Nos bastidores da cor

Demanda e preços do dióxido de titânio num mercado instável para concentrados
Demanda e preços do dióxido de titânio num mercado instável para concentrados

Em junho de 2022, Plásticos em Revista publicou entrevista do presidente da Largo Inc., mineradora canadense com operação no Brasil, anunciando um investimento ansiado pela esmagadora maioria dos componedores de masterbatches. Com a confirmada mineração da matéria-prima ilmenita, a empresa noticiava a partida em 2024, em seu complexo na Bahia, da capacidade de 30.000 t/a prevista para atingir 120.000 em 2028 de dióxido de titânio, pigmento branco vital para masters dessa cor e claros. Como cerca de 2/3 do consumo brasileiro geral de dióxido de titânio são importados, pois a planta baiana de 60.000 t/a da Tronox segue a léguas atrás da demanda interna, o investimento da Largo traduzia para os componedores redução da dependência do colorante importado e o dióxido chinês continua a responder por 70% desses desembarques no Brasil. O mundo gira, em julho deste ano, Plásticos em Revista foi cientificada off the records por fonte da cúpula da Largo que o projeto do pigmento entrara em compasso de espera, sem previsão definida de retomada. Justificativas não foram dadas pela empresa, mas a conjuntura de uma economia mundial prostrada, inclusive pelo declínio do PIB da China, com mega sobra desvalorizadora de dióxido de titânio para inundar o planeta é um pretexto perfeito para o projeto da Largo ter estreitado e entrado no modo pause. Nesta entrevista, Fabio Patente Avelar, gerente comercial da componedora Kolor Flakes, com plantas de masters no Brasil e Paraguai, discorre sobre o atípico cenário atual de demanda e preços do dióxido de titânio e a vocação de sua empresa para atender recicladores com soluções sob medida.

Como avalia este ano a oscilação da disponibilidade e preços do dióxido de titânio para componedores dependentes do pigmento branco importado?

Nos últimos meses, o dióxido de titânio apresentou queda significativa de preço. Trata-se, aparentemente, de um aspecto positivo. No entanto, transpondo o quadro para minha empresa, nosso fluxo de importar material da China, levar para a planta filial no Paraguai e depois trazer para as unidades no Brasil é um caminho relativamente longo; se o preço dos fornecedores locais caem, o do nosso material demora mais para cair e, em alguns casos, acaba dificultando a venda do nosso masterbatch branco ou nos obriga à redução das margens que, por sinal, hoje em dia já estão mais baixas.

De quais origens o dióxido de titânio mostra-se este ano mais estável em termos de disponibilidade no suprimento para sua empresa?

Os fornecedores de dióxido de titânio estão em geral com sua capacidade de fornecimento tomada pela demanda doméstica ou regional. O preço do dióxido importado está sujeito a um número de variáveis muito grande – dólar, frete internacional, procura mundial, enfim. Já no atendimento a um mercado interno, há uma estabilidade maior. Entre janeiro e julho, os preços do dióxido de titânio caíram em torno de 40% e, com isso, muitas vezes os materiais importados acabam chegando caro por aqui, pois já chegam com o preço sem considerar o mais recente reajuste realizado para baixo.
Vou explicar melhor. No caso da minha componedora Kolor Frakes, o mercado chinês tem grande disponibilidade de dióxido de titânio para o mercado externo. Mas por se tratar de material importado, demora muito para chegar aqui e, como estamos num período de queda de preços, ao chegar aqui, muitas vezes seu preço está acima do praticado no mercado brasileiro que, por sua vez, tem uma oferta do pigmento nacional que não cobre o consumo local, obrigando indústrias sem acesso ao dióxido de titânio doméstico, como a Kolor Flakes, a recorrer a fornecedores importados.

Quais os reflexos dessa oscilação na oferta e preços do dióxido de titânio sobre os preços de masters claros e brancos para setores como reciclados e flexíveis?

Devido ao fato de o plástico reciclado sair hoje mais caro que a resina virgem, os recicladores estão com muitas dificuldades de manter um preço competitivo. Com isso, toda a cadeia que fornece para esse setor é obrigada a rever seus preços. De modo geral, os transformadores, como os de flexíveis, tendem a achar que o masterbatch tem de diminuir o preço na mesma proporção que a resina virgem baixou, mas, muitas vezes, a resina tem um impacto menor que 20% no preço do masterbatch.
A questão da oscilação de preço do dióxido de titânio prejudica muito a precificação, pois, quando uma queda no preço é anunciada imediatamente os clientes exigem o desconto. No entanto, com frequência esse concentrado com redução de preço vai chegar somente após 90 dias, por trabalharmos com dióxido de titânio importado.

Em regra, transformadores de médio e maior porte optam pela compra casada de master branco, preto e colorido. Quais as vantagens e desvantagens nessa compra por pacote?

Quando começou, o foco total da minha empresa era o negócio de masterbatch colorido, No entanto, em regra a porta de entrada em novos clientes é o branco e o preto que, manda a praxe, representam um volume muito maior de compra e, em consequência, são nas negociações relativas a estes dois masters que os clientes transformadores costumam abrir mais espaço para novos fornecedores. Portanto, para ter acesso à fatia dos coloridos nas compras deles, fomos obrigados a entrar na briga pelso mercados dos masters preto e do branco. Os transformadores consideram a fatia dos coloridos ‘pequena’ em relação aos volumes de preto e branco que precisam. Daí porque são mais resistentes a trocar por fornecedores consolidados por novos que não possam ofertar o preto e o branco.

Como avalia o lead time da importação à entrega do dióxido de titânio e negro de fumo importado no Brasil e no Paraguai?

Para chegar no Paraguai, as matérias-primas da China seguem um caminho mais longo, passam pelo Brasil, depois pelo Uruguai e só depois chegam ao destino final. Ou seja, o dióxido de titânio recebido no Paraguai pela planta filial da Kolor Flakes, chega bem mais tarde que o mesmo pigmento importado diretamente para o Brasil, cerca de 40 dias depois. Em resumo, como o lead time é maior, isso exige da Kolor Flakes uma programação melhor elaborada para atender a contento a clientela dependente de masters brancos e claros. No caso do negro de fumo, temos opções maiores de suprimento, incluindo fabricantes do pigmento instalados na Argentina.

Por que a produção de dióxido de titânio no Brasil, com disponibilidade de matéria-prima (mineral ilmenita), não atrai investidores além da planta local da Tronox, cuja capacidade de 60.000 t/a equivale a 1/3 do consumo doméstico geral do pigmento?

Ouço muito rumores de cunho especulativo de que a tendência para os próximos anos é que a produção nacional de dióxido de titânio fique cada vez menor ou até acabe. São duas vertentes. Ou a produção local vai estagnar ou diminuirá por razões como o gradual esgotamento de insumos obtidos da mineração. Além do mais, se a economia global persistir em retração e com a China em crise afetando meio mundo e tendo de lidar com uma decorrente sobra ainda maior de seu dióxido de titânio, ela desbancaria no Brasil o pigmento local. Dificílimo competir com a China em qualquer produto e, mesmo que não aconteça o embate entre o excedente global e a oferta doméstica, acho que a oferta do dióxido de titânio brasileiro está naturalmente fadada a estacionar ou diminuir com o passar do tempo pela disponibilidade decrescente de matéria-prima.

Qual o atrativo hoje para fornecer masters contendo reciclados num cenário em que a resina reciclada está mais cara que a virgem e assim deve continuar por bom tempo?

Bem o foco da minha empresa é fornecer masterbatches para os recicladores e não necessariamente usar material reciclado na fabricação dos nossos concentrados. Isto posto, acho que, com o barateamento da resina virgem toda a cadeia do reciclado é pressionada. Pouco a pouco as aparas estão caindo de preço e logo logo o reciclado volta a ser competitivo novamente perante o plástico novo em folha. O problema é só esse período em que houve uma redução abrupta no preço da resina virgem e que a cadeia dos recicladores não conseguiu acompanhar.

Como a Kolor Flakes se posiciona na disputa em concentrados de cores para reciclados?

Durante muitos anos se achava que os recicladores tinham que usar qualquer tipo de masterbatch. A Kolor Flakes percebeu que esse mercado era muito carente de atenção e começou a desenvolver masters e flakes voltados para o setor de reciclagem; são soluções com um poder de tingimento muito maior e suportam todo processo da reciclagem sem queimar e/ou degradar. Como temos um know-how para o desenvolvimento de masterbatches para os recicladores achamos que nesse segmento específico ainda temos vantagens competitivas.
Quando falamos em cores para reciclados temos que entender que cada reciclador usa uma receita no seu produto. Por exemplo, um tipo de polipropileno (PP) reciclado pode ser oriundo de resíduos de diversas fontes – mesa, cadeira, balde, bacia, polionda, galão de água, nãotecido, ráfia, etc. Nesse caso todos as sucatas são do mesmo polímero, mas, terão comportamentos diferentes em máquina em termo de temperatura, processo e até mesmo nas cores. Usamos toda a nossa experiência para desenvolver masterbatches personalizados para diferentes necessidades dos recicladores. Embora isso deveria ser um padrão entre componedores para atender o segmento de reciclagem, esse grau de personalização que identifica a Kolor Flakes ainda acaba sendo novidade. Além disso procuramos auxiliar os clientes transformadores na seleção dos reciclados que devem utilizar de acordo com a peça acabada em vista e/ou propriedades mecânicas que necessitem atingir. Embora haja muitos componedores que abasteçam de masters os recicladores, este mercado ainda é carente de fornecedores com know how específico. •

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