Na linha dos males que vêm para o bem, a punição dos propinodutos que enlamearam a infraestrutura no Brasil já teve, ao menos, o condão de escantear a rédea frouxa, vista grossa, contabilidade criativa e falta de transparência dos gastos em obras públicas. Fala por si o funcionamento no governo federal, há um ano e sem alarde, do Comitê Estratégico de Implementação do Bulding Information Modeling (BIM) ou Modelagem da Informação da Construção. Trata-se de ferramenta de gestão de dados, idealizada para ampliar a produtividade e baixar riscos e despesas nas obras, inovando as fases de planejamento, execução, operação e manutenção dos empreendimentos. Ou seja, o BIM é uma metodologia virtual de construções, em cena desde sua concepção à entrega, e uma condição cada vez mais exigida mundo afora em projetos ao molho do dinheiro da viúva.
“O BIM é uma forma nova de se trabalhar”, considera Jorge Alexandre Oliveira Alves da Silva, executivo de desenvolvimento de mercado da Braskem. Cada elemento do projeto da obra balizada por esta ferramenta, ele explica, vem acompanhado de um banco de dados onde são gravadas informações sobre o histórico do seu uso, facilitando o rastreamento e identificação desse material e as ações a serem tomadas. “Por exemplo”, ilustra o técnico, “quem é o responsável pelo empreendimento, os fornecedores de cada item da construção, datas de compra, cotações e preços pagos, lotes utilizados, datas de validade e de trocas previstas”.
Na prática, assinala Alexandre, quem recorre ao BIM são os projetistas e engenheiros envolvidos na obra. O plug-in pode ser baixado gratuitamente na internet e instalado no AutoCad (2D) e Revit (3D), dois dos softwares mais usados para cálculo de projetos de construção.
Foi então que a Braskem amarrou as pontas. “Em avaliação junto com os principais fabricantes de tubos corrugados de polietileno de alta densidade (PEAD), constatamos que as vendas para o mercado de drenagem esbarravam na carência de informações para os projetistas relativas a dados como especificações e tabelas sobre o produto”, expõe o executivo. Na busca de saída para o impasse, a área técnica da Construtora Norberto Odebrecht (CNO) apresentou o BIM à equipe da Braskem e esta fez o mesmo com os fabricantes de tubos corrugados para redes de drenagem. “Desde 2016, os projetistas lhes solicitavam que criassem as bibliotecas digitais de seus produtos na plataforma BIM”, situa o engenheiro. Em resposta, a Braskem decidiu fornecer a metodologia virtual a três produtores titulares no país em tubos corrugados de PEAD: Tigre ADS, Kanaflex e Politejo. “Ofertamos uma ferramenta de cálculo para redes de drenagem calcada em bibliotecas em BIM das famílias desses tubos, casando assim com as demandas manifestadas por seus clientes”, observa Alexandre. “Uma vez validada a solução, partimos para a construção da ferramenta, inédita na aplicação de drenagem, com consultor especializado”.
À guisa de referência , pesquisa junto a construtoras da Finep/USP estima as perdas de materiais de instalações entre 11% e 29% do custo da obra. Um prejuízo quase zerado pelo emprego do BIM ao longo do chamado ciclo de vida da construção.
Jorge Alexandre tem captado os bons fluidos da receptividade degustada na praça por Tigre-ADS, Kanaflex e Politejo devido ao uso da ferramenta em redes de drenagem. “Algumas prefeituras, em especial paulistas, estão adquirindo licenças de softwares 3D para uso com o BIM, visando adequarem-se às práticas de compliance”. No embalo, a Braskem já estendeu a oferta do BIM a todos os transformadores filiados à Associação Brasileira de Tubos Poliolefínicos e Sistemas. “Nosso papel é promover o uso do plástico na construção civil e infraestrutura”, fecha o especialista. •