Pesquisa de opinião

As exigências do desenvolvimento sustentável impõem o declínio mundial para as injetoras hidráulicas e impulsionam a procura pelas linhas elétricas?

Michel Carreiro
Gerente Geral da Sumitomo (SHI) Demag do Brasil

Máquinas elétricas constituem uma tecnologia nascida há mais de 30 anos no Japão e agora se torna ainda mais relevante, devido ao viés de sustentabilidade que o mundo busca de maneira contundente. Mesmo na Europa, onde sempre houve forte domínio dos modelos hidráulicos e híbridos, hoje se mira os benefícios da máquina elétrica com base no uso consciente do plástico, redução de CO2, etc. O valor de investimento entre uma injetora elétrica versus hidráulica já foi uma barreira para a entrada desta tecnologia, em especial em nosso país. Porém, em razão de um aumento considerável do volume de produção por fabricantes como o meu grupo, hoje em dia a diferença de preços tem se colocado em segundo plano, dado o peso de benefícios como o baixíssimo consumo de energia elétrica e alta produtividade reduzindo custos e ampliando a eficiência fabril.
Modelos hidráulicos e híbridos ainda serão parte dominante em determinados mercados, em particular ios que demandam máquinas de grande porte. Mas na faixa de até 500 toneladas de força de fechamento, a procura será cada vez mais direcionada para os modelos elétricos, como aliás comprovam nossas vendas. Há 10 anos, as linhas elétricas respondiam por 20% da nossa fabricação e hoje são 80%.


 

Fernando Esteves
Diretor de desenvolvimento da Injequaly

De certa forma, existe um impulso do mercado para injetoras elétricas, um pendor movido por um caráter mais técnico que sustentável. No entanto, a troca em larga escala e o declínio da máquina hidráulica está muito longe de acontecer. Numa analogia com os carros elétricos, enquanto um meio de locomoção mais barato estiver disponível, sua demanda persistirá, mesmo que haja um apelo ecológico envolvido. Isto posto, as linhas elétricas hoje são uma realidade para um segmento restrito de usuários. Para muitos transformadores, afinal de contas, a injetora convencional continua a dar para o gasto, dispensando portanto sua substituição. Além do mais, ainda não se tem a oferta de injetoras 100% elétricas de grande porte – ou seja, falta muito chão para a injeção hidráulica ser página virada.


 

Gabriel Reiser
gerente comercial da Plásticos Mauá Sul

O mercado e nossa própria consciência nos demandam diariamente ações que visem o desenvolvimento sustentável e os impactos dessa pressão são nítidos nas matrizes energéticas e meios de produção. Por causa disso, transformadores de injetados poderão migrar para máquinas elétricas, em especial pelo avanço da tecnologia, sua salubridade, redução de ruídos e consumo energético eficaz. Entretanto, a evolução das injetoras hidráulicas lhes preserva a relevância, como prova sua utilização de meios capazes de melhorar a eficiência elétrica/eletrônica, a exemplo de inversores de frequência, servomotores, malhas térmicas e redução de tanques hidráulicos.


 

Alfredo Fuentes
Diretor geral da Arburg Brasil

O desenvolvimento sustentável baseia-se, entre outros pilares, no máximo aproveitamento de recursos (energia, matéria-prima, mão de obra ) para garantir o mínimo impacto ambiental durante o processo produtivo. Em outras palavras, a produtividade é a chave para a sustentabilidade e a indústria de transformação de plástico não pode fugir à regra. Não há uma norma geral que permita inferir que injetoras elétricas sejam sempre mais produtivas que as hidráulicas, pois as caracteristicas de processo envolvendo o tipo de peça, tempo de ciclo e a própria condição de operação do equipamento devem ser consideradas na opção por uma ou outra tecnologia. Daí porque na Arburg analisamos com imparcialidade a necessidade e características de processo de cada cliente para oferecer a alternativa mais produtiva e sustentável do nosso catálogo – e pode ser uma injetora hidráulica, elétrica ou híbrida.


 

Paulo Carmo
Gerente da unidade de negócios de sistemas de injeção para embalagens da Husky no Brasil

Tal como ocorre na sociedade como um tudo, há muitos anos a indústria se movimenta rumo à redução do consumo de energia em seus processos. Em tempos mais recentes, a questão passou a ser vista sob o prisma da sustentabilidade. Entre as ações efetivas nesse sentido, consta a introdução dos drives ou acionadores elétricos, destacados pela eficiência energética. A indústria das injetoras não foi exceção à regra e as mostras de sua adesão ao movimento não ficaram apenas na substituição de acionadores de maior consumo por modelos, estendendo-se por um grande redesenho das máquinas e a reavaliação das necessidades e funções de cada acionador. É fato que os acionadores elétricos estão hoje muito mais presentes nas injetoras, mas acionadores como os hidráulicos ainda são importantes devido às características específicas de resistência e rápida disponibilização de energia em movimentos lineares. No que tange ao uso eficaz da energia, cabe ressaltar o grande avanço nos sistemas de controle e gerenciamento dos acionadores elétricos e sistemas elétricos em geral. Hoje, por exemplo, já existem soluções que empregam sistemas para recuperação de energia cinética para energia elétrica (Kers). Dado este pano de fundo seria mais apropriado dizer que houve maior penetração dos acionadores elétricos e, em muitas aplicações de injeção, máquinas com acionadores exclusivamente elétricos podem se afigurar mais interessantes. Entretanto, em algumas situações mais específicas, a utilização de acionadores hidráulicos pode ser uma opção mais adequada, tendo em vista a relação entre o consumo elétrico e a massa de material processado. De nada vale a redução do consumo energético do equipamento com uma redução proporcionalmente maior da massa de material processado.


 

Gilberto Martinelli
Diretor das unidades de Salto (SP) e Cabo de Santo Agostinho (PE) da Sulbras Moldes e Plásticos

O desenvolvimento sustentável não deverá impor o declínio total das injetoras hidráulicas. É uma convicção com base, em especial, no pilar econômico da sustentabilidade. Sem dúvida, as injetoras elétricas oferecem ganhos significativos, em particular no tocante ao consumo de energia. Porém, a depender do tamanho do equipamento e peculiaridades da aplicação, é necessária uma avaliação abrangente das variáveis para a tomada de decisão entre os dois processos. A Sulbras, por exemplo, utiliza ambos e assim continuaremos por um bom tempo, ainda que estejamos atentos às atualizações da tecnologia de injeção e, na mesma trilha, atestamos a importância no processo a cargo da composição dos periféricos. Desse modo, fazendo uma análise minuciosa de cada avanço e seu custo x benefício de cada alternativa de equipamento, inclusas as linhas híbridas, na condição de boa opção entre a injeção hidráulica e elétrica.


 

Cássio Luis Saltori
Diretor geral da Wittmann Battenfeld do Brasil

Com os servo acionamentos que equipam os sistemas hidráulicos das injetoras, as máquinas hidráulicas hoje atuam nos mesmos patamares de economia de energias das linhas elétricas com uma vantagem: uma relação custo x benefício melhor na hora da compra e menos gasto com manutenção ao longo dos anos. Além do mais, as injetoras elétricas utilizam alavancas com apoio nas extremidades das placas como sistema de fechamento e isso limita, por muitas vezes, o emprego de determinado tamanho de moldes. Por seu turno, a maioria das injetoras com fechamento hidráulico possui apoio central e possibilita a utilização de uma maneira mais distribuída da placa em relação ao tamanho do molde. No que tange ao consumo de energia, nem sempre a máquina elétrica terá a vantagem que se espera, pois isso depende de um conjunto de fatores a serem analisados antes da aquisição, desde o funcionamento do molde, tempo de ciclo e recalque até a dosagem, material a ser processado e, em especial, a precisão oferecida e o volume da peça injetada em vista. Em suma, diante da opção da linha elétrica a injetora hidráulica com servo acionamento permanece uma grande escolha.


 

Udo Löhken
Diretor geral da Engel do Brasil

A questão do desenvolvimento sustentável no mundo do plástico deverá estar muito mais focada em achar soluções adequadas para a economia circular do que em relação ao tipo de acionamento da injetora – hidráulica ou elétrica. Um equipamento atualizado, seja hidráulico ou elétrico, tem performances, repetibilidade e precisão muito parecidas. O consumo de energia em modernas máquinas hidráulicas é muito semelhante ao da versão elétrica em 80% das aplicações de injeção de plástico. Portanto, o tipo de acionamento ideal deve ser escolhido de acordo com cada processo ou artefato injetado em foco. Hoje em dia, temos sistemas de filtragem de óleo que praticamente permitem a dispensa da troca de óleo durante o uso vitalício de uma injetora hidráulica. Na Engel, a percepção é de que as linhas hidráulicas, elétricas e híbridas têm seu espaço, como soluções ideais – e igualmente sustentáveis – para determinados processos.


 

Marcelo Lemos
Diretor da Nord West Indústria de Plásticos

É mundial esse argumento da sustentabilidade em favor das injetoras elétricas, estimulado em especial pelos fabricantes asiáticos, criadores dessa tecnologia há bom tempo. De fato, a injeção elétrica pode poupar até 50% a mais de energia que a linha hidráulica quando se trata de máquinas de ciclo longo de injeção. Por que? Tomemos uma injetora hidráulica munida de servomotor na bomba: por muitas vezes, quando ela executa seus movimentos, a praxe é reduzir a rotação do motor para baixar o gasto de energia. Já na linha elétrica, numa situação como a de travamento do molde, o motor pára e assim o consumo energético praticamente zera. Quanto maior o ciclo de injeção, maior a economia proporcionada pela injeção elétrica. No entanto, há outras questões a considerar. Apesar dessa vantagem, a máquina elétrica é algo mais sensível a oscilações da energia. Suponhamos que eu tenha uma máquina hidráulica com esse problema de oscilação. Terei de gastar de R$20.000 a R$30.000 para deixá-la em estado de nova por cinco anos. Se eu precisar colocar um servomotor numa injetora elétrica, numa hipótese de pane devido a causas como queda de raio, a despesa mínima é da ordem de R$100.000. Então, a manutenção da injetora elétrica, mesmo sem o óleo no processo, sai mais cara que a da máquina hidráulica. Outro ponto: as linhas elétricas operam com fechamento de joelho, sistema que requer óleo lubrificante e graxa em quantidade menor à empregada na injetora hidráulica. Mas, mesmo nessa situação, é preciso considerar fatores como o eventual surgimento de sujidades e contaminações na peça final. É fato que o setor mundial de injeção caminha para a máquina elétrica que, por sua vez, tem evoluído a ponto de já encontrarmos modelos a preço na faixa da linha hidráulica. Reitero que a injetora elétrica é excelente para trabalhos com ciclo longo. No caso do processo em ciclo rápido, ou seja, com bomba hidráulica e servomotor funcionando constantemente, a economia de energia da linha elétrica cai para 5-10% perante a hidráulica. Afinal, os motores permanecem ligados, sem interrupção. Minha empresa produz peças técnicas de ciclo longo com injetoras hidráulicas, mas vamos começar a trazer modelos elétricos, pois a tecnologia ficou mais acessível.


 

Leandro Siqueroli
Supervisor técnico da Haitian

A economia e produtividade hoje se sobrepõem a algumas questões sustentáveis no mercado de injeção. Por conta disso hoje constatamos um movimento de injetoras hidráulicas maior que o de elétricas. Tendo em vista o desenvolvimento sustentável, já estamos num caminho onde alguns segmentos da transformação estão em transição para as linhas elétricas, mas trata-se de uma demanda em crescimento mais lento do que esperávamos no Brasil. Acredito que a injetora elétrica substituirá a hidráulica, mas num futuro distante.

Compartilhe esta notícia:

Deixe um comentário