Nobel de Economia em 2008 e colunista do New York Times, Paul Krugman defende que, em calamidades como a guerra na Ucrânia, precisamos estar preparados para o inesperado. Pode ser uma contradição em termos, mas, ainda não refeitos do conflito até então fora do seu radar, 10 em 10 analistas do setor plástico dizem agora estar na escuridão absoluta, sem ousarem apalpar o futuro.
A História mostra que, no geral, a humanidade é desmemoriada como o brasileiro que, segundo o escritor Ivan Lessa, de 15 em 15 anos esquece o que aconteceu nos últimos 15 anos. Mas, se para alguma coisa o passado serve, ao menos é para ser lembrado e, também sob esta tutela, a cabala ensina que nada acontece por acaso.
Quando a União Soviética se esfacelou, em 1991, a região que deixou de fazer parte dela era trajeto de gasodutos viscerais, como hoje, para a economia russa. Os países recém independentes dependiam desse combustível e a Rússia estava sujeita a eles para seu gás chegar à Europa, conta Daniel Yergin, guru do setor petrolífero e vice presidente da consultoria IHS Markit no livro A Busca. O ex-Estado satélite com quem a Rússia mais vivia às turras era – adivinhem só – a Ucrânia. Seu lado ocidental pendia para Europa, enquanto o oriental se identificava com Moscou. Rolavam então rancorosas discórdias quanto a preço, abastecimento, tarifa e controle da rede de gás. A rota de colisão avivou em 2005, quando a eleição presidencial ucraniana foi ganha por chapa identificada com a União Europeia, então com 27 membros, entre eles ex-quintais soviéticos ainda clientes do gás russo e em tenso convívio com o supridor.
Antes do desfecho da eleição, rememora Yergin, a Ucrânia, alimentada apenas pelo gás russo, negociara um desconto no preço do combustível em relação ao cobrado à Europa ocidental. Conseguiu com base no fato de seu território ser rota para 80% das exportações da Gazprom, a empresa de gás da Rússia. Para Moscou, ampliar o controle sobre os gasodutos era crucial para sua economia e, a seu ver, a hostil Ucrânia não fazia jus ao desconto resultante de um subsídio anual de US$ 3 bilhões. A pinimba ganhou belicosidade até que, em 1 de janeiro de 2006, Moscou baixou o suprimento para Ucrânia e alertou para ela não desviar para si o gás para Europa. Os ucranianos desviaram e a Europa central sofreu com a parada inédita no gênero. Durou pouco, mas o choque trouxe à baila no continente o risco da dependência do combustível. Duas falas emblemáticas da época pinçadas por Yergin. “A Europa precisa de uma política clara e mais coletiva sobre segurança do aprovisionamento energético”, disse Andris Piebalgs, comissário de Energia da UE. “Ou os europeus perdem o medo da Rússia ou ficarão sem gás”, avisou Alexei Miller, CEO da Gazprom.
A inquietação e entreveros quanto ao gás suscitaram reações de diversificação dos dois lados. A Rússia investiu nos gasodutos Blue Stream e Nord Stream que não cruzam Ucrânia e Polônia até o ocidente europeu. O livro de Yergin foi lançado em 2011 ele registrou que, até então, a UE se debruçava sobre variáveis como potenciais estoques alternativos de gás natural liquefeito (GNL) servido pelo mercado global e a exploração de fontes convencionais como gás de xisto e metano das camadas de carvão (rota hoje execrada pelos ambientalistas). Yergin fecha o livro cantando a bola de que a diversificação buscada pela UE trombaria com oposição política e falta de infraestrutura, mas acabaria impondo desenvolvimento local das condições necessárias e de fontes não convencionais de gás, compensando o declínio do consumo do produto convencional.
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