Um esperado efeito colateral do crescente mega excedente mundial de poliolefinas: o pipocar de medidas de protecionismo por países possuidores de petroquímicas hoje vistas como ultrapassadas em escala, tecnologia e custos. Essas barreiras de respaldo à ineficiência hoje se alastram à sombra do fim da era do chamado superciclo da petroquímica mundial, vigente de 1993 a 2021, como situa Paul Hodges, blogueiro do portal Icis e CEO da consultoria New Normal. Naquele período, o consumo de plásticos e a ampliação de suas capacidades na América do Norte e Ásia (regiões de rotas petroquímicas mais acessíveis) nadaram de braçada, esplendor demolido a partir de 2022 puxado pelo colapso da economia da China, maior importador de matérias-primas e exportador de manufaturados. Veio abaixo então a eficácia do modelo de cadeias globais de suprimentos, nota Hodges, substituído pelo “fornecimento local a local” que hoje incendeia a industrialização no México, país de livre comércio, elogiado ambiente de negócios e hoje o maior exportador de bens para os EUA. John Richardson também blogueiro do site Icis, endossa a visão de Hodges e acentua que, no geral, os mercados no mundo ficaram mais complexos e diferenciados por nuances, o que ele ilustra com as tensões comerciais instauradas pela guerra Rússia x Ucrânia e terroristas houthis avariando navios cargueiros no Mar Vermelho, na rota do Oriente para o norte da Europa.
Entre as recentes medidas protecionistas de impacto na petroquímica global, Richardson cita em recente texto postado, as propostas de barreiras tarifárias e/ou regulatórias para importações de PP e PE brandidas pelos governos da Indonésia e Vietnam. O analista cita ainda as políticas de proteção dos preços internos de resinas implantadas pela Índia e, ele completa, “o Brasil vai subir suas tarifas de importação de poliolefinas em 2024”.
No Brasil, economia alérgica à abertura do mercado, a produção de PE e PP constitui monopólio da Braskem, à frente de plantas antigas e abaixo dos padrões internacionais de capacidade e custos. Além do mais, em resinas como PEBD a capacidade doméstica de 675.000 t/a perde para a demanda. No ano passado, o Brasil importou 509.487 toneladas de PP, mais de 500.000 de copolímeros de etileno e alfa-olefinas e 449.835 toneladas de PEAD – volumes cuja magnitude mostra que o crescimento do mercado interno ruma para ser atendido primordialmente por importações, dada a insuficiente produção nacional, conforme atesta a voz corrente dos observadores, amparados também na ausência de planos de aumento das capacidades brasileiras de poliolefinas, em regra atreladas à rota menos competitiva da nafta e sem peso internacional.
Em ultra atual artigo publicado em 1990, o professor e ex-ministro Mário Henrique Simonsen, mentor dos economistas do Brasil, pondera que uma consequência das barreiras protecionistas é a contaminação da ineficiência. “Digamos que um produto valha 100 no mercado internacional”, ele exemplifica. “Uma indústria sediada no país produz 95% do seu valor por 85 e compra os demais 5% no mercado externo, em que custa 5, ou o adquire do único produtor do similar nacional, o que lhe custa 20. Podendo importar, a indústria será competitiva, pois o produto que vale 100 será produzido ao custo de 85 mais 5, igual a 90. Sendo forçado a comprar o similar nacional, o custo subirá para 85 mais 20, igual a 105, tirando a empresa do mercado internacional. Ou seja, para proteger a parte inviabiliza-se o todo”.
Simonsen defendia para o Brasil uma reforma de comércio muito simples: “estabeleça-se um sistema de alíquotas aduaneiras ad valorem (taxa cobrada pela transportadora calculada sobre o valor da carga com um percentual definido na tabela do frete), cadentes no tempo e libera-se qualquer importação, desde que seja paga a tarifa”. Para o economista, essa reforma depende de coragem e habilidade de manejo da transição. “Em casos semelhantes, a direita e a esquerda costumam unir-se, alegando que o governo pretende sucatear a indústria nacional e entregá-la aos estrangeiros”, ele observa no.artigo “Na realidade, o que mostram as experiências do México e do Chile é que a liberação do comércio costuma beneficiar o grosso da indústria. Isso porque a maioria eficiente livra-se da contaminação dos ineficientes. Sucateia-se apenas aquilo que já era sucata e não se sabia”.