Resinas recicladas de maior qualidade e valor agregado configuram rara referência no Brasil de imagem positiva para o plástico. No embalo da louvação crescente da sociedade à economia circular, pega fogo o noticiário com anúncios de investimentos na modernização do parque fabril de grandes fornecedores de plásticos para segundo uso. Essa reação vem catalisando um surto de interesse na especialização em andares de baixo da reciclagem mecânica, todos eles aliás ignorados pelo samba exaltação ao verde. Fala por si, nesse sentido, a decisão do Grupo Maeda Recicla, com três empresas atuantes na compra de papelão, metais e plásticos, de injetar R$ 1 milhão numa fábrica exclusiva para pré-beneficiamento de aparas e resíduos de polímeros. Sua partida está marcada para 2023 em São Paulo. A mesma unidade, aliás, dará corpo ao esquema que trará ao grupo o negócio de reciclados. “Estamos sendo motivados pela crescente procura por plástico recuperado pós-consumo, refletida aliás na alta do preço pago por quilo, chegando a bater a cotação da resina virgem em alguns meses”, conta o CEO Leonardo Maeda de Carvalho. “Pesa também a pressão exercida pela lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Ministério Público e órgãos ambientais sobre fabricantes grandes e médios de embalagens, para tomarem novas iniciativas no campo da logística reversa”.
Cooperativas e recicladoras menores suprem o Grupo Maeda de sucata rígida de PET, polipropileno (PP) e polietileno de alta densidade (PEAD). “Compramos esse material pré-separado para reprocessamento em nossa unidade”, descreve o dirigente. “Ou seja, se a entrega for em fardos, eles serão abertos e o resíduo ali contido será classificado, pesado e monitorado no tocante á contaminação, sendo remetido então por esteiras de triagem para alimentação das prensas e retornando depois por elas para os fardos. A nova planta, por sinal, rodará dedicada a receber, identificar e prensar os recipientes rígidos”. Mas o negócio tem um plus. “Para valorizar mais o material, firmamos acordo com um empreendedor encarregado da lavagem, moagem, secagem e extrusão do reciclado para reúso por transformadores”. Em essência, ele reitera, seu grupo hoje adquire, separa e pré-beneficia sucata plástica. “Com a empresa parceira, fecharemos o ciclo com recolhimento e compra dos rejeitos, prensagem, pré-beneficiamento, moagem, secagem e extrusão final do reciclado”. Maeda sublinha que o objetivo da sua companhia é cobrir todo o processo, desde coleta e compra de lixo plástico à sua reciclagem.
O grupo trabalha há cerca de 10 anos com volumes menores de sucata plástica, em particular PET, “desde quando a reciclagem dessa resina começou a ser incentivada”, completa Maeda. No momento, ele projeta, sua capacidade instalada para pré-beneficiamento de plástico (15% de aparas e 80% de resíduos descartados) ronda a média de 20 t/dia. “Na futura planta vão operar prensas automatizadas e esteiras para triagem da sucata de PET, PP e PEAD, de modo a entregar um material realmente pronto para as etapas finais da reciclagem. Entre fardos dessas três resinas, a capacidade instalada dessa unidade será de 15 t/dia e esperamos coletar e pré-beneficiar 40 t/mês de PET”, expõe Maeda.
Dor de cabeça crônica para a cadeia recicladora, o suprimento irregular de sucata não atazana o trabalho do grupo paulistano. “Por sermos uma companhia multifacetada, voltado para pré-beneficiar diversos materiais, efetuamos a retirada dos plásticos nos mesmos clientes que nos fornecem papel, ferro e alumínio, resultando numa demanda já considerável para o trabalho com resinas”, ele argumenta. “Mas como este mercado é novo, com gigantesca procura e potencial, investimos também em ferramentas como Google para captar mais clientes; é assim que pretendemos atingir a capacidade de 15 t/dia da futura planta”, adianta o empresário. “Por exemplo, uma indústria geradora de 10 t/mês de sucata plástica pode ser nossa cliente e não precisa estar em São Paulo, pois aumentaremos nosso raio de alcance de acordo com a necessidade dela”.
Escorado na performance da nova fábrica, Maeda estabelece para 2023/2024 a meta de comprar e beneficiar 400 t/mês de rejeitos plásticos. “Desse modo, prevemos para o plástico participação de 20% em nossa receita mensal, atrás do alumínio, com 25% e papelão e ferro, com respectivas parcelas de 37,5%”. •