Pesquisa de opinião I

Pesquisa de opinião

João Henrique Alves
Gerente de sustentabilidade do Valgroup

Os dois pontos que vemos como fundamentais para a indústria plástica focar estão concentrados em comunicação e o incentivo para que os setores privados e públicos exerçam a prática da economia circular. No primeiro plano, a indústria plástica necessita reinventar sua comunicação, trazer para a sociedade as informações relevantes sobre o uso do plástico nas embalagens e os riscos sociais acarretados pelo seu banimento, como o encarecimento de produtos e serviços com consequente empobrecimento das classes de baixa renda. Em paralelo, cabe ao setor enfatizar para o público as ameaças para o agravamento das mudanças climáticas embutidas no uso de materiais mais emissores de carbono.
Como foco dessa comunicação, temos o consumidor comum, de pouca percepção sobre a ciência por trás da engenharia dos materiais mas que, na prática, experimenta o conforto oferecido pelas embalagens plásticas. A opinião desta população preocupa muito as empresas detentoras das grandes marcas de bens de consumo (brand owners). Por este motivo, a conscientização dos consumidores, pautada em dados da ciência sobre os benefícios dos materiais plásticos e a importância da correta separação e destinação dos seus resíduos, traria menor pressão sobre essas companhias para efetuarem mudanças de materiais nas embalagens sem uma avaliação profunda dos impactos.
Já no segundo plano, o incentivo ao desenvolvimento da economia circular deve ser priorizado. No campo privado, esse estímulo tomaria corpo com investimentos, compromissos de uso de materiais reciclados pelas grandes marcas e garantia de remuneração para a cadeia de catadores e cooperativas, resultando assim num processo sustentável e com geração de valor para todos os envolvidos. Já no campo público, esperamos que as legislações se tornem cada dia mais rigorosas para conduzir as empresas para compromissos claros e efetivos de logística reversa, de modo que negócio algum tenha outra opção a não ser reciclar. Outra providência oportuna no âmbito do poder público seria a desoneração dos materiais reciclados, para que os trabalhos de economia circular impactem o mínimo possível o custo de vida para o consumidor, um quadro hoje dificultado pela retributação de materiais recuperados pela cadeia.


 

Naelle Busato Benetti
Diretora administrativa da Maxiplast

A meu ver há uma necessidade imediata de mudanças. Primeiramente o termo ‘descartável’, utilizado para designar uma categoria de produtos plásticos de uso único, poderia ser trocado sem problemas para algo como ‘de fácil reciclagem’ e que também deveria ser mais difundido pelo setor. Junto a essa mudança, as petroquímicas, governo e escolas deveriam empreender campanhas para conscientizar a população, pois o descarte incorreto é o que faz a poluição aumentar consideravelmente ano a ano. E a sociedade é a grande vilã por esses números crescerem. Outro ponto interessante para o incentivo à reciclagem de artefatos plásticos, principalmente os de uso único, seria a concessão de benefícios fiscais para empresas envolvidas com esses materiais, tanto as que coletam quanto as que transformam.


 

Simone de Faria
Diretora da consultoria Townsend Solutions

As empresas de bens de consumo (brand owners) deveriam estimular o consumo consciente e se responsabilizar pelo descarte junto com o poder público, fazendo o lixo voltar à cadeia para ser reciclado e com muito mais iniciativas de logística reversa do que temos visto. No mundo capitalista, porém, as companhias precisam vender e dar resultado aos acionistas. Então, a conta não fecha, pois esse processo sai caro. Mas colocar metas de aumento de conteúdo reciclado em suas embalagens e produtos, sem querer pagar nada a mais por isso, não é solução.
Indústrias do aço, vidro e papel são muito mais concentradas que a do plástico e isso lhes facilita tanto a defesa como o ataque na seara ambientalista. Por sua vez, o setor plástico precisa se defender mais, parar de aceitar passivamente essas propagandas enganosas veiculadas na mídia com frequência. São muitas as iniciativas que vêm sendo feitas para promover a sustentabilidade do plástico no mundo todo. A indústria tem feito bastante, mas precisa mostrar mais. Vender esse peixe e combater as mentiras com dados fundamentados, para convencer não só a população, mas o poder público.


 

Roberto Ribeiro
Diretor executivo da consultoria IHS Markit

Entendo que a industria plástica brasileira já tenha feito um pouco de tudo, desde trabalhado a questão educacional junto a diferentes stakeholders, mostrando as vantagens e desvantagens do uso do plástico em diferentes aplicações, até recorrido a órgãos governamentais de diferentes níveis. Reitero, no entanto, que foi feito apenas um pouco de tudo. Ao mesmo tempo, cumpre considerar que esta questão também não está restrita ao mercado brasileiro. O banimento de produtos plásticos de uso único recebe atenção em diferentes partes do mundo e o Brasil acaba ‘importando’ tais ações, seja de forma justa ou não. Por sua vez, a resposta da indústria plástica mundial a esses vetos também não tem encontrado muita penetração nos diferentes grupos tomadores de decisão, a exemplo das novas leis antiplásticos de uso único sancionadas no Canadá.
Isto posto, a industria plástica brasileira deve continuar atuando em diferentes frentes, através das suas diversas representações (Abiquim, Abiplast, Abief, sindicatos regionais/estaduais, etc), mas seria conveniente que uma única entidade concentrasse todas as iniciativas que hoje podem estar desalinhadas. Por sua vez, no plano individual, cada companhia deve desenvolver sua estratégia de sustentabilidade, contribuindo assim para mostrar que a indústria está disposta a ouvir, entender, e buscar soluções que possam combater o tal ‘problema’ do uso de produtos plásticos de uso único.


 

Aldo Mortara
Diretor comercial da Vitopel

As embalagens plásticas oferecem uma combinação única de poder de proteção dos produtos e viabilidade econômica da distribuição deles pelo varejo até o consumo final, sem prejuízo da sua integridade. Tudo isso graças ao peso e custo reduzidos frente às estruturas das embalagens que foram substituídas pelas plásticas. Há que se reconhecer que, tal como no mundo, a indústria plástica brasileira cometeu alguns exageros. Por exemplo, incentivando alguns segmentos ao consumo de embalagens plásticas supérfluos, desnecessárias e nada voltadas para a sustentabilidade, sobretudo no segmento de fast food, cujos cestos de lixo assustam qualquer cidadão consciente. Dentro desse contexto, entendo que a indústria plástica brasileira, embora já busque reverter a imagem negativa das suas embalagens, tem avançado pouco e acumula importantes ‘deveres de casa’ por fazer, em linha com os compromissos assumidos por importantes brand owners globais no Forum de Davos em 2018.
São eles:
Reduzir – Ainda há muita resistência na cadeia de fornecimento de embalagens plásticas quanto à redução de peso delas, pois isso significa declínio no faturamento em quilogramas de material. Trata-se de uma visão míope a ser corrigida. A missão da indústria de embalagens plásticas é oferecer e fomentar oportunidade de baixar seu peso sem prejuízo das características de proteção do conteúdo e da facilidade de uso. Uma diminuição inadequada do peso da embalagem pode levar a uma percepção negativa do consumidor e até à impressão de que a redução visa somente o lucro da cadeia e não a sustentabilidade e sua conveniência. Minha empresa, a produtora de filmes de BOPP Vitopel, oferece, através da marca V.360°®, alternativas de estruturas que possibilitam diminuições significativas no peso unitário da embalagem flexível, sem perda da capacidade de proteção e, por vezes, proporcionando até ganhos de apresentação na gôndola, caso do saco reciclável 100% de BOPP do cereal infantil Mucilon® da Nestlé.
Reciclar – este tema se desdobra em dois importantes pilares, muito bem caracterizados pela Fundação Ellen MacArthur:
a ) Inovação upstream: focaliza o design para reciclagem. Ou seja, desenvolver embalagens que cumpram sua finalidade da concepção ao descarte e sejam facilmente recicláveis. Trata-se de um faorr essencial para reverter a tendência de proibição do uso de embalagens de uso único.
b) Inovação downstream: visa o desenvolvimento do processo de coleta, separação e reciclagem do resíduo plástico pós-consumo. Ou seja, não basta uma embalagem ser reciclável mas sim, ser reciclada para que efetivamente se reduza o impacto ambiental seja pelo descarte, seja pelo consumo de energia requerido para produzir uma nova embalagem a partir de plásticos virgens. Nossa marca V.Planet®, aliás, está voltada para reduzir o impacto ambiental da embalagem plástica pós-consumo através do fomento da reciclagem e possibilidade de reúso nos próprios filmes de BOPP.
Além dessas questões, a indústria de embalagens plásticas precisa desenvolver programas com o intuito de trazer para o consumidor final informação genuína e confiável sobre as grandes vantagens econômicas e sociais proporcionadas por seus produtos, sobretudo para um país aonde a concentração urbana não para de crescer. A embalagem plástica, se aplicada com responsabilidade, desenhada para a reciclagem, coletada após o consumo e reciclada para novo uso é um grande legado para a sociedade. Antes de se considerar banir algo que é bom, é mais razoável e sensato colocar foco e esforço para eliminar os seus impactos negativos”.


 

Jeferson Segantini
Gerente de vendas da Henkel

Com a população mundial prevista para chegar a cerca de nove bilhões de pessoas até 2050, o consumo de recursos será acelerado nas próximas décadas, à medida que os naturais, como combustíveis fósseis ou água, forem utilizados muito mais rapidamente do que o planeta pode continuar produzindo. Precisamos de soluções que proporcionem boa qualidade de vida à humanidade usando cada vez menos materiais. Essa ideia está no centro da estratégia de sustentabilidade da minha empresa, a Henkel, fabricante de produtos como adesivos para embalagens. Uma referência nesse sentido é o Programa Fator 3. Ou seja, entendemos ser possível melhorar a eficiência e triplicar o valor que criamos, deixando a pegada ambiental no mesmo nível ou reduzindo-a a 1/3 do nível atual. Esta é a ambição para 2030 que estabelecemos em 2010. O tema do plástico está inserido nas nossas metas de maneira global. Quanto menor o uso de matérias-primas nos produtos, menor é o número de resíduos. Isso vale para energia e clima quando pensamos na redução de emissão de gases de efeito estufa e na utilização consciente do uso da água, com menor uso e, em decorrência, menos poluição. Isso é o que chamamos de ‘pegada reduzida’.


 

Ciro Marino
Presidente executivo da Abiquim

A indústria química nacional trabalha pela promoção do consumo consciente e da economia circular de baixo carbono. Com isso, as discussões a respeito dos materiais mais adequados devem levar em conta, além de suas propriedades, o ciclo de vida dos produtos e a melhor forma de reutilização ou reciclagem ao final de sua vida útil. Em muitos casos, as sugestões de banimento do plástico estão baseadas na dimensão da geração do resíduo. Em primeiro lugar, é preciso buscar a gestão apropriada dos rejeitos de todos os materiais, incluindo os plásticos. O ciclo de vida completo desses materiais precisa ser avaliado também em outras esferas, como o consumo de água, energia e a geração de carbono. Trata-se de um tema bastante complexo, mas precisamos seguir aprimorando nossas decisões com base no conhecimento da ciência.
Além da análise mais ampla de ciclo de vida, é importante ter em conta alguns dos benefícios das soluções plásticas de uso único, como custo competitivo (acessibilidade), leveza e propriedades mecânicas. Vale notar, por exemplo, que o uso de copos e pratos descartáveis se intensificou durante a pandemia, como alternativa viável para redução do contágio, inclusive com reversão de alguns banimentos. Ou seja, mais um exemplo da necessidade de discussões mais amplas e aprofundadas quanto ao uso e descarte adequado de cada solução.
Grande exemplo de engajamento da nossa indústria na sustentabilidade é o programa Atuação Responsável® da Abiquim. Ele demonstra o comprometimento voluntário do setor na melhoria de seu desempenho em saúde, segurança e meio ambiente, com muitos pontos em linha com a agenda ESG. Em relação a embalagens, por exemplo, muitos dos nossos associados estão inovando para que as soluções de plástico sejam circuláveis e investindo em reciclagem mecânica e avançada. Há que se reconhecer ainda uma série de projetos pilotos para capacitação de cooperativas de catadores, de forma a elevar a qualidade do resíduo. Dentro desse contexto, vale destacar o denominado ‘compromisso voluntário a favor da economia circular no setor de resinas plásticas’, lançado há 3 anos pela Abiquim visando reduzir os impactos do uso dos plásticos na sociedade a partir de metas ousadas de reaproveitamento. Desse modo, os produtores de resinas associados se comprometeram a reutilizar, reciclar ou revalorizar 100% das embalagens de plástico até 2040 e 50% delas até 2030,
A concretização dessas metas, porém, depende de uma série de fatores que envolvem esforços de indústrias, governos e da sociedade.


 

Domênico Macchia
Diretor de novos negócios e desenvolvimento de novos mercados da Videplast

O que eu vejo é um movimento em favor da redução da quantidade de plástico em toda a cadeia, assim como um esforço para o aumento da economia circular. Ou seja, da produção/reciclagem e retorno do material recuperado novamente como embalagem ou algum outro produto transformado. Sozinha, a indústria não possui força para que possamos combater as informações negativas sobre os plásticos, muitas delas sem comprovação científica e sem um estudo de ciclo de vida para validar a adoção de um eventual material sucedâneo. No mundo inteiro, petroquímicas e associações de embalagens flexíveis estão fazendo sua parte nesta cruzada que, por sinal, começou um pouco tarde. Afinal, o plástico foi atacado sem contestação por anos a fio. Sua defesa tem um custo altíssimo e deve ser contínua.
Em reação a este quadro, a indústria plástica está desenvolvendo embalagens flexíveis monomaterial. Permitem uma reciclagem mais fácil e, portanto, casam com o conceito da economia circular, defensora da redução da quantidade de resíduo plástico. Monomaterial, aliás, não significa monocamada. Tratam-se de estruturas multicamada mediante a combinação de resinas, inclusos grades lançados recentemente e com propriedades especiais para atender a necessidade final da embalagem, não comprometendo a proteção do conteúdo. Outro ponto a considerar é a adequação das embalagens à busca de aumento do shelf life de alimentos. Isso implica um feito brutal no campo da sustentabilidade, por reduzir a quantidade de alimentos que poderiam de tornar impróprios para o consumo em curto tempo. Assim, a pressão da economia circular, tal como a ascensão da reciclagem química, contribui para podermos desfrutar, de forma consciente, dos benefícios trazidos à sociedade pelo plástico.


 

Wagner Catrasta
Diretor comercial da Termocolor

Estamos vivendo uma época em que a sociedade tende a seguir padrões de comportamentos politicamente corretos. Se a mídia diz que algo não é legal, você não pode se posicionar contra porque acaba sendo ‘cancelado’ socialmente, nos sentidos físico e virtual. Estabelecimentos e empresas que baniram canudos plásticos de refeitórios e restaurantes, em especial redes de fast food, embarcam no marketing ambiental de atribuir a culpa pela poluição ao produto e não a quem o descartou de modo impróprio…Por esta linha de raciocínio, os canudos foram caminhando sozinhos para o mar… Acredito que a indústria plástica brasileira precisa se posicionar de forma mais presente no combate as ameaças sofridas pela imagem do material. São muito poucas as ações, como recursos de mídia, para reabilitar essa reputação, em especial por parte das representações do nosso setor. A Braskem veiculou recentemente um vídeo nas redes sociais sobre a importância do consumo consciente e, de forma bem criativa, fez um comparativo entre produtos fabricados com papel, vidro e metal, evidenciando importância do plástico para a sociedade. Entendo que todas as empresas do setor deveriam investir em ações para direcionar a sociedade para o descarte correto de produtos plásticos, transformando assim ‘lixo’ em renda.


 

Solange Stumpf
Diretora da consultoria MaxiQuim

Existem dois tipos de plásticos de uso único-as embalagens e os descartáveis. Quando se fala em banimento, tanto por parte de empresas privadas quanto através de regulamentação do governo, o que está em jogo são os descartáveis, que é a categoria de menor volume de material, mas a mais fácil de substituir. Entendo que o banimento não seja a melhor solução para a questão ambiental relacionada ao plástico, mas o fato de ocorrer, em casos pontuais, não inviabiliza a reciclagem. O que hoje limita a reciclagem no Brasil é baixa disponibilidade de material coletado e triado, e não a geração de resíduo, que é abundante. A proliferação de produtos plásticos de uso único, ao meu ver, não deve ser simplesmente combatida. O foco, no caso da indústria plástica e de toda a cadeia produtiva, deveria ser em alternativas para viabilizar a reciclagem, como o desenvolvimento de materiais compatíveis com ela, design de produto, redução de espessura, programas de logística reversa, capacitação de cooperativas, entre tantas outras frentes possíveis.


 

Eduardo Van Roost
Diretor da RES Brasil, agente dos aditivos da fabricante Symphony

Já dizia o escritor Mark Twain: ‘é mais fácil enganar as pessoas do que convencê-las de que elas foram enganadas’. Pois muito bem, já faz tempo que as petroquímicas aparentemente desistiram de apoiar alguns setores. Isso facilitou para que que a proliferação de leis de banimento de canudos, copos e outros itens de uso único começasse a atingir outros produtos. O que ainda falta para a indústria plástica fazer? Em primeiro lugar, dispor de uma comunicação tão eficiente com o público em geral quanto a dos seus detratores. O setor plástico até que se comunica, mas o faz para seu próprio público.
O que é preciso:
Falar ao público que substituir os plásticos por alternativas vai tornar a vida mais cara para todos e, ao final das contas, vai ocorrer apenas a mudança de um material por outro tão ou mais poluente. Legisladores se posicionam contra o material plástico para interferir no estilo de vida de cada um e impedir a liberdade de escolha das pessoas, sem qualquer vantagem ambiental. Eles não foram escolhidos para proceder dessa forma e quem vai pagar essa conta somos nós.
Mostrar que além de recicláveis, alguns tipos de plásticos (PE e PP) podem se biodegradar de forma acelerada, por incorporação de aditivos. Essa condição está em conformidade com regulamentações internacionais contendo critérios de aprovação nos quesitos de biodegradação e ausência de resíduos nocivos, caso da norma técnica ASTM 6954-18 e da recente comprovação nesse sentido pelo projeto Oxomar, do governo francês. Parte de todos os materiais que usamos sempre escapa e acaba na natureza. A biodegradabilidade que resulta em água, biomassa e dióxido de carbono é a proteção quando isso acontece com os plásticos e com o papel, mas não ocorre com o vidro e metal.
Assisti outro dia a um vídeo onde um pequeno peixe era aberto e de dentro saiam pedaços de plástico muito maiores do que poderia passar pela sua boca. Como ele conseguiu a proeza? O filme enganoso foi aceito por muitos como verdadeiro, assim como não há provas que era um canudo plástico aquilo que foi retirado da narina da tartaruga num vídeo que viralizou mundo afora.
A frase logo no início da minha resposta costuma ser atribuída a Mark Twain. Quantos de nós questionariam a autoria? No entanto, não há registro que ele seja o autor deste pensamento. Não é algo similar ao que acontece com o plástico? As pessoas questionam o que vêm? Indivíduos são diariamente enganados com informações negativas e não comprovadas. O autor desconhecido tem razão e cabe ao setor plástico fazer as pessoas sentirem que foram enganadas pelo poder público. Afinal, em lugar de trabalhar para solucionar os problemas da gestão do lixo, ele prefere usar o plástico como cortina de fumaça para esconder sua incompetência e irresponsabilidade.


 

Edson Penido
Diretor comercial da Karina

Todos nós da indústria do plástico devemos falar mais sobre o tema dos banimentos e proteger o material demostrando seus atributos sem desanimar e combatendo a desinformação com dados técnicos. O plástico está em todo lugar, promovendo bem-estar e, principalmente nesses últimos anos de covid em vigor, contribuindo para a saúde. Ele transforma o cotidiano com tecnologia, design e eficiência. O ciclo de vida dos nossos produtos estão entre os melhores entre os materiais concorrentes. A união da indústria na defesa do plástico, discutindo políticas públicas é fundamental para uma mobilização sócio-cultural e deve prosseguir forte, sem se deixar abater pelos obstáculos ao longo do caminho.


 

É preciso lembrar que o sucesso de décadas desses produtos plásticos de uso único não ocorreu e se mantém por acaso. Eles oferecem higiene superior, praticidade, segurança e otimização de transporte. Para reverter esse cenário de banimentos, precisamos incentivar ainda mais as ações já desenvolvidas. Contamos com um trabalho exemplar da Plastivida e da Câmara dos Descartáveis (Abiplast), ambas compostas por players da transformação com foco em projetos de conscientização e logística reversa. A atuação dessas entidades tem conseguido desmobilizar iniciativas como as contrárias a produtos de uso único. Outros exemplos na mesma trilha são programas de economia circular que apoiamos, como o de Copos Descartáveis WeCycle/I’m Green, Copinho Legal e o Isopor Amigo. Foi esse trabalho que resultou na inclusão do poliestireno expandido na lista de resíduos que podem ser disponibilizados para a coleta seletiva em Belo Horizonte (MG). Pensando no âmbito da educação escolar, seria muito interessante para o setor plástico considerar a inserção na grade curricular de aulas sobre resíduos diversos, a cadeia da reciclagem e o papel do na proteção ambiental. Outros pontos merecedores de atenção: a desoneração da cadeia de reciclagem (redução de impostos, criação de incentivos fiscais e linhas de financiamento de equipamentos), a valorização do material recuperado e o fortalecimento de novos mercados para ele.
A junção desses fatores potencializaria a economia circular e, por extensão, ajudaria a minar as proibições infundadas de plásticos de uso único.


 

Rogério Mani
Presidente da Abief

O banimento de produtos plásticos de uso único não faz o menor sentido. Além de não resolver as demandas relativas ao descarte, esse tipo de veto acaba criando outras demandas relacionadas a higiene, proteção e logística. Então, direto ao ponto: a questão da reciclagem dos flexíveis, apesar de ser a mais complexa, está sendo muito bem encaminhada. Cada vez mais temos materiais sendo reciclados e novas tecnologias estão surgindo. Faço questão de repetir sempre que, se o plástico chegou até aqui com todos seus atributos, agora depende apenas de tempo para resolvermos a questão de sua reciclagem. Mas é crucial lembrar que não vemos a cadeia produtiva do plástico, trabalhando nisso de forma conjunta, tanto em termos globais como aqui no Brasil. De concreto, hoje contamos apenas com a iniciativa da Rede de Circularidade. Ela consegue congregar todos os atores da cadeia, mas ainda faz pouco diante do potencial existente em nosso setor.
As empresas perdem força quando fazem ações individuais e já passamos da hora de construir um planejamento de curto, médio e longo prazo para nos comunicarmos diretamente com a sociedade e mostrar tudo aquilo que estamos fazendo (embora ainda seja pouco). Estamos com a estratégia errada e vamos continuar apanhando se não agirmos agora. Enfim, o que ainda não fizemos e deveríamos fazer é nos unir como cadeia produtiva e juntos criarmos programas e ações sem que haja um protagonista. De fato e de direito, o astro dessa reação deve ser o próprio plástico.


 

José Ricardo Roriz Coelho
Presidente da Abiplast e Sindiplast

Enquanto a gente achar que a questão ambiental é um problema da indústria plástica, teremos dificuldades para pensar em alternativas. Toda ação de sustentabilidade precisa ser pensada de forma sistêmica.  O banimento do uso de plásticos de uso único e embalagens afeta a cadeia produtiva e a sociedade. Quando cidades e empresas voltam atrás em suas decisões no tocante a tais proibições ou não fiscalizam adequadamente essas medidas, o resultado é a criação de insegurança jurídica para o funcionamento das empresas da cadeia (fabricantes, comércio, consumidor, reciclador, supermercados). Quando uma empresa privada resolve banir produtos plásticos em prol de outros materiais é uma escolha individual. Mas se essa troca for adequadamente analisada, em algum momento se vai se perceber que se aumentou custo e a emissão de gases de efeito estufa, entre outros impactos negativos. Como indústria do plástico, nossa ação é esclarecer que, muitas vezes, tais substituições não são econômica e ambientalmente viáveis, impulsionadas pela pressão do discurso do momento. Em grande parte das circunstâncias, os fundamentos dessa troca são derrubados por uma análise comparativa dos ciclos de vida dos plásticos e materiais sucedâneos. As conclusões atestam efeitos danosos a exemplo de aumento de desperdícios, redução de shelf life, ou embalagens mais pesadas e com risco de quebra, encarecendo assim o seu transporte. Nesses casos, as avaliações de ciclo de vida e a apresentação conjunta de soluções de materiais e de sustentabilidade, como embalagens com maior índice de reciclabilidade e integradas a sistemas de logística reversa são exemplos de como o setor plástico pode trabalhar nesse quesito.
Uma iniciativa que reúne a cadeia estendida do material, contemplando petroquímicas, transformadores, recicladores, empresas usuárias de embalagens, varejo, cooperativas e gestores de resíduos é a Rede pela Circularidade do Plástico. É o tipo de fórum para se debater gargalos e soluções para aplicação de produtos plásticos, garantindo assim a melhor composição e escolha para todos os elos da cadeia. Nossa intenção é de que, antes de empresas decidirem banir produtos de uso único de seu portfólio, avaliem de maneira mais ampla suas escolhas, indo além do material da embalagem em questão foi fabricada e conheça assim a atividade da Rede, aproximando-se de outros interessados em soluções de menor impacto em seus negócios e no meio ambiente.
Agora, em se tratando de proibições que partam de iniciativas políticas, nossa atuação institucional segue no sentido de esclarecimento de soluções e buscando inteirar legisladores ou autoridades sobre conceitos de circularidade e educação ambiental. A grosso modo, pretendemos demonstrar que trabalhar tais conceitos na sociedade será muito mais efetivo do que banimentos, pois causam reflexos negativos e nada ‘ensinam”. ​Em alguns casos, essa estratégia tem funcionado, mas em outros não. Mas acreditamos que o esforço é válido.
Pensar fora do quadrado, com o setor privado se aproximando do público para a gestão de resíduos sólidos urbanos (GRSU), é outro caminho. Para pensarmos em modelos de negócio nesse campo, nós procuramos a parceria da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. F​oi uma forma de mostrar que o setor privado precisa mudar sua postura de criticar as prefeituras e buscar soluções conjuntas.
Mas as ações não se encerram aí. Acompanhamos diuturnamente centenas de projetos de lei referentes a proibições de plásticos de uso único. Procuramos conversar e apresentar substitutivos voltados à educação e economia circular. Também constituímos a Câmara Nacional de Recicladores de Material Plástico para dar visibilidade a esse segmento até poucos anos atrás marginalizado e hoje visto como parte importante da circularidade dos plásticos. Entre diversas outras iniciativas, também criamos com a Braskem o Movimento Plástico Transforma, para disseminar as vantagens do uso do material.
Claro que há muita coisa por ser feita, por isso é importante continuarmos juntos, pensando em estratégias para otimizar nossos recursos e energia. Afinal, por exemplo, um programa de marketing tão grande quanto o do agronegócio, necessita de um planejamento articulado entre os elos da cadeia e o orçamento. Entendo que as ações hoje praticadas pelo setor plástico têm menos apelo de marketing, mas mostram mais conteúdo ​estrutural. É importante que haja também um trabalho forte de atuação em redes sociais de desmistificação do plástico, haja vista a existência de uma rede de desinformação a respeito, a cargo de grupos de interesse que se utilizam desse expediente para tentar se diferenciar ou se beneficiar com a vilanização dos produtos plásticos.


 

José Fernandes Basilio
Diretor da Cromaster

É cada vez mais forte a pressão contra os produtos plásticos de uso único, enquanto a cadeia do material luta para engajar a sociedade na logística reversa, talvez a maior tábua de salvação para nosso mercado. Há alguns anos, por sinal, vi uma pesquisa sobre a conscientização dos jovens entrantes no mercado de trabalho. Chamou muito a atenção a estimativa de que cerca de 87% que na chamada geração Z avaliada na pesquisa, havia um índice muito interessante. Perto de 87% dos entrevistados da geração Z demostravam grande preocupação quanto a investimentos para a construção de um mundo mais limpo e despoluído versus 47% dos respondentes da mesma enquete realizada na década anterior. Em suma, é uma mocidade muito mais comprometida com a sustentabilidade e nosso setor precisa convencê-la de que o plástico não é o grande vilão ambiental. Não vejo muito essa preocupação entre as lideranças da cadeia plástica. Também acho muito pouco o investimento feito em campanhas publicitárias valorizando a importância do plástico no dia a dia. Aliás, desde o início da pandemia ainda em vigor, em especial no período de quarentena que tanto impulsionou o delivery, a população tem se beneficiado muito dos descartáveis plásticos. Mas pouco foi explorado desse efeito positivo pela indústria plástica nas mídias. A conscientização da população ainda requer muita atenção, como provam as muitas demonstrações de descarte inadequado. Os meios de coleta ainda deixam muito a desejar nas nossas grandes cidades; ainda se descarta muito resíduo plástico no recolhimento de lixo orgânico. A valorização dos catadores e cooperativas também carece de aprimoramento,  O sentido de valor do resíduo plástico (remuneração motivadora do trabalho) precisa estar evidenciado neste elo inicial da cadeia recicladora para a logística reversa funcionar com mais eficiência.
Todas essas mencionadas ações visam incutir na sociedade a noção de reúso viável do plástico descartado. Elas configuram o maior argumento do nosso setor para empresas donas de grandes marcas de bens de consumo (brand owners) não abrirem mão do material nas embalagens. E temos que agir com rapidez, pois está ficando comum, entre essas companhias, a fixação de metas para tirar o plástico de parte considerável de suas embalagens, a pretexto de contribuição ao meio ambiente.

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