Parou no acostamento

O consumo de plásticos sentiu falta de combustível no primeiro semestre. Em todos os sentidos.
Greve dos caminhoneiros.

Em mais de 60 anos, sobra na memória do plástico no país um bocado de momentos de choque e perplexidade. Mas, mesmo diante deles, 2018 caminha para ficar como um período sem precedentes, por ter seu balanço decidido já no primeiro semestre – fala por si o corte pela metade alardeado em junho nas previsões originais de 2,5% a 3% de crescimento do PIB. As confiantes expectativas iniciais da cadeia plástica, embaladas num espasmo de retomada, num megaevento temático excitador de consumo, a Copa do Mundo, e na praxe de aquecimento da economia em ano eleitoral, foram levadas de roldão por uma tempestade perfeita. Junto com o nervosismo no comércio mundial, disparado pela metralhadora giratória de Trump, e com a subida das cotações do petróleo e derivados, pretejaram o céu do Brasil a bomba relógio da crise fiscal, a incerteza sobre o próximo presidente, a piora do déficit de um Estado quebrado, a consequente arrancada do dólar e, gota d’água para esfriar investimentos e otimismo, os 11 dias da greve dos caminhoneiros, entre o final de maio e início de junho, provocando forte queda da produção, aumento da ociosidade e da inflação e acúmulo de estoques indesejados.

“2018 começou com demanda aquecida de resinas no primeiro bimestre, mas, entre março e abril, o crescimento diminuiu”, assinala Solange Stumpf, diretora da consultoria MaxiQuim. Esse ajuste, ela percebe, já traduzia a instabilidade econômica e política. “Maio começou razoavelmente bem, mas foi severamente abalado pela greve dos caminhoneiros”, prossegue a analista. “Esperávamos para o ano um aumento perto de 3% nas vendas de embalagens flexíveis, por exemplo. A partir de março, porém, já presenciávamos um comportamento muito oscilante do mercado, situação agravada pela parada do transporte rodoviário, e assim nossa previsão atualizada é de que o segmento amplie por volta de 2% em volume este ano”. Solange justifica a projeção de crescimento abaixo do esperado, mas, ainda assim, de alguma evolução, “porque a base de comparação é fraca, pois o país está saindo de uma recessão forte”, ela pondera. “Estimamos aumento médio de 3,6% no consumo aparente de resinas commodities em 2018 e o segundo semestre será mais vigoroso, com consumo 2,8% superior ao do primeiro”.ESTIMATIVAS MERCADO BRASILEIRO DE RESINAS TERMOPLÁSTICAS 2018A greve dos caminhoneiros afetou primeiro a produção do setor plástico, nota Solange, devido à falta de matérias-primas e insumos e às dificuldades de escoamento das entregas. “Acho difícil que a queda nas vendas de resinas em maio seja recuperada nos próximos meses, pois a maior parte da demanda de produtos transformados atrela-se a bens não duráveis, sem demanda reprimida. Pela nossa análise, foram perdidos com a greve em torno de 15 dias de produção no geral da cadeia plástica”. Além do mais, encaixa, pesa o impacto financeiro da parada. “Muitos transformadores já passavam maus momentos antes da greve, efeito da crise nos últimos anos com capital de giro insuficiente e nível crescente de endividamento”.

O estouro da boiada do dólar e barril foi somatizado pelas resinas em suas cotações . “Os preços subiram cerca de 12% em reais no primeiro semestre de 2018 sobre o mesmo período em 2017”, situa a consultora. “Esse incremento ocorreu por conta do câmbio e do encarecimento do custo de produção – o preço da nafta, principal rota petroquímica no Brasil, aumentou perto de 20% de janeiro a junho sobre o mesmo semestre no ano passado, resultado da sua correlação com o petróleo”. Parte do reajuste das resinas, considera Solange, foi repassado às indústrias finais e a parcela não transferida pela transformação reduziu suas margens.

Distribuidores na montanha-russa

A Serasa Experian calcula em 5,122 milhões o número de empresas micro e pequenas inadimplentes em maio, 15ª alta consecutiva e recorde histórico nacional. Ainda segundo a empresa de monitoramento financeiro, a indústria respondeu por 8,7% dessas pessoas jurídicas com dívidas pendentes e o quadro geral é atribuído a retomada em passo de cágado aliada às sequelas da greve dos caminhoneiros. O cenário também deixa subentendido a parada dura enfrentada pelos distribuidores de poliolefinas, as resinas mais consumidas, como expõe nesta entrevista Láercio Gonçalves, presidente da distribuidora Activas, vedete da rede Braskem, e da Associação Brasileira dos Distribuidores de Resinas Plásticas e Afins (Adirplast).

No início do ano, qual era a sua expectativa para as vendas de PE e PP pela distribuição no primeiro semestre de 2018 versus mesmo período em 2017? Como os 11 dias de greve dos caminhoneiros em maio alteraram essa projeção?
Sabíamos que 2018 seria difícil, devido aos fortes movimentos de mercado, incertezas políticas, elevação do preço do barril de petróleo, variação/instabilidade cambial, previsões de aumento de resina enfim, por ser ano de Copa do Mundo e de eleições. Na Activas, prevíamos fechar o primeiro trimestre nos patamares de volume e resultados aferidos no mesmo período de 2017. Porém, houve uma inversão de projeções. Esperávamos que fevereiro fosse pior que março, devido ao carnaval e por ser mês curto. A prática nos mostrou o contrário: fizemos um fevereiro muito bom e março foi aquém do que imaginávamos- o efeito de queda livre a partir daí se deu devido a grande dificuldade do transformador repassar todos os reajustes de preço para a cadeia e, consequentemente, sofrer com queda em seu processo produtivo. Com a greve dos caminhoneiros na etapa final de maio, tivemos 11 dias seguidos de bloqueios nas estradas em praticamente todo o território nacional, impedindo a circulação de pessoas e produtos. Isso causou um transtorno no país e impacto muito grande nas projeções de maio e, de novo, uma inversão de performance do mês em relação ao que planejáramos. Projetávamos um excelente maio e junho algo mais fraco, devido aos jogos da Copa. Na prática, fizemos um maio ruim, como já dito, e junho foi um mês encerrado com uma boa performance. Outro ponto que posso sinalizar sobre o primeiro semestre foi o confronto da distribuição autorizada com muita resina derivada de outros canais que não os oficiais.

Qual a sua expectativa para a distribuição de PP e PE no segundo semestre e, a partir daí, qual deverá ser o saldo do movimento dela no exercício inteiro de 2018?
Se a distribuição terminar 2018 com a mesma performance e os mesmos resultados de 2017, já ficaremos muito felizes; é uma vitória. 2018 está sendo um ano de muitas indefinições, altos e baixos e a greve dos caminhoneiros representa um choque negativo para uma economia que se recuperava mais devagar que o previsto. O aumento do preço do petróleo, a desaceleração da economia global e a incerteza em torno das eleições também não nos ajudam. As últimas semanas têm sido de turbulência atrás de turbulência no Brasil, uma verdadeira montanha-russa. Mal saímos de uma greve de caminhoneiros, presenciamos uma espécie de pânico tomar conta dos mercados financeiros, com o dólar atingindo patamar próximo de R$ 4,00.

Os distribuidores conseguiram repassar uma parcela aceitável dos reajustes nos preços de PE e PP no primeiro semestre?
Os distribuidores não têm como atenuar ou absorver qualquer percentual deste aumento expressivo. Ou seja, temos que repassar os reajustes na integralidade, devido às margens baixas que operamos.

Com a greve dos caminhoneiros, o aumento generalizado dos preços e a dificuldade para desovar estoques, as indústrias finais têm retraído suas encomendas de transformados. Quais os efeitos colaterais dessa situação sobre a participação das revendas autônomas no varejo de poliolefinas este ano?
Os grandes transformadores (fontes das revendas autônomas) também sofreram muito com o desabastecimento devido à greve dos caminhoneiros e, por causa desse cenário já mencionado, eu acredito que este é o momento de estes empresários voltarem o foco e seus olhares para o próprio negócio, para a gestão de suas empresas e para o seu processo produtivo. A probabilidade é de que a revenda de resina excedente no varejo fique em segundo plano.

Como a nova representação de PE micronizado se enquadra na estratégia operacional da Activas?
Iniciamos em junho uma parceria para comercializa PE micronizado com a Avanplas Polímeros da Amazônia, empresa constituída em 2003 e localizada no Polo Industrial de Manaus com o objetivo de produzir e comercializar compostos termoplásticos. Desse modo, incorporamos uma novidade ao portfólio: a linha de micronizados Avalene, visando atender o crescente mercado de peças rotomoldadas como caixas d’água, tanques agrícolas e brinquedos.

De janeiro a junho último, o dólar ocupou a pole das opções de investimento ao valorizar-se 16, 96% sobre o real. A soma dessa decolagem ainda em curso com a sequência de reajustes no barril de petróleo (14,2% para o tipo WTI somente no segundo trimestre) e seus reflexos sobre a nafta petroquímica (aumento de 27,4% nos preços internacionais convertidos em reais de janeiro a maio versus mesmo período em 2017) instaurou a temporada de encarecimento das resinas no Brasil. No radar da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), o monitoramento acusa, para o período de 5 de janeiro a 22 de junho último, os seguintes reajustes nos preços em reais: polietileno de baixa densidade (PEBD), + 21%; polietileno linear (PEBDL); +15,4%; polietileno de alta densidade (PEAD), + 24%; polipropileno (PP), + 19,3%; poliestireno (PS), + 11,6% e PVC, + 20%. Pela lupa da MaxiQuim, foram estes os aumentos estimados para a primiera metade do ano: PE, + 13%; PP, + 14%; PS, + 10%; PVC, + 15% e, no topo do pódio, PET, com reajuste projetado em 40%. Conforme foi noticiado, a Braskem, única produtora no país de poliolefinas e a maior de PVC, anunciou ao final de junho aumento válido para julho de até 7% para PE e teria reajustado PEBD e PEBDL em RS$ 500/t e PEAD e PP em RS$ 600/t.

Anos a fio de construção civil no freezer enregelaram, em reflexo condicionado, o consumo interno de PVC. “O consumo do vinil cai desde 2014 e, entre este ano e 2017, a queda acumulada supera a marca de 35%”, dimensiona Solange. “O mercado interno de PVC só deve voltar ao patamar de 2013 em 2020”. A situação também é de calmaria para os lados de PS, cujo mapa do consumo, a grosso modo, compõe-se de dois hemisférios: eletroeletrônicos, com geladeiras à frente, e embalagens one way e artigos descartáveis. “Para este ano, o consumo interno do polímero em eletroeletrônicos deve empatar com 2017 e crescer 1% no âmbito dos descartáveis, inclusive sob impacto da irreversível tendência de retração em alguns itens dessa categoria causada pela maior consciência ambiental notada em parte da população”, interpreta Solange.

O mercado internacional tem sido, nos últimos anos, um refúgio da retração interna para as poliolefinas do Brasil. Mas Solange enxerga alterações logo à frente. “Até maio último as exportações de PP e PE foram 15% inferiores ao mesmo período um ano atrás e, para o exercício de 2018, espera-se um recuo de 12% sobre 2017. Apesar do câmbio favorável, a redução nos volumes embarcados decorre da competitividade da Braskem afetada pelo custo da nafta, além da moderada reação na demanda doméstica”. Na mão oposta, a analista julga que as importações brasileiras de PE seguirão robustas, “se considerarmos o efeito negativo da alta do petróleo na competitividade da resina nacional”. Pela marcação da MaxiQuim, os EUA representaram 38% das compras externas de PE pelo Brasil no ano passado, superando as nossas importações da vizinha Argentina, cuja participação foi fixada em 30%. “Além do mais, o movimento de players internacionais para vender na América Latina veio para ficar”.

PET pesca em águas turvas

Mesmo em crônica superoferta doméstica, PET liderou os reajustes nos preços internos das resinas no primeiro semestre, sustenta a consultoria MaxiQuim, orçando em 40% o encarecimento aferido no poliéster grau garrafa. Usuária do polímero, a bioleve, força motriz nacional em água mineral e bebidas não alcoólicas, sentiu no bolso o ônus da matéria-prima. “ De janeiro a junho, aferimos aumento de 30% nos custos das embalagens, representando 20% no custo do produto final”, calcula Luis Tojo Soler, diretor industrial da empresa sediada em Lindóia, interior paulista. “Não temos espaço para repassar este reajuste nos preços de PET, haja vista a forte retração. O caminho a seguir é reduzir custos produtivos, otimizar a logística e se contentar em pagar as despesas”. Quanto ao comportamento dos custos das embalagens no segundo semestre, Tojo mantém o pé atrás. “Teremos um cenário muito complicado até dezembro, no qual devemos acompanhar muito de perto as oscilações dos preços da resina numa conjuntura afetada pelo período eleitoral e paralisações do trabalho durante a Copa num ano já dificultado pela greve dos caminhoneiros”.

Impacto de R$1,8 bilhão
A indústria de transformação também engrossa a fila de revisores das previsões para 2018. “No início do ano, o setor esperava crescimento mínimo de 6% no primeiro semestre sobre o mesmo período em 2017 e já recalculamos a projeção para 4%”, lembra José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Abiplast e presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Em meio à volta atrás nas estimativas, ele conta, por força de maus resultados colhidos pelo setor em alguns meses, estoura a greve dos caminhoneiros travando o escoamento dos produtos transformados. “Muitas de nossas empresas até mantiveram seu nível de produção mediante uso de estoques de matérias-primas, mas acabaram com produtos acabados armazenados a custo alto, sem poder entregar e faturar”, descreve o dirigente. “Outros transformadores reduziram a produção por falta de resina encomendada e não recebida.” Essas semanas de atraso, ele amarra as pontas, impactaram em R$ 1,8 bilhão no mês o caixa das empresas do setor. “As próprias petroquímicas baixaram o ritmo de produção, a ponto de chegarem a operar a 50% da capacidade”.

Roriz frisa não ter sido apenas a greve quem minou as perspectivas iniciais. “Tivemos uma resposta mais lenta que o previsto no desempenho da economia e pressões de alta nas matérias-primas”, comenta. “Além do mais, o custo salgado da energia, a expectativa do fim da desoneração da folha de pagamento e estimativas de alta no frete por conta do tabelamento do preço mínimo implicam aumento dos gastos comprometidos para a situação do setor”. Vem daí a sua refeita projeção de a indústria transformadora fechar o ano com crescimento limitado a 2,5%.

Sob recessão há quase quatro anos e a antevisão de instabilidade política e econômica sem fim à vista, a desindustrialização em curso do setor transformador tende a progredir, evidencia Roriz. “Vivemos um evidente processo de desindustrialização, refletido aliás na própria queda da participação no PIB da indústria no plano geral, hoje da ordem de 11,4% e equivalente ao patamar ocupado na década de 1950. Ainda assim, o setor industrial responde por mais de 30% da arrecadação de impostos”. De outro ângulo, coloca o dirigente, estribando em dados do CEMEC/Fipe, quase 30% das grandes empresas e mais de 60% entre as micro e pequenas vêm apresentando altos índices de endividamento, efeito dos níveis de spread bancário nas nuvens. “Apresentei recentemente à Presidência da República uma agenda para a indústria mostrando a necessidade de ações efetivas para baixar o spread, pois a indústria não pode arcar com mais altas de custos e impostos. Ela precisa de condições para recuperar as finanças e se preparar para competir na era 4.0”.
Viga mestra da petroquímica, a Braskem, por ter capital aberto, não pode abrir projeções de consumo, justificam Pier Paolo Pesce, Fábio Schettini e Eduardo Soares Passos, respectivamente responsáveis pelo marketing das áreas de PP, PP e PVC da empresa.

Contudo, mesmo com o panorama conturbado pelos estorvos da greve dos caminhoneiros e do vaivém do consumo, eles afirmam que os resultados do mercado interno das suas três resinas são compatíveis com a não revelada expectativa da empresa para 2018. “O mercado brasileiro de polímeros tende a acompanhar o crescimento da indústria”, reiteram os três marqueteiros. “Pelo seu histórico, a segunda metade do ano costuma ser mais forte, movida em especial por demandas sazonais e, apesar de acontecimentos pontuais passíveis de alterar este cenário, nossa expectativa continua positiva para a segunda metade do ano, inclusive em relação às exportações”. A ver.•

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