Plásticos acertam a marcha com a mobilidade sustentável

CTO da petroquímica Trinseo comenta a transição energética no setor de transporte
Han Hendriks: compra de recicladora holandesa para assegurar suprimento de matéria-prima recuperada.
Han Hendriks: compra de recicladora holandesa para assegurar suprimento de matéria-prima recuperada.

A transição da energia fóssil para a renovável está reverberando fundo na cadeia plástica ligada à mobilidade urbana. Este rito de passagem é esporeado pela economia circular, tendo afluentes como o uso de materiais reciclados e oriundos de fontes renováveis e a disruptura na criação e redesign de aplicações de componentes para o carro carbono neutro. A petroquímica norte-americana Trinseo, verbete em estirênicos, acrílicos, PP, reciclados e biopolímeros, marca em cima do lance esta guinada radical no setor de transporte, explicada por seu CTO (Chief Technology Officer) Han Hendriks nesta entrevista originalmente concedida ao site Sustainable Plastics e cujos trechos mais relevantes são reproduzidos a seguir.

Han Hendriks: compra de recicladora holandesa para assegurar suprimento de matéria-prima recuperada.
Han Hendriks: compra de recicladora holandesa para assegurar suprimento de matéria-prima recuperada.

Qual a sua visão sobre o desenvolvimento da mobilidade sustentável?

Trata-se de um aspecto crucial no caminho da conquista de um futuro mais sustentável e seu objetivo é enquadrar a mobilidade nas classificações carbono neutro e closed loop (ciclo de vida em circuito fechado). Ou seja, ao final da vida útil do veículo, todos os seus componentes são reusados e reciclados e o consumidor final ativa seu carro com energia verde e sem missão de gases poluentes. Embora essa meta ainda esteja algo fora do alcance, a indústria automotiva deu passos nesta direção. Por exemplo, a redução de peso dos autos e a adoção do motor elétrico. Por seu turno, fornecedores de materiais estão fazendo sua parte nessa empreitada recorrendo a matérias-primas consideradas sustentáveis e reduzindo a pegada de carbono de seus produtos, um trabalho que inclui bioinsumos e reciclagem em circuitos fechados e aberto de materiais pós-consumo fora da seara automotiva, mas passíveis de nela serem aproveitados.

Como produtor de polímeros, como define o termo materiais sustentáveis?

Eles devem ser carbono neutro e 100% recicláveis. Isto é, podem ser reciclados repetidas vezes sem perdas na performance. No entanto, os materiais sustentáveis precisam corresponder ao desempenho técnico e às expectativas do consumidor. É um balanço a ser atingido entre sustentabilidade, performance e satisfação do usuário final. Como participante global em materiais sustentáveis, a Trinseo se empenha passionalmente nesse movimento, explorando tecnologias de materiais sustentáveis com uma rede global de P&D. Referências nesse sentido do nosso portfólio são materiais com base em fontes renováveis e tipos com teores de reciclados.

Nos carros de hoje em dia, qual percentual de materiais utilizados é reciclável e onde eles poderão ser mais usados no futuro?

No momento, materiais sustentáveis são usados em aplicações como elementos dos conjuntos de iluminação externa e interna. Peças de acabamento, colunas, carpetes e usos no compartimento do motor como gaxetas. Os materiais incluem polimetilmetacrilato (PMMA) reciclado e/ou bio e reciclado de amido termoplástico (TPS), biocopolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS), elastômero termoplástico reciclado (TPE) e poliuretano termoplástico (TPU). A Trinseo já comercializa blend de policarbonato (PC)/ABS com teores de reciclado e destinado a aplicações críticas, tipo o painel estrutural de porta para uma grande montadora alemã. O percentual de materiais sustentáveis varia conforme o veículo e o momento, mas se espera uso crescente, sob pressão das montadoras e indústrias como as de eletroeletrônicos.

Qual o papel da Trinseo na circularidade automotiva? Ela recicla materiais usados na produção de componentes automotivos e tem parceiros para viabilizar sua atuação na economia circular?

Para a Trinseo, a circularidade é parte essencial na percepção de materiais sustentáveis e extrapola a mera venda desses plásticos. Temos qualificações para desenhar peças para facilitar seu desmonte ou reciclagem ou para utilizar reciclados em sua composição. Também entabulamos parcerias de cunho circular, caso da compra recente (janeiro de 2022 , pela Trinseo, da recicladora holandesa Heathland, para ter acesso seguro à matéria-prima recuperada. Estamos concebendo tecnologias em favor da valorização dos reciclados e algumas das mais promissoras entre elas, já patenteadas, estão em vias de debutar em fase de escala industrial. Entre nossos parceiros, temos a JSW para reciclar PMMA e a Ineos, para depolimerização de estireno, fora alianças estratégicas com indústrias finais de diversos setores.

O que acha do preço e disponibilidade dos materiais sustentáveis? Como a Trinseo lida com essas questões?

Estamos trabalhando ativamente para corresponder às expectativas de disponibilidade, preço e qualidade de materiais mais sustentáveis. A disponibilidade permanece desafiadora, em particular no tocante ao suprimento de matéria-prima reciclada de alto padrão, uma questão que a Trinseo busca superar mediante parcerias sólidas e com a compra da recicladora Heathland. Nos casos de indisponibilidade de material reciclado, procuramos fechar a lacuna explorabdo bioalternativas. A Trinseo também está engajada na reciclagem mecânica para polímeros de baixo impacto energético, o que reduz o efeito do dióxico de carbono comparado com a produção de material virgem.

O uso de seus materiais em aplicações na mobilidade automotiva afeta o cálculo de emissões de carbono (Scope 3) pela Trinseo?

Esta utilização de nossos materiais pode influir nas emissões da empresa. Como produtora de materiais, a Trinseo tem a obrigação de reduzir a pegada de carbono de seus produtos em seu ciclo de vida e, ao proporcionar soluções para aplicações na mobilidade automotiva, a empresa ajuda a reduzir emissões de carbono associadas ao setor de transporte, o maior contribuinte global para emissões de gases estufa.

Como avalia a possibilidade de, no futuro, a cadeia de valor automotiva passar de um modelo linear para outro mais colaborativo? O que é preciso para isso acontecer?

Estamos no meio de uma transformação dinâmica, complexa e com objetivos mutáveis, a exemplo de novas regulamentações, novos dados sobre mudanças climáticas, novas rupturas tecnológicas e novas percepções. Para acelerarmos a chegada a uma sociedade sustentável, a partilha de conhecimentos é essencial nesse ambiente dinâmico. Ou seja, trabalhar com total transparência da pegada de carbono dos atores no ecossistema, uso de dados confiáveis em cada etapa da cadeia de valor e co-criação de autopeças internas e externas, pois o carro circular carbono neutro terá uma aparência e despertará um discernimento diferentes da  consolidada visão atual. A Trinseo abraça a visão de uma cadeia de valor automotiva deixando o formato linear pelo mais colaborativo, mudança imprescindível para a à implantação de práticas sustentáveis. A colaboração de fato deve integrar produtores de materiais, montadoras, sistemistas Tier 1 e recicladores.

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