Oscar de melhor filme

Embalagens flexíveis saem do chão com giro recorde de produtos essenciais, atesta presidente da Abief
Mani: setor repete este ano crescimento de 2020 se não houver imprevistos.

Enquanto a produção de produtos transformados de plástico caiu 4,5% em 2020, a de embalagens flexíveis nadou de braçada na contramão: cresceu 5,4% sobre o saldo de 2019. Ainda no ano passado, o consumo aparente desse segmento, da ordem de 2.046 milhões de toneladas, não só pairou 7,2% acima do resultado anterior como foi o maior índice de crescimento anual aferido na década. Em faturamento bruto nominal, a produção de 2.088 milhões de toneladas no último exercício corresponde a R$ 27,7 bilhões ou 30% à frente da receita anterior. Como até peixinho de aquário sabe, os anfitriões dessa festa de embalo foram o auxílio emergencial ao redor de R$ 290 bilhões, pago a cerca de 64 milhões de pessoas, e a influência do imobilismo social no comportamento da população entocada, dois fatores que desembocam na explosão ainda em curso de compras de produtos essenciais. Trocando em graúdos: alimentos, bebidas e produtos de higiene pessoal e limpeza doméstica compõem 60% do mercado de embalagens plásticas flexíveis. Os meandros dessa performance azul celeste e a fé no bis este ano, mesmo numa conjuntura de pandemia e incerteza a 100ºC e auxílio emergencial emagrecido, são destrinchados na entrevista a seguir por Rogério Mani, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief).

Em média, qual o percentual de reajuste aferido pela Abief nos preços internos das poliolefinas em 2020 e no primeiro quadrimestre deste ano?
Considerando os aumentos acumulados de janeiro a dezembro do ano passado, cabe ressaltar que, entre maio e junho, os preços recuaram e, a partir de julho, começaram a subir mensalmente sem trégua. Os aumentos, como regra, seguem os preços da referência internacional e o câmbio. Com base nessa premissa, calculamos que, em média, o reajuste acumulado no exercício de 2020 no preço interno de polipropileno (PP) foi de 54%. No tocante aos polietilenos, foi de 74% para o tipo de baixa densidade (PEBD), 59% para o tipo linear (PEBDL) e 70% para o de alta densidade (PEAD). Já apenas entre janeiro a abril deste ano, chegou à média de 35% o reajuste aferido em PP; 48% em PEBD; 60% em PEBDL e 58% em PEAD.

PE e PP

Preços alpinistas

Pergunta para os universitários do setor plástico: até que ponto a indústria de transformação consegue repassar o bombardeio de reajustes nos preços das resinas em curso desde a arrancada global do corona, no ano passado? Flexíveis são um resort para polietileno (PE) e polipropileno (PP) e um relance pela varredura semanal da consultoria Platt’s capta o alpinismo dos preços internacionais das duas poliolefinas senhoras dessas embalagens. Em 2020, na semana de 20 a 27 de maio (ao fim do pico da quarentena), a Platt’s aferiu preços internacionais médios por tonelada de US$ 700-720 para polietileno linear (PEBDL); US$720-750 para o tipo de baixa densidade (PEBD); US$ 710-730 para o grade de alta densidade (PEAD) para filme; US$ 910-930 para PP homopolímero e US$ 950-980 para PP copolímero. O panorama azedou na semana de 17 a 23 de dezembro último: US$1.040-1.070 para PEBDL; US$ 1.460-1.480 para PEBD; US$ 1.210-1.230 para PEAD para filme; US$ 1.540-1.560 para PP homo e copolímero. Corte para 2021: na semana de 7 a 13 de janeiro o esquadrinhamento da Platt’s apontou, por tonelada, preços médios internacionais de US$ 1.210-1.230 para PEBDL; US$ 1.590-1.610 para PEBD; US$1.030-1.050 para PEAD grau filme; US$1.220-US$1.240 para PP homo e US$1.460-1.480 para PP copo. Já na semana de 15 a 21 de abril último, o cenário apunhalava mais o bolso do transformador: US$ 1.790-1.810 para PEBDL; US$ 2.140-2.160 para PEBD; US$ 1.760-1.780 para PEAD para filme; US$1.840-1.860 para PP homo e US$ 2.040-2.060 para PP copo.

Transformadores menores de flexíveis que não eram clientes regulares dos distribuidores das poliolefinas nacionais e se abasteciam na revenda autônoma tiveram problemas de suprimento em 2020.Diante disso, quais as mudanças na política de compras sugere para essas empresas não passarem sufoco este ano?
Alguns transformadores que não tinham acesso às petroquímicas ou à distribuição oficial e compravam via paralelo – vale ressaltar que em alguns casos por opção própria – tiveram em determinado momento problemas de abastecimento. O fato é que a entrada de matérias-primas importadas reduziu sua oferta entre maio e setembro do ano passado, voltando aos patamares pré-pandemia a partir de outubro último. De modo geral e com todas dificuldades, os transformadores menores acabaram se suprindo, mas pagando preços muito mais altos do que os aumentos oficiais. Como sugestão, tenho procurado instruir nossos associados e transformadores não filiados a diversificarem as compras e buscarem canais confiáveis para garantir o abastecimento. Hoje em dia, tudo pode acontecer a qualquer momento. Desse modo, entendo que comprar direto das petroquímicas ou de seus distribuidores oficiais é menos arriscado e mais seguro em relação à previsibilidade.

Mesmo com a operação afetada pela quarentena, a produção de embalagens plásticas flexíveis foi recorde em 2020. Qual a explicação?
De fato, houve um aumento de 5,4% no volume produzido em 2020. Vínhamos patinando no primeiro trimestre, porém com esperanças de fazermos um ano melhor que 2019. Com a infelicidade da pandemia vimos nossos números de produção saltarem rapidamente, a reboque de mudanças no comportamento do consumidor acarretadas pelo distanciamento social, caso da alimentação em casa mais frequente; maior procura por proteção contra o vírus em materiais de higiene e limpeza; maior consumo de produtos como bebidas, snacks, massas, queijos e carnes e o incremento instantâneo do e-commerce. É importante salientar que a ajuda do governo federal, injetando bilhões de Reais na economia, inclusive através do auxílio emergencial, fez com que pessoas de menor renda passassem a consumir mais alimentos, bebidas e materiais de higiene/limpeza.

Mercado

Muito fermento nesse bolo

Varredura de 2020 da consultoria MaxiQuim encomendada pela Abief atribui a alimentos 40% da produção nacional de embalagens flexíveis, índice traduzido em 826.000 toneladas. Muitos degraus abaixo vêm o segmento industrial, com participação de 18% correspondente a 371.000 toneladas; descartáveis (sacolas), com 11% ou 239.000 toneladas; bebidas, com 10% ou 200.000 toneladas; agropecuária, com 8% ou 172.000 toneladas; higiene pessoal e limpeza doméstica com índices individuais de 5% cada um correspondendo a 101.000 toneladas; pet food, com fatia de 2% ou 45.000 toneladas e redutos diversos com o 1% restante ou 32.000 toneladas. Na partilha por aplicação, flexíveis multicamada levam a taça com participação de 33% ou 693.000 toneladas, seguidos de perto por embalagens monocamada, com fatia de 29% ou 602.000 toneladas. Bem atrás, vêm shrink, com 13% ou 279.000 toneladas; sacolas/sacos, com 12% ou 238.000 toneladas; stretch, com 10% ou 216.000 toneladas e demais tipos de flexíveis com os 3% complementares ou 60.000 toneladas. Pela lente das poliolefinas, a produção brasileira de 2.088 milhões de toneladas de embalagens flexíveis no ano passado foi liderada por polietilenos de baixa densidade e linear (PEBD e PEBDL), com a leonina fatia de 74%ou 1.535 milhão de toneladas. Bons corpos atrás figuram polipropileno (PP) com 15% ou 324.000 toneladas e polietileno de alta densidade (PEAD) com 11% ou 229.000 toneladas. Embalagens flexíveis responderam por 31% da produção geral de artefatos plásticos em 2020. No tocante a balança comercial do segmento, o Brasil importou então 65.000 toneladas e exportou 106.000 contra 60.000 e 130.000 em 2019.

A indústria de embalagens plásticas flexíveis investiu no aumento de sua capacidade instalada em 2020. Qual é a estimativa da Abief para a nova capacidade do setor?
Na realidade, os investimentos já estavam decididos antes de 2020 e algumas empresas que receberam suas máquinas acabaram abocanhando um volume maior durante a pandemia. Estimamos que a capacidade instalada na transformação de flexíveis gire em torno de 2.800 milhões de t/a e a produção em 2020 foi de 2.088 milhões. Ou seja, operamos com 75% de ocupação no último período.

Entre os mercados cobertos pelas embalagens plásticas flexíveis, a agropecuária foi o que mais cresceu em volume versus 2019. Por que ele superou segmentos bafejados pelo auxílio emergencial e distanciamento social, como alimentos, bebidas e descartáveis?
A demanda por flexíveis ainda deve crescer muito no agronegócio. Afinal, cada vez mais se embala produtos para o mercado interno e externo. O destaque vai para o aumento no consumo de carnes e aves embaladas e produtos premium (carnes nobres), além da plasticultura com filmes mulching, geomembranas e silos. As exportações de proteína animal, em especial carne e frango, puxaram muito os volumes de consumo de embalagens flexíveis no último período.

Quais as três embalagens plásticas flexíveis mais importadas e exportadas pelo Brasil em 2020? Por quais motivos?
Entre as importadas, eu destaco polipropileno e poliéster biorientados (BOPP e BOPET) e filme poliolefínico. Quanto às embalagens importadas, fico com stretch, BOPP e sacarias especiais. No geral, tratam-se de commodities e seus volumes maiores fazem sentido para exportação e importação. Além disso, BOPP e BOPET são considerados insumos para os convertedores e stretch é material de sobreembalagem.

O acordo emergencial turbinou a demanda de embalagens plásticas flexíveis em 2020 e, mesmo com valor menor este ano, deve fazer o mesmo de abril a julho. Em 2020, o setor ampliou a capacidade. Como a indústria concilia essa expansão com o cenário sem auxílio emergencial a partir de agosto, além do desemprego, dólar na lua, inflação e vacinação lenta?
2020 foi o ano que ainda não acabou; um ano artificial e atípico. Enxergo dois cenários para futuro próximo. No primeiro, já estamos pagando a conta por uma euforia que, na ponta do lápis, mostrará que trabalhamos muito para atender e não deixar faltar embalagens, mas não transformamos todos esses esforços em resultados. Os efeitos perversos dos aumentos estratosféricos no preço dos insumos e matérias-primas, custos com adequações das fábricas, afastamentos dos colaboradores, efeitos psicológicos negativos, necessidade do dobro de capital de giro com juros mais elevados e demais entraves não se sustentam.

O segundo ponto tem conotação positiva. Sob a pandemia em 2020, o setor de embalagens plásticas flexíveis foi, entre os artefatos plásticos, o de menor impacto negativo em volume, uma trajetória a ser mantida este ano. Talvez tenhamos uma queda entre abril e maio, mas deveremos ter uma continuidade da demanda aquecida no segundo semestre. Mesmo menores este ano, os recursos do acordo emergencial acabam indo direto para o consumo, principalmente, de alimentos. Deveremos, portanto, repetir os números de 2020, salvo intervenha algum problema maior fora de controle, com cerca de 70% do consumo de flexíveis permanecendo ligado ao acondicionamento de alimentos, bebidas, sacolas descartáveis e produtos de higiene doméstica e pessoal. Seja como for, precisamos continuar atentos aos juros mais altos, oferta restrita de matérias-primas, inflação crescente e surpresas políticas a qualquer momento. Teremos que fazer muita conta e trabalhar com responsabilidade, segurança e previsibilidade. •

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