O efeito dominó

Escassez de microchips e frete, encarecimento de materiais e piora do custo de vida encurralam as peças técnicas

Sequela da pandemia agravada pelo gargalo do frete marítimo, a insuficiência de microchips aleija a produção automobilística mundial e, efeito dominó, pisoteia a carótida da menina dos olhos das peças técnicas de plásticos. No Brasil, a carência de semicondutores, tormento global de final entrevisto para 2023, esfaqueia uma capacidade instalada na faixa de 4,5 milhões de veículos com produção restrita a 2,122 milhões este ano versus cerca de 2 milhões no semi inerte 2020, calcula a consultoria especializada Bright Consulting, escorada também na alta dos insumos (resinas, pneus, aço e alumínio), câmbio, carestia, inflação e demais coisas nossas. Para a cadeia de peças técnicas, a derrubada das montadoras é filme de terror, pois, por mais que busque compensação em outros mercados, o histórico demonstra que mesmo a soma deles não consola o freio puxado pelo setor automotivo. “Ele detém 70% das aplicações de poliamidas (PA) e sua queda robusta nos volumes de março a maio de 2020 deu um baque de 60% no volume total da resina então comercializado”, ilustra Sergio Salinas, gerente comercial e de desenvolvimento da distribuidora de materiais de engenharia Tecnomatiz. “Houve uma reação passageira, mas seguida por um desabastecimento generalizado de insumos para as montadoras, PA inclusa, e hoje temos uma perda de 40% do mercado automotivo e os demais, como eletroeletrônicos, implementos agrícolas e bens duráveis, não têm progredido a ponto de contrabalançar esse dano”.

Jane Campos, CEO da subsidiária no país da italiana Radici Plastics com planta componedora no interior paulista, pondera que 2021 marca pela falta de vários polímeros de engenharia no mercado mundial. “Entre os principais, a maior carência é de PA 6.6, culpa da escassez do intermediário adiponitrila (ADN)”, distingue a dirigente. Conforme esclarece, apenas quatro plantas (duas da Invista e uma da Ascend nos EUA e uma da joint venture Invista/Basf na França) respondem pela produção global de ADN e vêm rodando de forma intermitente, no modo meia boca.

A oferta perneta de ADN decorre, desde o ano passado, de uma sucessão de paradas de cunho maior e menor, atribuídas a múltiplas causas técnicas e sem normalização prevista para este ano. Um catedrático na matéria, devoto do anonimato, comenta que a diferença na média histórica entre a tonelada PA 6.6 e PA 6 ronda a marca de US$ 600, sendo que melhorias nas formulações da última resina possibilitaram-na surrupiar territórios da concorrente. Mas o jogo desandou de vez em 2020, nota a mesma fonte, também na garupa do fornecimento de ADN, rarefeito a ponto de, em maio de 2020, a cotação da tonelada de PA 6.6 na Ásia, maior mercado mundial de poliamidas, rondar US$ 2.550 e, em setembro último, bater em US$ 5.300, bem acima do preço de US$ 2.250 aferido então para a rival PA 6, crava o olho vivo da plataforma Tecnon OrbiChem. Também em setembro, a tonelada de PA 6.6 foi orçada nos EUA na faixa de US$ 3.968 versus US$ 3.307 para PA 6 e, no mesmo período na União Europeia, PA 6.6 foi cotada em 4.380 euros perante valor médio de 2.760 aferido para PA 6, rastreou a Tecnon. Deu no que está dando.

Migração lógica
A penúria de ADN também danifica a oferta de polímeros nobres como polibutileno tereftalato (PBT) e copolímero de acrilonitrila butadieno estireno (ABS). Jane retoma o fio assinalando que o sumiço do intermediário também atazana a corporação Radici, pois, além de PA 6, produz PA 6.6. “Nessa conjuntura geral, a migração de aplicações de PA 6.6 para PA 6 é lógica e imperiosa e o preço da resina substituta ficou mais competitivo”, ela pondera. “Ambas as poliamidas são importantes, mas o mercado em geral especificava o tipo 6.6 sem necessidade e a maioria de seus usos é preenchida com tranquilidade por PA 6”. A dirigente solta como referências de peças antes identificadas como consanguíneas de PA 6.6 componentes de carros como filtros de combustíveis, reservatórios de óleo e coletores de admissão de ar.

Apesar de a Basf polimerizar 14.000 t/a de PA 6.6 em São Bernardo do Campo (SP), Jane e meio mundo no ramo reiteram que os componedores do material no Brasil recorrem às importações por indisponibilidade do polímero local, aliás o único plástico de engenharia produzido no país. Essa dependência externa dos materiais estropia o bolso dos importadores, diante da insuficiência e encarecimento de navios e contêineres. A título de referência, o preço dolarizado do frete marítimo por container de 40 pés subiu 339% entre janeiro de 2020 e 12 meses depois, mesmo período em que a cotação de um container para trajeto internacional saltou 170%, atesta a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Rastreamento saído do pipeline da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que, pré-pandemia, o valor do frete marítimo no mercado spot orbitava em US$ 2.000 por container, tendo se acercado na rabeira de setembro último da casa de US$ 10.000 para a rota China-Brasil.

“O ônus logístico advindo da importação de resinas derrubou bastante as margens para os componedores locais, inclusive múltis baseadas aqui, pois é impossível repassar por inteiro ao mercado o impacto desse custo”, rumina Jane Campos. “Mas mesmo com redução de oferta e aumento de preços, empresas mais estruturadas como a nossa conseguiram manter o abastecimento competitivo e com baixo efeito do desarranjo do frete nos resultados”.

Falta fibra
Além de PA 6.6, Jane constata menor disponibilidade na praça de poliacetal (POM) e uma super encarecedora escassez do segundo insumo mais utilizado no beneficiamento de termoplásticos, a fibra de vidro, reforço cuja falada regularização da oferta em 2022 ela digere com ceticismo. “Claro que uma empresa globalizada, como a Radici, desfruta de acesso facilitado às matérias-primas e grandes contratos logísticos, mas ainda assim não escapamos da turbulência atual”.

No estribo do disparo dos preços de PA 6.6, os carros-chefes no Brasil da Radici este ano são as especialidades de PA 6, conta Jane. “A participação do setor automotivo em nossas vendas segue inalterada devido a clientes entrantes, atrás de novos fornecedores flexíveis e ágeis”, ela atribui. “O balanço deste ano também tem sido favorecido pelo aumento da nossa presença em segmentos como embalagens e o eletroeletrônico – neste último, aliás cresceu a procura pelo PBT/PET Raditer®B”. Entre os lançamentos no exercício atual, Jane distingue blends de PA 6/ABS e PA 6.6/6. Na primeira quinzena de setembro, Jane já comemorava vendas mais de 20% maiores que as do saldo de 2020 e 15% acima do budget. “Considerando que o movimento na segunda metade do ano passado foi fortíssimo, deveremos fechar 2021 com 10% a 13% de crescimento”, ela confia.

Injequaly

Demanda marcada ao vivo

A crise elétrica rosna para as vendas de fim de ano, o pico da demanda, ansiadas pela indústria de eletrodomésticos. Em setembro, quando a seca entrou na berlinda, o setor rodava no auge com mero 1% de ociosidade, atesta a entidade Eletros. Mas novos hábitos de consumo incutidos pela pandemia e que tendem a ficar depois dela são um argumento que transcende as agruras da estiagem pontual para convencer a Whirlpool, nº1 em linha branca no país, a aplicar R$ 240 milhões na expansão das fábricas em Rio Claro (SP) e Joinville (SC). Irmanada com um clientaço dono de 42% de seu movimento, a Injequaly, controlada brasileira da norte-americana Viking Plastics, monta nos mesmos locais duas filiais e ainda amplia a fábrica-sede em Itaquaquecetuba (SP).
Kelly Goodsel, CEO da Viking Plastics, não abre o desembolso em Rio Claro. “Mas é o maior que já fizemos no Brasil”. Com partida agendada para março de 2022, esta filial terá capacidade na faixa de 1.000 t/mês a cargo de 10 injetoras de 160 a 1.850 toneladas da chinesa Yizumi, informa o dirigente. A unidade atenderá com exclusividade a planta da Whirlpool no mesmo município, injetando peças como as paredes (capas) do interior de geladeiras e agitadores de lavadoras de roupa, completa Fernando Esteves, diretor de desenvolvimento da Injequaly. A preferência pelo suprimento local em lugar de despachar para Rio Claro as peças da matriz da Injequaly no mesmo Estado decorre da notada insuficiência no interior paulista, em especial nas proximidades de fabricantes da linha branca, de fornecedores com injetoras pesadas, de 800 toneladas em diante, ele esclarece. “Para o custo de frete não inviabilizar todo o processo, pois uma peça grande ocuparia uma carreta inteira, decidimos abrir uma planta o mais perto possível de clientes que demandam o serviço de grandes injetoras”.
A filial em Joinville deve partir em dezembro com o objetivo de servir clientes da região sul antes dependentes da sede paulista da Injequaly. Esteves dimensiona a capacidade da unidade em 109 t/mês, por conta de 10 injetoras Yizumi, com forças de fechamento entre 120 e 800 toneladas. Kelly Goodsel reconhece a vantagem de Joinville ficar perto do porto incentivado de Itajaí. “Tivemos significativa redução tarifária nas importações das máquinas, mas os maiores benefícios advindos de se erguer uma unidade próxima dos clientes são a melhora no relacionamento com eles e a economia de tempo e custo do frete”.
Hoje em dia, a matriz da Injequaly roda em Itaquaquecetuba com a meta de produzir na faixa de 360 t/mês até dezembro, na garupa de 24 injetoras de 60 a 800 toneladas. “Pretendemos comprar mais cinco até junho do ano que vem, de modo que, com todas as plantas operando, teremos 55 injetoras em 2023”, confia Esteves.

Abrindo o leque
Ancorada em sua infra de polimerização de PA 6.6 e beneficiamento de poliamidas e outros polímeros nobres na Grande São Paulo, a Basf também se vale da diversificação de mercados para contrabalançar o retraimento em vigor da montagem de automoveis. “Eles permanecem entre os principais segmentos para o nosso negócio, mas também cobrimos redutos como eletroeletrônicos e bens de consumo e industriais, uma variedade muito benéfíca para transitarmos por momentos turbulentos como este”, pondera Emy Yanagizawa, gerente sênior de marketing de materiais de performance da Basf para a América do Sul.

No cercado de PA 6.6 e PA 6, Emy chama a atenção para a celebração do motor turbo pelas montadoras brasileiras, bafejada inclusive pela ascensão dos SUVs no ranking da preferência entre carros de passeio, requerendo novos grades de melhor performance em testes de estouro e resistência térmica prolongada. “O primeiro a ser nacionalizado foi o composto de PA 6.6 Ultramid RED A21 HP, de excelência na processabilidade e acabamento, e em 2022 deveremos produzir Ultramid B3WG6 GPX, PA 6 com 30% de fibra de vidro e estabilização térmica especial”. De volta ao balcão de novidades locais em PA 6, Emy acena para filtros automotivos com o grade para ciclos menores de injeção Ultramid B3K, também diferenciado pela termoestabilização. Para desalojar metais em usos como componente externos não pintados, a gerente destaca a chegada do composto reforçado Ultramid B3GM35 e, para produtos de consumo, a exemplo de componentes de panelas, a pedida da Basf é Ultramid B3WM3, PA 6 com carga mineral, superando as opções tradicionais pelo estabilidade dimensional e acabamento.

Na raia das soluções de PBT Ultradur, Emy garimpa espaços em conectores e componentes de bobinas elétricas para o composto com fibra de vidro e alta resistência a impacto B4030G6, enquanto o tipo B4330G6 HR LS também assedia conectores de ponta com alta resistência à hidrólise e adequação à marcação a laser. Outro lançamento de peso em PBT: Ultradur High Speed. “Reduz em até 60% o peso para tetos panorâmicos de carros”, expõe Emy. Por fim, ela atesta estar se iniciando em São Bernardo a produção de dois tipos clássicos em seu balcão de PBT, com 30% (B4300G6) e 20% (B4300G4) de fibra de vidro.

Flerte com grafeno
Arisca a pormenores, a executiva abre que a Basf já pesquisa no exterior a aditivação com grafeno – nanomaterial de atributos disrupturais e rumo à nacionalização em escala comercial – de polímeros como poliamidas tradicionais e de alta resistência ao calor. “Aqui no Brasil, por conta de incentivos especiais, algumas empresas nos procuraram a respeito de potenciais soluções para aplicações do nanomaterial, em especial no setor automotivo”, ela adianta concisa. “Estamos na fase de levantamento dos requisitos e simulações para análise de viabilidade”.

A demanda mundial de PA 6.6 deve continuar sedenta com sua escassez na praça, julga Emy. “A normalização só deve ocorrer a partir da segunda metade do ano que vem, a depender da cadeia de valor e do patamar de atividade do mercado internacional”.

Mauá

Quando o mercado se sente em casa

“Com a pandemia, as pessoas ficaram mais em casa e procuraram melhorar suas condições para morar, o que fomentou a expansão do segmento de linha branca, nosso carro-chefe, e outras categorias de eletrodomésticos que atendemos”, pondera Humberto Reiser, diretor geral da transformadora catarinense de peças técnicas Plásticos Mauá Sul. “O balanço de 2020 foi positivo e o deste ano deve fechar com aumento na média de 15% do faturamento”.
Na crista dessa onda, a Mauá Sul comprou duas injetoras no ano passado e uma no exercício corrente, somando agora 20 linhas na matriz em Joinville. “Para corresponder ao aumento da capacidade, também investimos num novo armazém logístico no ano passado”, acrescenta Reiser. A propósito, projeta, no pré-pandêmico 2019 os plásticos de engenharia incidiam na média de 10% dos custos de produção da empresa, índice que pulou para 15% em 2020 e na avaliação de janeiro ao início de setembro último o registro já chegava a 17%.

Vendas nos conformes
Em momento como este, de insuficiência e encarecimento internacional de matérias-primas, conta pontos para um produtor de plásticos de engenharia dispor de um mostruário de soluções qualificadas para reavaliar as possibilidades dos produtos que oferece, conjetura Marcelo Corrêa, Head de marketing e vendas da unidade de High Performance Materials da alemã Lanxess no Brasil. “Por exemplo, o aumento dos preços de PA 6.6 levou o mercado automotivo a repensar seus produtos e buscar novas possibilidades para aplicações de componentes plásticos”. Um exemplo do surf da Lanxess nessa maré cheia, pinça Corrêa, é a especificação de Durethan BKV35H2.0, PA 6 com 35% de fibra curta de vidro, escanteando PA 6.6 da manufatura de carters de transmissão de carros. “Além de muito mais barato, nosso grade de PA 6 em nada deixa a desejar em requisitos como resistência térmica e ao óleo de transmissão, qualidade de superfície, vida útil e menor taxa de contração, implicando menos empenamento”, defende o executivo, entrevendo nessa trilha pista livre para suas linhas de PA 6 em tampas de válvula e carters de caminhão.

Não é de hoje a invasão de PA 6 em quintais de PA 6.6, esporeada tanto pela evolução das propriedades dos compostos como pelos sumiços frequentes de ADN da praça mundial, como visto em paradas por força maior dos fabricantes do intermediário em 2018, lembra Corrêa. Por causa dessa insuficiência e do consequente encarecimento de PA 6.6, ele argumenta, seu lugar em peças como caixas de câmbio, coletores de admissão e tampas de motor vem sendo mordiscado por PA 6. “Fornecemos todas as análises estruturais e em moldflow simulatórias para o cliente testar PA 6 em sua aplicação de PA 6.6”, acentua o dirigente. A propósito, ele acrescenta que, embora o setor automotivo permaneça proeminente nas vendas brasileiras de plásticos nobres da Lanxess, apoiadas também em sua planta componedora no interior paulista, desde 2020 o movimento revela subida da participação de redutos como eletroeletrônicos e bens industriais, estes últimos aliás de forte consumo de Durethan BKV60H2.0EF, composto de PA 6 com 60% de fibra de vidro e fluidez facilitada.

A Lanxess é ponto fora da curva na indústria global de plásticos, pois não há outro verticalizado na fibra de vidro. “Contar com uma cadeia global de fornecimento em momentos de carência de materiais, como a fibra hoje em dia, incute nos clientes segurança quanto ao nosso abastecimento”, salienta Corrêa. Não é à toa, por sinal, que compostos de PA 6 com fibra de vidro Durethan B sejam os carros-chefes da empresa. “Por eles formarem nas nossas linhas de especialidades sem similares locais, prevemos que as vendas deste ano no Brasil se mantenham dentro do esperado, mesmo na conjuntura atual”.

Budget nos trilhos
Nos exercícios de 2019, 2020 e de janeiro a agosto deste ano, a UBE vendeu, respectivamente, 1.971, 1.760 e 781 toneladas de seus grades importados de PA 6, expõe Edgar Veloso, executivo de vendas técnicas do conglomerado japonês na América Latina. “A trajetória dos volumes mostra pequena queda no movimento frente ao período pré-pandemia”, ele reconhece. “Mas os resultados batem com os números planejados em nosso budget, considerando o peso de incertezas de alcance global caso da falta de semicondutores, o gargalo logístico e a escassez de determinadas matérias-primas”. Pelo andar da carruagem nesta estrada acidentada, Veloso espera fechar 2021 com saldo próximo ao de 2020.

Aprontos da insuficiência e ADN, a erupção dos preços de PA 6.6. e sua oferta parcimoniosa, esquentaram este ano o desembarque de consultas na UBE sobre a possibilidade de substituir o material por PA 6 com fibra de vidro. Nessa toada, Veloso destaca de suas fileiras de soluções o grade de PA 6 de média viscosidade e aditivação especial UBE Nylon 1024J, ultra procurado para extrudar tubos automotivos. “No campo da injeção, são possíveis substitutos de PA 6.6 as resinas de PA 6 1013B e 1015B para produção de compostos premium”, acena o especialista.

PKS

Aditivo da confiança no motor das expectativas

O foco no mercado a longo prazo resguarda o ânimo da catarinense PKS Plásticos diante da prostração da indústria automobilística, mercado por excelência das peças internas de aparência, como apliques internos de câmbio e capa do puxador de porta, injetadas na matriz em Joinville “O setor tem sido um dos mais prejudicados pela pandemia, devido à falta de insumos e componentes”, pondera o analista da controladoria Chaian Rodrigues. “Mas a produção de veículos deve aumentar este ano e vejo possibilidade de o faturamento empatar com 2020”.
Rodrigues acredita que, à margem da conjuntura hoje tempestuosa, as feições naturais do setor automotivo nacional sejam as de um concorrido mercado de crescimento regular e sem abrir mão das contínuas melhorias de qualidade exigidas para os componentes do habitáculo dos veículos, reduto onde a PKS acontece. No momento, a PKS, consumidora de plásticos de engenharia como poliacetal e poliamida 6, opera com oito injetoras. Mas Rodrigues põe fé na aquisição de duas linhas a curto prazo. “Tudo depende da entrada de novos projetos”.

Encomendas antecipadas
Trem bala das especialidades plásticas, a base no Brasil da francesa Arkema sente a desidratação da indústria automobilística no recuo da procura por sua série Rilsan de PA 11. “A retomada da economia com o fim das restrições sanitárias vem demorando mais que o previsto e as montadoras estão aumentando os preços finais”, justifica Fábio Paganini, gerente de vendas e desenvolvimento para a América do Sul.

Não há outra saída desse beco pontual, ele deixa claro. Diante dessa trava, ele segue, a saída é redobrar a marcação de outros segmentos dependentes de PA de alta resistência térmica para substituir metais, a exemplo de óleo e gás, lazer, adesivos, baterias automotivas e, para eletrônicos portáteis, de íon de lítio. “Também apostamos na receptividade ao revestimento anticorrosivo de PA 11 em pó Rilsan Fine Powders”. Outra frente cortejada: armações de óculos injetadas com facilidade com o grade transparente e de baixa densidade de PA 11, Rilsan Clear New, cuja composição emana aura de fonte renovável, cortesia do ingrediente óleo de mamona. Para dar conta dessa mineração de mercados com as especialidades que importa nessa era de logística ilógica, Paganini informa que o estoque local tem diminuído o impacto da escassez de frete marítimo junto aos clientes. “Temos nos empenhados em antecipar as compras em nossas fábricas no exterior, para garantir volumes que mantenham regular o abastecimento de clientes por aqui”.

Meandros da troca
Em parte de 2020 e ao menos entre janeiro e a primeira semana de setembro último, a ThaThi Polímeros, distribuidora com 34 anos de janela em plásticos de engenharia, reduziu as importações de PA 6.6, PBT e poliacetal (POM). “A oferta era insuficiente para fazer frente à nossa capacidade de abastecimento”, explica o diretor João Rodrigues. Em contrapartida, assinala, um volume razoável de especialidades com lastro nos referidos três polímeros, teve portas abertas no mercado. “Isso equilibrou a participação do setor automotivo em nossas vendas, em termos de receita e volume”, considera o dirigente, atribuindo ao segmento mais de 60% do movimento da Thathi, inclusive este ano. Rodrigues ressalta que, entre 2019 e 2021, a atuação da sua distribuidora foi desafiada pela saída da Ford do time de montadoras no país. “Mas acabamos atendendo as outras que taparam esse vácuo”.

Rodrigues também reage à penúria mundial de PA 6.6 debruçando-se sobre as oportunidades para trocá-la pela mais acessível PA 6. Ambas têm perfil bem similar de propriedades mecânicas e químicas, ele nota, embora PA 6 se diferencie na temperatura menor de fusão e na maior capacidade de absorção de umidade. “A possibilidade de substituir é um fato, mas nem tudo é possível e cada aplicação criteriosa, mesmo que o molde não precise, em princípio, de ser retificado”. Peculiaridades técnicas limitam especificações de PA 6 no setor elétrico, atesta Rodrigues, e os testes para homologar a resina como opcional em componentes automotivos costumam ser morosos e onerosos. A propósito, completa, compostos de PA 6 e 6.6 reforçados, carregados ou modificados são os carros-chefes da ThaThi.

Pode vir quente
Perante o mesmo período no pré-pandêmico 2019, as vendas nos primeiros oito meses do estressante 2021 da distribuidora Master Polymers ao setor automotivo recuaram apenas 2%, calcula o diretor Joel Pereira de Araujo. Em paralelo, a participação da indústria automobilística nas vendas da empresa caiu para 35% de janeiro a agosto último versus 45% em 2019. Para compensar a perda, ele conta, a saída tem sido prospectar outros mercados e o melhor resultado brotou das vendas de materiais de barreira e adesivos para embalagens multicamada. Araujo martela ainda a tecla de que, dada a derrubada de 27% na produção das montadoras entre 2019 e 2021 frente as vendas da Master Polymers para o setor praticamente estáveis no mesmo período, merece crédito o esforço da sua equipe para buscar novas aplicações veiculares para as especialidades que importa. “Foi o caso da homologação de poliftalamida (PPA) para itens do sistema de embreagens; de PA semi aromática para componentes dos painéis e PA 6.6 modificada para afiar a resistência ao impacto de peças de bancos”, ilustra o dirigente.

A falta de PA 6.6 no mercado é um complicador, admite Araujo. “Como trabalhamos com estoques altos, temos contornado essa escassez suprindo clientes do setor automotivo, cuja produção tem sido abalada pela insuficiência de microchips”, ele explica. “O nível da estocagem está caindo”. Fora do cercado das montadoras, o distribuidor informa vir comparecendo com alternativas a PA 6.6 com fibra de vidro para peças injetadas dirigidas a segmentos de homologação de materiais mais rápida, caso dos redutos industrial, agro e sanitário. “Indicamos polipropileno (PP) com fibra de vidro longa e poliétercetona (PEEK) reforçada”. O gerente comercial Marcos Kodayra aproveita a deixa para observar que, embora quimicamente distintos de PA 6.6, os dois polímeros aproximam-se dela nas propriedades mecânicas e taxas de contração. “Em termos de resistência à fluidez e impacto, polímeros acrescidos de fibra longa se saem melhor que os com fibra curta”. Araujo retoma o fio afirmando que o miserê da disponibilidade de PA 6.6 perdura até meados do ano que vem. (A ver com os produtores de ADN).

O campeão de vendas da Master Polymers na temporada atual é o composto de PPA com fibra de vidro da suíça EMS Chemie dirigido ao setor automotivo e com grades certificados na Europa para aplicações em contato com alimentos ou água potável, tipo componentes de processadores. “Neste último caso, trata-se da série de PPA Grivory Acqua, diferenciada pela resistência mecânica 30% superior à da sua geração precedente, como atestam ensaios em água a 95ºC por 12.000 horas, sendo utilizada no setor automotivo em itens do sistema de arrefecimento do motor e em peças de cafeteiras elétricas”, esclarece Kodayra. No espírito de quem prefere vender lenço a chorar nas crises, ele vislumbra na atual pane elétrica um argumento para botinar a injeção de metais como zamak, latão e alumínio. “Demanda muito mais energia que a moldagem de plásticos de engenharia”.

Rivais e afins
Do observatório da distribuidora Tecnomatiz, o gerente Sergio Salinas se enerva com o emperramento das importações forçado pelo infarto logístico. “Temos de tentar suportar um estoque regular no limite da operação comercial, sem expor fluxo de caixa. Não está fácil”.

Salinas não enxerga ofensiva de PA 6 contra a insuficiente e mais cara PA 6.6. “O que tinha de migrar de material por custo ou falta já é fato consumado no mercado interno. Há espaço para as duas famílias de poliamidas, que por sinal são complementares”. No ranking de vendas da Tecnomatiz, o topo do pódio permanece com grades de PA com 30% de vidro aboletados em autopeças.

Sangue novo
Apesar dos pesares, a mega distribuidora Activas põe fé numa energizada do seu negócio de materiais nobres, catalisada por um rearranjo interno. O ponto de partida é a reconfiguração da Actplus. componedora do grupo presidido por Laercio Gonçalves. “Mediante novos investimentos, ela agrega à atividade original de masters, tingimento e compostos e blends de cunho básico o beneficiamento de plásticos de engenharia, ingressando em soluções de alta permanece no trabalho com, praticamente, todos os polímeros, aditivos, reforços e cargas para qualquer mercado”.

A injeção de sangue novo vem sendo ministrada pela gestão conjunta da recém criada divisão de engenharia/especialidades da Activas, a cargo de Alexandre Pastro e Aurelio Mosca. “Para este ano, a estimamos em 10-15% a participação das soluções nobres nos volumes totais de vendas da distribuidora, já por conta do reformulado enfoque do negócio. Com a chegada ao portfólio de duas novas bandeiras de PA 6 e 6.6 avançaremos nos mercados de embalagens dependentes de barreira, de injeção de peças técnicas como as automotivas e até na extrusão de fios e cabos fotovoltaicos”, expõem os dois executivos.

Em 2020, eles assinalam, a pandemia derrubou cerca de 60% do movimento de plásticos de engenharia da Activas. O fim do imobilismo suscitou uma reação que ainda não recompôs o balanço pré-vírus, ainda acusando queda de 20-30% no exercício corrente. Grades tradicionais de materiais como policarbonato (PC), ABS, POM e PA azeitam o giro da nova divisão. “Com a escassez desses materiais no primeiro semestre, temos buscado desde então substituí-los por alternativas mais disponíveis no exterior, caso dos copoliésteres”, arrematam Pastro e Mosca.

Fibra longa em alta
A produção de carros derrapa na falta de semicondutores e nos preços inflacionados dos principais insumos, mas o negócio de plásticos de engenharia da Piramidal, nº1 na distribuição brasileira de termoplásticos, não sente esses sacolejos. “Os efeitos negativos têm sido mitigados por novos projetos de materiais para componentes destinados a plataformas de veículos para o mercado interno e exterior, viabilizando a previsão de fecharmos o ano em níveis de faturamento nesse segmento muito próximos do balanço de 2019”, justifica sem abrir as aplicações Admir Ortiz, gerente comercial para resinas de engenharia da distribuidora regida há 36 anos pelos fundadores Wilson Cataldi e Amauri dos Santos.

Fora do poleiro das quatro rodas, o executivo solta como recente desenvolvimento marcante o uso de polieterimida em itens de equipamentos médicos portáteis. “No plano geral, contemplando mercados desde carros e agro à construção civil e bens de consumo, sobressaem novos projetos envolvendo PA 6 e 6.6 com fibra longa de vidro”, complementa sucinto Ortiz. A propósito, encaixa, seus compostos com fibra longa desfrutam de demanda acesa por aliarem melhora do desempenho final da peça com redução do ciclo de injeção e o magnetismo do custo/benefício. O gerente admita que, na conjuntura atual de dólar irado e logística ao léu, anda embaçado garantir aos clientes fornecimento regular a preços competitivos. “Mas em regra temos conseguido, com base num planejamento muito antecipado de operações e vendas”.

Plaslini

Resiliência é o nome do jogo

Exportações aditivadas pelo dólar nas nuvens e a injeção de peças com lugar cativo em carros novos ou usados têm permitido à catarinense Plaslini, transformadora de injetados de polipropileno (PP), tocar o barco nas correntezas de 2020 e 2021. “No ano passado, a produção e faturamento foram comprometidos pela escassez e encarecimento de 130% da resina em relação a 2019”, conta a diretora administrativa e financeira Laís Stela Carlini. “Apesar disso, a demanda externa reacendeu e os produtos exportados mobilizam 40% do nosso fornecimento. Isso e o fato de termos parado apenas por 10 dias em 2020, por força da quarentena, colaborou para a sobrevivência do negócio e para a expectativa das vendas aumentarem 10% este ano”.
PP nacional mobiliza em torno de 60% dos custos de produção da transformadora na ativa em Joinville. “Diante do disparo dos reajustes no ano passado, devido à oferta aquém da demanda, procuramos compensar este ônus freando gastos como energia elétrica; economizando na compra de insumos – desde óleo e sacos plásticos a materiais de escritório – e vendendo equipamentos não mais utilizados”, ela expõe. “Com a oferta de PP se restabelecendo, conseguimos repassar parte dos custos aos clientes e até adquirir em maio último uma injetora”.
Na selfie atual, a Plaslini roda com oito injetoras e Laís, de olho em projetos não revelados, adianta o plano de importar da China outra linha em 2022. “Trabalhamos principalmente com produtos para o setor automotivo que para nós tem se mantido estável, se computadas a demanda de peças para carros novos e o mercado de reposição”. O carro-chefe da empresa, elege a diretora, é a complexa embalagem injetada para o disco de freio automotivo produzido pela Fremax, também baseada em Joinville e controlada do grupo gaúcho Randon. “Fornecemos há sete anos este recipiente em cinco tamanhos”, detalha Laís. Outro pitéu da carteira de clientes, ela ressalta, são as utilidades domésticas encomendadas pela unidade da Tritec em Jaraguá do Sul, no norte/nordeste catarinense.
A Plaslini estreou no semestre atual no negócio de realização de try-out, testes de moldes para ferramentarias. “No momento, essa prestação de serviço é mais rentável que a injeção, pois não temos custo de matéria-prima e utilizamos as máquinas que estão com baixa produção”, avalia a diretora.

Volta por cima
Nos áureos tempos pré-pandemia, o consumo de PP em autopeças era equiparado ao de mercados da linha de frente da resina, tipo ráfia e filmes biorientados. Produtora do polímero no Brasil, a Braskem não projeta o movimento atual de compostos da resina na injeção de componentes para a indústria automobilística agora ensopada pela chamada tempestade perfeita. Renato Yoshino, diretor dos negócios de agro, infraestrutura e indústria da empresa, se limita a informar que o setor mobiliza cerca de 4% da sua produção anual de poliolefinas e PVC. Entre os pontos altos do mostruário de PP para compostos, o diretor se aferra aos copolímeros heterofásicos CP 393 e TI2900 C e ao homopolímero F1000C, bem sucedidos na injeção de peças como as de maior envergadura, a exemplo de para-choques, painéis de portas e de instrumentos.

A Braskem é sócia minoritária da petroquímica austríaca Borealis no controle da Borealis Brasil, estrela guia em compostos de PP e sediada em Itatiba (SP). Espancadas pelo corona, suas vendas para este mercado despencaram entre 20% e 25% frente ao saldo de 2019, calcula Eide Garcia, diretor geral da Borealis para a América do Sul. Mas mesmo com a montagem declinante de carros na região, ele informa que sua componedora já deu a volta por cima e deve acumular até dezembro um volume de vendas superior ao de dois anos atrás.

Para difundir a versatilidade de seus compostos de PP, a Borealis montou uma equipe suportada por planta piloto e infra laboratorial prime para minerar aplicações descoladas das montadoras de carros. Entre os troféus na parede em Itatiba constam os compostos desenhados para assentos injetados de ônibus. Garcia elege como carros-chefes da Borealis Brasil os compostos carregados Daplen™, cujo pulo do gato é a excelência em propriedades mecânicas, acabamento e durabilidade, sendo pau para toda obra em peças externas, do habitáculo e sob o capô dos carros. Em paralelo, o dirigente percebe subida do ibope na praça para os compostos com fibra de vidro Fibermod™, diferenciados pela redução de densidade (menor massa pelo mesmo volume), e para a linha Borcycle™, resultante do beneficiamento de PP pós-consumo reciclado com propriedades melhoradas. A propósito, Garcia ressalta a produção local iniciada este ano do grade Borcycle™ ME140SYB, copolímero reciclado com 10% de carga, 970 kg/m³ de densidade e fluidez de 12 g/10 min. “Vem tendo sucesso em componentes da carroceria com funções aerodinâmicas”, ele indica sucinto.

Outra prata da casa ovacionada pela cadeia automotiva sul-americana é o composto Daplen™ EF150 HP, contendo 16% de carga e modificado por elastômero e vocacionado para peças externas de alto acabamento e resistência UV, a exemplo de para-choques e grades frontais. “Substitui plásticos de engenharia de maior custo e densidade, como o blend PC/ABS ou copolímero de acrilonitrila estireno e acrilato de butila (ASA), muitas vezes evitando mudanças no ferramental por possuir contração similar a esses concorrentes”, fecha o dirigente. •

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