Papel sem verniz

Um caso muito instrutivo de retórica sustentável

Nos últimos tempos, a elite empresarial brasileira percebeu no discurso em prol do desenvolvimento sustentável uma forma líquida e certa de atrair os holofotes do estrelato, confetes, seguidores nas redes sociais etc etc.

No compasso da ecopartitura, David Feffer, presidente do Conselho de Administração da Suzano, ícone nacional em papel e celulose, assinou na edição de 12 de julho último do jornal Valor Econômico o artigo intitulado “Um novo jeito de se fazer negócios” com esta chamada: “O plástico representa o maior desafio ambiental do século XXI, segundo a ONU”. Para ilustrar o texto, entrou uma foto de copo plástico descartado numa praia.

Em essência, Feffer declara perceber “um novo modelo de pensamento, no qual temos a inovação socioambiental como um pilar estratégico e fundamental para as empresas”. Para ilustrar o novo espírito corporativo, ele comenta a contestada imagem ambiental do plástico.
Plásticos em Revista pediu esclarecimentos ao empresário enviando estas questões à sua assessoria:

  1. David Feffer defende no artigo, como exemplo de postura inspirada pela inovação socioambiental, uma transformação de atitude em relação ao plástico, material que ele considera de alto risco para o ecossistema, e comenta que o banimento de descartáveis plásticos na União Europeia constitui “um interessante exemplo” para a comunidade internacional. Pergunta: o dirigente pensava da mesma forma quando a Suzano atuava com altos ganhos na produção e distribuição de termoplásticos (polipropileno e polietileno) de largo uso também em copos, canudos, cotonetes e demais descartáveis de plástico? Ou hoje, catequizado pela economia circular, ele se constrange com este capítulo da história da Suzano?
  2. David Feffer manifesta sua inquietação com o futuro do ecossistema afirmando no artigo que o plástico pode levar 400 anos para se decompor. E o que tem a dizer dos papiros e pergaminhos de papel que estão disponíveis até hoje, sem sinal de decomposição após a passagem de milhares de anos?
  3. Com a esperada proliferação de banimentos de descartáveis plásticos, David Feffer assinala no artigo antever oportunidades para copos e canudos de papel, por serem biodegradáveis. Foi por que seu grupo hoje atua focado apenas na manufatura de papel/celulose que o dirigente não explicou ao leitor que papel é tão biodegradável quanto o plástico se submetido às condições de deterioração apropriadas?

Às vésperas do fechamento desta edição, a Suzano enviou este comunicado: “Em resposta à solicitação feita pela Plásticos em Revista, esclarecemos que o artigo “Um novo jeito de se fazer negócios” destaca a tendência de um novo modelo de pensamento, no qual temos a inovação socioambiental como um pilar estratégico e fundamental para as empresas, buscando respostas criativas a desafios econômicos, sociais e ambientais. O exemplo mencionado no artigo utilizou como fonte dados públicos divulgados por respeitadas instituições como ONU, União Europeia, Instituto Brasileiro de Sustentabilidade (INBS) e Ministério do Meio Ambiente. Em nenhum momento houve intenção de fazer qualquer juízo de valor ou críticas específicas. A Suzano se orgulha de sua trajetória e acredita que todos devem trabalhar juntos para um futuro mais sustentável para todos.”
Stephen King, mestre da literatura sobrenatural, afirma que quando uma metáfora acerta o alvo, consegue nos fazer ver algo velho de forma nova e vívida. Um exemplo: claro que nem folha de papel. •

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