É complexo imaginar uma pessoa obesa e sedentária se preparando para ganhar a prova mais competitiva de uma olimpíada. Principalmente se essa prova estiver a menos de dois anos da data do início da preparação para disputá-la.
É triste, mas essa é a analogia que, mais uma vez, vamos repetir aqui, ao analisar a indústria brasileira e sua participação no contexto mundial.
O modelo industrial precisará de uma cirurgia bariátrica cultural para iniciar essa preparação. A primeira conclusão é que, sozinho, o atleta não consegue começar a jornada. Tudo, até esse momento, joga contra.
Com raras e destacadas exceções, não nos preparamos para competir no mercado internacional ao longo dos últimos anos. A cada dia, nos fechamos mais na tentativa de proteger o que sobrou, ou seja, o mercado interno. No limite, pensamos no Mercosul, que hoje tem o seu segundo mercado cheio de travas e trancas. Uma porta muito difícil de abrir.Parece que alguém fechou e jogou a chave no Rio da Prata.
Em 2014, a queda da atividade industrial trouxe à tona uma nova questão chave nos investimentos das grandes corporações. Para elas, somos “ainda” um mercado consumidor interessante, mas estamos perdendo importância frente aos outros. Saímos do radar dos investimentos industriais relevantes. Aqueles que trazem tecnologia e inovação e não somente produtos feitos localmente.
Razões para essa perda de interesse não faltam, pois temos uma energia elétrica cara, escassez de recursos hídricos, o que é uma infeliz novidade no campo industrial; gás natural pouco competitivo, déficit de mão de obra capacitada e, para não esquecer, custos fixos em elevação contínua, puxados pela inflação e aumentos salariais desconectados de aumento de produtividade.
Entramos em 2015 com a árdua tarefa de gerenciar custos em um contexto de baixo crescimento. Isso motiva poucos! Foco em custo é vital, mas conduz ao inevitável caminho do enxugamento e da fragilização do amanhã. É o modelo da sobrevivência e do voo de galinha ao qual nos acostumamos ao longo das últimas décadas.
O caminho para correr e ganhar a maratona em 2016 passa por ajustes complexos. Que tal começar pela recuperação da nossa capacidade inovadora, orientada ao desenvolvimento de uma mão de obra tecnicamente qualificada e capaz de desenvolver produtos diferenciados, atraentes ao desejo de consumidores presentes em mercados externos sofisticados?
Pensar o Brasil e as suas indústrias como uma plataforma de exportação, desburocratizada, qualificada e competitiva. Assegurar que os incentivos ao crescimento sejam amplos e capilares. Precisamos de uma indústria forte em várias frentes e não somente em nichos.
Correr a maratona da olimpíada de 2016 começa pelo desejo de correr ! Não podemos perder esse desejo de ver a indústria nacional forte, competitiva e com a marca Made in Brazil como um símbolo de desejo.
Por fim, precisamos desenvolver profissionais que tenham os olhos para o mundo e o desejo de ver o seu país produzindo e vendendo nos mais distantes rincões. É muito cedo para desistir disso.
*Marcos Curti é diretor da Solvay Engineering Plastics Americas.