Plásticos biodegradáveis: XP não explica investimento na ERT

A XP Private divulga ter captado R$ 50 milhões de clientes para investimento na Earth Renewable Technologies (ERT) pequena componedora curitibana dedicada ao beneficiamento de um plástico biodegradável importado, o ácido polilático (PLA).

Plásticos em Revista já entrevistou várias vezes Kim Fabri, acionista e CEO da ERT a respeito de seu empreendimento. Diante do anúncio desse aporte de recursos, uma entrevista foi solicitada para a XP justificar este investimento, focando tópicos não mencionados nas razões ventiladas pela corporação financeira para a mídia de economia & negócios, fundamentadas na cultura ESG, potencial global dos plásticos biodegradáveis etc e tal. Sem explicações, a entrevista solicitada por Plásticos em Revista foi negada em mensagem por e-mail.

É total direito da XP não se manifestar, assim como é obrigação de Plásticos em Revista deixar claro ao seu público que não cruza os braços diante de notícia relevante. Como as perguntas remetidas para a XP envolvem enfoques do âmago do setor plástico e não abordados na grande imprensa não especializada, elas seguem reproduzidas abaixo para os leitores interpretarem com base o mutismo do grupo financeiro.

Perguntas

1A sustentabilidade de qualquer material é cientificamente determinada pela técnica denominada Análise de Ciclo de Vida (ACV, norma ISO 14040 ACV), também conhecida como avaliação “do berço ao túmulo. O consenso de AVCs internacionais atesta que polímeros biodegradáveis, como PLA, são piores para o meio ambiente que os plásticos padrão com quem eles concorrem, que podem ser reciclados, reutilizados e, quando incinerados, permitem que a energia contida neles seja recuperada. Já os biopolímeros se degradam no solo, desperdiçando a energia neles contida, e encorajam o descarte incorreto das embalagens com eles produzidas. A XP considerou o parecer das ACVs para decidir o investimento na ERT? Explicar.

 

2O bioplástico PLA foi descoberto em 1833, como solução para suturas cirúrgicas. Até hoje sua trajetória mundial é pífia e limitada por escala e preço incapazes de fazer frente aos seus concorrentes, os plásticos petroquímicos commodities, como polietileno (PE) e polipropileno (PP), ambos produzidos no Brasil. Diante da realidade global do setor, o anunciado plano da ERT de passar sua capacidade de aditivação de PLA importado de 3.500 para 35.000 t/a é um cisco num mercado onde seus concorrentes fornecem volumes na faixa de milhões de t/a e que estão sendo constantemente ampliados. A XP não considerou essa fragilidade em preço e escala, imutável desde o século 19 e assim prevista para perdurar, em sua decisão de investir na ERT? Explicar.

 

3A ERT divulga na imprensa intenção de produzir PLA no Brasil. Motivos óbvios: a nacionalização reduziria o preço do biopolímero e o agronegócio brasileiro é referência mundial nas fontes renováveis para formular PLA, milho e cana. Corte para a vida real: agricultores no Brasil não se interessam em esticar o braço em PLA por causa da receita pouco atraente determinada pelo preço e escala do bioplástico e por sua produção implicar menor disponibilidade de cana e milho para alimentação e transporte (etanol) da população. A XP não considerou essas limitações em sua decisão de investir na ERT ou o marketing verde falou mais alto? Explicar.

 

 

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