Pesquisa de opinião II
Ricardo Guerreiro Mason
Diretor da recicladora Plastimil e distribuidora Fortymil
Quando falamos hoje de baixos preços de mercado levamos em conta, em especial, produtos de menor valor agregado, de especificação muito limitada ou zero. Para eles, a base da indústria recicladora conta com processos de separação mais rudimentares, lavagem sem grande tecnologia agregada e com aceitação de um índice de contaminação mais alto. A matéria-prima na qual essa cadeia de reciclagem se baseia é, na maioria, formada por cooperativas e um emaranhado de agentes repassadores. Isso também representa uma restrição na oferta de resíduos. Já quando falamos de investimentos necessários nas tecnologias mais modernas e integradas de separação, estamos nos referindo a sistemas muito mais caros, mas cujo poder de separação permite escalar o volume da reciclagem pós-consumo de forma muito mais eficiente e econômica. Nesse tipo de sistema de reciclagem agrega-se ao portfólio de fornecedores os resíduos originários de coleta seletiva, efetuada por empresas contratadas por prefeituras. Esse material, embora muito mais difícil de se separar, é mais abundante, possibilitando ao reciclador trabalhar em maiores escalas, diluindo assim o custo do investimento. Sistemas automatizados e lavagens de última geração proporcionam um reciclado de melhor padrão, talhado para aplicações mais nobres e valorizada. É um nicho no qual o material recuperado pode custar mais caro que o reciclado convencional, viabilizando todo investimento realizado.
A atividade dos catadores integra um sistema apoiado nas cooperativas e diversos agentes que é onerado pela vasta capilaridade e descentralização da matéria-prima, dificultando a organização logística do processo. Por sua vez, no tocante a resíduos providos pela coleta seletiva, o grande ônus logístico está na atividade das empresas de coleta contratadas pelas prefeituras, viabilizando a realização de um planejamento entre elas e o reciclador com base na maior escala de fornecimento e sua previsibilidade.
Posto isso, toda a teoria ligada aos conceitos aqui mencionados ainda estão por se provar em larga escala. Em termos de Brasil, essa visão ainda tem que se confirmar no longo prazo. Infelizmente, boa parte da rede de transformação de polímeros ainda é, no plano geral, mais orientada a preço do que a custo e cadeia de valor. A onda da mudança cultural voltada à sustentabilidade caminha bem em algumas empresas e continua a avançar. A dúvida que fica é até onde vai e em quanto tempo, pois o consumidor final, a pessoa física, ainda paga pouco pelo reciclado premium.
Bruno Igel
CEO da recicladora Wise
O Brasil é um país fechado para o mundo e cada vez menos ligado à indústria. Os fabricantes de equipamentos nacionais, decerto vitoriosos em se manter no mercado com as condições econômicas dos últimos 30 anos, não têm capital e incentivos governamentais para tornarem-se players globais. Com isso, dependem exclusivamente da demanda doméstica para justificar seus investimentos, o que não é suficiente em quase nenhum lugar ou setor no planeta. Se a falta de incentivos e o famoso Custo Brasil impedem esses fabricantes de atingirem níveis globais de criação de produtos e competitividade, o passo seguinte é o reflexo em muitas indústrias, entre elas a da reciclagem. Há grandes desenvolvimentos pela indústria de reciclagem de plástico internacional, conforme notado na crescente demanda por produtos de alta qualidade nos últimos anos. No entanto, a nacionalização desse maquinário é tema complexo para indústria nacional com base, no mínimo, nos seguintes fatores: a-) instabilidade do câmbio; b-) desvalorização do Real; c-) falta de financiamento para importação ou disponibilidade de hedge para financiamentos internacionais a custos competitivos; d-) impostos altos para compra de equipamentos.
O resultado é que o que há de melhor na indústria de reciclagem de plástico raramente é de linhas turn-key, aquelas que trazem maior clareza sobre seu desempenho, segurança para o cliente e, em tese, menos volatilidade para o retorno sobre investimento. Isso é verdade em vários casos em países teoricamente comparáveis como México, Chile e Colômbia, mas muito raro no Brasil. Quase sempre a nossa indústria encontra custos muito altos para importar e condições de médio prazo muito instáveis em termos de câmbio, clareza da demanda, preços e mesmo legislação. Se não há business case sólido, busca-se a importação de equipamentos específicos que sejam essenciais e, quanto ao restante, lidamos com o que há disponível nos fabricantes nacionais.
Considerando o ambiente micro e não macro acima tratado, o que deve ser feito é aumentar a competitividade do material reciclado. Hoje, em momentos de queda de preços do material virgem, a demanda por reciclado despenca e essa instabilidade dificulta muito investimentos robustos pela indústria. Aumentar a atratividade do mercado é essencial para garantir os investimentos de longo prazo, seja através da evolução da indústria de equipamentos nacional, seja através da importação de equipamentos de vanguarda. Isso poderia ser feito através de impostos-há vastos exemplos na Europa e EUA de incentivos ao material reciclado por seus benefícios ambientais (ainda tímidos no Brasil), ou pelo aumento da oferta de sucata, com investimento consistente a partir do poder público (direta ou indiretamente, via concessões, parceria público privada etc.) que garantam preços competitivos na sucata, mas com remuneração adequada para toda a cadeia.
Nada disso é fácil, mas parece essencial se o país tiver interesse em evoluir em suas políticas ambientais e sociais.
Adriano Tanaka
Diretor da Raposo Plásticos
Antes de investir em tecnologia de separação, lavagem e granulação, a recicladora deve ter uma carteira de fornecedores que some mais de 100% da sua capacidade de produção, já que a quebra pode passar de 30% Outro ponto a considerar é a perda no processo de produção, em geral muita alta na reciclagem mecânica. Se a empresa não contabilizar isso na compra do resíduo pós-consumo, acaba tendo um custo muito elevado. Já em relação ao predomínio dos preços baixos do plástico pós-consumo recuperado (PCR) , constato que ele vem se valorizando cada vez mais no mercado, devido principalmente à sua procura pelas companhias donas de grandes marcas de bens de consumo (brand owners).
Isso também acontece graças a um movimento na sociedade que vem percebendo que o plástico não é o vilão do meio ambiente, mas um elemento fundamental para o nosso dia a dia e que precisa ser descartado corretamente para retornar à cadeia produtiva. Some-se a isso o fato de que os transformadores estão cada vez mais engajados e preocupados em buscar soluções mais sustentáveis para seus negócios, enxergando no PCR uma maneira de substituir a matéria-prima virgem.
Amarildo Bazan
CEO da consultoria A.Bazan
Tenho duas respostas para essa pergunta. Primeira delas: a reciclagem de plástico pós-consumo, apesar de todos os esforços, tem evoluído pouco ao longo dos anos. Com isto, o material reciclado virou sinônimo de economia e não de sustentabilidade. E o que há de errado nisso? Tudo. Como ser um substituto econômico de um produto que já é competitivo, versátil e disponível por natureza? O plástico, pela grande capacidade de adaptação às mais diversas aplicações e finalidades, tem expandido seus volumes de consumo ano a ano, deixando pouco espaço aos concorrentes diretos. Ao cliente sem o propósito da sustentabilidade, somente interessa o reciclado barato. Afinal, em função do preço baixo, ele consegue se ajustar às variações de qualidade que o produto frequentemente apresenta.
Então, como podemos adequar os altos investimentos com um produto de preço baixo? Simplesmente não podemos. Importante salientar que alta tecnologia propicia um reciclado de melhor qualidade, mais bem separado, melhor lavado e com filtragem mais eficiente. Enfim, trata-se de um investimento que se paga apenas com a devida valorização do produto final. Vale dizer que este mercado existe, é recente, mas está em pleno crescimento, reservando aos investidores corajosos um futuro de ótimos rendimentos. Estamos falando do polímero resultante do processo de reciclagem avançada, Upcycling, no qual ele não perde valor, se comparado com a resina virgem, podendo sair até mais caro. Faço essa comparação apenas por didatismo. Não tem cabimento confrontar preços de plástico reciclado e virgem. Afinal, o material recuperado tem suas peculiaridades e cadeia de custos sem nada em comum com a rota petroquímica. Aliás, se computados os gastos desde a coleta, separação, transporte, moagem, lavagem, aditivação e extrusão, o custo de produção do reciclado supera o do polímero virgem. Muitos mercados do Hemisfério Norte começam a cobrar sobrepreço nos materiais reciclados.
Em suma, para remunerarmos adequadamente os altos investimentos em reciclagem, precisaremos de clientes que valorizem o produto tendo em vista a sustentabilidade e responsabilidade ambiental. Caso contrário, se o foco for a economia a curto prazo, melhor continuar utilizando material virgem.
Resposta 2 : assim como não devemos classificar os diversos polímeros e suas características apenas como plástico, também não tem sentido supor que todos os plásticos reciclados têm o mesmo valor baixo de mercado. Começa a nascer no mundo um novo plástico reciclado e valorizado, fruto da tecnologia Upcycling.
Portanto, com altos investimentos em tecnologia em todos os processos da reciclagem, teremos um material de características superiores e perfeitamente adequado às demandas das empresas ambientalmente responsáveis, ativando assim um ciclo do material após seu descarte, interrompendo a chamada economia linear.
Para esse mercado crescer, precisamos de companhias comprometidas de fato com o meio ambiente, colocando em prática a responsabilidade compartilhada expressa na lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Portanto, quem se dispuser a aplicar pesado em reciclagem, convém focar seu produto no mercado de upcycling, senão o retorno será muito longo e tornará o investimento pouco atraente.
Paulo Francisco da Silva
Presidente da consultoria Agora Vai Brasil
Há décadas, a larga maioria das nossas recicladoras de plásticos se fazem esta pergunta. E a resposta não é simples. Hoje em dia, com o sistema tributário tratando a cadeia da reciclagem feito qualquer transformadora de embalagens, as dificuldades se acumulam. Sem aparas ou pós-consumo, sucatas em geral não geram créditos de impostos. Desse modo, tributos cobrados dos clientes não são compensados e passam a ser custo integral para o reciclador na formação do seu preço. As flutuações internacionais dos preços dolarizados das commodities e uma retomada econômica mundial criaram, desde o ano passado, uma pressão na demanda sem ter como ser atendida a contento, por falta de estoques de produtos acabados, e muito menos, de sucatas. Isso ocorreu em nível mundial e, claro, incluiu o Brasil. A cadeia de suprimentos acusou o golpe e os reciclados surgiram como possível terceira via para suprir em parte o mercado, carente de produtos. Ocorre que durante a pandemia, as operações de coleta foram suspensas por quase um ano, em 2020, e os volumes oferecidos ao mercado foram diminuindo conforme o vírus se alastrava. Estoques foram consumidos sem reposição e assim chegamos à atual falta de componentes a sucatas de todos os materiais. O mercado final acusa há tempos que sua capacidade de absorção de aumentos se esgotou e daí as quedas na evolução dos percentuais de vendas. No caso específico das sucatas plásticas, vários players novos entraram no jogo e o caminho entre a sucata e o reciclador ficou mais ‘longo’. Ou seja, com novos intermediários e cada um colocando sua margem. Por ser um mercado de precificação muito baseada na lei de oferta e procura, os preços do plástico reciclado dispararam e, na ponta, e os preços dos materiais virgens estão oscilando para baixo. De novo, o reciclador está na posição da salsicha nesse hot dog econômico.
Investimentos em tecnologia de ponta são vultosos, o break even point do retorno deles está com um prazo alongado e numa conjuntura atual de inflação de demanda e futuro da economia mundial e brasileira nebuloso a curto e médio prazo. Alguns recicladores optaram por cortar na própria carne, ou seja, optaram por reduzir os volumes de suas operações e selecionar, com critérios apertados, os nichos ou empresas a serem atendidas. Estabeleceram um cálculo reverso de custos e limitaram os preços que podem pagar pelas sucatas; acima disso não pegam, por vezes mesmo sob risco de pararem alguma linha de produção.
No setor de pós-indústria (aparas), presenciamos nas transformadoras um forte movimento para atender as premissas de governança sócio ambiental (ESG) delimitadas por seus clientes. Os grandes geradores de sucata foram chamados a esta luta e responderam com ousados planos de logística reversa. E aqui também deparamos com duas situações: a maioria dos recicladores não consegue atender a todas as exigências burocráticas e os preços praticados nas aparas pelos fornecedores inviabilizam sua aquisição e manuseio, por causa dos preços de venda do reciclado na ponta da cadeia.
Diante disso, descortinam-se três cenários no mercado. Um dele é o do surgimento de recicladores de ponta e alta escala. Desse modo, vão buscando o efeito de custo rateado por uma base muito grande, para obter custos compatíveis com os preços praticados. Em outro quadro estão os recicladores adeptos da manufatura mais enxuta possível, com três ou quatro extrusoras para melhor negociarem sucatas a preços mais competitivos. E dentro do grupo dos que reduziram seus volumes e custos, temos os recicladores especializados em blends com os reciclados sob encomenda.
Acompanhei uma recente rodada de negociações com um grande fabricante de bebidas carbonatadas, possuidor de belo programa de incentivo à logística reversa de resíduos pós-consumo. Ele ofertou pelo reciclado um preço abaixo dos praticados pelos seus fornecedores e deixou claro não pagar mais caro ou o mesmo preço da resina virgem. A rodada acabou sem ele fechar negócio com qualquer reciclador. Foi a primeira vez que vi isso acontecer.
Enquanto os clientes olharem os reciclados apenas como opção para baixar custos, continuarão com problemas de oferta insuficiente de resíduos.
Nos 16 grupos de WhatsApp de que participo, tem crescido o número de recicladoras à venda; alguns empresários estão optando por deixar o ramo.
Concluindo então a resposta da pergunta dessa pesquisa de opinião: no mercado de reciclagem de plásticos a conta dos custos versus receita em regra não fecha e, como volta e meia é noticiado, um contingente dessas indústrias busca sobrevida na informalidade.
Essas situações também ocorrem porque todos os governos até aqui, não importa a ideologia, têm se empenhado em ser verdes e ambientalmente corretos. Na prática, porém, nem pesar em rever a carga tributária da cadeia da reciclagem.
Se nada mudar, a conta continuará a não fechar.
Irineu Bueno Barbosa Jr.
Sócio e diretor comercial da Global PET Reciclagem
Não acredito nessa situação descrita na pergunta, de altos investimentos em tecnologia para produzir materiais de baixo valor agregado. Não faz sentido. É uma armadilha do mercado que exige do reciclador a melhor qualidade por preços baixos. Empresários não devem aceitar essa linha de pensamento porque não é sustentável. Eu entendo que existe no mercado uma grande demanda por reciclados de baixa qualidade e preço para a confecção de produtos de baixa especificação técnica. Muitas empresas vivem nesse mercado com operações lucrativas. Como tudo na vida, há sempre um ponto de equilíbrio entre qualidade (que demanda investimento) e preço do produto vendido. Passando por diversas graduações dessa equação imaginária entre volume de investimento x valor agregado, também existe no mercado uma grande demanda por reciclados de alta performance que, para sua fabricação, necessitam de investimentos pesados em tecnologia de ponta em termos de seleção de polímeros, lavagem e produtividade. Esse mercado, muitas vezes chamado de ‘nobre’, irá remunerar a molécula polimérica reciclada de alta qualidade e performance de forma a estimular ainda mais investimentos em tecnologia.
A conta não fecha caso se pense em investir altas cifras em equipamentos de seleção de polímeros, lavagem e processamento em grande escala e obter um produto que deverá ser comercializado a preços baixos. Já remunerar devidamente iniciativas que alcançam o objetivo do mercado premium resulta em estímulo para mais desenvolvimentos e inovações não apenas das recicladoras mas, principalmente, dos fabricantes de máquinas e equipamentos, melhorando assim a qualidade e baixando o custo de produção de toda a cadeia.
É assim que, desde os anos 1990, a indústria de reciclagem de plásticos se desenvolve no Brasil e no mundo. Um passo de cada vez. Tecnologias de ponta permitem a produção de materiais reciclados mais adequados à indústria em geral e que, com esses produtos mais nobres, ganha condições de aumentar a demanda pelos polímeros reciclados, estimulando por tabela a busca por soluções de vanguarda fabril e assim por diante. Ao final, toda a indústria da reciclagem sai beneficiada por esse ciclo virtuoso.
Carlos Olivares de Haro
Diretor geral da recicladora Repet
A reciclagem é fundamental para a sustentabilidade e o mercado vem trabalhando cada vez mais na redução de preços do plástico pós-consumo recuperado. Os investimentos básicos em equipamentos, como esteiras de separação, batedores para retirada de tampas e rótulos, entre outros itens que vêem junto com as embalagens destinadas à reciclagem não chegam a ser tão caros. No entanto, não conferem boa produtividade, pois sua operação depende muito da interferência humana. É fato que estão disponíveis equipamentos muito mais especializados e que automatizam etapas como a separação dos resíduos plásticos por cores, porém seu custo bem elevado os acaba tornando inacessíveis para muitos recicladores. Tudo poderia melhorar e evoluir bem mais rápido a partir de incentivos fiscais que viabilizariam a aquisição desses equipamentos, gerando maior volume de reciclagem e reduzindo custos.
Alceu Lorenzon
Diretor da Alcaplas Indústria de Plásticos
Nosso setor de reciclagem demanda investimentos expressivos em tecnologias e muito capital porque, além de super concorrida na compra, a matéria-prima (resíduos pós-consumo) vem suja, molhada, misturada com produtos indesejados e apresenta inconstâncias em cada lote. Apesar dessas variáveis, os clientes precisam receber um produto constante, limpo, sem umidade e perfeito para uso, inclusive substituindo resina virgem. Daí porque o setor da reciclagem precisa cada vez mais investir em toda a cadeia, tanto para garantir o fornecimento como para melhorar a qualidade da matéria-prima. O caminho passa pela formação de parcerias seguras e por investimentos junto a fornecedores com equipamentos modernos que facilitem o acondicionamento, compactação e transporte das sucatas.
O investimentos em novas tecnologias não param na indústria recicladora. Constam de sistemas de separação e equipamentos de lavagem, descontaminação e secagem de maior eficiência no trabalho com volumes maiores e menor dependência de interferência manual. Além disso, pesam no quadro as extrusoras para gerar resinas recicladas cada vez mais isentas de impurezas, menos degradadas e adequadas a novas aplicações. Para completar, os recicladores devem, em linha com a preservação ambiental, deixar a água do processo em condições de reúso, que também requer a aquisição de modernas tecnologias nas estações de tratamento de efluentes.
Diante disso, o desafio é conciliar os elevados investimentos e custos fabris e o tratamento dos efluentes com os preços que o mercado aceita pagar. No momento, estamos numa encruzilhada com duas possibilidades, podendo ver o setor se tornar inviável ou pujante. Para ele arrancar, basta a aplicação efetiva da lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, através de soluções como a implantação da logística reversa, adoção da circularidade pelas indústrias e aprovação de incentivos e benefícios ao setor da reciclagem já previstos na lei mas pouco considerados pelo poder público.
Transformadores e consumidores precisam assimilar a importância de adquirir e utilizar produtos à base de materiais reciclados. Devem enxergar neles não apenas seu valor material, mas a oportunidade de efetuar um ato de proteção ao meio ambiente e saúde pública.
Nos dias de hoje, com as novas tecnologias de reciclagem, é possível encontrar resinas recuperadas perfeitas e artefatos por elas produzidos com as mesmas características dos moldados com plástico virgem nos quesitos de resistência, flexibilidade, fluidez ou elasticidade.
Somente com aumento da demanda os materiais reciclados poderemos competir com os preços dos virgens. Por sinal, as resinas recicladas, por serem produtos sustentáveis precisam ser mais valorizadas que as de primeiro uso e eu acredito que isso logo será realidade, através da conscientização da sociedade ou por leis impondo a economia circular.
Guilherme Zanetti Hirai
Membro do board de diretoria da recicladora Plaskaper e gerente de operações KWM regional
O cenário das resinas recicladas apresenta um histórico, de longa data, que contempla inúmeras dificuldades para a operacionalização industrial e manutenção da saúde financeira dos recicladores. Os altos custos de processos que envolvem toda a logística da matéria-prima e entrega do produto acabado são apenas algumas de muitas barreiras para a continuidade de um ciclo de reciclagem mais saudável. O próprio ciclo de vida de embalagens e peças/componentes é um ponto desfavorável para a indústria, devido à mistura de grades, como ocorre em processos de laminação de embalagens flexíveis metalizada. Temos aí um cenário de eficiência baixa, gerando quadros de margens ínfimas, ou até o não reaproveitamento desses itens pela oferta escassa de tecnologia mais eficiente no gênero. E as tecnologias ou processos existentes são onerosos, inviabilizando economicamente a reciclagem.
Também pesa negativamente a falta de valorização do ciclo do plástico como um todo, iniciando pela estrutura precária de coleta seletiva em muitas regiões, a não separação desses resíduos de fácil reciclagem e destinados a aterros ou lixões. Outros complicadores envolvem demonstrações de rejeição integral do uso de itens plásticos, assim como o fato de uma grande parcela do mercado consumidor de resinas não conseguir remunerar melhor a indústria recicladora, devido a seus próprios obstáculos setoriais.
Minha empresa, a recicladora Plaskaper Termoplásticos, busca o equilíbrio entre custos e receita através de estratégias voltadas para a diferenciação de produto e ciclo fechado do reaproveitamento de resíduos, inclusos plásticos pós-consumo e aparas industriais. Altos investimentos em coletas e tecnologias de gestão e reciclagem integram a caminhada da maioria das empresas longevas no ramo e conosco não é diferente. Entretanto, o investimento em inteligência comercial e desenvolvimento de produtos é essencial para financiar as operações futuras.
A diferenciação não ocorre apenas na fabricação do produto, mas na busca por demandas mais exigentes e que necessitam de características diferenciadas. Como o mercado de plástico pós-consumo reciclado amadurece cada vez mais, voltamos nossos esforços para aprimorar as resinas recuperadas. Por sinal, nossa recicladora faz parte do Grupo KWM, que tem como core business a gestão de resíduos. Desse modo, usufruímos uma sinergia muito grande dentro das operações, fazendo com que as matérias-primas tenham repetibilidade em qualidade e volume, tornando-nos fonte segura de resinas recicladas de melhor padrão. Além disso, por sermos um conglomerado verticalizado e especialista na área de resíduos, tramitamos num ciclo focalizado na economia circular. Ou seja, gerimos e recuperamos os resíduos, fabricamos os granulados plásticos e por fim podemos oferecer o produto final conforme exige a demanda.
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