Com a conquista da autossuficiência na resina, a China deve fechar o ano com exportações da ordem de 3,8 milhões de toneladas de polipropileno (PP) e, se tudo correr nos conformes, o Brasil deve acolher 5% desses embarques, atestam projeções da consultoria Icis. Essa virada da condição de importador para a de exportador regular já foi desfrutada pela China em materiais como PET, ácido tereftálico purificado e fibras de poliéster. No caso de PP, a ampliação da capacidade até zerar a dependência de importações foi ditada por uma leva novas plantas de capacidade mundial e integradas nas matérias-primas upstream.
O baque dessa reviravolta chinesa em PP aflora no histórico do comércio exterior. No pandêmico 2020, as importações de PP da China totalizaram 6,1 milhões de toneladas. À medida que a autossuficiência avançava, os desembarques minguaram para 3,4 milhões em 2021 e 3,2 milhões de toneladas em 2022. Essa independência em PP comporta uma nuance. Ela dotou a China de total autonomia em homopolímeros, mas deve permanecer grande importadora de copolímeros.
Uma rusga no horizonte, descortinada pelo banco de dados do portal Icis, refere-se à rentabilidade do PP chinês na conjuntura atual. Cálculos abertos pelo portal Icis relativos a homopolímero para injeção e copolímero de bloco com base em nafta do Japão CFR (custo + frete) situa o spread (diferença entre o preço do produto e sua principal matéria-prima) para os grades chineses em US$ 264/t, cifra que só perde no retrospecto para o spread de US$ 258/t aferido na média de 2022. Um choque: na média entre 2003 e 2020, o spread anual atingia US$571/t. Noves-fora, o spread atual precisa pular mais de 100% para voltar a média áurea de 2003 a 2020. No consenso dos analistas da petroquímica internacional, é mais fácil Putin abrir mão da Ucrânia do que a China realizar esta engorda no spread, devido à sua instabilidade econômica e ao mega excedente global de PP numa conjuntura de esfriamento da demanda internacional e sem volta por cima prevista até segunda ordem. Por essas e outras, o portal Icis julga que a ocupação da capacidade chinesa de PP não deve destoar este ano do índice de 75% aferido no primeiro bimestre contra 83% na média em 2022 e 90% em 2000 e 2021.
O cenário prenuncia uma sacudida visceral no comércio internacional de PP. Em 2021. A China representava 42% das importações globais da resina, em ranking montado pelo Icis entre país que mais compram PP no exterior do que importam. A conjuntura deste ano, portanto, instiga a busca por outros mercados para compensar em parte (pois não existe importador equiparável) a perda da China por países que eram seus principais fornecedores de homopolímeros. Formam neste rol a Arábia Saudita, Abu Dhabi, Coreia do Sul, Singapura e Tailândia. A ver como a América do Sul figurará entre os prováveis destinos alternativos.