Analistas da petroquímica já se conformaram com a recusa do governo chinês em tratar com a devida transparência e profundidade os seus dados de produção e mercado. Mas quando parcos sinais são liberados por Pequim, a leitura geral deles vai no estilo ‘onde há fumaça há fogo’. É o caso dos recentes indicadores oficiais para polietileno (PE), a resina mais consumida no planeta e que tem na China e EUA os pivôs do crescente mega excedente global que hoje solapa suas margens de lucro. A consultoria Icis debruçou-se sobre os números divulgados com parcimônia pela gestão com mão pesada de Xi Jinping e estima que a demanda chinesa de PE atinge este ano 38,9 milhões de toneladas contra 38,5 milhões no ano passado. Poliolefina mais consumida na China, a resina de alta densidade (PEAD) responde por 45% do consumo local de PE e deve amargar no exercício atual recuo da ordem de 3% ou cerca de 400.000 toneladas em sua demanda. Já a procura dos grades de baixa densidade (PEBD) e linear (PEBDL) deve avançar, respectivamente, 3% e 4% este ano, cravam os consultores.
A impressão de quase mesmice do balanço provém de reveses que acometem a China, como a super crise imobiliária, o envelhecimento acelerado da população (pane demográfica) e o encarecimento dos gastos na saúde pública e pensões da previdência social. No pano de fundo, rosna um excedente global de PE estimado pelos pesquisadores da Icis em 26 milhões de toneladas este ano e a China tem culpa no cartório, pois suas capacidades de PEAD e PEBDL devem subir, respectivamente 3% e 5% este ano, tendo aumentado 7% e 11% em 2022, o que evidencia crescente autonomia do país nas duas resinas. Atrelada a esta crescente autossuficiência, as importações chinesas de PE devem cair de 13,5 milhões de toneladas em 2022 para 12,9 milhões este ano. Na seara de PEAD, os desembarques devem regredir cerca de 900.000 toneladas, enquanto os de PEBD e PEBDL têm queda projetada em 200.000 e 500.000 toneladas no período corrente.
A situação confere azedume ao spread (diferença entre o preço do produto e o de sua principal matéria-prima) do PE chinês sobre custo da nafta. Na calculadora da Icis, o spread atravessa este ano na faixa de US$ 301/t, o menor indicador aferido pela consultoria desde 1993. A propósito, entre 1990 e 2021, o spread singrava na média anual de US$532/t, cifra tida pelo consenso dos visionários como utópica de ser retomada na anemia econômica mundial em curso até segunda ordem.