O laboratório dinamarquês Novo Nordisk trata 2023 como uma momento-chave. É nele que se confirmará a viabilidade em alta escala internacional de uma solução da empresa para avivar a circularidade de um nicho caro ao plástico em artigos médico-hospitalares.
A linha do tempo dessa ideia, da qual o Brasil participa, começa em 985, quando as funcionais e leves canetas plásticas de insulina estrearam aposentando as seringas de vidro e, desde então, salvam as vidas de milhões de diabéticos mundo afora. Só que, de lá para cá, ocorreu um porém impensável 38 anos atrás, quando verde era apenas uma cor e não uma ideologia. O xis da questão era como administrar o pós-uso das canetas vazias sem melindres ambientais, pois, afinal, trata-se de rejeito vetado por critérios de saúde pública para integrar o lixo doméstico, sendo em geral incinerado. Com a credencial da produção e vendas mundiais de 600 milhões de canetas (equivalentes a 12.000 toneladas de resinas) contendo suas insulinas, o Novo Nordisk lançou em novembro de 2021 uma ação que botou o ovo em pé. O programa de coleta e reciclagem Returpen que, nesses dois anos experimentais na Dinamarca, Reino Unido, França e Brasil recolheu 77.000 unidades das canetas pós-consumo, das quais 15.000 recicladas mecanicamente na Grã Bretanha. Para este ano, a expectativa do laboratório escandinavo é de voar alto na reciclagem, recuperando os resíduos de 700.000 canetas recolhidas também nos EUA, China, Japão, Alemanha e Itália.
Na prática, o programa Returpen começa com o paciente pegando um pouch para reciclagem em drogaria participante da iniciativa ou pedindo por e-mail ao laboratório o envio gratuito da embalagem. Uma vez aplicada a insulina, o diabético separa a agulha e devolve o envelope com o corpo da caneta à drogaria ou o despacha pelo correio à sede do Novo Nordisk. Na Dinamarca, os componentes plásticos (PP, POM e PC/ABS) são processados pela recicladora especializada Zirq Solutions e o polímero recuperado segue para uso em mobiliário, a exemplo de cadeira concebida por empresa de design dinamarquesa e cuja injeção por unidade consome quantidade de material equivalente a 120 canetas. Para afiar a estrutura de reciclagem do Returpen, o Novo Nordisk divulga à mídia partir este ano uma recicladora na França e o plano relativo a este país em 2024 coleta de 20% da média de 25 milhões de canetas de insulina ali utilizadas ao ano. Os resultados do Returpen no Brasil não foram divulgados.