Polietileno: a tempestade perfeita não enfraquece tão cedo.

Movidos mais por pensamento positivo do que pela racionalidade, empresários costumam fechar o ano antevendo para o período seguinte portentosa reação do mercado, na certeza de que o motor da economia agora vai pegar. Na esfera de polietileno (PE), o termoplástico mais consumido no planeta, é preciso uma fé à beira do fanatismo para sustentar a crença em dias melhores em 2020, deixa claro o blogueiro Paul Hodges no portal britânico Icis, focado na indústria química e petroquímica mundial.

As margens de lucro hoje em colapso nos mercados internacionais de PE, entalados até o gogó em oferta abissal, estão fadadas a mais bordoadas no lombo nos próximos anos, efeito da economia global estagnada (exceção aberta aos EUA e China) combinada com outra rodada de expansões na produção mundial da resina, sustenta Hodges. Mapeamento do Icis crava que, de 2019 a 2021, a capacidade chinesa do grade linear (PBDL) subirá 3.4 milhões de toneladas, enquanto a da resina de alta densidade (PEAD) aumentará 4.160 milhões. Nos EUA, ao embalo do gás natural mais barato existente, a capacidade de PEBDL crescerá, no mesmo período, 1.770 milhão de toneladas: a de PEAD inchará 1.850 milhão e a do tipo de baixa densidcade (PEBD) ganha mais 820.000 toneladas.

Por sua vez, a petroquímica da Rússia acena com mais 800.000 toneladas de PEBDL e 700.000 de PEAD nos próximos dois anos. Na Coréia do Sul, estão previstos acréscimos de 800.000 toneladas na capacidade de PEBDL e de 900.000 na de PEAD entre 2019 e 2021. A Índia cabe nesta moldura com a previsão de adicionar, no mesmo intervalo, 850.000 toneladas à sua capacidade de PEAD, mesma resina que polariza a expansão de 440.000 toneladas no Omã, de 400.000 na Malásia, de 250.000 nas Filipinas, de 140.000 no Irã e no incremento de 120.000 toneladas à capacidade de PEAD no Azerbaijão.

Paul Hodges retoma o fio reiterando que a premissas dos investimentos norte-americanos no gás natural (em especial naquele extraído de jazidas de xisto, o shale gas), catalisadores da mega oferta de eteno e PE nos EUA, revelaram-se furadas de ponta a ponta. Ou seja, a convicção de que o barril de petróleo se manteria na faixa de US$ 100, assegurando rentabilidade apetitosa ao shale gas; a crença de que a China continuaria a crescer dois dígitos anuais e importando petroquímicos cada vez mais; a visão de que a globalização do comércio exterior de petroquímicos estava imune a abalos e, por fim, entrou em cena a constatação de que, daqui por diante, nem sempre o plástico será o material escolhido para embalagens de uso único – cuja produção mobiliza 2/3 do consumo global de PE. “A produção norte-americana de PE precisa ser escoada mundo afora, pois o etano gerado no país é um produto de margens desgastadas e, se não for usado na manufatura de eteno e derivados, as empresas dos EUA não terão viabilidade econômica para continuar a produzir shale gás”, pressupõe Hodges.

Por essas e outras, ele deixa patente, os volumes de exportações norte-americanas de derivados de eteno, PE à frente, subiram mais de 85% em 2019 versus 2018. Com o recrudescimento da guerra comercial EUA x China, considera o analista do Icis, as exportações de PE norte-americano cresceram 98% este ano para a Europa e, para o sudeste e nordeste da Ásia, aumentaram respectivamente 240% e 246%. Deu no que está dando e, segundo o blogueiro do Icis, continuará a dar.

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