< PreviousAbril/2018plásticos em revista10VISORMal voltou das férias e ligou o monitor, Murilo Feltran, gerente de marketing de ma-teriais de performance da Basf no país, deparou em março com consultas sobre cotações e disponibilidade de materiais em quantidade suficiente para convencê-lo do fim da calmaria em desen-volvimentos para o setor eletroeletrônico. “A busca envolveu não só poliamidas (PA), mas polibutileno tereftalato (PBT)”, ele nota.Até assumir o controle oficial da planta de compostos de PA da Rhodia/Solvay no ABC paulista, o que se aguarda para o segundo semestre, a subsidiária brasileira da Basf segue no papel estrito de importadora no mercado interno de plásticos de engenharia, com soluções trazidas das unidades internacionais do conglomerado alemão. Neste comparti-mento, Feltran distingue o grade de PA semicristalina Ultramid Vision, dirigida a componentes semi ou 100% transpa-rentes em ambientes de trabalho com desafios químicos. De alta resistência térmica, à flamabilidade, radiação UV e a risco, o lançamento compete em peças de controle visual com policarbonato (PC), copolímero de estireno acrilonitrila (SAN) e poliamidas amorfas em aplicações na es-fera de controle visual e iluminação, especi-fica Feltran. Outro as na manga do mix de PA é Ultramid B27 HM01. Feltran re-comenda o material classe V0 da norma UL 94 para fios e ca-bos elétricos. O rol de novidades pros-segue com a linha de poliftalamidas (PPA) Ultramid Advanced N. “É destinada a pe-ças submetidas a ambientes de umidade e temperatura elevadas, como engrenagens e mecanismos de acionamento interno de fornos e fogões”, ele exemplifica, enalte-cendo ainda a estabilidade dimensional e resistência à abrasão e ao desgaste por fricção dessa nova linha da Basf.No balcão de poliamidas, Feltran destaca o ibope em peças para eletroele-trônicos desfrutado pelas séries Ultramid A3X e A3U, ambas aditivados com re-tardante à chama. “A linha A3U permite trabalho com cores claras e um ponto alto da outra série é o grade A3 X2G5, composto de PA 6.6 com 25% de fibra de vidro contendo retardante de chama não halogenado”, aponta o especialistaTecnologia em alta definiçãoELETROELETRÔNICOS/MATERIAISFeltran: PPA para ambientes de umidade e temperatura elevadas.Baruque: PPS fortalece mix de soluções resistentes a altas temperaturas da Radici. As resinas e auxiliares que empoderam as peças técnicasAbril/2018plásticos em revista11PPS AUTOEXTINGÍVELComponentes para lavadoras pu-xam, no Brasil, a demanda de compostos de PA da Radici para componentes injetados de eletroeletrônicos, delimita Luis Baruque, gerente comercial da subsidiária da indústria italiana com planta componedora em Araçariguama, interior paulista. Na esteira, ele elege os compostos de PA 6 e 6.6 com fibra de vidro como suas especialidades mais procuradas para uso em eletroeletrôni-cos. “Podem ser injetados em diversas cores, dispensando acabamento pos-terior, e impressionam pela resistência mecânica, química e térmica”, sintetiza o expert.Entre as sacadas egressas do pi-peline da matriz da Radici, Baruque se aferra às credenciais da série de sulfeto de p-fenileno (PPS) Raditeck P. “Com-plementa nosso mostruário de materiais resistentes a altas temperaturas, além de ser autoextinguível e não absorver umi-dade”, ele descreve, acenando ainda para eletroeletrônicos com as possibilidades de Radistrong, série de PA 6 ou 6.6 com fibra longa de vidro, como serial killer de metais em peças técnicas.PROCURA POR ANTICHAMACom cadeira cativa em lavadoras, fogões e ventiladores, nas vestes de fornecedora de compostos de PA e po-liacetal (POM), a componedora Krisoll condiciona a reação da demanda à dis-ponibilidade de crédito na praça para o consumidor de eletrodomésticos. “Esse segmento também é afetado por meca-nismos de financiamento popular,ccomo se viu no passado recente”, pondera Alexandre Pastro Alves, sócio e diretor de marketing da empresa.Com capacidade instalada da ordem de 9.600 t/a em Mauá, Grande São Paulo, a Krisoll teve seu perfil repa-ginado nos últimos dois anos mediante a aquisição de extrusoras e ênfase na qualificação de pessoal, expõe o também sócio e diretor de vendas Aurélio Mosca. Em decorrência da procura mais intensa por compostos de baixa ou zero propaga-ção de chama, Pastro e Mosca salientam o desenvolvimento de uma família de materiais sob medida para bater com esses anseios dos transformadores de peças técnicas. Daí porque, hoje em dia, compostos de PA 6 com fibra de vidro e aditivação antichama são o carro chefe da Krisoll para a injeção de itens de eletroeletrônicos, indica Pastro.A componedora norte-americana RTP tem em eletroeletrônicos um merca-do-chave para suas especialidades. Nos EUA, a propósito, a empresa destacou-se no plano recente por conseguir deslocar PC/ABS por um composto de PC da série RTP 300 no escuro gabinete de LifeSafer Interlock, um bafômetro eletrônico concebido para o próprio motorista checar a graduação alcoólica antes ou enquanto dirige. No Brasil, os materiais importados da matriz mais requeridos para peças de eletroeletrônicos são compostos de ABS para marcação a laser e de PP com reforço de fibra de vidro longa, para substituir PA, indica João Fernando Pinheiro, diretor da RTP para a América do Sul. Entre as novidades na vitrine, ele chama a atenção para o blend PA/ABS com melhores propriedades ópticas a custo mais competitivo. CAPACIDADE AMPLIADACom 20 anos de milhagem acumu-lada no Polo industrial de Manaus, a Co-lortech da Amazônia captou a emanação de bons fluidos sobre sua carteira a partir do primeiro trimestre. “Percebemos leve aquecimento no recebimento de pedidos, a maior parte para o segmento de ar con-dicionado, seguido por TV, duas rodas, embalagens de alimentos e material esco-lar”, alinha o diretor industrial e comercial Dival Rebelatto Junior. À espera dessa virada, ele conta, a Colortech investiu, no plano recente, em duas injetoras de masters e em periféricos como um ali-mentador lateral para compostos com car-ga mineral. Em relação a seus campeões de vendas para o setor eletroeletrônico nesta fase de discreta reação da demanda, Pastro: eletroeletrônicos demandam compostos de PA 6 com fibra de vidro e antichama da Krisoll.Pinheiro: mercado receptivo a compostos de ABS para marcação a laser e de PP com fibra longa.Rebelatto Jr.: materiais para ar-condicionado puxam reação de leve nas vendas da Colortech da Amazônia.Abril/2018plásticos em revista12VISORRabelatto destaca polímeros com carga para componentes de ar condicionado, PC/ ABC colorido classe V0 para peças de máquinas de cartão de crédito e master preto para gabinetes de TV.Concentrados preto, grafite e cinza, inclusive com variantes de efeito metálico, são as especialidades da Cromaster mais procurados para componentes de eletro-eletrônicos. “Atuamos mais no mercado de reposição e percebemos a recuperação da demanda ainda tímida se comparada à carteira de pedidos de 2013”, observa José Fernandes, sócio e diretor comercial da componedora há 19 anos em cena e cuja capacidade na zona oeste paulistana foi recentemente ampliada em 30%. VERMELHO RETRÔA linha branca e eletroportáteis regem o movimento de especialidades da Aditive para peças de eletroeletrônicos, delimita o presidente da componedora João Ortiz Guerreiro. “São aparelhos onde os aditivos contribuem não só para o apelo visual, mas para o plástico corresponder às condições de manuseio e locomoção”, assinala. Para fechar essas lacunas, ele segue, a Aditive comparece com a linha Masterfil Antichama e a de compostos condutivos. Esta última abrange soluções para poliolefinas e poliestireno de alto impacto. “Além da resistividade perma-nente, nossos compostos condutivos diferem dos antiestáticos convencionais pela rapidez superior na dissipação das cargas elétricas, em escalas de 10³ Ohms a 104 Ohms”, distingue Ortiz, elegendo como seu campeão de vendas para o setor eletroeletrônico o grade Masterfil Antichama PP M9089, com atrativos como a facilidade de fluxo e conformação.Os eletroportáteis também magneti-zam o olhar da Cromex. “Tem crescido a procura por cores intensas,como verme-lho, branco, preto e prata, para aparelhos como liquidificadores e batedeiras”, atesta Roberto Herrero Lopes, coordenador do labotatório de cores da componedora nacional. “Nossos masters de maior saída para componentes de eletroeletrô-nicos são os brancos tonalizados, mas merece registro o aumento da procura pela tonalidade vermelho, em sintonia com os eletrodomésticos seguidores do estilo retrô”. Wagner Catrasta, gerente comercial da Termocolor, virou a página do primeiro trimestre assoberbado com o acúmulo de projetos remetidos pelo setor eletroeletrô-nico visando a modernização do design e a melhora da performance dos plásticos em peças técnicas dos aparelhos. “As soluções que mais vendemos para este mercado são aditivos antiestáticos, retar-dantes de chama e estabilizantes a UV”, alinha o executivo. Na mesma trilha, Marcelo Santana, gerente comercial da Dry Color, lista masters de aditivos como antichama, anti UV, branqueadores e concentrados de alto poder tintorial como suas espe-cialidades mais requeridas para injeção de componentes de eletroeletrônicos. “A linha branca foi o segmento que puxou esse movimento no primeiro trimestre”, ele assinala. O chamariz temático da Copa na Rússia e a esperança de que a tímida reativação da economia ricocheteiem nas vendas de TVs e refrigeradores pavimentam as expectativas alimentadas para este ano por Kesser Marques, gerente comercial para materiais de per-formance da operação no país da componedora norte-americana A.Schulman. “Mesmo com inflação baixa, os consumidores não estão assumindo dívidas a longo prazo, mas torço pelo incremento nas vendas no segundo semestre”, coloca o executivo, destacando do seu mostruário as especia-lidades com cores e aditivação antichama e UV e blends que favorecem a leveza dos aparelhos. No embalo, ele informa a aquisição de mais uma extrusora para a planta da Schulman em Sumaré, interior paulista, e com partida agendada para o final do ano. “Vai dobrar a atual capa-cidade instalada para beneficiamento e possibilitará a produção de compostos de PP com talco e fibra, de PA com re-forço e tipos coloridos de ABS”, adianta Marques. •ELETROELETRÔNICOS/MATERIAISFernandes: masters cinza e preto para peças de reposição.Marques: A.Schulman duplica capacidade de beneficiamento em Sumaré.Lopes: pedidos de cores intensas para eletrodomésticos portáteis.Abril/2018plásticos em revista14GESTÃOApós dois anos de rearranjo do negócio, o Grupo Zanatta encara em 2018 o seu primeiro exercício após a aprovação dos credores, obtida enfim em novembro passado, do seu plano de recuperação judicial, resultante de endividamento calculado em R$ 237 milhões. Ele engloba a transformadora de flexíveis laminados Canguru Plásticos e a fabricante de caixas d’água rotomoldadas e de telhas de fibrocimento Imbralit, fora três empresas não divulgadas e integrantes do grupo sediado em Criciúma, ao sul cata-rinense. Conforme foi acertado, o passivo será quitado em 15 anos, com a possi-bilidade de aceleração dos pagamentos mediante venda de bens e fornecimentos.Recessão e dívidas nunca viajam bem. Em 2015, a receita do Grupo Zanatta rondava R$ 386 milhões. “Em 2016, fa-turou R$ 252 milhões e no ano passado, R$ 243 milhões”, complementa Marcelo Vieira de Sá, gerente de negócios da Can-guru. Três anos atrás, por sinal, o grupo familar passou as rédeas da gestão à Cor-porate Consulting, empresa especializada em recuperação do valor e desempenho industrial. Entre suas principais ações, consta o fechamento da controlada Inza, dedicada à produção de descartáveis como copos multiuso, negócio em que o grupo atuava desde 1974. “A Corporate Consulting liderou todo o processo de re-negociação e alongamento dos passivos, levando um endividamento de curto prazo para pagamento em até 15 anos, com juros reduzidos e descontos expressivos”, assinala o executivo, salientando que a re-estruturação desembocou em redução de custos e ganhos de produtividade. “Para este ano, trabalhamos com orçamento de R$ 350 milhões”, insere Vieira de Sá.Na selfie atual, a pedra de toque do Grupo Zanatta é a transformadora de fil-mes com 48 anos de estrada, capacidade instalada da ordem de 950 t/mês e tendo rodado no ano passado com perto de 60% de ocupação. O fôlego financeiro proveniente da reestruturação e do plano de recuperação judicial, atribui Vieira de Sá, “permitiu à Canguru normalizar os níveis de estoque e trabalhar com lotes ideiais de produção, pontualidade nas entregas e investimentos em áreas como extrusão, flexografia, acabamento e P&D”. Sob os cambaleios da economia, nota o gerente, a Canguru deparou em 2017 com um cenário de redução nas suas vendas para indústrias finais e subida na ocio-sidade na capacidade de convertedores concorrentes, convergindo para disputa engrossada e consequente escalpe nas margens do seu ramo. No plano geral, ele evidencia, o mercado de flexíveis é o octógono de uma briga de foice pelo fornecimento de embalagens a grandes corporações, sob pressão de volatilidade nos preços das resinas. “Daí porque a Canguru direcionou o foco para produtos e serviços em setores de menor risco co-mercial, contendo clientes que demandem excelência”.É neste contexto que deve-se enten-der a conquista, pela Canguru, da certi-ficação BRC/IOP, da associação British Retail Consortium, atestado formal de que a empresa aquinhoada com este selo segue padrões extremos de qualidade, segurança e operação da linha de produ-O filme começa a esquentarConvertedora de flexíveis Canguru deve colher os primeiros frutos de sua reestruturaçãoCANGURU PLÁSTICOSVieira de Sá: foco em setores de menor risco comercial e clientes exigentes.Abril/2018plásticos em revista15ção. Em Criciúma, a propósito, a Canguru roda com cinco extrusoras, inclusos modelos Carnevalli mono e coex blown; sete flexográficas, duas laminadoras e diversos equipamentos de acabamento. “O projeto para implantação da norma BRC/IPO consumiu dois anos de estudo e a tramitação da certificação levou cerca de um ano, demandando investimentos desde a limpeza e organização das depen-dências prediais ao controle de pragas, adequação de uniformes e rotina de acesso dos funcionários ao parque fabril, mitigando assim riscos microbiológicos, químicos e físicos (incidência de farpas e vidros, p.ex.)”, explica a coordenadora de qualidade Cristina Bianchini. Apenas um concorrente direto da Canguru, ela enxer-ga, ostenta no Brasil o selo da entidade britânica. “Ele nos consolida na América Latina como fornecedor referencial nos segmentos de pet food, beleza e higiene pessoal”, sublinha a técnica, ilustrando com P&G, Nestlé, PremieRpet e Adimax o status de quem exige de sua empresa o galardão da BRC/IOP.Ao lado da credencial, os credores da Canguru têm motivos para soltar rojão com o plano de recuperação judicial a partir das intenções de compra dos bens primários que a empresa atende. Varredura da consultoria MaxiQuim reza que os sete mercados capitais para flexíveis (ver quadro acima) devem ir à forra este ano da sangria dos indicadores de 2016 e 2017. Se der a previsão, enfim o filme terá final feliz. •PERSPECTIVAS PARA 2018 DESEMPENHO DA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE EMBALAGENS PLÁSTICAS FLEXÍVEISSETORES DEMANDANTES DE EMBALAGENS PLÁSTICAS FLEXÍVEISFonte: MaxiQuim e IBGE *Perspectiva MaxiQuimAbril/2018plásticos em revista16SENSORGuindado à presidência da Braskem em 2016, já no seu sexto ano na companhia, Fer-nando Musa mostrou ter pé quente. Sob sua batuta, os balanços da maior petroquímica do país têm gorjeado na roseira, que o diga o do ano passado, quando o exercício fechou com lucro acu-mulado de R$ 4 bilhões, recorde desde a largada da empresa em 2012, e EBITDA de R$ 12,3 bilhões. No embalo desse pique da Braskem, Musa confirma a intenção de ampliar sua capacidade de polipropileno (PP) nos EUA e engrossa a aposta em derivados de fontes renováveis. É mais que provável, porém, que o oceano hoje pacífico fique em breve algo revolto na carta de navegação da Braskem. Efeito de nitroglicerina em dose tripla: 1) a entrada em peso, até 2020, do acréscimo calculado em 5,8 milhões de toneladas à capacidade norte-americana de polietileno (PE), uma engorda cujo excedente será exportado em sua maior parte; 2) os prenúncios da guerra comercial entre Trump e Xi Jin Ping e 3) o recrudescimento global da ojeriza am-bientalista a descartáveis de plásticos, por sinal ancoradouros imemoriais dos iates de PP e PE em embalagens. Na entrevista a seguir, Musa perpassa em tom moderado grau zen essa conjuntura nervosa que vem repaginando o mercado global do plástico com rapidez estonteante. PR – Indorama e Unilever investem na reciclagem química de PET pós-consumo. LyondellBasell adquiriu indústrias de reci-clagem e compostos. Basf montou startup para impressão 3D e Evonik pôs recursos na impressão digital. Como encara esses movimentos de global players da química/petroquímica em negócios downstream e na manufatura aditiva?Musa – A questão da sustentabilidade e o uso consciente do plástico são alguns dos maiores desafios da indústria nos dias de hoje. Trata-se de uma tendência e é na-tural que a indústria se posicione em busca de soluções e alternativas. Do seu lado, a Braskem olha ativamente estas oportunida-des, como ilustram algumas vertentes da nossa atuação. A primeira delas é o uso de fontes renováveis, produzindo polietileno (PE) verde (rota alcoolquímica) desde 2010, e a busca de produtos químicos de origem não fóssil. Criamos em 2017 a área de Reciclagem & Plataforma Wecycle, ligada à Unidade de Poliolefinas. Visa reforçar nosso posicionamento estratégico e alavancar o incentivo de iniciativas, negócios e soluções sustentáveis relacionadas à economia circu-lar do plástico, em especial à reciclagem. Hoje, por sinal, temos grades de resina reciclada incorporados ao portfólio. Além disso, ampliamos o projeto "Imprimindo o Futuro", para possibilitar aos astronautas na Estação Espacial Internacional (ISS) que utilizem uma recicladora de artefatos plásticas no espaço. Retomando o fio da pergunta, as iniciativas de manufatura digital e o uso de inteligência artificial também começam a ser empregadas em alguns dos nossos processos. Demonstram uma tendência natural de adaptação e modernização da indústria do plástico e chegaram para ficar. Muita calma nessa horaSobressaltos do mercado global não descarrilam a indústria petroquímica, confia o presidente da BraskemFERNANDO MUSA/BRASKEMMusa: spreads de PE permanecem em patamares saudáveis este ano.Abril/2018plásticos em revista17PR – A guerra comercial EUA x China agrava o desafio da desova a contento do previsto excedente norte-americano de PE (acréscimo de 5.850 milhões de toneladas até 2019) e, manda a lógica, afeta preços e rentabilidade da resina. Em decorrência, esse cenário deve ou não catalisar fusões e incorporações entre petroquímicas, em es-pecial as integrantes do ciclo de expansão de capacidades de PE no Nafta? Musa – As recentes discussões entre EUA e China poderão alterar o fluxo de resinas petroquímicas ao redor do globo, mas não alteram o balanço entre oferta e demanda. Em relação à adição de capa-cidades na América do Norte, cabe frisar que o aumento da demanda global por termoplásticos tem se mostrado maior do que se estimava dois ou três anos atrás. Os EUA são importantes fornecedores para a China, mas, ao tomar 2017 como exemplo, vemos que apenas cerca de 5% das importações chinesas de PE couberam à resina norte-americana. Ou seja, somaram cerca de 700.000 t/a. Além disso, é relevante destacar que apenas algumas famílias de PE (grades de baixa densidade e lineares) estão na lista de sobretaxas aventada pelo governo chinês, reduzindo esse volume para 230.000 toneladas, com base no cômputo do ano passado.PR – No Reino Unido, o supermer-cadista Iceland quer banir plástico das prateleiras em cinco anos. A União Europeia se compromete a reduzir o uso de plásticos descartáveis. Analistas notam que o avanço do comércio on line na China penaliza as embalagens sofisticadas, para impulsionar a compra na gôndola, em prol de uma so-lução básica, destinada apenas a proteger o conteúdo e mais fácil de reciclar. Por fim, alastram-se no mundo as proibições de sacolas plásticas no comércio. Quais as mudanças que a indústria de PE deve passar em razão da soma desses fatores com a guerra de preços esperada com o excedente norte-americano? Musa – A discussão sobre o uso do plástico está presente em grande parte dos países, principalmente no que tange ao uso das embalagens descartáveis. Ao mesmo tempo, o material tem demonstrado ser extremamente benéfico para a qualidade de vida e o meio ambiente. Características como custo reduzido e leveza permitem o acesso de parcela da população aos mais variados produtos, o caso da preservação de alimentos. Os benefícios do plástico são inúmeros, o que não significa que não haja desafios. Seu uso consciente e as iniciati-vas para o descarte correto e a reciclagem são determinantes para sua continuidade. Acreditamos na discussão equilibrada e na responsabilidade de todos os elos da cadeia em oferecer as soluções que a sociedade exige para a contribuição do plástico ser mais efetiva e menos questionada no futuro. PR – Na voz corrente dos analistas, transformadores e componedores sairão ganhando com a prevista guerra de preços de PE. Como vê a possibilidade de, para compensar de alguma forma a erosão das margens, petroquímicas ingressarem na transformação ou beneficiamento de PE, tal como fizeram no passado? Musa – A indústria petroquímica é cíclica e é natural que no ciclo de expansão de capacidades exista uma compressão de sua margem. Nossa visão é que os spreads ainda permanecerão em patamares saudáveis em 2018. Vejam os dados da consultoria IHS para PE: para o exercício de 2018 é esperada uma alta de 3,6% em comparação com 2017. Isso deve reduzir de forma gradativa, à medida em que as novas capacidades norte-americanas entrem efetivamente no mercado. Para nós, a atuação próxima aos clientes, atendimento customizado, grades tecnológicos e mais competitivos serão fundamentais para a ma-nutenção de boas margens. Transformadores e componedores também terão seus desafios de competitividade e precisam estar atentos às mudanças tecnológicas que afetarão seus negócios no futuro.PR – Devido à oferta local mais restrita de PP nos EUA, a praxe é que pe-troquímicas sigam o plano da Braskem de investir na produção do polímero. Quais Impressão 3D: petroquímicas acertam o passo com a manufatura aditiva.Abril/2018plásticos em revista18SENSORas lições aprendidas com o excedente de PE para melhor fundamentar as próximas decisões de investimentos em PP nos EUA? Por exemplo, os investimentos em PE lastrearam-se principalmente na convicção da permanência do barril a US$100 e nos saltos elásticos de crescimento da China, além da visão de um mercado mundial sem guerras comerciais. Nada disso aconteceu.Musa – A evolução do mercado de PP tem seguido uma trajetória diferente do histórico nos últimos anos. A participação da nafta como fonte de propeno para alimentar as fábricas do polímero tem se reduzido ao longo do tempo. Isso acabou dando espaço ao propeno de refinaria e, em especial, ao desenvolvimento das unidades de desidro-genação de propano, as PDHs, de intensivo investimento de capital. Atreladas às PDHs estão fontes de matéria-prima base gás natural. Como resultado, acreditamos que a adição de capacidades de PP ao redor do globo não se dará em grandes ondas, mas, sim, acompanhando o crescimento da demanda por PP nas diferentes regiões. Trata-se de um mercado onde os aspectos regionais para a obtenção do propeno serão os determinantes para definir o acréscimo de capacidades de PP ao redor do globo. Neste caso, portanto, não se espera a mesma configuração do contexto competiti-vo do PE. Em função da crescente variedade de aplicações do PP e por sua demanda, vemos com otimismo este mercado. A de-cisão da Braskem quanto a investir até US$ 675 milhões em nova planta de PP nos EUA foi bem fundamentada e reforça a liderança da empresa na produção dessa poliolefina num país onde já possuímos cinco outras unidades de PP, além da linha de produção de polietileno de alta densidade e ultra alto peso molecular (UTEC).PR – No relatório do quarto trimestre de 2017, a Braskem comenta que a deman-da global supera a produção de PVC. Por que, apesar desse descompasso, o vinil não atrai investimentos em sua capacidade na mesma intensidade presenciada em poliolefinas?Musa – Globalmente, a taxa de utiliza-ção dos ativos produtores de PVC ainda é baixa quando comparada à das capacidades de poliolefinas. O crescimento da demanda deve superar o de capacidade previsto para PVC, levando a uma subida na taxa mundial de utilização. Mas ainda serão necessários vários anos com este cenário para gerar necessidade de novos investi-mentos no polímero. No Brasil, por estar ligada à construção civil e infraestrutura, a cadeia vinílica foi a que mais sofreu com as recentes crises econômicas. De acordo com a consultoria Tendências, a demanda interna de PVC deverá voltar a patamares de 2014 (demanda estimada em 1,2 milhão de toneladas) somente em 2022. Assim, o cenário atual inibe mais aportes de recursos, seja no exterior ou por aqui. PR – Como a Braskem pretende reorientar suas vendas externas de PE de 2020 em diante, quando todas as unidades responsáveis pelo excedente de PE via gás estarão operando nos EUA? Musa – O lançamento de produtos, a expansão do portfólio de materiais renová-veis e a atuação crescente na América Latina e Europa, a partir da operação de PE no Mé-xico, fazem parte das estratégias da Braskem para enfrentar esse cenário competitivo. A linha de ação também passa por reforçar o apoio a clientes cada vez mais exigentes e melhorar nossas operações industriais e logísticas. Também seguiremos avaliando as oportunidades de investimento no Brasil e em outros países para sustentar e incre-mentar nossa atual posição de mercado.PR – Qual a definição de negócio estratégico para a Braskem e como sua participação minoritária numa compone-dora de PP (Borealis Brasil) se enquadra nesta moldura?Musa – Nossa proposta de crescimen-to busca oportunidades de diversificação, ganhos de com-petitividade e ga-rantia de forneci-mento de matéria--prima nas regiões onde operamos. A participação (20%) na Borealis tem uma relação histórica e não se trata de qualquer mudança de orien-tação estratégica de Braskem. O modelo de joint venture adotado na planta de PE México (Braskem e Idesa possuem participações respectivas de 75% e 25%) ou os das parcerias com a Basf no complexo acrílico em Camaçari e com a Haldor Topsoe na Dinamarca, para produção piloto de monoetileno glicol renovável (a partir do açúcar) se enquadram melhor no planejamento da Braskem. •FERNANDO MUSA/BRASKEMPP nos EUA: Braskem investirá US$ 675 milhões na sexta planta do polímero.Next >