A dupla face do filme

Flexíveis fecharam 2021 no azul claro em volume e marinho no faturamento recorde sob a alta de PP e PE. Um balanço de reprise incerta este ano

Para sorte grande da transformação de flexíveis, as mudanças de hábitos ainda não conseguiram dispensar a necessidade de comer para sobreviver. É o que se depreende do desempenho do setor no ano passado rastreado pela consultoria MaxiQuim sob encomenda da Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Plásticas Flexíveis (Abief). Das nove categorias esmiuçadas, cinco fecharam 2021 no vermelho e, mais uma vez, o volume do balanço foi salvo pelo gongo do segmento dos alimentos, com visceral participação de 896.000 toneladas ou 42% da produção total de 2.140 milhões de toneladas de flexíveis, apenas 0,5% acima do saldo aferido em 2020. No arremate, as importações de bobinas fecharam 2021 em 74.000 toneladas, enquanto as exportações alcançaram 125.000 toneladas, desembocando no consumo aparente de 2.089 milhões de toneladas de flexíveis, repeteco do período anterior.
2020 foi ano pandêmico e de pesadas restrições sanitárias, enquanto 2021 marcou pelo retorno gradativo das atividades presenciais na indústria e serviços. À primeira vista, intriga o fato de a produção de embalagens flexíveis ter subido apenas simbolicamente (0,5%) no ano passado. Rogério Mani, presidente da Abief, dissipa a estranheza com duas considerações. “Primeiro, mudamos a análise da pesquisa, passando a contemplar embalagens primárias e outros materiais flexíveis. Com base nisso, constatamos crescimento de 2,9% no tocante às embalagens flexíveis, alavancado pelas indústrias de alimentos e de higiene e limpeza”, argumenta o dirigente. “Segundo ponto: se computarmos todos os plásticos flexíveis, aí sim teremos o referido aumento pífio de 0,5%”.
A produção brasileira de embalagens em geral caiu 3% em volume, aponta estudo da FGV para a Associação Brasileira de Embalagem. Em compensação, houve salto de 31,1% em valor bruto, faturamento atribuído ao encarecimento das matérias-primas (a reboque inclusive do petróleo mais caro) e repasse bem-sucedido desse ônus aos preços das embalagens. Principal matéria-prima, o plástico assina 37,1% do volume total (38,3% em 2020) e a produção de suas embalagens caiu 7,6% no ano passado. Segundo o levantamento, a flexibilização do distanciamento social, inflação, corte no auxílio emergencial atenuaram desde o segundo semestre o movimento de embalagens.

Apagão em PEAD
No ano passado, a indústria de embalagens flexíveis levitou em faturamento recorde – R$ 43,6 bilhões ou US$ 8,1 bilhões, marcas respectivamente 55% e 48% acima dos registros precedentes. 2021 foi o exercício mais rentável da série histórica iniciada em 2020. “Eu prefiro analisar o desempenho do setor pelo prisma dos volumes produzidos, pois a receita estará sempre ligada, principalmente, aos preços das matérias-primas e insumos que dispararam a partir de 2020. “Desde então ao início de março deste ano os preços de polietilenos (PE) e polipropileno subiram mais de 100%”.
Mani prevê que o faturamento do setor em 2022 não deve destoar do patamar anterior “em função da precificação das matérias-primas sob impacto da guerra Rússia x Ucrânia”. A propósito, enquanto o volume de polietilenos linear e de baixa densidade (PEBDL/PEBD) mobilizado em 2021 para flexíveis teve variação irrelevante perante 2020, o de polietileno de alta densidade (PEAD) desabou 11,9% e o de PP saltou 7,1%. Óbvio que a produção carro-chefe de embalagens para alimentos paparica os filmes de PP, deixa claro o presidente da Abief. “Já o resultado de PEAD reflete a queda do consumo no varejo e o crescendo das pressões ambientalistas sobre as sacolas virgens (ver em Sustentabilidade à pág. 46)”, esclarece Mani. Gisele Barbin, gerente comercial da Extrusa Pack, transformadora sinônimo de sacolas descartáveis. “A pressão antiplástico influi direto no nosso negócio e traz insegurança a decisões de investimentos na capacidade produtiva”. No levantamento da Abief, a produção de sacos/sacolas caiu 22,9% no ano passado.

Salvação da lavoura
Embalagens para fertilizantes, rótulos, geomembranas, lonas e agrofilmes compõem a foto da agropecuária no balanço da Abief. Em 2021, no rastro do fulgor do agronegócio, o setor teve o terceiro melhor desempenho entre as nove categorias sob a lupa da MaxiQuim, com produção de flexiveis dimensionada em 231.000 toneladas ou 7,5% acima do resultado de 2020.
O balanço da Abief também mostra que, em 2021, a tão incensada categoria de pet food, teve recuo de 19% na produção de suas embalagens flexíveis, queda que atingiu 21% no referente ao segmento de higiene pessoal, em fogo alto nas duas ondas da pandemia. “Em ambos os casos”, amarra Mani, “os declínios decorrem da perda de poder aquisitivo, alta da inflação, aumento dos preços e rearranjo das prioridades de compra – o que bafejou mais uma vez os alimentos”.
Em 2021, a inflação oficial fechou em 10,6% e a extra oficial seja ainda maior. O poder de compra caiu 21% em três anos, o desemprego ronda 13 milhões de habitantes e juros e dólar seguem elevados, um quadro agravado em 2022 pela guerra na Ucrânia. À parte esperar subida nos preços das resinas, nas pegadas do encarecimento do petróleo e gás, Mani mantém aceso o otimismo para o desempenho de filmes e embalagens flexíveis no exercício corrente com base na confiança no crescimento do consumo de alimentos, avanço de embalagens como stand up pouches, plasticultura e exportações de cárneos. “Embora ajude, a redução do IPI não pesa para aumentar o consumo interno. 2022 não é ano fácil”, ele atesta.

BOPP resiliente
Apesar da inflação e empobrecimento de grande parte da população, não caiu em 2021 a demanda de produtos alimentícios embalados com filmes biorientados de PP (BOPP), considera Aldo Mortara, diretor comercial da Vitopel, produtora da película. “A redução do consumo final no ano passado pesou mais sobre bens duráveis”.
Para o período atual, Mortara conta com algum arrefecimento da procura por BOPP em função do baque da carestia sobre o movimento de bens de consumo rápido, com alimentos à frente. “Apesar dessa expectativa, ainda vemos oportunidades na substituição de flexíveis com estruturas difíceis de reciclar por alternativas 100% de BOPP e isso deve amenizar o impacto da provável redução do seu consumo em bens primários.”

Investimentos protelados
Consumidora de BOPP e fera em laminados e filmes técnicos, a componedora Cepalgo andou pelo fio da navalha no atípico 2021, deixa patente o CEO Horácio Murua. “O ano passado trouxe mais uma dificuldade para o nosso mercado: a negociação mensal de preços, menos pela inflação do que pela escalada dos reajustes das resinas e outros insumos das embalagens flexíveis e que, basicamente, compõem o custeio do seu CVA (medida de ganho dada pela diferença entre o fluxo de caixa variável e a soma do custo de capital e o custo de sua reposição)”. Conforme ele salienta, a precificação de tintas, pigmentos, adesivos e solventes acompanha o dólar e, em 2021, superou o índice da variação cambial. Em decorrência, ele expõe, seu setor deixou a praxe de segurar preços de pedidos colocados para o próximo mês. “Afinal, a contínua majoração e oferta limitada de materiais impediam a negociação de compra para estoques – a resina para pedidos era a preço do mês. E por mais que explicássemos que esse estorvo não era culpa nossa, tantas recolocações de preços geram animosidade contra o fornecedor”.
Já na segunda metade de 2021, sem a escora de auxílios emergenciais da pandemia, a notada queda do poder de compra causava recuo da ordem de 8% no mercado da Cepalgo. “Para este ano eleitoral, espero para o mercado a manutenção do patamar de 2021, sem perspectiva de retomada aos níveis de 2019 devido às dificuldades mundiais”, justifica o CEO. “Daí estarmos protelando para 2023 os novos investimentos em flexíveis e priorizando este ano a investida em mercados externos para nossos filmes”.

Sétimo céu
Sumidade em flexíveis para alimentos e pet food, a convertedora Finepack virou em êxtase a página de 2021. “Apesar da inflação e talvez em função dos investimentos, crescemos muito nos últimos três anos, em especial em 2021, o melhor balanço da nossa história, em faturamento e resultado”, comemora o diretor geral Edmur Batista do Carmo.
No embalo dessa festa, o otimismo do dirigente é transbordante em relação a 2022. “Estamos no caminho certo e vamos colher ainda muitos frutos dos investimentos feitos em 2021”, ele assinala. “Vamos focar este ano na busca de embalagens flexíveis multicamada e monomaterial, 100% recicláveis”.
Menos empolgada mas também satisfeita, Naelle Busato Benetti, diretora administrativa da Maxiplast, puro sangue em laminados e ráfia, comenta sucinta que a conotação negativa da inflação de dois dígitos não tirou dos trilhos a previsão do bom desempenho da empresa em 2021. “Para este ano, apesar da expectativa de PIB estagnado, população empobrecida e as incertezas a nível geral inerentes de um período eleitoral, ainda assim confiamos em crescimento da demanda sobre 2021 e um crescimento orgânico da Maxiplast, movido inclusive por projetos em andamento de aumento da capacidade”.
A bordo da Extrusa Pack, a gerente Gisele Barbin define 2021 como desafiador para seu portfólio de flexíveis, no qual sobressaem sacolas, sacos de lixo e multiuso e bobinas picotadas. “O cenário nos moveu a pensar fora da caixa, ajustando produtos e linhas de produção”. Falam por si o filme anticorona para revestir superfícies como assentos de ônibus, imunizando o contato manual, e a partida da sétima fábrica do grupo, na Zona Franca de Manaus. “Para 2022 esperamos um primeiro semestre moderado, efeito do baque no varejo desferido pela perda de renda do consumidor, e uma demanda algo melhor na metade final do ano, mas não a ponto de inspirar grandes investimentos”.

Laminado por monomaterial
Sérgio Carneiro, CEO da SR Embalagens, sangue azul em laminados e filmes técnicos, pondera que, no ano passado, a procura por suas embalagens flexíveis caiu em especial no segundo semestre, contrariando o histórico de aquecimento no período. “A queda foi menos contundente entre alimentos da cesta básica, segmento que forma entre os principais usuários de nossos produtos”, ele assinala. “No aperto do consumo em fases de crise, ocorre nas compras uma natural substituição de alimentos de cunho supérfluo, maior mercado de laminados multimaterial, por itens mais baratos e embalados apenas com PE”.
Como seu mercado não deve reagir com vigor este ano, Carneiro não se sente instado a ampliar a produção da SR, preferindo investir em gestão e valorização do portfólio. “São exemplos o complemento da implantação do software corporativo SAP e de um setor de flexografia vip, com impressora gearless, clicheria e incremento da casa de tintas”. No âmbito da Barreflex, recicladora do grupo, ele ressalta a chegada do sistema de lavagem e moagem de aparas e resíduos pós-consumo e aumento do efetivo de extrusoras e misturadores. “Buscamos oportunidades para margear a instabilidade atual e fortalecer a operação para quando a situação melhorar”.
No raio X setorial tirado pela MaxiQuim para a Abief, resina reciclada comparece em apenas 5% da produção de embalagens flexíveis em 2021. Enquadrada neste compartimento, a recicladora e transformadora Alcaplas, expoente em agrofilmes e sacos de lixo com resina recuperada, fechou o ano passado com a imagem de um período de sobressaltos. “O aumento nos custos de produção gerou inflação altíssima em nosso setor num período marcado em parte por restrições sanitárias, o que complicou a atividade das empresas e trouxe dificuldades na compra de matéria-prima e no atendimento dos clientes de embalagens, incorrendo em algum desabastecimento e consequente inflação”, descreve o diretor Alceu Lorenzon. O quadro deve voltar aos trilhos em 2022, ele confia, devido à erradicação da pandemia, estabilização na oferta de matérias-primas e da demanda de flexíveis e a expectativa de um ano eleitoral sem conturbações na economia. “Daí a motivação para continuar a investir em melhorias e aumento da capacidade da Alcaplas, para entrarmos em 2023 tinindo num dos melhores momentos do Brasil”. •

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