantes de máquinas, prestadores de serviços e recicladores, está atrelada ao gás. A indústria química, à qual pertencemos, não é exceção. Como divulga a mídia, a União Europeia (EU) e países onde nossas plantas operam na região, como França ou Alemanha, estão propensos a cortar preços da energia e investir em combustível de fontes alternativas para assegurar competitividade às indústrias. Já bem antes do conflito, a Domo adotou medidas para aumentar sua segurança na disponibilidade de energia e matérias-primas. Essas ações preventivas permitiram aos clientes a continuar a escolher grades Technyl® para peças técnicas de muitos segmentos. Mais importante: a Domo possui um network estável e confiável de fontes empenhadas em garantir a certeza do suprimento de combustível e insumos, uma rede que entrou em ação logo que a guerra estourou. Munidos de uma estrutura de soluções alternativas, em especial na Polônia, Noruega ou Oriente Médio, esses fornecedores fortalecem a transfiguração em curso na cadeia de suprimentos da Europa Ocidental, por sinal acelerada há mais de dois anos, no início da pandemia, rumo à disponibilidade local de energia e de fontes de transporte. Como referência, lembro a promessa da petrolífera francesa Total Energies de deixar aos poucos de importar petróleo e derivados da Rússia até o final do ano, trabalhando em paralelo para incrementar sua independência do gás daquela origem, o que vai conferir segurança à nossa produção de PA 6 na Alemanha.
A conjuntura corrente também torna crucial para a indústria plástica intensificar a volta dos resíduos ao ciclo de produção. Nesse contexto, aliás, a Domo comparece com os grades Technyl® 4Earth, à base de matérias-primas não convencionais, como aparas industriais de poliamidas.

Como o cenário transtornado pela guerra influi na competitividade econômica da Domo Chemicals no mercado europeu de PA 6/6.6 diante de concorrentes internacionais?
Somos considerados um produtor confiável e de disponibilidade segura de poliamidas. Nossa planta alemã de PA 6 tem rodado a pleno e estamos aptos a completar o atendimento à crescente procura por PA 6.6 graças a fábrica na França e à nossa joint venture com a Basf. Apesar de nossas raízes europeias, a Domo é global player em materiais de engenharia. O alcance mundial da marca Technyl® e nossa expansão geográfica acentuaram a visibilidade da Domo na China e América do Norte, servindo montadoras e mercados locais de poliamidas. Aliás, enxergamos nelas um material de engenharia único com propriedades chave para aplicações avançadas como na mobilidade elétrica ou relacionadas ao setor de energia. Nesse contexto, a linha Technyl® sobressai pela sua estabilidade dimensional e resistência ao calor, virtudes estéticas e vários níveis de resistência a impacto e dureza, viabilizando peças mais leves e sustentáveis.

Os países da UE pretendem investir na diversificação energética para minar o quanto antes a dependência do gás russo. Para a Domo, qual das opções aventadas soa mais plausível, a exemplo do suprimento maior de gás natural liquefeito (GNL) dos EUA?
Não podemos comentar sobre a variedade de fontes de energia de nossos supridores, mas algumas áreas da UE admitem a alternativa de mudar o suprimento para GNL e, em paralelo, as energias renováveis, como hidrogênio verde, precisam e serão ampliadas; as condições técnicas para tanto estão sendo criadas nas instituições políticas e industriais da Europa. Estamos trabalhando em todas as opções energéticas disponíveis, atentando para as oportunidades a curto e médio prazo e avaliando as possibilidades com base em restrições geográficas e na infraestrutura elétrica local. É imperativo explorar alternativas que sejam soluções factíveis de energia.

A instável cadeia internacional de suprimento de PA 6/6.6 hoje complica o desenvolvimento de aplicações técnicas. Quais as possíveis alterações neste fornecimento capazes de tranquilizar nos próximos anos as indústrias usuárias dessas poliamidas?
Como já mencionei, o rearranjo da regionalização da cadeia de suprimento e o contínuo aumento da capacidade de PA 6/6.6 em mercados de grande potencial deverão trazer algum alivio aos clientes desses polímeros. Por sinal, os produtores de poliamida, em especial o tipo 6.6, têm investido em novas capacidades upstream para aprimorar a segurança do atendimento prestado. Devido ao aumento de novas plantas, o fornecimento de PA 6/6.6 tem aumentado em todos os continentes com melhor performance industrial e menor pegada de carbono.

Qual o impacto do carro elétrico sobre o consumo de PA 6/6.6 e quais as inovações da Domo para este mercado?
O histórico das duas resinas as coloca como preferidas para aplicações automotivas no sistema de refrigeração, elementos do interior e exterior e peças dependentes de leveza. No contexto da eletrificação, todas essas aplicações permanecerão e tendem a aumentar, em particular no tocante ao ar condicionado e na busca de redução de peso de componentes. No momento, a Domo está desenvolvendo uma gama de compostos de PA 6/6.6 desenhadas para corresponder às exigências térmicas e de durabilidade de itens do sistema de ar condicionado para carros de motor a combustão e elétrico. As pesquisas também compreendem compostos das duas poliamidas com alto teor de carga e processamento facilitado para a injeção de autopeças estruturais. Os novos requisitos das montadoras no que tange a eletrificação e alta voltagem também nos inspiram a concepção de tipos de PA 6/6.6 aditivados com retardante de chama e, na parte do suporte técnico, a Domo participa com experimentos de simulação avançada e prototipagem para validar aplicações.

O panorama atual é favorável a fusões e aquisições na indústria global de poliamidas?
No começo de 2020, a Domo entrou numa transformação de vulto ao comprar o negócio europeu das poliamidas de performance da Solvay, o que casou com nosso perseguido atendimento global a clientes com as soluções de Technyl®. Em linha com movimentos de fusões e incorporações deste naipe, vemos a indústria de poliamida oferecendo mais confiabilidade, custos competitivos e aprimorando o acesso de clientes globais a seus produtos. Também notamos fortes investimentos em PA 6 na Ásia, em particular na China, e a Domo pretende formar ali entre os fornecedores campeões.

Qual a possibilidade de a Domo comercializar PA 6/6.6 no Brasil?
Como global player em plásticos de engenharia, a Domo olha todos os mercados. Temos uma boa noção do mercado brasileiro de poliamida com base no histórico das vendas de nossas resinas virgens de PA 6 da série Domamid resultando em prolongadas parcerias com muitas companhias locais. Vale frisar que a compra do negócio de poliamidas da Solvay na Europa abriu-nos a oportunidade de vender compostos de PA 6.6 e PA 6 no Brasil. A Domo possui uma base produtiva forte com a planta alemã de PA 6 verticalizada no intermediário caprolactama e a unidade francesa de PA 6.6 agregando a produção dos insumos ácido adípico e hexametilenodiamina. Essa integração upstream na Europa nos proporciona segurança e independência além de nos permitir buscar parcerias que nos tornam um global player confiável para seus nossos clientes. Por exemplo, o mercado brasileiro terá em muito breve uma boa demanda de compostos avançados de poliamidas, movido pela tendência da eletrificação e necessidade de componentes leves e sustentáveis. São requisitos preenchidos pelos bem vistos grades Technyl®, aprovados por montadoras e seus fornecedores e cuja compra os brasileiros podem agora efetuar com a Domo. Desse modo, temos todas as condições para estabelecer um negócio sustentável no Brasil e estamos nos movimentando nesse sentido. Uma referência prática: estamos montando uma rede de distribuição e debatendo com parceiros globais como atendê-los na forma devida, seja com base local ou importações dos EUA e Europa. Os primeiros contêineres de Technyl® para essa investida já foram destinados para a América do Sul. •

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